Saga Derinarde II - Capítulos 041 á 080

Saga Derinarde II – Capítulo 041
Os pneus do Lineage 1000 tocaram o solo em Congonhas no horário previsto. Que saudades de São Paulo.
Despedimo-nos dos comandantes Mell e Boanerges, da Comissária Eliane. Descendo a escada ouvi a recomendação de Mell:
- Maio no caribe, me ligue.
Com um sorriso e aceno de mão confirmei para ela.
Uma Van nos levou até o saguão onde Eduardo Soares nos aguardava, nos abraçamos:
- Como está Eduardo? Vigiando muita gente?
O mesmo já emendou:
- Sim bastante, mas nenhum que desse tanto trabalho com você.
O saguão de Congonhas, cheio, não lembrava em nada o JFK.
Na rua uma enorme Van, azul escuro, nos aguardava. Entramos e seguimos para minha casa.
Percebi que quando a Van saiu, outros dois carros nos seguiram.
Já na porta de casa, Eduardo subiu comigo, enquanto a Van foi embora e os dois carros estacionaram na frente do prédio.
Abri uma cerveja enquanto Eduardo me explicava as regras de segurança.
- Você terá segurança e motorista as vinte e quatro horas do dia, poderá fazer o que quiser, porém será monitorado. Qualquer dúvida é comigo.
Eduardo me falou mais uma hora de detalhes que considerei lógicos e outros ridículos, mas não discutimos, aceitei.
Falamos outra hora de amenidades como futebol, mulheres e política.
Eduardo foi embora em um dos carros e o outro continuou estacionado lá embaixo.
Apesar de ter feito nada a viagem me deixou exausto.
Liguei para Patrícia, que ficou contente em saber que eu estava de volta e não desligou enquanto não me convenceu de fazer uma festa de boas vindas.
Conversamos bastante, tomei um banho e fui me deitar.
Acordei cedo e ouvi um barulho no apartamento. Ao abrir a porta da cozinha me deparei com Aracy que preparava uma farta mesa de café da manhã.
Que abraço gostoso eu recebi desta que considerava uma mãe. Aracy já foi logo dizendo.
- Que bom te ver. Quando me ligaram, ontem a noite, eu nem acreditei. Hoje cedo já passei no mercado, porque aqui não tinha nada há bastante tempo.
Conversamos enquanto tomava meu farto café da manhã.
Pedi para Aracy preparar algo para meus seguranças, lá embaixo coloquei uma roupa leve, de ginastica e desci.
Eu me apresentei aos seguranças que ainda não conhecia. Eles eram José Ricardo Madson de Paula e Paulo Rosa. Informei-os de minhas intenções para o dia e segui para a academia.
Que saudades da minha cidade, do meu bairro, das arvores da minha rua. É muito bom estar em casa. Pensei.
Ao chegar à academia, Gleide Gleidinha quase não acreditou, saiu de trás da mesa que estava fazendo festa.
Conversamos enquanto Gleide me mostrava os novos aparelhos de ginástica, todos computadorizados e dos mais modernos.
Experimentei alguns e gostei pois forneciam muitas informações sobre o comportamento do nosso corpo pressão arterial, batimento cardíaco, perda de calorias, esforço e outras temporais e de distâncias.
Tomei uma sauna e sai sem destino certo. Queria apenas curtir meu bairro, matar a saudade.
Caminhei por duas horas. Entrei em várias ruas e alguns becos. Vi alguns conhecidos, mas apenas cumprimentei.
Voltei para casa quando já era próximo das duas da tarde. Almocei com Aracy que preparara um delicioso filé ao molho madeira. Hum, que bom aquele tempero da Aracy. Até o arroz dela, puro, sem nada, era muito bom. Junto com a saudade, melhor ainda.
Vendo notícias na internet e consultando minha caixa postal encontrei uma mensagem de Elen:
“Segunda-feira, às 10 horas, reunião de apresentação do projeto aos investidores, local: Anfiteatro da Poli. NÃO É UM CONVITE, Elen”.

Saga Derinarde II – Capítulo 042
O telefone tocou. Era Patrícia.
- Deri, confirmado nove horas na Charmosa Cafeteria. A galera estará em peso.
Confirmei, agradeci e aproveitei para fazer algumas ligações.
Já a noite me dirigi até meus seguranças que não eram os mesmos pois trabalhavam em turnos. Encontrei Paulo Fernando Rodrigues e Regina Claudia Cantele.
Entrei no Fusion e fomos para festa.
No interior do carro notei um GPS com tela de quinze polegadas e no centro da tela dois pontos luminosos juntos. Um azul e outro vermelho. Perguntei para Regina Claudia.
- Esse vermelho sou eu?
Regina Claudia respondeu apontando para a tela.
- Sim você é o vermelho o carro é o azul. Se eu ou Paulo Fernando sair do recebera um indicador verde, assim quem ficar no carro sempre terá a referencia de onde estamos.
- E qual é o alcance. Perguntei imaginando um ou dois quilômetros.
X1 olhou para Regina Claudia e ambos sorriram. Regina Claudia se adiantou na resposta.
- Planeta terra.
Paulo Fernando completou.
- Existe o rastreamento por satélite, torres de telefonia celular e o equipamento emite ondas, ou seja é rastreado em qualquer lugar e em três dimensões.
Fiquei espantado.
- E onde está o meu localizador na roupa, no sapato? Onde.
- Pelo que sei, no seu ombro direito. Respondeu Paulo Fernando.
Coloquei imediatamente a mão sobre meu ombro direito e pensei. É verdade, nunca mais estarei só.
Entrei na festa e não pensei mais nisto, pelo menos esta noite.
Logo na entrada estavam Adilson Damásio e o irmão capitão, Amilton Cruz Silva que Adilson acabara de me apresentar.
- Da última vez que encontrei o Adilson ele estava preocupado com você, tudo bem agora? Comentei com Amilton que prontamente respondeu.
- Algumas missões e treinamentos são extensos e sigilosos, mas está tudo bem, vou ficar algum tempo na civilização antes de voltar á selva.
Mais adiante foi Bene Junior que conversava com Cristianodiasl e Mario Alves. Nós nos cumprimentamos e segui em frente, muita gente percebeu minha chegada e quase que faziam fila para me abraçar.
Eram abraços calorosos e muito carinhosos.
Ao abraçar Nelson Campos recebi um puxão e ante de perceber o que estava acontecendo Paty estava pendurada no meu pescoço.
- Bem vindo, bem vindo, bem vindo. Disse com entusiasmo.
Paty me pegou pelo braço e me levou á frente de uma mulher muito alta e muita magra, aparentava uns trinta e oito ou quarenta anos, cabelos curtos e muito negros.
- Esta é a tia Rosana. Contei sua história para ela e já se tornou sua fã. Esta passando uma temporada em casa e quando voltar para Garça eu irei com ela. Ficarei seis meses lá, tipo férias, mas me inscrevi como voluntária no hospital e na creche municipal, faz parte do meu curso de RH e...
- Muito prazer Rosana, eu acabei de reencontrar a Paty depois de um tempão, mas acho que já está mesmo na hora dela ficar um pouco longe, como fala. Olhei para Paty que fez um bico enorme, mas sabia que era brincadeira minha.
- É verdade. Ela fala um “bucadinho” demais, mas é uma boa menina. Ele me disse que quase te levou para minha cidade. A casa sempre está a disposição. Ofereceu Rosana.
- Obrigado. Me dá licença, tem muita gente para cumprimentar ainda. E saí andando.
Estava lá Sandro Oliveira que conversava que uma pequena mulher. Estava de costas e não reconheci até ficar de frente.

Saga Derinarde II – Capítulo 043
- Elo, até você por aqui? Você já conhecia o Sandro? Perguntei surpreso!
- O Sandro e mais uma dúzia dos que estão aqui. Sou mulher do Amilton. Elo disse isso fazendo um circulo fechado com as mãos, indicando o pequeno tamanho do mundo.
Abracei a ambos e segui nos cumprimentos.
Fiquei contente de encontrar Gleide que conversava com as amigas da academia, já ás tinha visto lá, mas ainda não havia conversado com elas. Cumprimentei-as.
Os dois músicos que se apresentava eu também conhecia. Acenei com a mão para Gustavo Cavalcante Braga e José Clevilson.
A festa estava muito legal e todos se divertiam.
Conversando mais afastado estavam Vtec Honda e Fernanda Furlan. Eles praticamente desenhavam no ar, acenando com as mãos, cabeça, pés e o que mais servisse para que pudessem expressar suas ideias.
Eles eram gênios, o meus amigos nerds preferidos, nos abraçamos muito e Vtec começou junto com Fernanda uma enxurrada de perguntas:
(Vtec) – Cara, “quidimais”, quantos componentes ao todo?
(Fernanda) – Tem muitos upgrade de software?
(Vtec) – Algum tipo de recarga de algum componente?
(Fernanda) – Opera remotamente?
(Vtec) – Algum impulso cerebral?
- Para, para, para. Falei antes da próxima pergunta.
- Imagino que vocês leram alguma revista cientifica, mas repondo tudo depois.
- Alguém tem um papel e caneta? Perguntei para ambos.
Prontamente Vtec tirou um bloco de anotações e um lápis do bolso da calça.
Pedi para Fernanda virar de costas formando um apoio para eu escrever, fui prontamente atendido.
Comecei a escrever e na sexta ou sétima palavra Vtec soltou um “mas”:
- Mas...
Não o deixei terminar.
- Não diga nada, apenas leia e não diga uma palavra sequer. Continuei escrevendo.
Terminado o rascunho, virei para ele e disse:
- Não diga uma palavra, apenas acene com a cabeça, é possível?
O sinal afirmativo de Vtec me deixou muito contente e continuei.
- Terça feira na minha casa. Dá tempo?
Outro sinal afirmativo e mais contente eu fiquei.
- Então, assim que eu sair você explica para a Fernanda, não sei se tenho escutas. Terça às dez horas na minha casa, combinado?
Tirei a folha usada do bloco de anotações, amassei e coloquei no bolso de Vtec. Devolvi o bloco e a caneta para Vtec.
Olhei fixamente para os dois e repeti:
- Ninguém pode saber. NINGUÉM.

Saga Derinarde II – Capítulo 044
Os dois de olhos arregalados e balançando a cabeça afirmativamente, como se fossem aqueles bonequinhos de mola. Eram esquisitos, mas muito legais.
Abracei os dois.
- Amo vocês, mas preciso ir. Até terça, tchau.
Dei mais uma volta no salão. Troquei umas palavras com um e com outro e encontrei Waldir Martani Maria.
- Como está Waldir, tem ido á academia? Perguntei apontando para seus braços.
Waldir imediatamente levantou os braços mostrando os bíceps parecidos com os meus.
- Tenho sim, tem que manter a forma, né. E você? Parece que também está em forma. Respondeu já perguntando.
Ao abraça-los confirmei que suas medidas eram muito parecidas com as minhas.
- Waldir, eu vou fazer uma reunião como amigos, na terça em casa. Gostaria que você fosse, é só um bate papo. Sabe. Estou precisando, aí, de uma ajuda, e...
Fui interrompido por Waldir.
- Nem precisa falar mais nada, o que o camarada Deri pedir, é uma ordem, estarei lá. Aceitou sem cerimônias.
- Beleza, terça às onze horas, ok? Depois almoçamos, em casa mesmo.
- Fechado. Estarei lá. Confirmou Waldir.
Antes de me afastar de Waldir avistei Vanessa e fui ao seu encontro.
- Vanessa Freixeira, há quanto tempo? Tudo bem? Já fui logo abraçando.
- Deri, como você está bem! Quando a Patrícia me ligou eu nem acreditei. Que bom te ver.
Realmente fazia muito tempo que não nos víamos. Ela é uma profissional de fisioterapia e RP.
Nós nos conhecemos em minhas recuperações pós-operatórias, dos acidentes que tive.
Como ficamos muito tempo juntos criamos um vínculo forte de amizade e confiança.
- Vou precisar dos seus serviços. Eu ando com uma dorzinha nas costas. Quer almoçar em casa, terça-feira?
- Terça é um dia tranquilo para mim. Afirmou Vanessa e continuou.
- Pode ser. Terça. Almoçamos e você conta as novidades. Terminou a frase acenando para Gleide, da academia.
- Já encontrou sua amiga? Vai lá conversar com ela. Você encontrará outros da academia aqui. Depois nos falamos. E a liberei para a conversa.
A festa rolou bem.
Pouco depois da meia noite fiz um “quase discurso” de agradecimento e sai de fininho sem ninguém perceber. Apesar de que a festa estava legal faltava-me alguma coisa, e não sabia bem o que era.
Regina Claudia que estava lá dentro, misturada aos outros saiu comigo, e lá fora no carro, Paulo Fernando aguardava apenas o meu sinal para ligar o veículo.
Foi o que fez a me ver sair com Regina Claudia. Entramos no carro e saímos.
Avisei que estava cansado e fomos para casa. Devido á hora e pouco transito chegamos logo.
Subi e assim que adentrei liguei o computador, mas algo me dizia que não deveria buscar o que queria, pelo menos não na minha rede.
Lembrei que tinha a senha da rede de Vicente Freitas, meu vizinho, dois andares acima. Certa vez em conversas sobre operadoras de cabo e telefonia decidimos trocar as senhas á fim de não ficarmos na mão por qualquer motivo.
Como eu estava fazendo algo que alguns poderiam não gostar e poderia estar sendo monitorado, não quis dar chance ao azar.
A rede de Vicente estava ativa e muito boa. Comecei minhas pesquisar.
Assustei quando ouvi barulho no corredor e alguém tentava abrir a porta. Fechei rapidamente todas as janelas de pesquisa e aguardei a porta abrir. Neste momento segurando a respiração.
A porta se abriu e ouvi ainda do corredor.

Saga Derinarde II – Capítulo 045
- Ué, nem dormiu é? Era uma voz familiar.
- Aracy, que susto você me deu. Falei aliviado.
- Espero que esse fantasma que você viu não tenha sido eu. Está pálido. Disse num tom zombeteiro.
- Não Aracy, eu não vi fantasmas. Vou tomar um banho, um bom café e sair para andar de moto. Antes de ir para o banho, informei:
- Aracy, terça-feira vou trazer quatros amigos para almoçar. Faremos uma reunião aqui em casa e depois almoçaremos ok?
- Quer algo especial? Perguntou Aracy.
- Tudo que você faz é especial, Aracy. E fui para o banho.
Parei a moto ao lado do carro que dormiu na frente de casa e não avistei os ocupantes, pois o vidro era muito escuro.
Bati no vidro do motorista o que baixou pela metade. Percebi que eram José Ricardo e Paulo Rosa.
- Bom dia rapaziada. Vou dar uma volta de moto. Acho que vocês não conseguirão me acompanhar, tudo bem? Falei com a segurança de quem vai se livrar rápido daquele incomodo de gente te seguindo.
Ledo engano meu.
- Tudo bem, estarmos colocando a força em alerta, enquanto der te acompanhamos, mas breve você terá companhia de duas motos. Vai reconhecer, pois as jaquetas têm o desenho de uma asa de borboleta.
- Ok. Então lá vamos nós. Apertei o botão do relógio que liga o cronômetro e sai.
O carro saiu atrás e quando entrava na Avenida Ricardo Jafet sentido Ipiranga avistei pelo retrovisor da moto que o carro acabara de entrar no acesso á quase um quilometro atrás. Pensei este seria fácil.
Mais uns dois quilômetros sai para o acesso da Avenida dos Bandeirantes, contornei o viaduto e quando passava por cima avistei o carro preto lá atrás, perdidos. Apertei novamente o ponteiro do cronômetro fazendo uma marcação.
Menos de dois quilômetros, ainda na Avenida dos Bandeirantes duas motos Ninja emparelham comigo.
Desacelerei um pouco e percebi o desenho de asa de borboleta na jaqueta de um deles. Tornei a marca no cronometro.
Em vinte e sete minutos estávamos chegando ao posto BR, no quilômetro 28, da rodovia dos Bandeirantes.
Uma das Ninjas era como qualquer outra Ninja, sem personalização, mas a outra era linda. Com cores predominantemente em branco e vermelho, dava uma suavidade e ao mesmo tempo agressividade, pois a sobreposição das cores era o detalhe.
Percebi que outros gostaram também.
Os motociclistas eram Fernando Ribeiro e Alexandre Baptistella.
Eu me apresentei a eles e já fui elogiando a Ninja de Alexandre.
- Muito bom gosto. Dando um aperto de mão.
- O pessoal tem elogiado. Respondeu Alexandre em agradecimento.
- A sua também é uma Ninja. Falei para Fernando enquanto apertava sua mão.
- Mas a dele é mais bonita. Respondeu Fernando.
Dei de ombros e sai para a multidão de motociclistas reunidos.

Saga Derinarde II – Capítulo 046
Este posto é um ponto de encontro tradicional para quem vai viajar em grupo e principalmente para motociclistas.
Sem ninguém combinar nada, nos fins de semanas você conta 350 á 450 motos ao mesmo tempo, sem contar o fluxo das que chegam e saem. O que é constante.
Encontrei vários velhos amigos e entre eles Mauri Gonçalves e Sébastien David. Este dois eram absurdamente malucos por motos. Já fizeram de tudo com elas. Eram ídolos de muitos que lá estavam.
Contei a eles o que pretendia e de imediato concordaram. Atualizamos os números de telefones e nos despedimos.
Fique por lá mais de duas horas, contando novidades, ouvindo novidades. E resolvi voltar para casa. Minha missão estava cumprida.
Sinalizei para Alexandre e Fernando e seguimos de volta.
Não vi o resto do domingo, pois como passara a noite em claro, desmaiei até a manhã de segunda-feira.
Segunda eu acordei cedo e bem disposto, fiz a anotações devidas que colhera ontem, domingo, inclusive os tempos do cronômetro e fui para a academia.
Gleide como sempre com aquele enorme sorriso dava bom dia aos que á academia chegavam.
Avistei Eduardo Soares na esteira e me encaminhei até a esteira do lado.
- Bom dia Eduardo. Cumprimentei já ligando minha esteira em oito quilômetros por hora, muito acelerado para começar uma corrida.
- Bom dia Deri. Parece que acordou bem disposto hoje, não? Eduardo se referia á velocidade marcada em minha esteira.
- É verdade, muito bem disposto. Falei aumentando para doze.
- Fizeram um bom trabalho em você. Por isso é que você vale tanto. Eduardo estava justificando o esquema de segurança.
- Fico pensando... O que aconteceria se desse um “olé” em vocês? Sabia a resposta, mas queria ouvir dele.
- Primeiro que é impossível. Você tem um rastreador. Segundo, nossa segurança é para te proteger, não para não deixa-lo fugir. E complementou.
- Você me conhece há três anos...
- Há três anos você era meu colega de academia, não meu segurança, lembra?
Parei a esteira e fui fazer peito.
Vinte minutos depois fui para a ducha. Passei em casa. Vesti uma roupa adequada e fui com os seguranças para a Cidade Universitária.
A dupla de seguranças havia trocado novamente, voltando Paulo Fernando e Regina Claudia.
Em pouco menos de uma hora estava eu passando pelo corredor da Poli em direção ao salão das bancadas.
José Reginaldo Ramos Ramos foi o primeiro a me avistar e com palmas compassadas chamou a atenção dos demais que até então pareciam robozinhos e, um á um virou-se para mim e acompanhou as palmas compassadas que aos poucos foi ficando mais rápido e mais rápido até que uma salva disforme aconteceu.
Senti-me lisonjeado, encabulado. Fiquei sem graça.
Reginaldo se aproximou, me pegou pelo braço e disse.
- Você tem um pouquinho de cada um deles. Vamos até a Dra. Elen.
Desta vez não seguimos pelo corredor de costume e sim subimos dois andares de escadas.
Em uma antessala, uma recepcionista pegou o telefone ao nos avistar pela porta de vidro, e antes de passarmos esta porta, já havia desligado.
Entramos na antessala e fomos informados.
- A Dra. Elen está aguardando, podem entrar. Disse em uma voz muito tranquila e baixa.
Ao entrar vislumbrei uma sala enorme, dividida com móveis em três ambientes. Tudo muito bonito e muito bem arranjado. Percebia-se que era tudo novo e da melhor qualidade.
- Você está podendo, heim Elen? Provoquei.

Saga Derinarde II – Capítulo 047
- É que precisava de um local adequado para mostrar você, Deri.
Lembrei que quanto á ironia, eu não teria chances contra a nazi.
- Bem senhora diretora ou seria secretária de estado? Desta vez não tentei nada a não ser identificar como deveria tratar.
- Na frente dos outros, Doutora basta, aqui pode ser somente Elen. Ela disse sem nenhuma formalidade.
Eu á achei um pouco mais humana, sei lá. Acho que já não a via há algum tempo.
Elen tomou a palavra.
- Como lhe prometi, ambos fomos valorizados e ambos temos que continuar assim. Você é funcionário da Escola Politécnica em tempo integral e será bem pago por isso. O Reginaldo irá lhe detalhar seus compromissos, testes e prioridades. Qualquer coisa ou situação que fuja destas prioridades eu tenho que ficar sabendo, entendido?
Pela primeira vez não senti vontade de bater continência. Alguma coisa mudara naquela mulher.
- Mas eu vou querer algum tempo para mim nesse seu “tempo integral”. Falei fazendo aspas com os dedos levantados.
- Os terá. Você só precisa estar disponível para os compromissos da Poli, o resto do tempo faça o que quiser. Eu estava ficando assustado, Elen estava mudando mesmo.
- Sabe de uma coisa? Não sei se é impressão minha, mas quanto mais robotizado eu fico, mais humana você parece! E abri uma gargalhada.
Elen nada respondeu e intimou José Reginaldo.
- Reginaldo, entregue tudo para o Deri, encaminhe-o para os testes.
Antes de sair eu ainda falei.
- Estou pensando em reformar meu “AP”, qual o nome do seu decorador?
- Patrícia David Costa. O Reginaldo lhe dará o telefone dela. Elen disse displicentemente.
- Ué, mas essa não é a arquiteta do Rodrigo Andrey? Sabia que estava cutucando o vespeiro, mas não deixaria passar.
Elen levantou-se da cadeira e foi enérgica. Não comigo...
- Reginaldo, espere lá fora.
Elen veio em minha direção, e não sei por que, aguardei um tapa que não aconteceu, ao invés disso Elen me pegou pelo braço e me levou até o sofá do segundo ambiente da sala.
Sentamos e ela falou:
- Deri, você não tem o direito de falar com o Rodrigo, com a Samantha ou qualquer um de minha vida privada. Agora eu assustei de vez, ela foi meiga...
Mas não me abati.
- Você quer mesmo, Elen, discutir direitos, vida privada, liberdade, essas coisas? Eu disse encarando Elen.
- Vamos fazer assim. Você diz o que esta te incomodando, como você quer, e negociaremos. O que acha? Elen queria muito que eu falasse naquele momento, mas lembrei de uma conversa com Wilmer, ainda no avião: “Estrategista, poder único de convencimento”.
- Combinado. Vou pensar e te digo, mas não agora, outro dia. Levantei do sofá e fui em direção da porta.
- O Reginaldo está me esperando com meus compromissos e prioridades. E sai da sala fechando a porta em seguida.

Saga Derinarde II – Capítulo 048
Encontrei José Reginaldo com Amanda de Paula, a recepcionista que nos anunciou para Elen.
- Deri, vamos que temos muita coisa para ajustar. Comentou José Reginaldo e eu não entendi nada.
Descemos até o térreo e entramos em uma sala com uma porta grossa e pesada que, só foi aberta depois que José Reginaldo passou seu crachá e digitou uma senha.
Acho que tinham umas vinte pessoas na sala e reconheci algumas.
Alex Baba e Carlos Vessoni que conheci no MIT estavam lá, também Cassia Raquel e Luiz Souza Filho, Nori Almeida e sua inseparável câmera, Ricardo Régis Lima, Cleiton Peroba entre outros.
Todos me viram entrar, sorriram, piscaram ou acenaram com a mão, mas nenhum largou o que estava fazendo.
Fomos até o quadrado onde estava o Luiz Souza, e José Reginaldo perguntou.
- Luiz Souza, a versão 12 da interface ttox4 está testada?
- Testada e todos os modelos responderam com cem por cento de acertos. Respondeu Luiz Souza me fazendo um positivo com a mão direita, piscou um olho e sorriu.
- Devo me preocupar? Perguntei ao Luiz Souza.
- Nenhum pouquinho, você só vai aprender a voar. Respondeu Luiz Souza abrindo ainda mais o sorriso que já era largo.
- Baixe agora. Determinou José Reginaldo me arrastando pelo braço até onde estavam Cássia Raquel e Ricardo Régis.
- Cassia Raquel e Ricardo Régis levem o Deri até a quadra e aplique os modelos de salto e velocidade. Nori. Registre tudo, se não der ao vivo, teremos gravado. Disse José Reginaldo quando o interrompi.
- Modelo, ao vivo, gravado. Se eles sabem o que fazer, não seria bom eu saber também. Eu estava ficando irritado com aquilo.
- Deri, o que você vai aprender e fazer em quinze minutos, eu precisaria de uma semana para te explicar. Confie que você saberá em menos de meia hora. Só te peço meia hora, ok? Ele pareceu sincero.
Fomos nós cinco para uma quadra. Era mesmo uma quadra poliesportiva com as linhas pintadas para basquete, vôlei, futsal e handball. Tinha o teto bem alto e curvado, como um “domo”.
Paramos em uma bancada com computadores e uma tela imensa, umas duzentas polegadas.
Raquel foi a primeira a falar.
- Deri, pegue estas duas esferas que estão na mesa. Apontando para duas bolinhas cinza que estavam sobre a bancada. Eram semelhantes e tinha o tamanho de uma pequena maçã, porém qual foi a minha surpresa, apesar de muito parecidas uma pesava muito, quase um quilo, enquanto a outra nada. Parecia isopor.
Cassia Raquel continuou.
- Esta mais pesada é o seu conhecimento de seu potencial muscular e ósseo das pernas até este momento e a partir de agora você verá este potencial como esta outra esfera, apontando para a mais leve.
Eu ouvia com muita atenção cada letra que a boca de Cassia Raquel liberava.
- Solte as esferas e olhe para a tela.
Vi uma bailarina, agachando e saltando, agachando e saltando.
- Repita este movimento. Solicitou Cassia Raquel.
Não achei que fosse aprender a dançar balé, mas obedeci prontamente.
- Preste atenção para subir e principalmente para descer. O amortecimento da descida é mais importante que o movimento para impulsionar. Fez-me repetir diversas vezes.
Cassia Raquel virou-se para Ricardo Régis que assentiu com a cabeça.
- Agora Deri, esta vendo aquela barra que sustenta o telhado, lá encima, em azul? Perguntou Cassia Raquel.
Nori que estava do outro lado da quadra filmando acendeu um holofote direcionado para o teto deixando o azul da barra mencionada por Cassia Raquel, ainda mais azul.

Saga Derinarde II – Capítulo 049
Cassia Raquel continuou falando.
- Neste mesmo movimento você saltará em direção á barra e retornará com o mesmo movimento. É importante retornar com o mesmo movimento.
- Você está querendo dizer que eu vou pular mais de dez metros de altura? Ah tá, conta outra. Falei desacreditado e zombando da cara de Cassia Raquel.
- Você quer pegar as esferas novamente? Cassia Raquel falou mais sério do que quando minha mãe me dava bronca ao fazer alguma arte.
Eu me recompus, olhei para cima e imaginei o movimento. Abaixar, saltar, cair, abaixar.
Cassia Raquel ainda disse algumas palavras.
- Se alcançar a barra, não segure, caia e repita o movimento de abaixar, ok?
Desacreditado de tudo, baixei.
Tudo ficou muito silencioso, não ouvia mais nada, parece que meus ouvidos tinham tampões ou como se eu mergulhasse em uma piscina e os sons ficaram lá em cima.
Ouvia minha respiração, meu coração.
Tudo se movia em câmera lenta, olhando para a barra azul, calculando mentalmente a distância e força necessárias. Desviei o olhar para Cassia Raquel que fechou o punho como que me desse algum tipo de força extra. Voltei os olhos para a barra e saltei.
Saltei totalmente vertical e mesmo que estivesse em uma velocidade acima do que jamais imaginara, parecia ainda estar em câmera lenta, e subia. Eu subia alto, e continuava subindo. O mundo para mim não existia mais. Somente uma barra azul existia. E a barra azul se aproximava. Eu não sabia ainda se alcançaria, mas ela se aproximava, e mais perto, e perto. Toquei com as duas mãos a tal barra azul, alta e distante.
O que foi que eu fiz? Mentalmente me perguntava. Como fizera aquilo? Do que eu era capaz?
Minha mente fervia, borbulhava.
Ao mesmo tempo em que toquei a barra azul comecei uma trajetória inversa. A descida.
Igualmente á subida, em minha mente o tempo passava devagar. A impressão é que estava em um sonho onde as coisas acontecem lentamente.
Bem agora eu estava descendo e era bom eu me preparar para a chegada ao chão. Pensei então na tela de duzentas polegadas. A bailarina subindo e descendo. Imaginei a chegada dela ao chão.
Espere aí.
Por que a bailarina
Eu fiz este movimento, eu sei fazer isto.
Automaticamente ao tocar o solo, apliquei o aprendizado e como um amortecedor de molas eu fiz um único movimento para baixo e outro para cima.
Estava no chão.
Olhei para Cassia Raquel depois para Ricardo Régis e perguntei para José Reginaldo que estava presente, mas não disse uma palavra desde que adentrou á quadra:
- Vocês viram isso?
- Vocês viram o que eu fiz?
- Quanto tempo demorou?
Eu estava eufórico.
- Quase quatro segundos, três e quarenta e dois milésimo. Gritou Nori do outro lado da quadra.

Saga Derinarde II – Capítulo 050
Não acredito que aquele tempo todo durou apenas três segundos e quarenta e dois milésimos. Pareceu muito mais.
José Reginaldo, falou pela primeira vez, na quadra.
- Ricardo Régis, como foi.
- Conforme o modelo. Sem repercussão externa, sem estiramento, curvas aceitáveis e organismo sem exigências extras. Ricardo Régis estava lendo muitos gráficos, o que deixava suas frases mais demoradas que o de costume.
- Excelente. Continuemos. José Reginaldo acenou para Cassia Raquel.
Eu percebi que as pessoas ali não estavam interessadas na minha euforia ou qualquer outro sentimento meu.
- Vamos correr Deri. Dito isto, Cassia Raquel me pegou pelo braço e fomos para o outro lado da quadra, em direção ao Nori. Atrás dele existia uma porta e por lá passamos.
Nori nos acompanhou com a filmadora e tripé.
Da porta avistei uma pista de corridas com apenas duas faixas. Tinha formato oval em uma largura máxima de 30 metros.
Cassia Raquel me deu as orientações.
- Deri, assim que eu der o sinal, dê duas voltas na pista. Corra o quanto puder, mas não o que acha que pode, e sim o quanto puder, ok? Lembre-se das esferas.
Eu me preparei e aguardei o comando.
Ouvi Nori avisar:
- Eu estou pronto.
- Corre Deri. Avisou Cassia Raquel.
Quase não fiz a primeira curva, pois estava muito rápido, mas fiz as duas voltas.
Estava ansioso para ouvir o resultado e fomos para dentro, ler os gráficos do Ricardo Régis.
Chegamos até a bancada e Ricardo Régis anunciava os resultados para José Reginaldo.
- Ótimo. A Dra. Elen ficará contente. Cassia Raquel oriente Deri para a apresentação ás quatorze horas. Bom trabalho pessoal e bom trabalho Deri. Virou as costas e saiu.
Eu me antecipei com Ricardo Régis.
- E ai, Ricardo Régis? Vai me chamar de “Usain Bolt”?
- Acho melhor continuar como Deri mesmo. Falou meio sério.
- Por quê? Não foi tão bom? Perguntei desanimando.
- Bom? Você deixou Bolt lá pra trás. E abriu um enorme sorriso, continuando.
- Bolt chega a uma velocidade máxima de trinta e seis quilômetros por horas e você chegou a quarenta e nove e meio. Isso mesmo, cinquenta quilômetros por hora, Deri.
Puxa, alguém além de mim sabia sorrir. Percebi que Nori estava radiante e Cassia Raquel me abraçou.
Entendi que o problema era a presença de José Reginaldo.
- Pessoal, por que não reagiram assim quando eu pulei? Perguntei para confirmar.
Ricardo Régis explicou que certa vez, o José Reginaldo tomou uma bronca danada da Dra. Elen porque estávamos comemorando o bom resultado de uma pesquisa e a partir daí resolvemos, para colaborar com ele, não comemorar mais em sua frente.
- Mas acredite Deri. Ele estava contente também. Complementou Nori.
Cassia Raquel ficou mais uma hora comigo, mostrando os dois vídeos feitos por Nori repetidas vezes e me mostrando algumas falhas e onde eu poderia melhorar.
Ela me falou das limitações de aceleração e desaceleração, das curvas com velocidade e das parábolas no ar. Que aula que eu tive.
Voltamos para a sala com autorização de senha e lá encontrei David Siqueira, o qual não estava da primeira vez.
- David não dá para eu saber um pouquinho mais de mim mesmo? Eu perguntei porque queria saber de verdade.
David pegou um tablet, digitou um endereço de intranet e me entregou dizendo:
- Este site só é acessado dentro desta sala, divirta-se.

Saga Derinarde II – Capítulo 051
Peguei o tablet e nele tinha a foto de um robô, de formas humanas, sentado e mão no queixo, acho que pensando e o título: “O Homem do Futuro”.
Sentei e comecei a ler.
Li sobre tecnologia avançada, movimentos robóticos, bio-tecidos, grafeno, comunicação de vários tipos, indutora, magnética, neural e muita coisa que nunca havia ouvido falar, mas de uma forma ou outra aquilo fazia parte de mim e o mais estranho: Eu estava entendendo. Lógico. Entendendo de maneira leiga, o que estava em mim, como funciona deveria ser mais difícil.
Meus músculos foram entrelaçados com nano tubos de grafeno. Uau, grafeno é um tecido de carbono, o mais resistente do mundo e tem a espessura de um átomo. Porra.
Tenho tendões elásticos e inteligentes que recebem impulsos eletromagnéticos diretamente do cérebro através de ondas magnéticas. As articulações de nióbio têm movimentos autônomos de equilíbrio com giroestabilização.
Não resisti e fui até onde estava Ricardo Régis.
- Ricardo Régis, o que é movimentos autônomos de equilíbrio com giroestabilização?
- É um uma inteligência que absorve impacto e equilíbrio, sabe aquela moto que não cai? É exatamente este sistema e estão nos seus joelhos e calcanhares. Deu o exemplo para se livrar logo de mim.
O tempo passou tão rápido que só percebi quando fui chamado á sala da Doutora.
José Reginaldo me acompanhou até o segundo andar e o sorriso da Amanda de Paula denunciava que já éramos esperados.
Entramos e mal me sentei em um sofá de um dos ambientes da imensa sala e o sermão começou.
- Deri, muita gente importante estará na apresentação, então limite-se a executar o script que estou te entregando, sem gracinhas, sem respostas, sem improvisos. Ok? Perguntou a séria Dra. Elen.
- Somente os doutores da Poli solicitarão movimentos, somente os doutores perguntarão, somente os doutores responderão, entendido?
Levantei os antebraços até o peito, baixei as mãos, coloquei a língua para fora e imitando um cachorrinho acenei afirmativamente para Elen.
Mais séria ainda, Elen perguntou.
- ALGUMA DÚVIDA, DERI?
Acenei afirmativamente com a cabeça.
- O que foi? Perguntou Elen.
Quem vai me dar petisco? Os doutores da Poli?
Elen rangeu os dentes que deu para sentir em toda a extensão da sala, perguntando.
- Eu já te disse que você não tem graça, por que insiste?
Como bom cachorrinho retribui a pergunta.
- Au, au. É por que te amo, au, au, por que resiste. Au, au.
Os Deuses sejam louvados. Tirei um sorriso da nazista. Elen deu de ombros. Sorriu e deu de ombros.
Saí da sala deixando José Reginaldo com Elen.

Saga Derinarde II – Capítulo 052
Na recepção, ao passar por Amanda de Paula ainda brinquei.
- E ai Mandinha? Não quer adotar um cãozinho escorraçado?
Amanda sorri e eu segui para o térreo.
Não demorou muito para que alguém abrisse a sala cofre. Eu não tinha crachá nem senha.
Chegando á sala dos doutores, vi que aquilo estava irreconhecível. Era um corre, corre de dar gosto.
Naquele alvoroço vi Eduardo Soares, meu chefe de segurança e parceiro de academia.
Eduardo é que veio ao meu encontro.
- Deri. Para o meu bem, por favor, não se afaste de minha vista. A coisa está tão densa, que não tem espaço para espirrar.
O anfiteatro fica no mesmo prédio, mas sua entrada é do outro lado do complexo. Existe uma passagem interna e é para lá que nos direcionamos, enquanto Eduardo falava ao microfone do de rádio.
- Paulo Fernando e Regina Claudia, eu estou com Deri no corredor dois, esperem no inicio da ligação. Seu gesto com a cabeça indicara que alguém do outro lado da comunicação assentiu.
Viramos para a direita seguimos outro corredor, passamos duas portas e tornamos a virar para a direita. Atrás de outra porta encontravam-se Paulo Fernando e Regina Claudia.
- Levem o Deri até o anfiteatro e aguardem novas ordens. Solicitou Eduardo quase que me entregando aos dois.
Nós três fomos pelo corredor longo de ligação enquanto ainda ouvia Eduardo ao fone, provavelmente com gente lá fora.
- Não se não tiver credencial, não. Está na lista? Não tem credencial e nem está na lista? É algum jornalista intrometido, põe ele pra fora.
O longo corredor terminava em outra por a qual atravessamos sem maiores problemas, subimos uma escada de poucos degraus e nova porta, esta estava trancada.
Regina Claudia começou a falar no seu intercomunicador.
- Estamos na porta interna do anfiteatro. Após alguém falar algo para ela, seguiu-se a senha.
- 5759b. E a porta abriu-se. Do outro lado esperavam Paulo Rosa e José Ricardo.
Seguimos os cinco por um corredor muito estreito e cheio de portas, entramos na terceira e uma salinha, tipo camarim, se mostrou.  
Entrei com Regina Claudia e Paulo Fernando.
Paulo Rosa e José Ricardo ficaram na porta, do lado de foram.
Passados, vários minutos, quando a coisa já estava mais que entediante, um som de alto-falante começou á emitir sons, abafado, do lado de fora.
Eram apresentações e agradecimentos.
Perguntei então á Regina Claudia:
- Eu não deveria estar lá? Eu sou a estrela principal.
- No seu tempo. Respondeu Regina Claudia enquanto observava um folheto que estava sob a mesinha de espelhos, de alguma apresentação anterior.
O tempo foi passando e o nervosismo aumentando.
Em meio á musicas e comentários ouviam-se aplausos. E mais comentários e mais aplausos. Percebi que era uma apresentação gravada, porém não da para ouvir o que estavam falando, a acústica não permitia.
Regina Claudia levou a mão até o ouvido e respondeu.
- Ok, estamos prontos.

Saga Derinarde II – Capítulo 053
Virou para mim e disse:
- Deri, cinco minutos. Vista isto. Entregando-me uma caixa que já estava na sala.
Eram roupas de esporte parecidas com aquela que os atletas que fazem ginastica olímpica, talvez argolas ou cavalo. Havia uma regata branca, uma calça azul e tênis e meias brancas.
As vesti e em seguida saímos pelo corredor e subimos outro lance de escadas. Estávamos atrás da cortina no palco e dali avistei no palco, uma mesa com quatro pessoas, outra cadeira no centro e uma plateia repleta.
Á mesa estavam Elen Peres, José Willian Baptistella, Ronaldo Ambrosio e Valdenei Rodrigues Oliveira.
Neste momento uma voz do palco anuncia.
- E com vocês, O HOMEM DO FUTURO. Iniciou-se um demorado aplauso.
- É sua vez. Falou Regina Claudia enquanto me dava um leve empurrão.
Entrei no palco sorrindo, mesmo que não quisesse sorrir não conseguiria. Agradeci algumas vezes com a cabeça e me dirigi para a cadeira no centro do palco.
Elen fez um gesto que entendi que deveria sentar ali, e sentei.
Aberta a sessão de perguntas, todas dirigidas á mim, porém, sempre um professor doutor da área da pergunta á respondia. Eram seis ou sete doutores que já portavam um microfone. Eu nenhum.
Todas as perguntas tinham cunho técnico e as respostas eram as mais genéricas, pois ficaria muito restrita se houvesse aprofundamento.
Eu particularmente acho que apresentações científicas têm o objetivo principal de confundir e complicar, assim a coisa torna-se mais importante.
Eu ameacei a levantar por duas vezes que perguntas foram feitas sobre minha capacidade motora, mas o dedo em riste e o olhar de raios de Elen não permitiram.
Foram as mesmas duas vezes que fiz o cachorrinho para ela.
Muitos perguntaram outros tantos responderam, ouve uma salva de palmas e saímos do palco.
- Elen o que eu fiquei fazendo naquela cadeira? Teria sido mais interessante uma boneca inflável! Falei com desdém.
- Você fez o que era para ser feito. E saiu sob um arsenal de flash e microfones de repórteres que aguardavam. Antes, porém, cochichou algo no ouvido de José Reginaldo que veio imediatamente em minha direção.
Ele me segurou no braço, levou-me para o outro lado na direção á porta que entrei.
- Você não sai por aqui, é por lá. E encontramos os inseparáveis Paulo Fernando e Claudia Regina.
Eles abriram a porta e enquanto passávamos ouvi José Reginaldo ao rádio.
- Pessoal, terminamos, podem desligar.
Fizemos todo o trajeto de volta até a sala forte e lá voltei a ler os documentos sobre mim, quer dizer, sobre o projeto.
Passavam das onze horas da noite quando decidi ir para casa. Acenei para o pessoal que ainda estava na sala e sai.
Na porta meus fieis escudeiros me aguardavam. Claudia Regina caminhava ao meu lado enquanto Paulo Fernando ia á frente para pegar o carro.
Estava exausto. Aquela leitura todo me consumiu. Dormi logo.

Saga Derinarde II – Capítulo 054
Na manhã seguinte acordei bem disposto e nem eram sete horas. Tomei o maravilhoso café da Aracy e fui para a academia.
Como sempre o sorriso de Gleide era algo agradável pela manhã. Fui direto para a esteira fazer um aquecimento.
Comecei com sete quilômetros por hora depois aumentei para doze. Em três minutos coloquei em dezoito. Já estava aquecido e resolvi testar a esteira. De verdade.
Aumentei para vinte quilômetros por hora e senti que meu corpo suportaria mais, muito mais. Vinte e dois e me esforçava bastante para não ir para traz.
“O que estaria acontecendo, cheguei a quarenta e nove ontem”, pensei.
Forcei ainda mais até que tive que segurar na barra para não ir para fora da esteira. Lá da frente Gleide percebeu minha dificuldade e veio ao meu encontro.
- Está querendo ganhar a maratona? Perguntou com a intenção de me auxiliar, não de “zuar”.
- Tem alguma coisa errada. Respondi por reflexo.
- Mas o Sr. Daniel Gomes disse que estava tudo ok, você tem certeza. Gleide ficou preocupada.
- Não. Com a esteira está tudo bem. É algo errado comigo. Quer dizer. Está tudo bem comigo, é que...
- Deixa pra lá. Está tudo bem, Gleide. Eu é que me equivoquei. Tentei deixar a Gleide mais tranquila.
Gleide retornou para sua mesa na portaria.
A esteira já estava desligada e eu aquecido e para o tira-teima ensaiei o agachamento de balé que aprendi ontem.
Olhei para o teto e vi que era bem mais baixo que o da quadra da Poli. Não passava de cinco metros. Fácil.
Saltei.
Não passei de um metro de altura, ou se passei foi muito pouco.
As palavras de José Reginaldo gritaram em minha cabeça: “Pessoal, terminamos, podem desligar”. Eu tinha um dispositivo de liga e desliga. Mas como, quando e onde estaria?
Fiz mais alguns exercícios de peito e braços, tomei uma ducha e fui para casa.
Mal fechei a porta e o interfone tocou. Pela janela avistei a portaria e lá embaixo estavam Vtec Honda e Fernanda Furlan.
Atendi o interfone e pedi que subissem.
Vtec carregava uma mala preta enorme. Parecia um propagandista. Aqueles que vão á consultórios médicos cheios de amostra grátis.
Fernanda tinha nas mãos uma sacola plástica amarela daquelas dadas em lojas de roupas.
Esses meus amigos eram gênios, mas tinham um péssimo gosto para as coisas que carregavam, pelo menos no visual.

Saga Derinarde II – Capítulo 055
Antes de qualquer coisa liguei o aparelho de som, achei um CD do Aerosmith e coloquei para tocar. Aumentei o volume para um pouco á mais do que estava acostumado.
Liguei a TV, coloque um DVD de musicais da Broadway, também em um volume alto.
- Agora já dá para conversarmos, falei nos ouvidos de Fernanda e Vtec.
Comecei logo a contar o que acontecera no dia anterior.
- Então eu saltei muito, muito alto, mais de dez metros e corri á quarenta e nove e meio quilômetros por hora. Igual á um Guepardo, sabe...
- Meio pardo. Interrompeu-me Vtec.
- Hã? Eu, que comentava entusiasmado sem nem mesmo tomar folego, o perdi.
Continuou Vtec:
- Um Guepardo adulto chega á uma velocidade de cem á cento e cinco quilômetros por hora, se você chegou á quarenta e nove e meio quilômetros por hora, chegou á metade da velocidade do Guepardo então meio. Meio pardo.
Achei ridícula aquela explicação, mas em se tratando de Vtec...
Era assim o seu senso de humor.
- Diga uma coisa, é possível um dispositivo de liga desliga? Perguntei já sabendo a resposta.
Fernanda se antecipou desta vez.
- Em bomba de gasolina tem.
E continuou.
- O frentista fica á distancia e com um controle remoto ele liga um chip na bomba que altera o valor e conteúdo que realmente despejou no tanque do carro. Completou.
- Tem como saber como isso é feito?
- Não. Respondeu Vtec.
- Sim. Respondeu Fernanda quase que sobre o não de Vtec.
Um olhou para o outro e tornaram a responder. Repetiu-se invertido.
- Sim. Vtec.
- Não. Fernanda, coincidindo as falas.
Fiquei pasmo olhando os dois que se entreolhavam.
- Você tem que capturar o momento da mensagem. Fernanda falou para Vtec.
- Mas não sabe quando a mensagem foi disparada. Retrucou Vtec.
- Se souber quando foi disparada você intercepta. Fernanda.
- Como vai saber se é aquela mensagem? Vtec.
Percebi que era quase um duelo, e dos bons. Alguma coisa sairia dali.
- Grava todas e reproduz uma á uma, a que acionar é ela. Fernanda.
- Podem existir milhares. Vtec.
- Eu disse que era possível, não que era fácil. Fernanda.

Saga Derinarde II – Capítulo 056
Ambos ficaram mudos, olhando um para o outro. Alguns segundos depois, até pensei que ambos haviam desligado, Fernanda se manifestou.
- Eu quero fazer, por favor.
- Tá bom, vamos fazer, mas não temos garantias. Vtec confirmou.
Olharam para mim, como se aquela pequena conferencia nunca existira e em uníssono responderam.
- Sim.
Fiquei feliz de tê-los por perto.
Fernanda abriu a ridícula sacola amarela e tirou uma roupa mais ridícula ainda.
Era composta de uma calça com elástico na cintura e nos pés, não tinha zíper, boão o braguilha,, parecia um saco costurado, bem como uma camisa sem abertura na frente, como uma camiseta de mangas compridas, com elástico também nos punhos. Uma toca ninja muito fechada que só deixava os olhos aparecerem, um elmo seria mais ventilado, um par de luvas sem dedos, também com elástico nos punhos e meias com pontas, se é que pode se chamar aquilo de meia, na verdade as luvas e meias confundiam.
Sem falar da cor. Coisa muito feia. Um marrom muito duvidoso, acinzentado com aparência de sujo. Com mais de um milhão de cores apresentados por qualquer computador de brinquedo e ela escolheu a pior delas. Era de dar medo.
Todas as peças do mesmo tecido, uma malha muito fechada, vim a saber depois que se tratava de TNT, um tecido que parece papel, utilizado para saquinhos, embalagem de presente.
E tudo da mesma, horrorosa, cor.
- O que é isso? Perguntei com cara de nojo.
- É a sua roupa de invisibilidade. Respondeu a felicíssima Fernanda.
- Ahhh, com isso eu fico invisível, como Harry Potter? Perguntei incrédulo segurando a camiseta com a ponta dos dedos.
- Sim. Entusiasmou-se Fernanda.
- Ela é pintada com uma tinta de alumínio e ferro oxidada, com isto não permite que ondas de rádio ou outras ondas transpassem, tornando os seus comunicadores invisíveis. Testamos com as redes WI-FI, celulares e até intercomunicadores e não passou nada.
- Com essa cor eu pensei que impedisse o “cocô” de passar. Falei ironicamente.
- A cor poderemos mudar depois, vamos ver a aplicação. Comentou Vtec ligando seu osciloscópio.
Com uma pequena antena em formato de parabólica ele “varreu” todo meu corpo. Fez anotações e concluiu.
- Você tem oito pontos de comunicação, mas emissão de ondas que ultrapassam três metros, só dois. Um no ombro direito e outro nas costas, na altura dos rins. Engraçado...
Vtec parou de falar fez algumas releituras com a antena, tornou a fazer anotações e continuou.
- Tenho a impressão que você tem todos os comunicadores em duplicata, mas só a metade está funcionando, a outra metade está hibernando...
- Deliga o principal para acordar o secundário. Comentou Fernanda pegando a ridícula calça que trouxera e enrolando em meu ombro.
Vtec refez a leitura.

Saga Derinarde II – Capítulo 057
- Isso! Isso! Vtec verbalizou uma emoção de contentamento.
- Ao bloquear a comunicação do principal o outro começou a transmitir, libere o ombro, agora, Fernanda. Solicitou Vtec.
- Isso! Isso! Repetiu Vtec.
Ele tirou seu notebook daquela “malona” e começou á escrever códigos de programação, ficou ali, perdido, por um bom tempo, enquanto eu contava minhas façanhas do dia anterior, para Fernanda.
Contei também que hoje pela manhã, tentei corre como ontem, mas não consegui.
Fernanda então começou á contar o plano, ao mesmo tempo em que o desenhava mentalmente.
Estávamos muito próximos em volta do notebook de Vtec e não poderia ser diferente, com aquele som muito alto, não ouviríamos um ao outro se houvesse maior distância entre nós.
- Dá próxima vez você for lá, levará um gravador de ondas...
- Na mala, na mala. Vtec interrompeu Fernanda apontando sua mala.
Fernanda enfiou a mão na mala e após observar e mexer em seu interior tirou um aparelhinho pouco menor que um celular, Preto e com fita isolante ao redor, tinha apenas um botão em sua lateral.
- Você levará isto, e ao perceber que será acionado, você aperta este botão. Quanto menor o tempo de gravação, menor a quantidade de sinais, logo mais fácil será isolá-lo e o mesmo quando perceber que será desligado. Terminou Fernanda.
- Pronto, vamos transferir agora. Comentou Vtec pegando outra caixinha dentro da mala, desta vez um pouco maior que um celular.
Abriu a tal caixinha com ajuda de uma chave de fendas. Dentro havia componentes eletrônicos, bateria e um cartão de memória encaixado.
Tirou o cartão de memória e o introduziu em seu notebook, copiou programa, que acabara de escrever, para o cartão de memória e o reintroduziu na caixinha.
Apertou um botão no centro da caixinha e um LED vermelho ascendeu.
- Deri, ponha a camisa para cobrir apenas os ombros. Disse Vtec com o osciloscópio na mão.
Obedeci colocando aquilo em mim.
Nós olhamos para a caixinha e nada mudou o LED vermelho continuava aceso.
Vtec faz novas varreduras em meu corpo e constatou que o secundário, o das costas, estava transmitindo.
- Coloque toda a camisa. Ordenou Vtec.
Em segundos a luz vermelha do LED ficou verde. Achei que tivesse terminado, mas Vtec e Fernanda não piscavam, não estou bem certo se eles respiravam.
Vtec refez leituras em meu corpo, fez leituras na caixinha, tornou a fazer leituras em meu corpo.
- Tire a camisa, mas deixe o ombro coberto. Insistiu Vtec.
Repetimos isso por mais de dez vezes e por fim Vtec deu o veredito.
- EUREKA. Conseguimos.

Saga Derinarde II – Capítulo 058
Na ideia geral e pelo que eu entendi, ficou assim:
Tenho uma roupa horrível que não permite ondas de comunicação entrar ou sair de mim. Foi criado um dispositivo que simula minha localização. Era quase tudo que eu queria, exceto uma coisa.
- Fernanda, como eu vou andar pela rua com essa roupa ridícula?
Fernanda foi rápida e lógica como só ela, Vtec e meia dúzia de Nerds seriam.
- Pode dizer que está indo á uma festa á fantasia.
Somos interrompidos por Aracy que faz sinal de que o interfone está tocando.
Era Waldir Martani Maria.
Ele subiu e expliquei para ele que o motivo daquela barulheira, que aquele som alto era para disfarçar se tivéssemos escutas.
Expliquei, também, á ele que queria um sósia de corpo e como ele tinha as mesmas dimensões que eu, se aceitaria.
- Claro Deri. Pode contar comigo. Confirmou meu amigo Waldir.
De imediato fomos fazer um teste.
Waldir vestiu minha roupa de couro, macacão e luvas, pegou meu capacete e as chaves da moto.
Vtec ligou a caixinha preta.
Eu vesti meu ridículo uniforme. Pela primeira vez, completo. Eu me senti o ET do filme.
A luz verde estava acesa e Waldir á prendeu no sinto. Desceu pegou a moto e saiu.
Dá janela vi quando o carro dos seguranças saiu atrás de Waldir, quer dizer de mim.
Comemoramos.
Não tínhamos muito que fazer na próxima meia hora, tempo em que combinei com Waldir para voltar.
Enquanto isto, Fernanda e Vtec faziam filtros, no notebook, para o tal gravador de sinais que eu levaria para a Poli.
Passou o tempo e Waldir retornou. Atrás dele o carro com os seguranças. Primeira parte concluída, vamos para a segunda.
Vesti um agasalho largo e com capuz sobre o uniforme, cor de cocô, e fui até a padaria, dois quarteirões de distância.
Meu objetivo era comprar pão para disfarçar e voltar, mas não tive coragem. Mesmo todo coberto. Entrar na padaria usando aquela toca ninja que só deixavam meus olhos para fora, sem chances.
Voltei e constatei que não fora seguido. Segunda etapa completa.
Eu já sou um cara invisível. Já tenho dublê de corpo e de localizador, e aquela maldita roupa me incomodava muito.
Aracy veio informar, novamente, que alguém estava na portaria.
Era Vanessa Freixeira, que de imediato entendeu a barulheira e meu objetivo, após uma rápida explicação.
Vanessa deveria fazer com que Waldir se comportasse fisicamente como eu. Gestos, movimentos e postura. Há distância, deveriam olhar para Waldir e me ver.
Vanessa e Waldir tiraram de letra. Ele estava muito parecido comigo e pela primeira vez, observei minhas manias, meus cacoetes, meus gestos.
Eu não fiquei cem por cento, contente com esta descoberta.

Saga Derinarde II – Capítulo 059
Falamos por mais umas duas horas e o silencio voltou á rondar minha casa. Que alívio. Mas era a única maneira de não sermos ouvidos caso tivéssemos escutas.
Sentamos á mesa. Deliciamo-nos com a refeição de Aracy e falamos apenas amenidades.
Terminamos o almoço e nos despedimos.
Vtec entregou para cada um de nós um cartão que acabara de imprimir, e nele havia a frase:
“A amizade que nos uniu será o suficiente para manter-nos unidos”.
Sorríamos ao ler o cartão, porém, ficamos sérios quando liamos o verso.
Era uma combinação fantástica das doze palavras da frase, tornando-se um código de conversa conforme sua disposição.
Entendemos de imediato seu funcionamento e como deveríamos usar para evitar que outros soubessem do que se tratava.
- Decorem e destruam. Falou Vtec.
Já era meio da tarde e nada tinha para fazer, decidi ir para a Poli. Vesti o macacão de couro, pois iria de moto e quanto mais os seguranças se acostumassem como esta vestimenta, melhor.
Passei devagar por eles, os quais começaram a me seguir. Fui de boa, o que facilitava para eles me seguirem.
O trânsito estava bom e chegamos rápido. Fui para a sala com porta de cofre e não consegui entrar, decidir subir para falar com a “gestapo”.
Amanda estranhou minha chegada solo, e perguntou o que desejava.
- Vim só visitar você, mas como já estou aqui, posso falar com Elen? Quase irônico.
- Ela não está no momento, mas tenho ordens de atendê-lo no que for. Amanda foi muito solícita.
- Eu quero um crachá para aquela sala de porta verde com senha, você tem?
Prontamente Amanda ligou para alguém explicou a situação, agradeceu e desligou.
- O Senhor Eduardo está vindo para resolver, quer agua, café, chá?  Apontando para o canto da sala onde tinha uma mesinha com tudo isso e mais um prado de biscoitos.
Eu me servi de agua e senteis em um enorme sofá de almofadas brancas e muito macias.
Em menos de quinze minutos estava Eduardo me explicando normas de segurança, me entregou um crachá e informou a senha 7676.
- Este chacha e senha abrirão algumas portas e outras não. Não faça nada para perder este acesso. Eduardo foi incisivo.
Apanhei um tablet dos muitos que tinha nas bancadas, inseri o endereço que David Siqueira me passará da última vez que aqui estive.
Foquei-me em ler tudo sobre conectores, chaves e dispositivos neurais. Sobre este último me debrucei com mais atenção e quanto mais eu lia mais ficava impressionado.
Algo sobre telemetria e módulo de calculo interagindo com neurônios. Como a ciência está avançada, será que vão colocar isso em mim, pensei.
Passado umas três horas senti uma mão sobre os ombros. Era José Reginaldo.
- E aí Deri? Passando o tempo ou estudando?

Saga Derinarde II – Capítulo 060
- Estou fascinado com essas coisa que vocês fazem aqui. Um dia isso será possível? Perguntei entusiasmado.
E percebendo este meu entusiasmo, José Reginaldo olhou para o relógio que marcava dezenove horas e quarenta e oito minutos.
Pegou o telefone, discou um número e perguntou:
- Amanda, é José Reginaldo. A doutora Elen está?
- Não ela já se foi, faz uns quarenta minutos.
- Volta hoje?
- Não. Posso anotar redado, se desejar.
- Não, não. Não precisa, falo com ela amanhã, boa noite.
José Reginaldo sentou-se eu uma cadeira á minha frente, pegou o tablet que estava em minhas mãos, digitou um endereço que pediu login e senha.
Instintivamente enfiei a mão no bolso e posicionei meu dedo sobre o botão de gravação. Estava carregando comigo o gravador de sinais que Fernanda havia me entregue, ainda hoje.
José Reginaldo não percebera quanta atenção eu dispensava para aquela navegação.
Percebi que era hora, acionei o gravador.
- Pronto. Comentou José Reginaldo ao mesmo tempo em que eu acionava o botão, fazendo com que a gravação parasse.
- Venha comigo. José Reginaldo levantou-se e fomos para fora daquela sala.
Seguimos pelo corredor em direção á quadra, más entramos em outra porta. Outra passagem.
Era um local grande como a quadra, mas cheia de equipamentos, bancadas e outras coisas que não consegui identificar.
A bancada que paramos tinha um tubo cilíndrico, o qual José Reginaldo tencionou uma mola que puxou uma espécie de êmbolo.
Junto ao cilindro foi ligada uma pistola que ascendeu uma lâmpada vermelha e seguiu-se uma explicação:
- Este é um canhão de lançamento. Vou colocar uma bolinha nesta ponta e disparas. Apontando para o cilindro.
- Esta é uma pistola que mede distância e velocidade de objetos em movimento.
José Reginaldo colocou uma bola de tênis no bocal do cilindro e a mesma rolou até atingir o êmbolo.
- Vá até o outro lado e eu vou disparar esta bola em você, então peste atenção na bola e tente pega-la.
Obedeci.
Fui até o outro lado, virei de frente para o cilindro e fiquei posicionado para pegar a tal bola.
José Reginaldo começou a falar:
- Agora peste atenção quando a bola sair do canhão em alguns segun ...
Páahhh, ouvi um disparo do embolo e a bola apareceu em minha mão esquerda.
Eu não vi a bola, mas eu me lembrava dela vindo em minha direção e o mais incrível, eu lembrava em câmera lenta.
José Reginaldo veio em minha direção com um papel na mão.
- Deri, a que distancia esta bola foi arremessada? José Reginaldo começou um questionário.
- Sei lá há uns 32 metros.
- Deri qual foi a velocidade que esta bola atingiu?
- Uns 72 quilômetros por hora?
- Deri quanto tempo levou o percurso da bola?
- 78 centésimos de segundo. Mas não sei porque respondi isso.
José Reginaldo me entregou o papel que tinha em suas mãos e nele estava escrito:
32,008 mts, 71,997 km/h, 78cs.

Saga Derinarde II – Capítulo 061
- Deri você errou, mas foi por muito pouco. José Reginaldo estava sorrindo.
- Do que mais sou capaz?
- Muito, meu jovem, muito.
Voltamos para a sala cofre, peguei outro daqueles tablets e comecei a pesquisar. José Reginaldo estava próximo e percebi que, no tablet em suas mãos, entrara no endereço de controle do “liga/desliga”. Em alguns segundos apertei novamente o botão do gravador que carregava.
Quando José Reginaldo saiu avisei que ficaria mais um pouco. Algumas pessoas ainda se encontravam por lá.
Li sobre a experiência de hoje: componentes matemáticos e interface neural.
“Foi desenvolvido recentemente pela USP de São Carlos um chip de carbeto de silício (Sic) com a capacidade de interpretar estímulos e, implantado no cérebro, processa imagens e sons captados pelos olhos e ouvidos.”
Sendo o carbeto de silício aceito pelo organismo, outros componentes eletrônicos foram desenvolvidos e implantados no cérebro e estes, interpretam impulsos elétricos gerando movimentos musculares.
Estes componentes funcionariam até mesmo como transmissores e receptores bluetooth, dispensando o uso de fios ou nervos, gerando o movimento diretamente no músculo.
Fiquei lendo por horas e já quase de madrugada resolvi ir para casa. Guardei o tablet na pequena mochila que carregava e fui pegar a moto que estava lá fora estacionada.
Acenei para os seguranças que de imediato começaram a me seguir.
Cheguei á minha casa rapidamente, pois dada a hora tardia nada havia de transito. Tomei um banho e fui dormir. Estava exausto.
Já pela manhã acordei descansado e bem disposto. Tomei um excelente dejejum preparado por Aracy e fui para a academia.
Aquela caminhada matinal me fazia um bem danado. Ao passar por baixo de uma aroeira, uma arvore comum nas calçadas de São Paulo, apanhei um punhado de pimenta rosa. Esfreguei entre as mãos e fui cheirando até a academia. Aquela pimenta rosa em um assado era excepcional.
Na academia o sorriso de Gleide dava bom dia. Fui para a esteira me aquecer.
Coisa de vinte minutos depois chegou ao meu lado uma linda negra de corpo escultural. Era mais alta que eu que tenho um e oitenta e cinco. Tinha um corpo muito bem definido e totalmente esculpido em academias. Nada nela era artificial.
Sua voz feminina e firme chamou-me a atenção para seu rosto, que devido ao corpo, ainda não havia atentado.
- Oi Deri, sentiu minha falta?
-Nídia? Quando voltou ao Brasil? Perguntei perplexo.
Nídia Saraiva foi minha personal no MIT e devido o tempo menos quente de Massachusetts, o agasalho de ginastica nunca permitira ver todo aquele corpo. Não com essa riqueza de detalhes que a malha supplex expunha neste momento.

Saga Derinarde II – Capítulo 062
- Pois é Deri. Terminei meu ciclo lá e decidi fugir do frio. A Cássia Raquel conseguiu uma boquinha no projeto, para mim, e cá estou. Respondeu sem nenhum constrangimento.
- E vai cuidar de mim, aqui? Isto é um presente!
- Acho que eu saio ganhando nessa. Ouvi dizer que quem esta com você no projeto, logo ganha uma promoção. Nídia estava se referindo á Eduardo Soares e David Siqueira que agora era chefes de equipe.
- É que eu sou uma pessoa influente. Comentei com cinismo.
Mal sabia ela que a “chefona” também me usou de trampolim.
- Tenho uma sequencia muito boa para peito e membros superiores, pois estou vendo que inferiores você está em forma. Vamos começar?
Convite que não pude recusar.
Fomos para os aparelhos e Nídia tirou de mim o meu máximo. Suei muito, sofri muito, mas acho que é porque estava muito mal acostumado.
O diferencial, com Nídia, é que a técnica aplicada em cada aparelho e em cada movimento era mais desenhada. Tinha uma conotação de muito mais força e atenção do que meramente repetitiva. Era quase um “pilates”, porém, não sei como explicar, eram mais circulares.
Ficamos três horas nos exercícios, o que me deixou exausto, mas satisfeito por ter conseguido executar da maneira como foi proposto.
- Uau, eu acho que a última vez que treinei assim foi com David, antes de ir para o MIT. Comentei enxugando o suor da testa.
- Pelo que eu soube você não volta mais para lá. O pessoal daqui tem medo de te perder.  Nídia soubera disso conversando com o pessoal da Poli.
- Será que o projeto para por aqui? Tentei colher algo mais.
- Eu disse que você não volta para lá. Não disse que o projeto parou, aliás, se tivesse parado eu não estaria aqui. Foi direta e reta. Nídia sabia de algo mais.
- Vou ter novas aquisições, é isso? Insisti.
- Não estou autorizada a falar. Só sei que você precisa estar preparado.
O sorriso largo, de dentes enormes e extremamente brancos, perfeitos, contavam muito mais do que ela pudesse imaginar.
Tomei minha ducha e fui para casa.
Ao chegar em casa o som estava nas alturas, mas não imaginei que Aracy estaria dando uma festa.
Ao entrar, Aracy já foi dando a notícia.
- Seus amigos malucos estão aí há mais de duas horas.
Eram Fernanda Furlan e Vtec Honda que programavam, faziam cálculos e discutiam bastante.

Saga Derinarde II – Capítulo 063
Cumprimentei-os e fui até o quarto.
De volta do quarto trouxe um tablet que estava em minha mochila. Entreguei-o á Fernanda.
 - Este é da sala-cofre. Só funciona na intranet de lá. Não achei nada interessante gravado nele. Comentei no ouvido de Fernanda, devido ao som alto.
Fernanda mostrou a Vtec e os dois começaram á trocar ideia. Como falavam um no ouvido do outro não tenho noção do que tratavam, mas imediatamente Fernanda pegou uma chave de fenda e abriu o tablet. Tirou um componente da pequena placa de comunicação e entregou á Vtec.
O componente foi instalado em uma placa acoplada na saída USB do note de Vtec.
Percebi que Vtec fizera copias, retirou o componente e devolveu para Fernanda que imediatamente colocou-a de volta ao tablet.
Fernanda ligou o tablet, fez alguns testes, fechou-o e devolveu á mim dizendo.
- Devolva onde o pegou. Saberemos quando for usado.
Olhando para Fernanda fiquei imaginando, como aquela pessoinha miúda, com rosto de criança poderia saber tanta coisa assim.
Fernanda Furlan era formada em engenharia da computação e matemática cursadas em paralelo. Apesar da pouca idade, vinte e seis anos, era pós graduando da FEI, em comunicações. Consultora “free” de uma multinacional que fornecia maquinário industrial de continuidade é independente financeiramente.
Coloquei o tablet na mochila para posterior devolução.
Na volta entreguei o gravador para Vtec, o qual segurou com as duas mãos espalmadas. Quase como um ritual que simulava estar segurando algo sagrado levou-o á frente do note.
Tirou a placa que estava ainda conectada á saída USB e conectou o gravador.
Executou diversos comandos no teclado e por fim mostrou uma lista. Discutiu ao “pé do ouvido” com Fernanda e surgiu uma nova lista apresentando para mim.
- Você fez 3925 gravações sendo 2483 de entrada. Destas descartamos 1142 por serem muito longas e 644 por terem retorno, ecos. Disse para minha informação, que estava não participativo até o momento, com coisa que fosse mudar algo.
- Das 697 que restaram, uma é “1” e outra é “0”. Vtec disse com ares de ter ganhado a primeira batalha daquela guerra que iniciara na discussão com Fernanda no dia anterior.
Fomos para a quadra do prédio e lá me apossei de uma bola de basquete.
Vtec e Fernanda levaram uma parafernália que junto com o note, tinha uma função específica. Ligar-me.
O primeiro código foi transmitido e á pouco menos de vinte centímetros do meu ombro direito uma antena mandavam impulsos.
Eu fui em direção ao cesto. Ameacei uma “enterrada” e saltei.
Não passou de um salto medíocre.
Tentamos mais um código e nada.
Outro código, e outro, outro e mais um.
Estava cansado, pois foi puxado na academia, hoje, mais cedo.
- Quarenta e seis. Anunciou Vtec e apontou Fernanda em sua planilha mirando a antena para meio ombro.
Fui em direção á cesta e dei um salto alto e perfeito.

Saga Derinarde II – Capítulo 064
Ao retornar ao solo voltei o olhar para a dupla de gênios e estavam ambos de boca aberta e olhos extremamente iluminados.
Fechei o punho e ergui.
- Yes!
Rapidamente voltei a pegar a bola, bati ao chão em direção ao outro lado da quadra e em três passos estava saltando para a cesta oposta.
Fiz cesta novamente e antes que a bola tocasse o chão á recolhi e encaminhei para o outro lado e cesta novamente.
- Isso, isso, isso! Eu exclamava para meus heróis.
Vtec isolou o sinal. Chamou-me e iniciou o teste para reverter.
Vtec era muito disciplinado e objetivo no que fazia.
Próximo dele comecei á olhar os códigos que ele tinha na tela e em poucos segundos eu disse.
- Não é nenhum deles. Passe para a próxima tela.
- Por que você acha que não é? Perguntou Fernanda.
- Não sei. Pela estatística da combinação de tamanho e impulsos (tínhamos uma visão gráfica da onda), não combina. Falei e já teclei o PAGE DOWN do teclado do note de Vtec.
- Não, não, nada, não. Falei para cada página listada.
- Marque o 112, o 237, o 401, 517, 518 e o 629, o resto pode descartar. Finalizei a análise.
- Ainda não falei á vocês, mas tenho um processador matemático fantástico. Vamos testar?
Ambos não fizeram restrições e iniciamos pelo código posicionado com o número 112 e nada. Eu ainda era muito rápido.
Executamos o 237 e “VOILÀ” (vôa-lá).
Voltei a ser um jogador de basquete medíocre.
Descoberto os códigos, reproduzimos mais uma dúzia de vezes até certificar que estávamos corretos.
Vtec ainda copiou os códigos para um MP3 PLAYER e entramos para o barulho da sala.
Fernanda fez-me vestir a roupa, de gosto duvidoso, e com o MP3 no bolso, sob a vestimenta testei as trocas de sinais.
Funcionou! Ou como diria Vtec: “EUREKA”!
Mentalmente fiz um CHECK LIST: Roupa de inviabilidade, pernas mais rápidas, sentidos apurados, liga e desliga quando eu quiser e “somente” quando eu quiser...
- Fernanda, vamos falar dessa roupa? Perguntei pegando no braço de Fernanda.
- Eu sei que você não gostou. Falou com voz de quem implorava perdão.
- Não. Já estou até acostumando, é que é muito fina, se eu fizer um movimento mais brusco ela rasga. Não daria para fazer algo mais resistente, tipo brim, couro ou outra coisa?
Vtec não deixou Fernanda terminar.
- Pode deixar. Já está sendo providenciado. Eu ganhei uns retalhos que da para fazer a roupa completa. Só estamos resolvendo a costura. Vtec parecia confuso.
- Vtec. Esse negócio de retalho não parece muito bom. Se quiser eu compro o tecido mando fazer e depois a Fernanda pode pintar, e...
Não consegui terminar. Fui interrompido por Vtec.
- São de KEVLAR, os retalhos são de KEVLAR de última geração.
Calei-me.

Saga Derinarde II – Capítulo 065
- Tenho um colega que faz revestimento de blindados e os retalhos já me foram entregues. A costura é feita com uma cola especial. A dificuldade está em conseguir esta cola.
- Eu acho que sei que pode fazer isso. Deixe comigo.
Nós nos despedimos e combinamos de nos ver no final de semana.
Liguei imediatamente para Patrícia Rodrigues Barreiro.
- Paty, Deri. Preciso da sua ajuda.
- Deri, onde você está? Estou indo para Garça, vamos?
- Agora não posso. Lembra aquela sua amiga artista a Maria?
- Artista? A Artista não era Maria era Adriana. Ela já fez até novela. Acho que está no teatro...
- Não, não. Espere, deixe-me falar. Aquela que é artista plástica, não é Maria?
- Ah, a Maria Teresa, porque não falou artista plástica, você falou artista e como eu sou muito bem relacionada conheço uma infinidade de pessoas e as artistas...
- PATRÍCIA, você tem o telefone da Maria Teresa? Fui enérgico para fazê-la me ouvir.
- Claro. Anota aí, o nome é Maria Teresa Aarão. E me passou o número.
- Valeu Patrícia, mande um beijo para sua tia, tchau. Desliguei antes de ela começar o terço.
Liguei imediatamente para Maria Teresa e marquei um horário para conversarmos. Ainda hoje jantaríamos no Hai.
A tarde logo terminou e noite estava muito agradável. Encontrei com os seguranças que me levariam ao restaurante.
José Ricardo Madson de Paula e Paulo Rosa ficaram satisfeitos em me levar. Seguir-me pelas ruas de São Paulo quando eu estava de moto era algo estressante.
Marquei ás nove horas, mas cheguei oito e meia e fui recebido por Celso Watanabe. Ficamos conversando um pouco enquanto Solange Yoshimi me preparou um Johnnie com bastante gelo.
Mari Tereza chegou á nove e quarenta pois se prendera no compromisso anterior. Era uma artista plástica muito requisitada.
- Olá Maria Teresa, tudo bem? Nós nos conhecemos de vista e Patrícia disse que você é a pessoa que me atenderá na minha obra. Disse cumprimentando-a com beijos no rosto.
- Oi Deri. Nós nos vimos algumas vezes, sim. A Paty fala muito de você, alias, de quem a Paty não fala muito, não é? Muito simpática como eu imaginava.
Sentamos á mesa já reservada, pois o Hai Conveniências é muito requisitado e o salão já estava cheio.
Pedimos saladas e sushis, preparados com produtos da lojinha, claro.
Comecei a declara minha solicitação á Maria Teresa.
- Você conhece algo sobre as armaduras medievais? Perguntei como um meio de introduzir o pedido.
- Claro, tenho alguns trabalhos sobre os templários, seus costumes e suas vestimentas. Grandes guerreiros com grandes vestimentas. Pareceu se interessar.
- Bem, estou querendo uma armadura. Leve, resistente e muito moderna. Trabalha com tecidos?
A salada servida e temperada na mesa por Solange estava fantástica.
- Tecido? Alguma exposição de moda? Maria Teresa ficou intrigada.
- Uma armadura em tamanho natural, na verdade para mim. Não, não é exposição de moda. É algo para eu usar.
Os olhos de Maria Teresa pareciam holofotes de tão abertos e brilhantes.

Saga Derinarde II – Capítulo 066
- Mas será algo decorativo?
- Funcional. Uma armadura de verdade, de guerra. Fui insistente.
- Ninguém vai á guerra de tecido. Maria Teresa zombou rindo da ideia.
- É Kevlar. Retalhos de Kevlar. Continuei comendo com se nada diferente acontecesse á mesa.
Maria Teresa congelara. Largou o hashi, parou de mastigar e não piscava mais.
- Uma armadura leve, resistente e muito moderna. Foi o que eu disse.
- Este material é para fazer coletes a prova de balas? Não estava acreditando ainda.
- Sim. E será o material de minha armadura. Topa?
- Claro. Lógico. Fantástico. Maria Teresa estava fascinada com a nova ideia.
- Tem alguma preferencia, estilo? Perguntou desistindo da comida. Não que não estivesse boa, muito pelo contrário, estava fantástica, mas seu apetite passou a ser secundário diante da proposta.
Maria Teresa tirou imediatamente, da bolsa, um bloquinho de anotações providencial.
Comecei a descrever, em linhas gerais, o que pensava.
Era interrompido constantemente por Maria Teresa que dava ideias, as quais eu concordava de pronto. Ela estava intendendo o que eu precisava.
Depois de muitas horas sobre a criação, percebi que não havia mais nenhum cliente no salão, só Maria Teresa e eu.
Foi ao encontro de Celso Watanabe me desculpando.
- Se assunto bom, assunto infinito. Comentou o sábia Watanabe.
Maria Teresa estava de carro, alias que carro. Era uma Porsche Panamera 4S, azul, 8 cilindros. Coisa linda.
Nós nos despedimos na porta e fui ao encontro de minha dupla inseparável.
Fui uma noite difícil para dormir. A cabeça não parava um segundo. Borbulhava com tudo que estava acontecendo.
Levantei e ainda no escuro, andando no quarto tropecei em um saco plástico...
Com a luz acessa percebi que era a sacola amarela com a ridícula roupa dentro. Peguei-a e iria socar no fundo do armário.
Parei por um instante...
- Por que não? Falei em voz alta, comigo mesmo.
Peguei o sinalizador que ora estava com o LED vermelho aceso.
Peguei o controle remoto LD. Passei neste momento á chamar o controle remoto do liga e desliga de “LD”.
Vesti a roupa. O LED verde acendeu.
Apertei o LD e ...
Nada aconteceu.
Tornei a apertar.
Nada novamente.
Olhei o LD, por traz, pelo lado como se procurasse o defeito no plástico do equipamento.
- Não sei se fico inteligente com o chip ou fico muito burro sem ele. Resmunguei irado.
Claro que não funcionaria, estava com a roupa que impedia a comunicação.
Tirei a roupa. Neste momento transpirava pois a roupa não tinha a ventilação necessária.
Acionei o botão.
- PI ao cubo? Perguntei em voz alta.
- 31.0062766803 ! Respondi seguro do resultado.
 Porra, nunca saberia isto.

Saga Derinarde II – Capítulo 067
- Definitivamente posso ser um pouquinho burro, mas esse cara na minha cabeça é bom mesmo. Eu estava falando sozinho, mas ainda não ficara louco.
Tornei a colocar a roupa, desci ate a quadra e comecei a bater a bola de basquete.
Não passaram cinco minutos e alguém gritou lá de cima.
- Vamos parar com essa bola aí. São duas e meia da madrugada.
Era Marcelo Almeida Santos, vizinho do terceiro andar, e ele, estava coberto de razão. Essa hora fazendo barulho iria incomodar muita gente.
Subi na jardineira e calculei a altura, a distancia e outros obstáculos que teria para passar pelo prédio dos fundos e atingia a rua de traz, pois não chamaria a atenção dos seguranças que estavam na frente.
Da quadra ao muro dois e sessenta e três, ao solo cinco e noventa e um, dezoito metros de corrida, portão de um e sessenta e cinco muro de dois e dezoito e solo á três e vinte e dois. Tudo isso já considerando as cercas elétricas.
Afastei para tomar impulso, e saltei.
E saltei, e corri, e saltei, e saltei e estava na rua de traz.
- Uau! Estava surpreso.
Alguns instantes agachado e não percebi nenhum ruído anormal.
Olhei para o outro lado da rua. Nada visual que chamasse a atenção.
Levantei e comecei a caminhar tranquilamente no meio da rua.
Um cara, de carro, ao passar por mim gritou da janela.
- Sai da rua, PALHAÇO.
Levantei o dedo para ele. Foi aí que percebi a luva sem dedos. Lembrei da roupa!
Lembrei que estava no meio da rua usando aquela roupa ridículo.
- Que merda. Disse desolado e já caminhando para o canto do muro.
Caminhava agora no canto dos e entranhas das paredes. Procurava as sobras. Algumas do outro lado da rua e com enorme velocidade a atravessava, parando novamente em outro cantinho isolado. Parecia um gato.
Um gato da noite.
Um gato pardo.
- Se Vtec estivesse aqui diria “Meio Pardo”. Esses meus amigos...
As vezes dava umas corridas, as vezes ficava observando o tempo passar, ouvindo detalhes, vendo detalhes.
Caminhei até de manhã quando decidi voltar para casa.
Fiz o mesmo caminho de volta.
Tirei a roupa que estava colada e encharcada.
Eu extava exausto.
Tomei um suco, mas não antes de adoçar com sete enormes colheres a açúcar. O que fez me sentir melhor.
É isso que eu precisava. Energia, açúcar.
- Passeei hoje! Foram vinte e sete quilometro e quarenta e dois metros! Puxa!
- Nossa que sede.
Tomei mais suco e muito, muito açúcar.
Banho e cama.

Saga Derinarde II – Capítulo 068
Acordei duas horas da tarde com Aracy batendo na porta do quarto.
- Deri, e a quarta vez que esse tal de Zé Reginaldo liga perguntando por que você não está lá. O que digo?
- Diga que estou á caminho. Sentei na cama, de olhos fechados, ainda.
Olhei para meu colchão e espantei-me. Estava destruído.
O local onde ficam os pés estava com buracos que se via o estrado de madeira.
Lembrei que não havia desligado o LD.
Imediatamente o fiz, mas o colchão não tinha mais salvação.
Tomei um rápido café e ao sair ouvi de Aracy.
- Com essas olheiras teve uma noite e tanto, heim?
- Foi cansativa. Aracy, eu vou precisar de um novo colchão. Pede para mim, por favor? Dei um beijo em sua testa e sai.
Ao chegar à POLI, foram quase quarenta minutos de sermão:
- Você tem que ter disciplina, o projeto custou milhões, tem muita gente envolvida, blá , blá, blá...
Eu me comprometi a cooperar e fomos para os testes e treinamentos.
No meio dos exercícios reclamei de moleza e cansaço, os quais foram anotados e ao final uma equipe de quatro médicos fizeram exames clínicos e colheram amostras de sangue e urina.
Era início da noite quando José Reginaldo me procurou com caixas e frascos de suplementos.
- Deri, você tem que começar uma dieta rica em energéticos. Há uma queima muito grande em seu organismo e para evitar anemias, vamos fazer recomposição.
Entregou-me tudo e mais o receituário para meu controle.
Já era tarde e resolvi voltar para casa.
Tomei muito suco e muito carregado com açúcar.
Acionei o botão do LD, vesti meu uniforme noturno e fui para a quadra.
Repeti a aventura da noite anterior.
Visitei diversos bairros, altos muros e até topo de prédios.
Era uma visão nova da cidade, um ponto de vista diferente do meu novo mundo.
Desta vez voltei cedo para casa, não passava da três horas.
Estava encharcado e minhas pernas pareciam queimar, estavam mesmo muito quentes.
Um bom e demorado banho frio amenizou a situação.
Mais suco e muito açúcar também ajudaram.
O colchão novo em minha cama me fez revisar se o fotão do LD foi acionado, sim, estava tudo em ordem.
Adormeci.

Saga Derinarde II – Capítulo 069
Acordei e já eram quase dez horas. Estava morrendo de fome.
Comi muito das delícias que Aracy preparara.
Fui para a POLI, mais teste e mais exames.
Li sobre a aceleração da queima de energia e vi coerência nisto.
Eu estava exigindo mais de meus músculos.
Deixei a POLI por volta da cinco da tarde e ao chegar em casa o meu telefone celular fez sinal de recepção de mensagem.
Era de Vtec :”Estou com o material, me ligue de local seguro”.
Fui até um orelhão próximo e liguei para Vtec.
Dei o endereço de Maria Teresa e pedi que ele entregasse lá.
A semana seguiu com jornada dupla. De dia POLI e á noite passeios clandestinos.
Em uma dessas saídas noturnas, me deparei com uma situação em que um rapaz assaltava um garoto que voltava da escola.
Intercedi pelo garoto pedindo para o ladrãozinho deixasse o garoto seguir.
Fui tratado com desprezo e ridicularizado devido minhas vestimentas.
Mas, pelo menos tirei a atenção dele enquanto o garoto fugia da situação.
Estava eu lá, olhando para um ladrão com uma faca na mão e o mesmo querendo tirar de mim o que não tirara do garoto.
Mas eu tinha um trunfo: A velocidade.
Quando o ladrão veio em minha direção, eu dei um salto calculado. Eu aterrissei imediatamente em suas costas, dei uma tapa em seu pomo-de-adão, o que provocou falta de ar e o mesmo largou a faca.
Ele quase desmaiou e eu o segurei quando ia ao chão. Levei-o até a calçada e o fiz sentar no meio fio.
Aguardei que se recuperasse.
- Tudo bem? Você está bem? Perguntei meio com remorso, mas não tive alternativa.
O ladrão se recuperou logo.
- Quem é você cara? Um louco ou o quê? Perguntou o ladrão indignado.
- Eu sou o De ...
- Eu sou o “Meio Pardo”, e de agora em diante ficarei de olho em pessoas como você. Falei em tom ameaçador.
Vi que já se recuperara e me afastei muito rápido, para causar impressão mesmo.
De longe olhei para traz e percebi a cara do sujeito, não acreditando no que vira naquela noite.
Fui confuso para casa. Orgulho e com medo do que poderia ter se transformado aquilo. Mas tinha uma certeza, voltaria a fazer artes marciais.

Saga Derinarde II – Capítulo 070
Um dia que estava mais tranquilo e o pessoal da POLI resolveu me dar uma folga fui até o ateliê de Maria Teresa.
Era um lugar muito simpático, com várias esculturas de metal, plástico e massas, tipo argila ou algum epóxi.
Tinha quadros, mas em nenhum deles, pintura, tudo era escultura. Eram quadros em 3D.
Muita coisa que eu olhava de todos os lados e não conseguia assimilar á nada. Coisa de artista. Eu pensei.
Maria Teresa mostrou-me o desenho da última versão da armadura que pedi bem como diversas cores para aplicação na mesma. Todas as cores em tons escuros.
- Estive pensando se esta roupa não ficará muito quente. Comentei com ela.
- Eu pensei nisto, então estou fazendo as costuras em forma de tubo, deixando as extremidades finais abertas. Maria Teresa me explicava enquanto mostrava o modelo.
- Desta forma, conforme você se movimenta, a roupa funciona como um fole. Quando se estica o ar é expulso e quando relaxa o ar novo entra pelas aberturas. A ventilação é perfeita. Provou Maria Teresa.
- Muito bom! Admirei a teoria.
- Meu amigo, Vtec Honda, trouxe o tecido? Perguntei.
- Trouxe sim. O tecido a cola e estes arrebites de aço. Não os conhecia ainda, achei-os maravilhosos. Falou entusiasmada.
- Você acredita que um arrebite destes pode segurar uma força de quase uma tonelada?  São tão minúsculos e tão fortes. Ficarão na abertura dos tubos, assim o sistema de fole ficará perfeito. Leve e resistente.
Estava muito empolgada.
- Eu tenho um produto que foi desenvolvido pela NASA, após o KEVLAR receber a tintura adequada, farei uma aplicação. A roupa ficará tão impermeável que você poderá até mergulhar com ela.
Maria Teresa comprou tal ideia da roupa que eu não precisaria mais me preocupar com isto, era o território dela.
- Muito bom mesmo. Tudo aprovado. Pode fazer. Acertei com ela.

Saga Derinarde II – Capítulo 071
O ateliê fica em uma área de comércio muito movimentada e muito chic também. Resolvi dar uma volta pela redondeza.
Entre as varias lojas de roupas e calçados entrei em uma de artigos esportivos, queria ter uma ideia do que usaria por baixo da armadura uma vez que ficar sem nada por baixo estava fora de cogitação.
Enquanto olhava algumas sungas de atletismo percebi que estava sendo fotografado.
Não havia flashes, mas ouvia o click da máquina e percebi que era comigo, pois quando virava o rosto á procura de onde ou quem, os clicks paravam.
Fiquei mais atento e comecei a passar rapidamente de uma seção á outra a fim de localizar a origem dos clicks.
Não foi necessário esforço algum, ao passar pelo corredor de natação esbarrei com uma garota com duas máquinas fotográficas penduradas no pescoço.
- Desculpe. Ela disse com voz meiga.
- Depois que revelar eu posso autografar se quiser.  Respondi á ela olhando em seus olhos.
E que olhos.
Eram frascos de um puro mel de florada de laranjas. Enormes e brilhantes.
- Você percebeu? A doce voz voltou a soar.
- Se eu precisar de uma espiã, não contrato você. Falei provocando.
- Não. Olha. Desculpe-me é que eu estou fazendo um trabalho de moda esportiva e achei o seu corpo muito bonito para fotografar e... Ela estava sendo convincente.
- Que tal a gente tomar um café. Eu posso ficar até mais solidário e posar para você. Ela valia muito mais que um café, mas eu tinha que começar por algum lugar.
Saímos da loja e muito próximo havia um café com cadeirinhas de palha. Sentamos e pedimos café, apenas café.
- Sou Deri, manequim e modelo de artigos esportivos. Eu me apresentei á ela e prestei mais atenção á seu rosto muito bem desenhado com nariz fino e lábios carnudos. Sobrancelhas bem escuras contrastando com os olhos claros e longos cílios. Cabelos longos, cacheados e negros.
 Era uma pintura em quadro sem moldura. Era alta e tinha curvas acentuadas, não era magra e as proporções do corpo eram adequadas e generosas. Fartos seios e o que se via pelo decote agradavam muito.
- Fernanda Galindo. Sou repórter, freelance e estou fazendo um trabalho para uma revista de artigos esportivos. Quando vi você escolhendo roupas achei que serviria para o meu trabalho, eu não queria ser indiscreta, me desculpe. Terminou levando a xícara de café aos lábios, tomou um gole e continuou.
- Eu sou repórter á três anos e você? É modelo há quanto tempo? Perguntou por perguntar, pois sabia que era brincadeira minha.
- Bem mais que isto, já há uns quinze, talvez vinte ãn....  minutos.
- Eu jamais poderia ser um modelo completo, tenho muitas imperfeições. Estava dando corda, mas também estava sendo sincero. Cicatrizes e marcas não são muito bem aceitas por publicitários.
- Que nada, Photoshop dá jeito em tudo. Vê este rostinho aqui, pois é, Photoshop. Riu alto e descontraída.
Ficamos hora e meia conversando e entre um café e outro trocamos experiências de faculdades, viagens e vidas. Estava muito bom e por mim ficaria a tarde toda, era muito agradável, mas como Fernanda tinha compromissos na revista teve que ir embora.
Pegou meu número de telefone e eu o dela. Acertamos que eu faria algumas fotos com ela para aprovação da revista.

Saga Derinarde II – Capítulo 072
Nós nos despedimos e voltei para a loja de esportes. Comprei algumas sungas e camisetas regatas com tecido muito fino e de alta tecnologia que prometia ser anti-transpirante.
Voltei até o local onde havia deixado a minha moto e notei que ao lado havia uma ninja branca que logo imaginei: “Não existem duas motos tão iguais”.
Olhei para os lados á procura de Alexandre Baptistella e o localizei do outro lado da rua, já vindo em minha direção.
- E aí Alexandre, tudo bem? Chegou faz tempo?
- Opa Deri, tudo bem. Cheguei antes do café. Faz tempo que conhece aquela moça? Percebi que estava muito sério.
- A Fernanda? Não conheci há pouco. Ela é “Freela” de uma revista e eu a achei bem interessante. Vai dizer que se interessou também? Até então não estava entendendo nada.
- Ela é Freelance sim, mas de nenhuma revista. Ela trabalha para empresas de alta tecnologia, na Europa e Ásia. A informação de Alexandre me estarreceu.
- Ela é espiã?
- Não se usa esse termo para o serviço dela. Ela é chamada de “Head Hunter”, ela caça talentos para grandes empresas, mas parece que ela está diversificando.
- Tão linda e espião. Cara, isso é muito excitante. Corro algum risco? Perguntei á Alexandre.
- Nenhum, por enquanto, mas vamos ficar de olho. Precisamos descobrir para quem ela está trabalhando. Eduardo Soares já está cuidando disto. É possível que algum dia ela lhe faça alguma proposta de trabalho internacional, se acontecer nos avise. Alexandre parecia seguro.
- Quer dizer que ainda poderei encontra-la?
- Sim, até que descubramos quem esta por traz dela, sim.  Disse Alexandre com a maior tranquilidade embora seus olhos não parassem de rastrear a periferia.
- Alexandre, isso está estressante, vamos dar uma volta? Vou para o posto da “Bandeirantes”. Nós nos encontramos lá.
Subi na moto, dei a partida e segui. Minha falsa ilusão de que eu dominava o congestionamento e o transito em Sampa se desfez no momento que imediatamente na entrada da rodovia, Alexandre estava colado em mim.
Chegando ao posto BR, encontrei vários camaradas que não via há muito. Logo me entrosei com o pessoal.
Lá estavam Bene Junior e Mário Alves. Encontrei também, Adilson Damásio. Conversamos bastante e como é de costume resolvemos fazer um “pega”. Isto acontece com frequência e eu sabia que não tinha chances, pois a minha “maquina” não tinha esse pedigree.
Ao chegar até minha moto falei com Alexandre:
- Você quer passar vergonha comigo ou espera aqui?
- Está na hora de mostrar que a limitação não é sua. Alexandre falou entregando a chaves da “White Butterfly” em minha mão.

Saga Derinarde II – Capítulo 073
Subi naquela maravilha de moto, branca e imponente e emparelhei aos colegas que fariam a volta.
Inacreditável o que uma boa pintura pode impressionar e principalmente, o que um bom motor pode fazer. Olharam incrédulos e saímos para a estrada.
O vento na carenagem da máquina era cortado como uma faca e em três segundo estava á cento e vinte quilômetros por hora em primeira marcha. Coisa impressionante nesta máquina “ninja” da Kawasaki. Fizemos o retorno de costume e a volta se completava no local de partida, o posto.
No final da tarde já estava de volta á minha casa. Pela janela avistei os seguranças que mais usma vez ficaria ali cuidando de um transmissor de identificação, parado e inativo.
Vesti a roupa, que não parecia tão ridícula como da primeira vez e sai par a ronda noturna.
O principal objetivo passou a ser atitudes suspeitas. E quando não havia uma unidade da polícia por perto a atenção redobrava.
Foram duas ocorrências neste dia, assim como outras duas ontem, e se seguiam ente duas, três e quatro, até que no primeiro mês, mesmo sem anotar, estava atendendo setenta á oitenta tentativas de violência.
Eu estava começando a ter popularidade enquanto a roupa fornecida por Fernanda começava a deteriorar.
Decidi fazer uma nova visita no ateliê de Maria Tereza.
A roupa estava pronta, bom sinal, pois a que estava usando até então estava em “frangalhos”.
Recebi a roupa com toda a pompa. Parecia pele de cobra, era formada por pequenos losangos que  sobrepostos imitavam escamas. Á cada dupla de pontas mais estreitas, arrebites prendia com firmeza incomum e a sobreposição era aberta.
Em primeira experimentação percebi que ao ficar rígido e ereto, a roupa ficara perfeitamente fechada e, quando relaxava as escamas abriam formando um duto de ventilação.
- Coloquei uma placa de poliuretano sob cada uma das escamas, é um material muito leve e resistente. Se por acaso levar um tiro, o kevlar não deixara o projétil passar, mas o poliuretano absorve o impacto minimizando a dor da força e pressão.
- Fernanda Furlan esteve por aqui e conseguimos compatibiliza a mistura oxida com pigmentos e o produto anti-água que comentei com você.
- Esta roupa é indestrutível, leve e arejada. Era isso que você queria? Perguntou Maria Teresa.
De frente á um espelho, virando de um lado para outro, estava impressionado com tamanha perfeição.
- Mais de que imaginava. Ficou maravilhosa.
Sua cor adotara “um camuflado cinza” de várias tonalidades. Desde muito claro até um negro muito forte, mas em nenhum tom tinha brilho. Parece que a tintura absorvia a luz, mantendo na sombra, sem reflexo.
Tirei a roupa que foi colocada em uma sacola. Não acreditei que a mesma ficou tão compacta quando dobrada e isto devido á formação de escamas.
Compacta, leve, impermeável e indestrutível. O que mais se quer de uma armadura?
Estava muito feliz. Não via a hora de apresenta-la aos anônimos.
E foi nesta mesma noite que decidi fazer a estreia.
Tomei todos os cuidados, como se fosse a primeira vez, e era.
Liguei o LD, vesti a roupa, e esperei o LED vermelho mudar para verde.
Olhei para o espelho de corpo inteiro que tinha no quarto e não vi mais o Deri, eu vi o MEIOPARDO.
Como de costume desci pelas escadas a fins de encontrar ninguém. Do meio da quadra dei um enorme salto.
Um salto para a noite.

Saga Derinarde II – Capítulo 074
A roupa era muito confortável e a funcionalidade “dos tubos” era surreal. A maneira com que o ar entrava e saia... Eu era um “fole” ambulante.
Apesar de uma roupa mais fechada e compacta que a anterior era mais ventilada e mais articulada. Impressionava a praticidade e operacionalidade da mesma.
Eu nunca me senti tão adaptado á uma vestimenta.
E nesta mesma noite eu enfrentei por pura coincidência e ousadia a primeira forte emoção.
Foi durante um assalto á mão armada. Dois jovens armados assaltando uma pizzaria. Estavam praticamente de saída quando cheguei á porta.
De cara para os dois jovens armados dei voz:
- Parem com isto ou se arrependerão! Fui enérgico e determinado.
Ouvi três disparos de uma das armas e dois da outra.
No pulo e na velocidade, quando senti a dor na coxa esquerda as armas já estavam no chão e os garotos tinham, um, um braço quebrado e ou outro alguns dentes faltando.
Peguei o saco de dinheiro do caixa, joguei para dentro do balcão e pedi ao atendente.
- Chame logo a polícia, não vou demorar aqui.
Assim que desligou o telefone fiquei do lado de fora da porta aguardando que os jovens nocauteados não reagissem.
O atendente saiu ate onde eu estava e perguntou:
- Você é esse que estão falando? O MEIOPARDO?
Percebi que o que eu estava fazendo não tinha volta, agora tinha fama.
Percebi sirenes e luzes chegando, era minha deixa, saí correndo.
Parado em uma rua deserta, mas bem iluminada percebi que a bala havia atingido minha coxa em cheio, havia sentido o impacto de uma “nove milímetros”. Doeu, mas a roupa estava intacta. Não havia perfuração, não havia lesão.
Bom trabalho Maria Teresa. Imaginei.
Participei de mais duas ocorrências nesta noite, mas não houve tiros, aliás, nada houve. Nos dois casos me apresentei como MEIOPARDO e os meliantes desistiram da empreitada.
Voltei para casa. Satisfeito.
Tirei o traje e percebi que a ventilação estava adequada, transpirei, mas não tanto quanto com a roupa anterior.
Descansar um pouco era a nova missão, logo mais tinha POLI.
Boa noite.

Saga Derinarde II – Capítulo 075
Na manhã seguinte, mas não tão manhã assim, pois eram nove horas quando levantei, eu tomei meu café reforçado e fui para a POLI.
Assim que adentrei ao prédio fui convidado, sem direito á recusa, á subir no segundo andar. Tinha uma entrevista com ela.
Na recepção o sorriso de Amanda era algo que amenizava o que por ventura pudesse acontecer na sala principal.
Entrei e Elen estava no SKIPE com alguém na Europa, não sei o que estava falando, mas sei que era alemão.
Fiquei com dó de quem estava do outro lado, pois apesar de não fala alemão, as palavras não pareciam ser agradáveis.
- Deri, você teve contato com uma mulher chamada Fernanda Galindo? Acho que Elen falou ainda com sotaque alemão.
- Bom dia para você também, Elen.
- Você não pode falar com essa mulher.
- Olha. Crise de ciúmes não, hein?
- Deri você não está entendendo, esta mulher é perigosa. As pessoas que estão por trás dela são muito perigosas.
- Ah Elen, você está falando isto porque ela é bonitinha, vai.
 Neste momento o interfone tocou e Elen atendeu.
- Mande entrar. Disse e antes do fone retornar á base a porta se abriu.
Era Eduardo Soares. Estava nervoso e suava frio. Como essa mulher tinha um poder incondicional sobre seus subordinados. Impressionante.
- Eduardo, diga a esse palhaç, (ug), diga ao Deri quem é Fernanda Galindo.  
- Fernanda é um recrutadora internacional com atuação específica na Europa e na Ásia. Ela é constantemente monitorada pela INTERPOL e pela CIA. Fomos alertados pela polícia federal que ela está no Brasil em missão e conforme contato já estabelecido com você, achamos que você é o objetivo dela.
- Você entendeu isto, Deri? Elen estava fora de si.
- Eduardo, ela já sequestrou alguém, digo, ela tem alguma acusação de sequestro? Perguntei apontando o dedo para Elen.
- Não. Ela não tem nada assinalado assim. Ela recruta...
- Elen, o palhaço não está correndo nenhum risco, acho que só você está correndo risco. Então para com este estresse desnecessário. Falei achando que era dono da situação.
- Eduardo, dobre a segurança. Pode sair. Elen esperou Eduardo sair da sala.
- Deri, o projeto é meu, você é meu. Você é tudo que tenho.
Juro que nunca imaginei que esta mulher pudesse ter alguma fragilidade como demonstrara agora.
- Elen. Olhei em seus olhos e peguei em suas mãos. Estávamos muito próximos.
- Eu concordei em entrar neste projeto, concordei em colaborar, e só tenho tido surpresas boas até então. Vou continuar no projeto enquanto o projeto me oferecer o que tem oferecido. Conhecimento, progresso e know-how.
- O projeto pode ser seu, mas eu não sou seu. Sim sou parte do seu projeto, mas não sou seu.
- Você não entende, sempre tiram tudo de mim. Vi uma lágrima em seus olhos.
- Elen, eu não vou deixar o projeto, não agora. O dia que eu não gostar mais eu aviso. E se eu avisar e nada for feito, aí sim você deve se preocupar. Até lá ainda tem muita história.
Elen se recompôs, tomou folego, largou minhas mãos e foi para trás de sua mesa.
- Deri, o projeto é seu também. Tudo que você pedir, você terá, mas nunca, vou repetir nunca me traia. Você não sabe do que sou capaz.
- Elen, eu vou fala duas coisas então:
- A primeira é que eu sei sim do que você é capaz.
- E a segunda é...
Fiz uma grande pausa teatral.
- É, por que você não procura a Doutora Marcia Taiacolo?
Virei as costas e saí da sala.
Ao passar pela sorridente Amanda eu disse:
- Elen pediu para você levar aspirinas para ela.

Saga Derinarde II – Capítulo 076
Voltei para a quadra onde já me esperavam Cassia Raquel, Nídia Saraiva, o próprio José Reginaldo e mais meia dúzias de pessoas para acompanhar os testes.
Todos foram imediatamente para seus computadores e lugares.
Fizemos várias baterias de testes e fui elogiado em todos eles.
As aulas de AIKIDO da mestra Elizete Costa estavam realmente me ajudando.
Agora o que ninguém sabia é que eu tinha um LD.
Eu tinha um equipamento que, quando me interessava, eu ligava, memorizava o movimento e tirava o melhor proveito dele.
Por este motivo, em apenas dezesseis aulas de AIKIDO eu conhecia e aplicava centenas de golpes, executava dezenas de KATA´s, mas o principal não era expor meu aprendizado, era poupar minhas energias.
Expliquei minha situação, em parte claro, para a metra Elizete e a mesma concordou em me ajudar guardando sigilo.
Tinha aulas particulares e muito privativas.
Terminados os testes voltei para casa.
Era cedo ainda quando recebi um telefonema de Fernanda e combinamos jantar.
Ela passou em casa para me pegar, eram nove da noite e o som do Mustang na porta chamou a atenção.
Era um V8, 5.0L modelo GT Premium, de um azul clarinho que destacava do padrão preto, prata e branco que temos no Brasil.
Ao entrar no carro outra surpresa, Fernanda estava um “desbunde”.
Estava com um vestidinho prateado que me fez sentir envergonhado de estar apenas de calças e camisa social.
Eu até que estava bem vestido, mas ela arrasava.
Nós nos cumprimentamos dentro do carro eu perguntei á ela se precisava trocar de roupa, se iríamos a algum evento mais social.
- Não, você está ótimo. Respondeu com um largo sorriso que o batom vermelho permitia.
Seguimos e a avisei sobre meus guarda costas.
Fomos conversando amenidade no caminho, sobre como ela estava elegante, na verdade muito mais que isto, até que perguntei.
- Como é que uma “FREELA” consegue manter este estilo?
Perguntei por curiosidade do padrão e não do meio.

Saga Derinarde II – Capítulo 077
- Estou acostumada com isto porque na Europa, onde eu atuo isto não é tanto como aqui no Brasil, então meus contratantes concordam com este “pacote de benefícios”. Falou fazendo aspas com os dedos.
- Eu tenho meus seguranças, que estão ai atrás, e um monto de outros atrás deles, tenho informantes e muita gente cuidando de mim. Já sei que você não está trabalhando para uma revista ou somente trabalhando para uma revista e que sou eu o seu objetivo. O que você quer? Fui direto, sem rodeios.
Fernanda nada disse, pois estava parando o carro em frente ao restaurante.
Era um local movimentado nos Jardins, e dois manobristas, um de cada lado abriram as portas para nós.
Entramos no restaurante que tinha uma visão fantástica, uma arvore nascia no meio do salão e atravessava o teto. As mesas rodeavam a enorme arvore e vim, a saber, que é uma figueira de mais de cem anos.
Realmente Fernanda sabia impressionar.
Ela estava com lindíssimo vestido prata brilhante, em um restaurante com toalhas branquíssimas, em volta de uma figueira de cem anos.
A noite estava excelente e o teto de vidro permitia ver o azul negro do infinito.
Sentamos em um lugar aconchegante e fora de vista da entrada.
A metre Priscila Vessoni entregou o cardápio, e Fernanda pediu um coquetel de furtas sem álcool. Boa menina.
Eu pedi um também, mas disse que um pouco de álcool não me faria mal, e Priscila se retirou.
Olhando para o cardápio Fernanda disse:
- O polvo aplastado daqui é divino, mas que tal comermos um caixote marinho?
Olhando para ela com muita dúvida do que poderia ser um “caixote”, mas com cara de quem apenas a admirava continuei em silêncio, porém sem resultado.
- Polvo, vieiras, camarão, lula e peixes? Continuou Fernanda tentando tirar alguma palavra de minha boca.
- Estava, aqui, admirando a sua beleza, mas pode ser uma caldeirada sim. A merda já havia acontecido, emendei para forçar o esquecimento.
- Você ainda não respondeu o que eu perguntei.
Eu não conseguia tirar os olhos dela.
Fernanda fechou a cardápio e olhou para mim.
- Só ver como você é, como você está, o que você faz e o que você quer. Meus patrões querem te oferecer algo e para isto precisam te conhecer. Só isto. Ela pareceu e foi sincera.
- Justo. Parece justo. Ao responder, uma simpática muito sorridente mulher encostou-se a nossa mesa.
Não pude deixar de notar que estava de avental e usava um chapeuzinho fofo.
- Boa noite, meu nome é Adriana Mello. Sou a chef do Figueira. O que este casal lindo e cheio de amor vai degustar nesta noite tão especial?
- Não... Ameacei falar, mas Fernanda não deixou.
- Adoramos o aplastado, mas vamos experimentar o caixote. Enquanto colocava sua mão sobre a minha.
- Excelente escolha. Vou aproveitar para colocar algo mais afrodisíaco no prato. O sommelier já esta á caminho. E se retirou.

Saga Derinarde II – Capítulo 078
- Boa noite, sou Giovana Baptistella, sommelier do Figueira e vi que esta sua linda companheira esta bebendo algo sem álcool. Dsse uma elegante mulher com a carta de bebidas na mão, e continuou.
- Falei com a chef Adriana, e ela disse-me que escolheram um caixote. Têm alguma preferencia para a bebida? Apresentou três cartas.
- Um Arneis. Como alguém já disse hoje, “um pouco de álcool não faria mal”. Falou Fernanda sem consultar as cartas ou a opinião da Sommelier.
- Excelente escolha. Piedmont teve uma excelente safra em 1998 e temos alguns exemplares de Roero Arneis. Um momento para trazermos da adega. Com licença. Disse Giovana se retirando em seguida.
- Lugar movimentado, este. Falei em tom irônico.
- As pessoas aqui estão interessadas em lhe agradar da melhor maneira possível. É o trabalho delas, garantir que tudo que você queira, eles poderão lhe atender. Justificou Fernanda.
- Você não gostaria de ter tudo que queira ao seu alcance? Fernanda estava voltando ao trabalho.
- Sim claro. E esta é a melhor parte. “querer ter”. Crianças mimadas que têm de tudo, nunca estão satisfeitas, agora aquelas que têm vontade de ter, esperam um tempão para conseguir, quando conseguem, valorizam ao máximo. Acho que estou neste segundo grupo, desejando. Apenas desejando.
Estava seguro de minha resposta.
- E você acha que aqui você terá? Quando Fernanda perguntou isto tive certeza que era um questionário.
A conversa estava agradável e ambos estávamos descontraídos. Percebi que Eduardo Soares acabara de chegar ao bar do restaurante.
A comida foi servida e realmente estava fabulosa. O vinho então, nem se fale. Deuses haviam tomado no Olimpo e as garrafas não consumidas devem ter sido negociadas com um bom mercador que as trouxe para nós, os humanos.
Fernanda muito empenhada em saber dos meus gostos e ambições e eu sem nenhum interesse em escondê-los.
Passamos quase três horas comendo, bebendo e conversando muito até a chegada da conta.
Foi Fernanda quem pagou com um cartão dourado. Daqueles que você precisa muitos voos de primeira classe para obtê-los.
Fomos em direção á saída, ou melhor, ao Mustang.
De passagem, fiz sinal para Eduardo de que tudo estava bem.
Entramos no carrão e saímos.
Fernanda me levou direto para casa e no caminho falamos de assuntos variados. Podia até fazer parte do questionário dela, mas não era nada formal como antes.
Ficamos ainda conversando mais meia hora, no carro, em frente de casa. Ela se recusara a subir.
Nós nos despedimos e “tudo” aquilo foi embora.
Aquela noite MEIOPARDO não saiu e fiquei até tarde pensando em tudo que Fernanda havia dito.
Na manhã seguinte fui até a academia, treinei um pouco e fui direto para a POLI.
Fizemos todos os testes programados e logo estava de volta.

Saga Derinarde II – Capítulo 079
Em casa recebi uma ligação, era Fernanda Furlan.
- Oi, temos novidades. Vtec e eu podemos ir até ai?
- Sim, estou aguardando-os. Confirmei de imediato.
Não demorou muito para chegarem.
Após ligarmos o som e outros aparelhos para fazer barulho Fernanda me falou ao pé do ouvido.
- Sabe aquele tablet que colocamos a placa? Pois é foi usado e conseguimos todas as senhas e acessos. Eles não têm mais segredos.
- Outra coisa são estes dispositivos de comunicação. São interfaces de comunicação externa. Vetec começou a falar, e quando ele fala eu presto muita atenção.
- São conectores que ficarão presos á sua orelha e estas hastes ficarão para fora da roupa, desta forma conseguiremos nos conectar sem quebrar o bloqueio da roupa.
Ao terminar de falar me entregou duas semi-argolas, com partes achatadas que ficariam em contato com a cabeça, na altura das orelhas, as quais fariam a comunicação, que eu ainda não havia entendido com quem ou quê.
Passaram-se horas até que Vtec e Fernanda me explicassem tudo.
Achei, naquele momento, tudo um absurdo, mas pelo menos tirei a sensação de “estar sempre só” da cabeça.
Eles estariam comigo.
Resumindo: Com o dispositivo criado por eles, seria transmitido para uma pequena central, tudo que os meus olhos e ouvidos capturassem.
- Vamos fazer um teste? Comentou Fernanda se levantando e indo para o outro quarto.
Coloquei os dispositivos como indicado.
Apertei o botão do LD.
Olhei pela janela e vi o carro dos seguranças estacionado.
Uma voz ecoou dentro da minha cabeça.
- Deri, pode me ouvir?
Olhei para traz a procura de Fernanda. Não a encontrei.
- Fernanda, onde está? Perguntei não esperando resposta.
- Estou no quarto e você está olhando para o outro lado da rua, para o carro dos seguranças. A voz não estava ali, somente em minha cabeça.
Fizemos diversos testes, onde em um deles tentei ler a lateral do pneu do carro dos seguranças e não consegui, mas através de um software de aproximação, Fernanda repassou a informação para mim.
Da mesma forma, sons eram filtrados no computador e a parti disto eram-me repassadas informações que normalmente não ouvíamos.
O MEIOPARDO estava ganhando poderes extras.

Saga Derinarde II – Capítulo 080
Coloquei a roupa. Faríamos um teste real.
O MEIOPARDO saiu para a noite.
Minha cabeça falava comigo, e na voz de Fernanda.
- A visão é limitada, você não tem como caminhar por pontos altos?
Olhei ao redor, e nada.
Estava atrás de um poste. Olhei para cima e percebi que o poste tem uma beirada no topo. Os fios e suportes ficam abaixo, deixando uma beirada.
Eu me posicionei e saltei.
Com um único pé fiquei no topo do poste. Aquele dispositivo de giroestabilização era fantástico.
- Melhorou a visão. Falei para que Fernanda ouvisse.
- Bastante. Acho que você deveria caminhar sobre os fios. Fernanda falou e riu para que eu ouvisse.
- Pelos fios eu não digo, mas...
Saltei para o poste da frente.
Percebi que alguém caminhava na rua.
Sobre o poste, em um único pé, encolhi-me.
A pessoa passou e não me viu.
Quem iria imaginar alguém no topo de um poste.
Saltei para outro e outro. Estava em uma esquina.
Sempre havia um poste, ou melhor, uma ponta de poste próxima.
Nada aconteceu aquela noite, pelo menos nada que precisasse de minha intervenção.
Voltei para casa e finalizamos os testes.
Fui informado por Vtec que a central ficaria em um local seguro e sigiloso, nem mesmo eu saberia onde é.
Assim a semana passou. Nas noites que o MEIOPARDO saia, a voz em minha cabeça se alternava entre Vtec e Fernanda, porém nunca mais estava só.

0 comentários: