Saga
Derinarde II – Capítulo 081
Minhas
saídas noturnas se tornaram frequentes e a jornada dupla começava a ganhar uma
companhia, o cansaço.
Negociei
com o pessoal da POLI as manhãs livres para eu cuidar da minha vida, do meu
social e utilizava este tempo para dormir e descansar.
Com o tempo
e costume, MEIOPARDO adotou algumas rotas que estavam gravados em sua mente, ou
melhor, em seus chips.
Estes
caminhos já eram tão automáticos que certa vez ele decidiu fazer de olhos
fechados, e obteve sucesso. Tanto os percursos terrestres como os aéreos, a
sim, pular sobre o topo de postes foi algo que MEIOPARDO adotou.
Certa
noite, tranquila e de lua cheia, muito clara, Fernanda Furlan, fazendo a vez de
grilo falante, comentou na mente de MEIOPARDO:
- Tem algo
acontecendo na Avenida Paulista, vai para lá enquanto tento descobrir.
Em meio á
ruas quase desertas e postes altos, dois minutos depois da mensagem MEIOPARDO
estava na esquina da Paulista com a Brigadeiro.
- Estou
aqui, onde e o que é? Perguntou para ninguém.
- É um
tiroteio de bandidos e PM na Caixa Econômica, perto do Trianon. Fernanda
parecia nervosa.
MEIOPARDO
se deslocou para o local e como os postes de iluminação da Avenida Paulista são
muito altos e a claridade forte, ninguém conseguiria vê-lo, á não ser os
helicópteros que já rodeavam, porém estava preocupados com as atividades do
solo e não um cara sobre o poste.
Observando
atentamente a cena, como que gravando e utilizando os recursos de aproximação
da central que Fernanda e Vtec montaram começaram a chegar instruções.
- São sete
bandidos, dois com metralhadoras, três com fuzis e dois com pistolas
automáticas. A polícia esta cercando tudo, você não tem como entrar sem ser
visto. Finalizou Fernanda.
Comecei a
olhar a fachada do prédio de vidros verdes da Caixa. E comentei.
- Procure
uma rachadura nos vidros.
- Achei, no
quinto andar, segunda da direita para a esquerda. Tem uma trinca, muito pequena
no canto superior, mas o que você esta pensando em fazer? Perguntou Fernanda.
Antes de
responder MEIOPARDO deu um saldo com tal força que o poste chegou a balançar
soltando um dos holofotes que guardavam a grande lâmpada de vapor de sódio. O
que de certo modo contribuiu para chamar a atenção de todos os presentes.
Não
perceberam que a janela do quinto andar fora quebrada por algo ou por alguém
que, agora, já estava dentro do prédio.
Saga
Derinarde II – Capítulo 082
Desci em
disparada até o segundo andar e tudo parecia calmo. Foi no primeiro andar que
encontrei três meliantes agachados perto das janelas, observando o movimento e
passando informações por rádio.
Cheguei,
por traz, perto do primeiro homem, ele nem percebeu devido á atenção e estresse
em que se encontrava, e com um golpe certeiro que aprendera nas aulas da mestra
Elizete Costa acertei a nuca, fazendo-o dormir.
Da mesma
forma com o segundo, ele chegou á me ver, mas também foi a ultima coisa que viu
antes de dormir.
O terceiro
homem percebeu minha presença e ameaçou correr, não houve tempo, as minhas
pernas o alcançara em frações de segundos, incumbindo minhas mãos de fazê-lo
cair nos braços de Morfeu.
- Ache algo
para imobiliza-los. Falei enquanto olhava a imensa sala em que nos
encontrávamos.
- Fio de
computadores, há vários. Falou meu “grilo falante”.
Rapidamente
estavam os três amarrados para presente.
Comecei a
descer os degraus para o mezanino e térreo, onde realmente estava a bagunça.
Nenhum tiro
estava sendo dado naquele momento, mas percebi que na parte mais clara do salão
do térreo, embora estivessem com as luzes apagadas, a claridade da Avenida
chegava á boa parte do salão, havia um corpo de bruços. Era um bandido morto.
Em outro
canto, atrás de um balcão, um gemido forte de dor, quebrava o silencio que
agora dominava, tanto dentro como fora do prédio.
Do
mezanino, esquadrinhei, com os olhos, atenciosamente cada centímetro do que era
possível e não possível de ver.
- Me
posicione. Falei em voz inaudível para quem estivesse á centímetros de mim.
- Dos sete
que vi lá de fora, consigo ver quatro agora. A voz de Fernanda era firme e
objetiva.
- Nove
horas, atrás da proteção do vigia, quatro horas, atrás do biombo com
propaganda. Doze horas, parede da entrada principal e duas horas, sob o
aparador na parede. Enquanto ela falava, eu ficava imóvel montando o ambiente
em minha cabeça.
- O
restante... Espere, o Vtec simulou o 3D do som capturado, tem um... Quatro
horas, atrás do anterior, o que está gemendo está em sete horas e tem outro com
ele, tem mais dois em onze horas sob o balcão dos caixas. Os detalhes passados
por Fernanda fizeram um mapa em minha cabeça.
Agora
MEIOPARDO tinha que agir.
Do ponto em
que estava o melhor caminho seria saltar para trás dos caixas e pegar os dois
primeiros e foi o que fiz.
Ao chegar
ao solo, silenciosamente para não despertar a atenção dos demais, deflagrei um
golpe certeiro no primeiro o que chamou a atenção do segundo, porém, antes que
ele pudesse tomar qualquer atitude que seja meu pé alcançou sua mandíbula,
fazendo-o adormecer.
Agachado,
fui para o fundo do salão, na direção do gemido, lá encontrei o ferido e seu
comparsa.
Antes que
me visse, muito rápido, com o pé, chutei o fuzil que estava em sua mão. Ele não
acreditou no que viu.
- Você é um
menino muito mau. Disse-lhe baixinho antes de fazê-lo dormir com o golpe de
AIKIDO.
Saga
Derinarde II – Capítulo 083
E assim
foram o quarto e quinto.
Faltavam
três e eu sabia onde um estava, os outros dois tinha apenas uma ideia.
A cada silencio
meu, um pequeno som era capturado por meus ouvidos, sejam eles de movimento ou
apenas de respiração, era passado pelo chip em minha cabeça que por sua vez
capturado pelo dispositivo criado por Vtec e Fernanda e transmitido pela antena
atrás de minhas orelhas á central onde agora estavam meus anjos da guarda, que
processavam o som em um programa de som 3D e a voz singela de Fernanda Furlan,
meu “grilo falante”, me posicionava.
- Quatro
horas á seis metros e trinta e dois centímetros.
Saltei,
verticalmente, para cima em direção ao teto. Onde eu estava tinha um pé direito
muito alto, este local ficava fora da marquise. Meus olhos quase que
fotografaram o ambiente.
Ao tocar o
solo, imediatamente, um segundo salto se seguiu na direção quatro horas, á seis
metros e trinta e dois centímetros.
Ao descer
ao solo novamente, minha mão já estava na nuca do meliante, o qual não esboçou
nenhuma reação ao dormir.
Eu me
retirei dali, caminhando alguns passos para trás.
- Vejamos.
Comentei ao saltar novamente, só que desta vez mais baixo. A marquise impedia
coisa diferente.
- Onze
horas, vinte e dois metros e quatro centímetros. Mais uma vez a precisão do
Software de Vtec e a voz de Fernanda.
Em uma
corrida como que em corrida de obstáculos cheguei na frente do meliante, mas
por um erro de calculo, estava na frente da arma dele também.
Ele
disparou três vezes e dois impactos foram sentidos por MEIOPARDO, porém, como
ainda estava na velocidade do impulso inicial, com um chute o braço do atirador
foi quebrado em três parte, vim a saber depois, pelos noticiários.
Rapidamente
procurei acertá-lo a fim de que não me causasse mais estragos.
Os tiros
alertaram tanto o pessoal lá fora como o indivíduo que ainda restava dentro do
salão, comigo.
Fiquei de
pé para sentir meu corpo e verificar possíveis estragos.
Uma dor nas
costelas, mas os olhos não acusavam nada vermelho ou algo que pudesse se
assemelhar á sangue.
Mentalmente
agradeci á Maria Teresa Aarão, Vtec Honda, Fernanda Furlan, Elizete Costa e
outros, por estar bem e sem ferimentos.
Saga
Derinarde II – Capítulo 084
O cara que
ainda estava lá dentro, apavorado. Estava agora mais apavorado ainda, pois
sabia que algum policial já adentrara ao prédio, e encostado nas paredes
caminhava pelo salão apontando a metralhadora para todos os lados.
Algumas
rajadas foram disparadas, mas foi a esmo.
Ele estava
realmente irracional, porém não disposto a se entregar.
Sorrateiramente
fui para a parte onde não era abrigada pela marquise. Eu queria ter mais área
para agir.
Fiz alguns
barulhos propositais para chamar a atenção do meliante.
A essa
atura, a Avenida parecia uma festa, tamanha era a movimentação de policiais.
Eles não sabiam o que estava acontecendo lá dentro, á não ser que tiros e mais
tiros estava sendo disparados.
Quando já
tinha o homem em meu campo de visão, saltei muito alto e em sua direção.
O homem,
até me viu descendo sobre ele, mas seu cérebro foi muito lento em interpretar e
entender o que era aquilo que vinha em sua direção.
Cai
exatamente em sua frente, desarmando-o e agarrando-o pelo pescoço e braço.
- Quem é
você? Você vai me matar? Ele perguntou ofegante e com os olhos tão abertos e
incrédulos que por um momento pesei que fossem saltar para fora das órbitas.
- Sou o
MEIOPARDO, e não vou te matar. Falei arrastando-o para uma mesa próxima onde
peguei os fios de dois computadores.
Amarrei os
pés, as mãos e amarei os pés nas mãos também, deixando-o deitado no chão.
Neste
momento ouvi as portas de vidro quebrando. Era a policia invadindo e a minha
deixa para sair.
Saltei para
cima da marquise e corri para as escadas.
Foi fácil
chegar ao quinto andar onde uma janela quebrada era a minha porta de saída.
Saltar para
o poste da frente foi fácil.
Fiquei ali
um bom tempo olhando a policia agir.
Parece que
ninguém estava entendendo o que ocorrera.
O quê
alguns dos homens faziam amarrados com fio de computador e dormindo, golpeados.
Os bandidos
foram presos, mas a polícia estava atônita tentando entender o enigma.
Jornalistas
e fotógrafos se misturavam á eles, pois o perigo já passara.
Um bandido
que saíra algemado e acompanhado por dois policiais gritava.
- Era um
“negão” que tinha escamas. O nome dele é MEIOPARDO, acho que veio do inferno!
Sei lá.
Voltei para
casa depois de um dia excitante.
Saga
Derinarde II – Capítulo 085
Na manhã
seguinte, ou não tão manhã assim, tipo onze horas, Aracy entrou no meu quarto
anunciando:
- Aqueles
dois maluquinhos estão aí.
Levantei
meio sonolento e já entendi que quando Aracy falava de “dois maluquinhos”, só
podiam ser Fernanda Furlan e Vtec Honda.
Os dois
estavam na sala e Vtec com um aparelho novo na mão, ligando na tomada.
Acendeu um
LED verde e mais nada.
- O que
essa mente brilhante inventou agora, um aquecedor elétrico? Perguntei zombando
de Vtec.
- Este é um
sonorizador de múltipla frequência. Ele emite ondas de varias frequências e
tamanhos, fazendo com que, sons que estejam num raio de cinco metros e tenham o
ar como meio, fiquem distorcidos. Eu o chamo de silenciador. Terminou parecendo
o final de um discurso para uma multidão.
Então eu o
aplaudi.
- Ótimo, só
espero que não toque “funk”! Continuei a zombaria.
- Não, não
toca nada, aliás, é um aparelho para não deixar trafegar outras ondas de som.
Se o pessoal, lá embaixo, colocou escutas aqui, nada chegará até eles. Terminou
a explicação.
- Quer
dizer que não precisamos mais daquela barulheira para falar? Que ótimo.
Parabenizei Vtec.
- Na
verdade era para ser um INTERLUX. Era para distorcer a luz, mais ainda não
chequei lá, porém para a distorção do som está cem por cento.
- Acho que
um dia você chega lá, Vtec, acredito muito em você. Disse isso com sinceridade.
Fernanda
estava como uma daquelas ridículas sacolas amarelas e dentro havia pelo menos
uns cinco quilos de jornais.
- Está
vendendo jornal agora? Perguntei apontando para a sacola.
- Você está
em todos os jornais, do país e alguns de fora também. Fernanda disse com um
sorriso cúmplice.
Abrimos a
sacola e começamos a ler juntos enquanto tomávamos o memorável café da manhã de
Aracy.
“POLICIA
INTRIGADA COM HOMEM QUE IMOBILIZOU BANDIDOS”;
“FANTASIADO
DESARMA, SOZINHO, MAIS DE DEZ BANDIDOS FORTEMENTE ARMADOS”;
“O INFERNO
DO LADO DA POLÍCIA?”;
“DEZENAS DE
POLICIAIS, DOZE BANDIDOS E UM FANTASIADO”;
As
reportagens faziam alusão á vingadores, justiceiro e até á extras terrestres.
Estava tudo muito divertido.
Uma das
reportagens era de um jornalista chamado Luiz Nobrega Prymo, que fizera com um
dos meliantes.
O chefe do
bando e mentor intelectual do assalto em depoimento á polícia disse:
“Um homem
grande e negro, com escamas macias em todo o corpo, com uma força e rapidez
descomunal, voo por todo o salão do banco e desaparecendo em pleno ar e
reaparecendo na frente do bandido armado com uma submetralhadora. Desarmou-o
como que tira um doce de uma criança. Identificou-se como MEIOPARDO, a nova ordem
da cidade de São Paulo.”
Eu já
ouvira este nome, Luiz Nobrega Prymo. Só não lembrava onde.
Saga
Derinarde II – Capítulo 086
Terminado a
leitura dos jornais, nós nos despedimos e cada um seguiu o seu caminho.
O meu
claro, POLI.
Ao chegar á
USP decidi fazer uma visitinha á minha tutora.
Dois
andares acima e lá estava eu na antessala da Doutora.
Amanda de
Paula estava saindo da sala de Elen com uma enorme pasta e pela cara tinha
muito serviço á fazer.
- Bom dia
Amanda, A Nazi está te dando trabalho, é? Compre um “LEXOTAN”, e ponha meio
comprimido no café da manhã dela. Isso vai deixar VOCÊ mais relaxada.
Entrei na
sala de Elen, ainda observando o sorriso de Amanda.
- Bom dia
nobre senhora doutora superintendente Elen. Falei ao entrar, porém Elen nem
olhou para mim, continuo a teclar em seu computador.
Fui para o
canto mais afastado da sala onde ficava uma mesinha com café, chá, água e uns
biscoitinhos.
Servi-me de
um chá sentei no sofá e aguardei.
Elen
terminou seu texto e veio ao meu encontro.
- O que
você disse quando entrou? Elen falou enquanto se servida de água.
- Ãhn, eu?
Eu disse que você fica bem de cabelo curto.
- Mas eu
não tenho cabelo curto, aliás, nem as pontas do cabelo eu cortei.
- Então foi
do esmalte novo, por que mudou?
- Eu não
uso... Seu tonto. Elen ficou
decepcionada quando entendeu a brincadeira.
- Semana
que vem iremos para o Canada, ficaremos três dias na Universidade de Toronto.
Entregue seu passaporte para a Amanda. Elen anunciou e continuou.
- Estamos
firmando um convênio com eles e você fará uma apresentação.
- Eu
ficarei sentado em uma cadeira no palco, sem me mexer ou falar? Por que você
não leva um canário?
Ah, claro,
é capaz de o canário cantar. Fui muito irônico.
- Não,
desta vez você fará umas graças. Pedi para Cássia Raquel preparar um número
para você. Será uma apresentação em uma quadra. Vai saltar e correr. Essas
coisas.
- Por falar
em saltar e correr, você viu essa cara do jornal, parece que ele voa e desarmou
um monte de bandidos. Falei para chamar a atenção de Elen.
- Isso é
bobagem. Um bando de viciados que estavam sob efeito de algum alucinógeno. Até
eu dava conta deles. Elen falou desmerecendo a importância.
Agora fui
eu quem ficou decepcionado com a interpretação de Elen.
- Ah, tá.
Vou lá, então. Vou aprender a saltar e correr com a Cássia Raquel. Quem sabe
aprender a dar a patinha também. Tchau, hein. Saí da sala fazendo menção de dar
a patinha, até atravessar a porta.
Passando
pela antessala notei que Amanda estava no chão, de quatro, sob a mesa.
- Que foi
Amanda, você caiu? Perguntei e já me abaixei ao chão.
- Não, não
caí. Perdi meu brinco. Amanda falou levando a mão á orelha, agora nua.
- Me dá
dois minutos que eu acho para você. Levantei e saí correndo até a sala cofre.
Chegando lá
encontrei José Reginaldo e o grupo de teste.
- Liga ai
que preciso fazer uma coisa. Falei á José Reginaldo.
- Hoje você
vai...
- Liga aí,
liga aí, depois a gente conversa, é rapidinho, liga aí. Interrompi o que José
Reginaldo tentava falar e não parei enquanto ele não pegou o tablet.
- Volto já.
E saí em disparada ao encontro de Amanda.
Saga
Derinarde II – Capítulo 087
Na
antessala pedi para Amanda se levantar e fiz uma varredura com os olhos e em
segundos falei.
- Aqui está
o danadinho. E como prêmio eu vou por na sua orelhinha. Levantei com o brinco
na mão e fui em direção á Amanda.
Ela
sorridente como sempre, ou até mais por ter recuperado seu brinco, entregou-me
a tarrachinha.
É certo que
tive alguma dificuldade em prende algo tão pequeno em outro menor ainda, haja
vista que os meus dedos eram grandes e grossos, mas estar tão próximo de Amada
era compensador.
Ela dava
pequenos risinhos enquanto eu falava algumas brincadeiras.
O cheiro
daquela mulher era formidável.
Estava
quase acertando quando tudo foi ao chão novamente. Amanda dera um pulo junto á
um grito meio gemido quando ouviu a voz de Elen.
- O que
esta acontecendo aqui? A cena realmente era incriminadora, mas inocente.
- Pô Elen,
eu já tinha enfiado, só faltava por atrás, e você desencaixou tudo. Não percebi
o que havia falado, mas já havia falado.
- Amanda,
se dê respeito. Este não é um lugar de brincadeiras. Via-se que Elen estava
brava.
- Mas...
Amanda ameaçou falar, mas eu não deixei.
- Calma
Elen. A Amanda perdeu o brinco e eu estava recolocando, não tinha nenhuma brincadeira
aqui. Abaixei e tornei a pegar as duas pecinhas, as quais coloquei sobre a
mesa.
Apontei o
dedo para o rosto de Elen e disse:
- Um dia
você vai perder o brinco, na verdade os dois brincos e aí você vai entender.
Falei mesmo para tirar sarro de Elen. Virei ás costas e fui embora.
Mas antes
de sair, olhei para Amanda e disse.
- Não deixe
a Elen por os brincos em você.
Amanda
ameaçou sorrir, mas olhou para Elen e ficou muito séria.
Fechei a
porta e desci.
- Pronto,
não falei que era rápido. Eu me dirigi á José Reginaldo.
- Muito bem
Cássia Raquel vai lhe passar instruções da apresentação. Deri, a Elen lhe falou
do Canadá, não?
Fiz sinal
afirmativo com a cabeça.
- Pois
então podem começar. Terminou de falar e foi cuidar de seus afazeres.
Fomos para
a quadra e Cássia Raquel me passou as sequencias. Fez algumas correções e
estava tudo liquidado.
Estes chips
faziam com que horas de um atleta olímpico se transformasse em segundo para
mim. Claro na memorização dos movimentos e nas partes biônicas. Eu dava um duro
danado para fazer os braços, troco e tudo mais que não era biônico acompanhar,
por isso que tinha treinamentos diários.
Saga
Derinarde II – Capítulo 088
Os
exercícios diários foram feitos e informações coletadas.
Ao final
Cassia Raquel se aproximou de mim com seu tablet.
- Deri, eu
não estou entendendo uma coisa. Tenho coletado informações sobre o seu gasto
energético a mais de mês, e pelas leituras feitas aqui, com o suplemento que
você utiliza deveria estar duas vezes maior, o que faz fora daqui? Ela queria
realmente entender.
- Como
assim o quê faz fora daqui? Faço o que todo mundo faz, passeio, faço
exercícios, danço, sexo, essas coisinhas...
Tentei ser
convincente, mas não tinha argumentos.
- Tudo que
faz enquanto não está aqui não tem a menor importância para o gasto energético,
isso só ocorre quando os equipamentos estão ativadossssss...
Percebi uma
nuvem negra sobre a cabeça de Cassia Raquel. Ela desconfiava.
- O José
Reginaldo tem te submetido a treinos escondidos, é isso? Eu sabia.
Pensar
rápido, você está ligado, pensar rápido, cadê meu grilo falante nessas horas.
- Bem, eu
não deveria falar nada...
- Eu sabia,
eu sabia, eu sabia. Cassia Raquel estava muito radiante por descobrir o que se
passava, ou achar que descobriu. Eu só não sabia o quê ela havia descoberto,
então, “dar linha na pipa” era a melhor ou única alternativa.
- É segredo
e se alguém souber eu serei punido. Poxa vida como é que os atores enchem os
olhos de lágrima, por mais que me esforcei não consegui, mas surgiu o resultado
esperado.
- Ele nunca
me fala nada, mas aposto que aquela “vaca” está por trás disso, aposto. Não
está?
Como as
mulheres são astutas em descobrir planos mirabolantes que nunca existiram.
Eu não
tinha nada á falar que não comprometessem á mim ou a outrem, então meu silêncio
corroborou para a fantasia na cabecinha de Cassia.
- Você pode
ficar tranquilo, eu não vou comentar nada com ele nem com ninguém, eu só queria
ter certeza. Eu já sabia. Pois não era compatível o gasto com a recomposição.
Que canalha em não me falar nada.
Cassia até
parecia aliviada. Muito brava, mas aliviada por descobrir “a verdade”.
- Vou fazer
de conta que nada sei. Se eles acham que me enganam a mim, eu é que vou
engana-los.
Bem! Em
cinco minutos, vi uma mulher saudável de corpo e mente ter um ataque de
curiosidade, outro de lucidez, mais ciúmes, ira, calmaria, entendimento e
lucides novamente.
Deve ser
normal.
Deixa pra
lá.
Eu saí de
lá, como era rotina, acompanhado de Paulo Fernando Rodrigues e José Ricardo
Madson de Paula. Meus fiéis escudeiros.
Já chegando
próximo á minha casa, ao se aproximar do portão, os dois começaram a comentar
assustados.
- Ela está
lá novamente, alerte a equipe. Disse Paulo Fernando que estava ao volante.
Estiquei o
pescoço e entre os bancos da frente do carro que estávamos avistei o
inconfundível Mustang Azul.
- Pessoal.
Vocês podem até alertar a equipe, mas podem me deixar com a gata que o cavalo é
domado.
Ambos
olharam para mim a fins de entender a piada.
- Mustang,
cavado, domado, cavalo domado. Para lá que eu me viro.
Estávamos
parados á uns oitenta metros da entrada até que José Ricardo recebeu uma
aprovação por rádio e deu sinal para que Paulo Fernando avançasse.
Saga
Derinarde II – Capítulo 089
Paramos do
lado oposto da rua. Desci pelo lado da calçada, passei por trás do carro dos
seguranças e pela frente do Mustang Azul.
A película
escura nos vidros impedia de ver se alguém estava dentro, mas ao colocar o pé
na calçada ouvi o sistema de travamento das portas sendo acionado.
Este modelo
de Mustang não tem maçanetas, a simples aproximação da mão no local onde
supostamente deveria existir uma maçaneta á abre, e foi o que aconteceu.
Entrei no
carro e outra surpresa, aliás, outra bela surpresa.
Fernanda
Galindo novamente fantástica. Cabelos esvoaçantes com apenas uma faixa, também
azul, no centro da cabeça á prende-los, uma maquiagem leve, porém um batom com
cor de pecado, um vestidinho minúsculo que sentada naquele carro baixo ficava
mais “minúsculo” ainda e exatamente da cor do carro.
Nós nos
cumprimentamos com beijos nas faces e o perfume que ela usava fez-me não querer
mais parar de beija-la.
Fui o
primeiro a falar.
- Que
ventos á trás aqui? Uma proposta dos seus chefes?
- Não, hoje
eles nem sabem que estou aqui. A proposta é minha. Fernanda falou confiante.
- Sou todo
“ouvidos”. Eu estava curioso para ouvir.
- É que eu
estava querendo muito dançar e como não conheço muita gente aqui no Brasil,
achei que você poderia ir comigo. Topa, ou tem algo mais importante para fazer?
Foi muito meiga nesse finalzinho do pedido, como que me impedisse á dizer não.
- Bem, eu
tinha que salvar a cidade desse banditismo todo que tem por aí, mas não acho
que seja tão importante assim. Você espera eu tomar um banho?
Fui
fingido, mas não menti, aventura existe em todos os lugares, hoje, escolhi
esta.
- Vamos
subir e você me espera na sala, ou na cozinha, ou escolhe outro lugar para me
esperar. Rimos com malícia.
Subimos.
Coloquei
uma música e mostrei a geladeira.
Tinha
sucos, minha vida ultimamente em termos de bebidas era somente sucos.
Mostrei
também uma garrafa de Black Label com poucas doses servidas para amigos que
vinham em casa de vez em quando.
Fernanda
abriu uma água com gás e sentou-se ao sofá enquanto entrei no banho.
Um banho
rápido e em vinte minutos estava na sala com Fernanda.
- O que
você gosta de dançar? Perguntei para identificar o estilo.
- Na Europa
tem muito, House, Jazz, Eletrônica, mas estava pensando em algo mais Brasil,
mais Latino, mais Caliente. Falou com o bico da garrafa nos lábios carnudos e
vermelhos.
- Que tal,
Salsa? Perguntei com uma casa na mente.
- Boa.
Salsa é bem dançante. Topo. Fernanda falou entusiasmada.
- Outra
coisa, vamos deixar seu carro aqui e vamos com meus amigos. Foi quase uma ordem
e Fernanda não resistiu.
Liguei para
os camaradas lá embaixo e olhando-os da janela não tive dificuldade alguma em
convencê-los, aliás, estaria facilitando o serviço deles.
Já no
carro, apresentei Fernanda Galindo á Paulo Fernando Rodrigues e José Ricardo
Madson de Paula e seguimos para uma “boquinha”. Eu estava com fome e era muito
cedo ainda, não passava das nove horas.
Saga
Derinarde II – Capítulo 090
Paramos na
Hamburgueria Nacional, ali na Leopoldo, Itaim Bibi. O hambúrguer de lá é
fantástico e Fernanda adorou. Fazia biquinho em cada mordida.
Falamos do
projeto e dos patões dela, mas tudo superficial, nós não estávamos á serviço.
Conversamos bastante e bem depois das dez horas decidimos, aliás, eu decidi ir
para o Rey Castro, na Vila Olímpia.
Uma pequena
fila se formava na entrada, nada muito demorado e logo estávamos dentro.
Rey Castro
é um bistrô com pista de dança e uma decoração exuberante que nos transporta ao
caribe. Na entrada drinks exóticos e um balcão exibem e comercializam charutos
cubanos.
O som da
Salsa nos contamina logo na entrada.
As mesinhas
em ferro fundido ficam a disposição para um bate papo. Longe do “burburinho” e
da música, permite uma conversa tranquila.
Sentamos
ali para adaptação.
Enquanto
Fernanda ficou á mesa fui ao bar e pedi dois “mojitos”.
Bebida á
base de Rum, Limões, Açúcar e Hortelã, servido em taças baixar e largas com
açúcar em sua borda.
Muito
refrescante, apesar do álcool do Rum.
De onde
estávamos víamos as cores da decoração, o mezanino e parte da pista de danças
onde casais rodopiavam ao som da música vibrante.
- Era isto
que pensava? Perguntei esperando uma aprovação.
-
Exatamente isto. Exatamente. O sorriso largo e olhos brilhantes concordavam com
a resposta proferida por aqueles lábios.
Enquanto
saboreávamos os “mojitos” Fernanda contou-me parte de sua vida.
Quando
pequena filha de diplomatas brasileiros viajou muito, conheceu muitos países e
muitos povos. Tinha boas lembranças do Brasil, mas eram apenas lembranças.
Gostava
muito de nossa hospitalidade, humor e esperança.
Ela se
divertia ao falar que um Europeu era capaz de se suicidar por uma maça enquanto
que o povo brasileiro lutava até mesmo lutas perdidas.
Terminamos
as bebidas e fomos para a pista.
Abracei-a
junto ao corpo, coxa com coxa e começamos a dança.
Rodopiamos,
separamos, juntamos, e fizemos tudo que a Salsa nos permite fazer. Foram quatro
ou cinco musicas seguida de muita animação, até que uma musica lenta
iniciou-se.
Ambos
transpirando e ofegantes, nos acomodamos um ao outro. Sua respiração se
confundia á minha e seu corpo magnifico era um casamento perfeito ao meu.
Aquela coisa de côncavo e convexo nunca foi tão clara para mim como o que
acontecia neste momento.
Fernanda
tinha uma fisionomia de alegria e contentamento como as meninas mais novas que
ganham uma boneca de natal.
Este nosso
transe durou pouco, pois como qualquer musica latina, aos poucos vai acelerando
e logo estávamos novamente a bailar.
Entre
musicas e “mojitos” nos divertimos até ás três da manhã quando décimos partir.
Estávamos
alegres e satisfeitos com a dança.
Saímos e
fomos para casa.
Quem nos
levou para casa foram Regina Claudia Cantele e Paulo Rosa, haja vista que o
turno de Paulo Fernando e José Ricardo havia terminado.
Subimos,
pois depois de tantos “mojitos” Fernanda necessitava uma parada estratégica.
Banheiro.
Saga
Derinarde II – Capítulo 091
Enquanto
Fernanda estava no banheiro, decidi fazer um suco hidratante que uso para
minimizar minha cede quando saio em minhas vigílias solitárias.
A base era
abacaxi, hortelã e uma terceira fruta que variava conforme a oferta.
Desta vez
foram mexericas.
Fiz uma
jarra coloquei em uma bandeja e juntei copos e levei para a sala.
Coloque em
uma mesinha de rodas que tenho para estas ocasiões.
A pequena
bolsa de Fernanda estava sobre esta mesinha e ao remove-la percebi um peso
excessivo.
Por que uma
bolsa de mulher pesaria tanto?
Será que
ela carrega um vidro de perfume.
Não sei por
que a curiosidade estava tão aguçada esta noite, poderia ser o excesso de
“mojitos”, mas resolvi verificar.
Abri
delicadamente a bolsa, com especial atenção á porta do banheiro. Não queria ser
flagrado nesta desagradável situação.
Encontrei
algo que não queria ter encontrado.
Havia uma
arma em sua bolsa.
Fechei
imediatamente, e coloquei a bolsa sobre o sofá.
Pensamentos
á milhão.
“O que uma
pessoa que sai para dançar e se divertir estaria fazendo com uma arma?”
“O que uma
pessoa do bem faria com uma arma?”
“O que esta
pessoa estaria querendo de mim?”
Fernanda
chegou á sala e se serviu do suco que eu preparara.
- Uma
delícia. Acho que tomamos muito morritos. É assim que se fala, morritos?
Fernanda falou sem imaginar o que eu sabia.
- É sim, se
fala morritos. Sem resistir mais tempo disparei.
- Notei que
sua bolsa é muito pesada. O que carrega nela, ouro?
- Quase. É
minha arma dourada. Falou com a maior naturalidade tirando-a da bolsa.
- É uma
Colt 45 automática com 25 balas no pente, que dispara tudo isso em dez
segundos. Veja. Entregou em minhas mãos.
Era uma
arma toda dourada e seu cabo tinha um entalhe que imitava pedras de brilhantes.
- Realmente
é bonita, mas, mas, porque uma mulher como você precisa disto? Falei devolvendo a arma que ora estava em
minhas mãos.
- Bem. Eu
vou á muitos lugares, em muitas situações. Existem situações que preciso me
defender. Olha, acho que você não vai entender, não importe o que fale. Isto é
ferramenta de trabalho.
Falou para
colocar um ponto final. E foi bem sucedida, não falamos mais nisto.
Servi um
pouco mais de suco e sentei ao seu lado no confortável sofá.
Aproveitei
a proximidade e beijei-a. Ela parecia gostar, mas em determinado momento me
afastou com a mão que estava livre.
- Não vai
dar certo. Ela comentou, porém desconfiei que fosse mais com ela mesma que
falava do que comigo.
- O que não
vai dar certo? Insisti no beijo, mas fui prontamente barrado.
- Olha.
Você é legal, é bonito, sensual, mas não. Eu estou, mesmo, muito excitada, mas
não e não. Algo sóbrio tomou conta daquela mulher.
- Não posso
permitir que nada e nem ninguém interfira em meu trabalho, e você é meu
trabalho. Quem sabe depois que terminar. Ela jogou uma piscina de agua fria
sobre ambos.
- Entendo e
acho justo. Más eu não vou desistir. Eu me servi de mais suco e continuamos a
conversar por mais meia hora.
- Acho que
já estou bem para dirigir. Vou embora. Fernanda se levantou de um só pulo.
Nós nos
despedimos e ela foi embora.
Eram quase
cinco da manhã e fui descansar um pouco.
Saga
Derinarde II – Capítulo 092
Na manhã
seguinte resolvi ligar para Maria Tereza Aarão, pois deixaria a roupa de
MEIOPARDO para manutenção, pois com tiros e atividades frequentes era bom
mantê-la em perfeitas condições.
Ela estava
no ateliê, então coloquei a roupa em uma mochila e segui para lá.
Entreguei a
roupa á ela dizendo que a roupa estava cumprindo o seu papel.
- Foi você,
não? Ela me perguntou olhando para a roupa.
- Do quê
você está falando? Não estou entendendo nada. Não sabia do que ela estava
falando, mas fazia uma ideia.
- O cara
que anda á noite apavorando os bandidos, que esteve no Assalto na Avenida
Paulista, é você não e? Ela tinha uma enorme convicção e eu não sabia como á
convenceria do contrário.
- Vou
trocar todas as placas de polipropileno e colocar placas de carbono, é mais
resistente e leve. Não será qualquer metralhadora que o derrubará. Preciso de
cinco dias, pode ser.
- Claro.
Não tinha
nada mais á acrescentar e cinco dias é um período bom para descanso.
- Fique
tranquilo, nunca direi nada.
Apertei-lhe
á mão em sinal de que aceitava sua discrição.
Saí e
caminhei até o café onde tomara café com Fernanda.
Enquanto
tomava meu cappuccino tranquilamente avistei em uma mesa do café um rosto meio
familiar.
Fui até a
mesa em que ele fazia anotações em seu tablet e perguntei:
- Você não
é o repórter que cobriu o assalto na Caixa?
- É, sou
eu.
Olhou-me
enquanto respondia e voltou ás vistas para o tablet.
- Achei
muito legal a reportagem...
Percebi que
não estava chamando a sua atenção.
- Mas é
tudo mentira. O cara não é assim como você falou.
Se eu
queria chamar a atenção dele, agora era toda minha.
- Você o
conhece? Você sabe quem ele é?
Ele parou
de respirar enquanto aguardava minha resposta.
- Não. Não
sei, mas já o vi.
Ele voltou
á respirar e voltou os olhos para o tablet.
- Eu já
conversei com ele.
Capturei-o
novamente. Desta vez ele se posicionou na cadeira abriu uma pagina de texto no
tablet e me percebeu.
- Meu nome
é Luiz Nobrega Prymo e escrevo para um grande jornal, se você me contar tudo
que vocês conversaram eu ponho seu nome no jornal e seus amigos lhe pedirão
autógrafos, o que você acha?
- Acho que
é a coisa mais babaca que um jornalista pode dizer.
Desta vez
ameacei me retirar e ele me agarrou pela manda da camisa.
- Não,
espere aí. Eu estava brincando. Eu quero muito saber quem é esse cara? Como ele
é? O que ele faz.
Sente aí.
Sentei-me e
começamos a conversar.
- Eu não
sei quem é o cara, mas sei que ele não voa como sua reportagem falou.
- O bandido
disse que ele voou e eu achei que venderia assim, e foi o que aconteceu. Como
você o conheceu?
Saga
Derinarde II – Capítulo 093
- Em uma
noite que voltava para casa, eu vi um vulto na ponta de um poste. Ele salta de
poste em poste.
Fui
bruscamente interrompido pelo reporte.
- Escuta
aqui engraçadinho, estou fazendo um trabalho sério e não venha com essas
brincadeiras.
- É sério.
Ele tem uns dotes especiais. É capaz de dar saltos imensos, consegue correr
muito. Vamos fazer assim: Eu conto e você anota depois decida o que fazer. Quem
disse que ele voava foi você, não eu.
- Tá bom,
conta. Conta...
- Ele se
chama MEIOPARDO, pois consegue atingir metade da velocidade de um Guepardo,
salta muito alto, e tem uma pele especial que é muito resistente.
É lógico
que alguma coisa eu iria exagerar, sou humano.
- Ele é um
herói solitário e passa as noites vigiando a cidade.
- E disse
que os bandidos têm que o temer ou sua fúria virará contra eles.
Achei que
ficaria bonito isso publicado.
Em meio á
minhas explicações era interrompido por perguntas:
- Quantos
bandidos ele já matou?
- Isso ele
não disse, mas não acho que ele mate bandidos, ele os desarma.
- E você
sempre o encontra?
- Algumas
vezes, se você quer encontra-lo tem que andar nas madrugadas, olhando para o
topo dos postes.
Ficamos
quase três horas conversando e ao final me deu um cartão com seu endereço
eletrônico e uma câmera fotográfica.
- Olha,
fique com esta câmera e para cada foto que você me enviar e te pago mil reais.
- Outra
coisa, qual o seu nome para eu colocar como fonte?
Ele queria
fechar a entrevista para que pudesse sair na edição de amanhã pela manhã.
- Nome?
Não, nome não. Eu quero ficar anônimo. Não quero que ninguém peça meu autografo
como você insinuou no início.
- OK. Não
publico, mas me dê seu nome e telefone, para lhe encontrar e...
- Meu nome
é Zé e eu é que te procuro quando tiver algo a dizer ou a mostrar. Você nunca
me procura, feito?
- Está bem.
Mas Zé? Zé do “quê”? Precisa uma identificação e Zé não identifica ninguém.
Achei que
estava na hora de tirar uma da cara dele.
- Como não,
todos os meus amigos Zés eu seu quem são. Mas para você vai ser Zé do MEIO. E
só.
Falei já me
levantando.
- Zé do
MEIO, que MEIO?
- Ô
repórter burro. MEIOPARDO, Zé do MEIOPARDO, Zé do MEIO. Entendeu ou quer que
desenhe?
Ele anotou
no tablet dele “Zé do MEIO”, e quando retornou a visão para mim para perguntar
algo mais eu já havia me retirado da mesa, do café e da rua, pelo menos de sua
vista.
Saga
Derinarde II – Capítulo 094
A voz
tradicional e conhecidíssima nos alto falantes anunciava:
- Senhores
passageiros da AIR CANADA, com destino á Toronto, dirijam-se ao portão 17 para
embarque imediato e boa viagem.
Estávamos a
Elen, José Reginaldo Ramos Ramos, Cássia Raquel Carvalho, Alex Baba, Ricardo
Regis Lima, Eduardo Soares e eu, no saguão do Aeroporto de Guarulhos quando a
voz anunciou.
Desta vez
não teríamos o privilégio do jatinho privativo.
Embarcamos
e ao meu lado sentou-se Eduardo Soares.
Ele me
explicava os detalhes do novo software de segurança que aposentava todos os
outros equipamentos de rastreamento.
- Veja
isto. São dois satélites simultâneos que recebem o sinal e não bastasse isso,
as torres de tecnologia celular complementam. Eduardo estava entusiasmado com o
novo brinquedo.
- Quer
dizer que desta maneira eu nunca desapareço da sua tela? Eu quis parecer
interessado.
- Nunca.
Você nunca será invisível. Eduardo Falou confiante.
Imaginei o
que ele diria se soubesse sobre o MEIOPARDO. Mas ele pensando assim, com essa
confiança, era muito bom.
A viagem
foi tranquila apesar de cansativa. São dez horas se tudo correr bem, e nesse
tempo fizemos duas reuniões, duas refeições e vários cafés.
Não sei se
foi por causa de estarmos em um avião, mas participei mais das atividades que
teríamos no Canada.
Quem era o
público?
Quais os
principais personagens?
Quem deveria
dar mais atenção?
Quem
deveria evitar?
Elen dava
uma aula de estratégia para todos nós.
Eu entendia
um pouco mais de como aquela mulher chegou aonde chegou.
Falaram,
também, Eduardo e Cassia Raquel.
Eduardo
repassou para o grupo o que já tinha me explicado sobre segurança, satélites e
sinais e Cassia Raquel repassou as séries que eu apresentaria, pois como já fora
dito, desta vez não ficarei sentado em uma cadeira no centro de um palco.
Em
determinado momento, após Eduardo e Cassia Raquel falarem, Elen dirigiu a
palavra á mim:
- Deri. Cem
por cento disso estão em suas mãos. Tanto na segurança como na apresentação é
de você que dependemos. Ela falou muito séria.
-
Entendido. Achei que desta vez não caberia nenhuma piada.
O sinal de
“apertar o cinto” acendeu e o comandante da aeronave anunciava que estávamos em
manobra de pouso.
Toronto
estava com temperatura agradável e as árvores e jardins estavam floridos. Era
primavera no hemisfério Norte.
Fomos para
o Trump International Hotel. Aquele grande da Bay Street com Adelaide Street
West.
Era final
de tarde decidimos fazer um tour pela cidade. Fomos á pé, pois tudo estava
próximo.
Entramos em
diversas lojas, passeamos no Totonto Sculpture Gardem, o que me fascinou muito.
São esculturas dispostas em um jardim com muita harmonia e graça.
Voltamos
para o hotel, comemos alguma coisa e nos dispersamos. Alguns para os quartos outros
percorreram o hotel, que é muito grande. Eu decidi dar mais uma volta. Minha
vida noturna parece que me chamava para as ruas.
Avisei á
Eduardo de minhas intensões e ele não fez restrições. Avisou que não iria
comigo, mas ficaria de olho em seu monitor.
Toronto é
igual á qualquer outra cidade grande do mundo. Guardado as proporções, o dia e
a noite são diferentes.
Saga
Derinarde II – Capítulo 095
No centro
não avistei mendigos ou miseráveis, mas um grande número de desempregados era
visível tanto de dia como á noite e á noite eram mais notados, pois o movimento
de pessoas era menor.
Eram grupos
de três ou quatro a conversar em esquinas, músicos que sentavam na calçada
tocando instrumentos á espera de uma moeda, ou simplesmente caminhando á esmo
pelas ruas bem iluminadas, mas quase desertas.
Caminhei
muito esta noite, mas como Deri. MEIOPARDO tirou o dia de folga, MEIOPARDO
estava pensando.
Eram três
horas da manhã quando o meu celular tocou.
- Cara,
você não dorme? Eduardo falou ao telefone parecendo irritado.
-
Desculpe-me Eduardo. Já estou voltando.
Até entendi
a situação de Eduardo.
Ele não
tinha equipe.
Ele era
responsável por minha segurança vinte e quatro horas por dia.
Voltei
rapidamente ao hotel e fui descansar.
Na manhã
seguinte, por voltas das nove horas o interfone do quarto toca.
Atendi e
quem falava do outro lado era José Reginaldo.
- Deri,
temos que estar ás dez horas na Universidade.
- Ok. Estou
descendo. Falei enquanto levantava.
Um bom
banho pela manhã desperta qualquer um, e em vinte minutos estava fazendo meu
desjejum no imenso restaurante do hotel.
Enquanto
tomava café, Eduardo se aproximou e sentou-se á mesa.
- Não vai
comer, está ótimo. Falei com ele quase de boca cheia.
- Já tomei
meu café. Eu acordo cedo, por isso não estou acostumado a dormir tarde. Falou
se desculpando por ter me chamado de volta na noite que se passou.
- Eu já sou
diferente. Sou notívago. A noite para mim deveria ser permanente. As coisas á
noite são mais reais. São mais intensas. E continuei sem perceber que estava
abrindo meu coração.
- De dia,
as pessoas se fantasiam com uma roupa mais bonita, com orgulhos mais latentes,
com medos do que vão dizer, do que vão pensar. Já á noite as pessoas se liberam
para as verdades, sem vaidades e sem ressentimentos.
- Á noite
as pessoas são mais pessoas e desde as mais humildes até as mais afortunadas, o
comportamento é o mesmo,
Parei de
falar, pois coloquei um enorme pedaço de quiche de Shiitake na boca.
- É Deri.
Eu nunca pensei desta maneira, mas também nunca caminhei nas madrugadas como
você faz. Por enquanto estou na turma que se fantasia para o dia. Eduardo falou
pensando no que ouvira.
Limpei a
boca com o grande guardanapo de linho bordado, virei um último gole de café que
ainda restava na xícara e disse.
- Estou
pronto para pular, correr e faze acrobacias. Vamos?
Nós nos
levantamos e fomos em direção á porta principal do hotel.
No caminho
nos aguardavam Cássia Raquel, Alex Baba e Ricardo Regis no saguão de entrada.
- Onde
estão Elen e José Reginaldo? Perguntei olhando para os lados na esperança de
encontra-los.
- Já foram
mais cedo. Somos só nós. Respondeu Alex Baba.
- Então
vamos? Sugeriu Eduardo.
Fomos para
frente do hotel onde uma van nos aguardava.
Na porta um
mestre salas. Um cicerone nos aguardava.
Saga
Derinarde II – Capítulo 096
Em um
inglês formal e impecável se apresentou.
- Eu sou
Raphael dos Santos Lima. Bem vindos á Universidade de Toronto. Estou á seu
inteiro dispor.
Entramos e
mal me ajeitei na confortável poltrona paramos.
Na verdade
estávamos á umas doze quadras da Universidade. Seguindo pela Avenida das
Universidades encontramos o Queen´s Park, contornamos e chegamos.
- Na volta
irei á pé. Comentei com os companheiros.
Uma
comitiva de quinze á vinte pessoas nos aguardava.
Eles
carregavam enormes maquinas de fotografia e filmagem, microfones e blocos de
anotação nas mãos.
Raphael,
antes de abrir as portas informou naquele inglês de lordes.
- Isto não
é a imprensa, embora pareça. São alunos da universidade e seus centros
acadêmicos fazem questão de saber tudo que acontece por aqui. São interessados
e participativos.
-
Igualzinho no Brasil. Quando um cachorro faz cocô na calçada, publicamos o nome
dele, a raça, se tem ou não pedigree. Acredite-me. Falei em zombaria, mas
Rafael parece não ter entendido a piada e desconfiou que fosse verdade.
- Não
chegamos á esse ponto ainda. Comentou Raphael.
Nós saímos
da van e uma enxurrada de perguntas e fotos nos alcançou.
- Who is
Deri?
- Who is a
SIBORG?
- Who is a
future´s mem?
Eu me
apresentei á eles e como já tinha meia dúzia de respostas fornecidas pela
equipe e decoradas respondi as perguntas que se encaixavam nestas respostas, as
demais eu repetia: “são assuntos que serão apresentados na palestra”, e
consegui agradar á todos. Pelo menos foi o que achei.
Uma
bonitinha, que não tinha filmadora, máquina fotográfica ou bloquinho nas mãos
foi a última á perguntar e para mim, foi a melhor pergunta.
- What you
go make this nigth?
Pedi, com
as mãos, silêncio á aquela plateia disforme e ruidosa.
- Qual o
seu nome? Perguntei olhando nos lindos olhos verdes que havia me feito a
pergunta.
- Denise
Gabriel. Respondeu para que todos ouvissem.
Voltei á
pequena multidão e respondi:
- Eu vou
levar a Denise Gabriel para beber um “Maple Syrup”. Respondi para ver a reação dela.
As pessoas
presentes aplaudiram e ovacionaram.
Denise que
era muito branquinha ficou rubra, abriu um sorriso envergonhado, acho que não
esperava tal resposta.
Encerrada a
fase de entrevistas fomos para o auditório.
Entramos e
fiquei encantado com o tamanho. Muito grande e muito magistral.
A palestra
começou com apresentação do projeto, filmes e slides mostravam uma
retrospectiva das deficiências humanas e evoluções.
Foram
quarenta minutos que, a meu ver, tudo conversa fiada.
Até o
inicio de minha apresentação o pessoal da palestra estava fascinado, porém
quando comecei a apresentação, faltou o pessoal babar.
Dei três
saltos, duas corridas e algumas piruetas. Foi o suficiente para ter aplausos
por dois minutos ininterruptos.
Os
professores que estavam nas primeiras fileiras cochichavam uns nos ouvidos dos
outros.
Era um
furor.
Saga
Derinarde II – Capítulo 097
Passada a
apresentação, responderam-se algumas perguntas e estava encerrada a palestra.
Fomos para
a van. Nosso destino seria o hotel.
Á saída, Denise
estava na porta. Peguei-a pela mão e entramos na van.
A van saiu
pela avenida da universidade.
Perguntei á
Denise se havia assistido á palestra se havia gostado.
- Crazy!,
Veri crazy. Repetia varia vezes.
Não demorou
e a van parou em frente ao Tump International. Descemos e o pessoal entrou.
Denise e eu
fomos dar uma volta nas imediações.
Era cedo e
nada tínhamos para fazer durante o dia.
Andamos nos
parques das imediações, lojas e até de bonde andamos.
Fomos até a
torre de Toronto. A terceira mais alta do mundo.
Fizemos uma
pausa para o almoço.
Durante o
almoço, Denise contou um pouco de sua vida e eu da minha. Claro.
Denise vem
de uma família tradicional Canadense, que há mais de cento e cinquenta anos
migrou dos Estados Unidos para Toronto á fim de se estabelecer em uma cidade
nova.
Falou de
seus gostos e de sua rotina. Com vinte e três anos estava no terceiro ano de
engenharia genética.
Gostava
muito do que fazia, porém se dedicava mais ao teatro que á disciplina.
Dizia que
estudar na faculdade era muito fácil e o teatro lhe ensinava a abrir a mente
para novas possibilidades, novos caminhos.
Após o
almoço fomos conhecer o Royal Ontário Museum e para isto você não precisa
necessariamente entrar em um museu, basta entrar na estação de metro mais próxima
do museu.
Esculturas
Egípcias adornam a estação. Muito bela.
A tarde
passou muito rápido, pois no divertimos muito.
Já no
início da noite fomos para um pub e lá Denise me apresentou colegas. E formamos
um grupo de seis. Conversamos bastante sobre hábitos e costumes, de Toronto e
São Paulo. Desfizemos alguns mitos e nos entrosamos bastante.
Saímos para
outros dois pubs e conhecemos mais gente.
Conforme
prometera bebemos o tal Maple Syrup, o qual eu confessei não ter gostado muito.
Um tipo de
licor muito doce e sem um sabor marcante.
Continuamos
na farra até uma e meia da madrugada. O pessoal se dispersou e ficamos só,
Denise e eu.
Levei-a
para casa.
Era
próximo, alias a impressão que tive de Toronto é que tudo é próximo.
Denise
morava em uma grande casa e aquela hora que chegamos, faltando pouco para as
duas horas, sua avó materna assistia TV na sala.
Fiz menção
de partir ao deixa-la na porta, mas ela não permitiu insistindo que entrasse.
Saga
Derinarde II – Capítulo 098
Conheci sua
vó muito simpática que assistia á um filme em preto e branco na tv moderna.
Dizia que aquilo á fazia voltar no tempo.
Fomos para
a cozinha onde bebemos suco de frutas.
Conversamos
por bastante tempo até que Denise foi até a sala e certificou-se que sua vó
havia subido para o quarto.
Voltou á
cozinha, mas desta vez estava nua.
Tinha um
corpo escultural devido á ginastica e aulas de dança. Tudo em seu lugar, firme
e proporcional.
Tentei
resistir, pois estava impactado. Esperava algo, mas não tão imprevisível como o
que estava ocorrendo.
Por mais
que tentasse, não resisti e entreguei-me á situação.
Transamos
na pia, na mesa e até sobre o fogão. Sorte nossa que não termos usamos antes.
Não
conseguimos para na primeira, e continuaríamos muito mais não fosse meu celular
tocar lá pelas quatro horas.
Era Eduardo
querendo notícias.
Eu atendi
ao telefone informando que já estava á caminho, porém como estava longe ainda
demorei algumas horas.
Continuamos
até que pássaros cantavam na árvore da frente. Era de manhã.
Nós nos
despedimos e fui para o hotel.
Cheguei á
porta de Eduardo ás seis e meia, bati e ele atendeu.
- Pode ir
dormir. Falei e fui para meu quarto. A porta se fechou á minhas costas.
Acordei por
volta de onze horas e apesar de dormir pouco estava animado.
Liguei para
a portaria do hotel para saber de algum recado, mas nada foi informado.
Fui para a
academia, treinei um pouco, quase uma hora e voltei para o quarto.
Pretendia
tomar um banho e descer para um bom café da manhã.
Ao entrar
no quarto, Elen estava á minha espera.
- Fiquei
sabendo que você anda fugindo á noite. Nós não estamos aqui á passeio. Percebi
que não era isto que a incomodava.
- Enquanto
eu estiver fazendo o que vim para fazer, não, mas o tempo que sobra, sim, é
passeio.
- Eu só me
preocupo com a sua segurança. Insistiu Elen.
- Eu estou
seguro. Falei enquanto entrava no banheiro.
Não fechei
a porta e tirei a roupa. Já estava na ducha quando Elen da porta do banheiro
falou:
- Eu ainda
confio em você. Ela falou me olhando pelo vidro transparente do box e saiu.
Ás três da
tarde estivemos novamente na Universidade onde técnicos e doutores falaram
informalmente comigo, com Ricardo Regis e com Alex Baba.
Trocamos
informações e detalhes.
Ficamos até
oito horas da noite e terminamos nossa visita á Universidade e á Toronto.
No hotel,
já em meu quarto, o interfone anunciou que Denise estava no saguão.
Saga
Derinarde II – Capítulo 099
Desci e ela
tinha dois ingressos de teatro na mão. Não tive como dizer não e fomos ao
teatro.
A peça era
de um autor local e dizia respeito á briga familiar de um filho drogado. Um
drama atual e comovente.
Não cheguei
a chorar, mas foi angustiante, ao contrario de Denise. Pensei que fosse se
desfazer, tamanho era a quantidade de lágrimas que produzia.
Saímos do
teatro direto para um pub, mas ficamos pouco.
Encontramos
dois amigos da noite anterior e outros dois novos.
Conversamos
um pouco e saímos.
Desta vez
fomos para o hotel.
Subimos e
ficamos até de manhã, pois Eduardo não precisou me ligar. Eu estava no ninho.
Entre sexo
e cochilos descemos para o café da manhã á dez horas, meu voo era meio dia,
então estava na hora.
- Quem é
essa? A voz que veio de frente era da irritada Elen.
- Já que
perguntou, essa é Denise. Apontei com o garfo, mas sem para de comer o meu
quiche.
- O que ela
está fazendo? Insistiu Elen.
Olhei para
Denise e voltei o olhar para Elen.
- Comendo
quiche.
Elen virou
as costas e saiu batendo os pés no chão quando ainda ouviu Denise me perguntar:
- His
mammy?
Não pude
evitar, soltei uma gargalhada.
Terminamos
o café da manhã e nos despedimos.
A van que
nos aguardava levou-nos até o aeroporto.
O checkin
foi rápido e logo estávamos nas poltronas do Boing que nos traria para casa.
Desta vez
não houve reunião ou planejamento.
Estávamos
livres para o que queríamos e decidi por o sono em dia.
Duas vezes
que passe por Elen, a mesma não olhou na minha cara. Estava visivelmente
chateada.
Como dormi
a maior parte do tempo, não percebi as dez horas de voo e logo estava em casa.
MEIOPARDO
ainda de férias, pois a roupa ainda não fora devolvida.
Eu fazia
meus passeios noturnos como Deri.
Lento, no
chão, caminhando, como todo humano normal.
Saga
Derinarde II – Capítulo 100
Sem a
roupa, sem MEIOPARDO a semana passou meio monótono.
Aproveitei
para rememorar com amigos.
Fui á
festas e á baladas.
Eu me
comportei como qualquer jovem de minha idade.
Adrenalina
somente nas trilhas sobre minha moto.
O tempo
passou e minha roupa ficou pronta, e como ficou!
Com as
novas placas de carbono ela ficou mais fina. Com o mesmo peso, o que não
incomodava, mas muito mais fina.
No mesmo
dia em que peguei a roupa liguei para Vtec, Fernanda e Waldir e lhes falei
palavras do cartão fornecido por Vtec um dia.
- “Uniu
para Manter-nos Unidos”.
Isto era o
suficiente para todos sabermos do que se tratava.
Com a aceitação
de todos, três horas depois das ligações estávamos reunidos em casa.
Expliquei
toda a situação, sob o silenciador de Vtec ligado, e todos concordaram.
Peguei um
cartão que estava na estante sob uma pequena estatueta de Buda, aquele gordinho
de orelhas grandes, troquei o chip do celular por outro que havia comprado mais
cedo na banca de jornal, assim impediria que qualquer identificador não me
localizasse.
Liguei para
o número que estava no cartão.
Atenderam
do outro lado.
- Alô.
- Prymo?
Luiz Prymo? O jornalista? Esperei a confirmação.
- Sim, quem
fala?
- É o Zé do
Meio.
- Sim, Sim.
Conseguiu as fotos? Prymo perguntou ansioso.
- Melhor.
Ele estará na rua hoje á noite e responderá três perguntas suas. Mas você ás
fará agora e ele te responde á noite.
- Onde ele
estará?
- Está é a
primeira pergunta? Eu o provoquei.
- Não. Não.
A pergunta é: Quais são seus objetivos? Feito a primeira pergunta.
- Certo. A
segunda?
- O que são
e de onde vêm essas habilidades?
- O quê
você quer em troca? Esta é a pergunta: O que quer em troca do que faz? Isto
está muito limitado. Falou querendo mais.
- Calma.
Você irá conhecê-lo e ele á você. Tudo ao seu tempo.
Informei
que eu o levaria até ele.
Passei o
endereço e horário para o jornalista e desliguei.
Acertamos
os detalhes. Vtec e Fernanda foram para a base. Waldir ficou comigo.
Saga
Derinarde II – Capítulo 101
Quanto mais
ansiosos ficamos mais o tempo demora á passar, mas chegou a hora.
Eu já
estava com o botão do “LD” acionado apenas vesti a roupa e o aparelho duplicador
mudou de vermelho para verde. Entreguei-o para Waldir que o colocou no bolso.
Waldir
vestiu meu macacão de motociclista, colocou o capacete e desceu para a garagem.
Ao mesmo
tempo em que liguei para os seguranças, na porta, avisando que sairia.
Quando
Waldir saiu, agora sendo Deri, os seguranças saíram atrás dele. Saí também.
Deri fez o
trajeto desenhado até a rua do encontro com Prymo e MEIOPARDO o seguia
sorrateiramente sobre os postes.
Logo Deri
chegou ao ponto e não foi difícil localizar o carro de Prymo. Havia um adesivo
de “REPORTAGEM” colado no vidro traseiro do Citröen cinza de Prymo.
Deri
emparelhou ao lado do carro e bateu no teto.
Prymo
abaixou o vidro e colocou a cabeça para fora do carro.
- Onde está
ele? Perguntou ansioso.
Deri, com a
viseira do capacete semiaberta onde seu rosto ficava totalmente coberto, porém
conseguia ser ouvido avisou Prymo.
- Siga-me,
ele está esperando.
Deri
esperou Prymo ligar o carro e engatar a primeira marcha e saiu.
Não era
muito longe e por isto não demorou muito.
O comboio
seguiu. Agora Deri, Prymo e os seguranças logo atrás.
Pararam.
Nenhum
deles desconfiava que estivessem sendo observados por cima.
Prymo até
que procurava nas alturas, mas sempre olhava para o lado errado, pois MEIOPARDO
vinha sempre atrás.
Deri, sobre
a moto, olhou para trás e fez sinal para Prymo.
Apontando
para o chão e fazendo sinal de parar, com a mão espalmada, indicou que Prymo
deveria esperar ali.
Era uma rua
deserta num bairro de nome Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo.
O bairro é
de uma classe mais abastada o que faz com que poucas pessoas fiquem
perambulando á pé tarde da noite.
Parece
irônico, mas quanto mais pobre determinado bairro, mais gente chega e sai nas
ruas.
Esta rua
era muito arborizada o que fazia com que ficasse mais escura.
Deri seguiu
em frente e Prymo não percebeu quando os seguranças passaram por ele seguindo
na mesma direção que Deri.
Deri
deveria ir até o Morumbi, comprar um refrigerante e voltar para casa. Minha
casa.
Desta
forma, o disfarce estaria completo.
Todos
veriam duas pessoas distintas, Deri ou Zé do MEIO e o MEIOPARDO.
Mal viraram
a esquina e MEIOPARDO estava ao lado da janela do motorista.
Prymo deu
um pulo no banco que estava.
Assustou.
Destrave a
porta do outro lado, ordenei.
Saga
Derinarde II – Capítulo 102
Ao acionar
o botão de destravamento das portas eu já estava abrindo a porta do passageiro.
Isto eu fiz
para impressionar, mesmo.
Com um
salto preciso sai do lado do motorista, aterrissei do lado do passageiro em uma
fração de segundos.
Entrei no
carro e fechei a porta.
Luiz já de
bloquinho na mão e boca aberta não conseguia ao menos piscar. Estava
impressionado.
Como ele
nada falou, comecei eu, á falar:
- Meus
objetivos são trazer um pouco de tranquilidade onde eu possa estar presente.
Menos violência, menos impunidade.
- Minhas
habilidades físicas são as que menos importam e as únicas coisas que me
limitam. Considero minha maior habilidade o meu senso de justiça. Se a maioria
pensasse assim teríamos alguns milhões de heróis como eu.
- Em troca
eu quero apenas isto. Algo mais justo e menos violento. As pessoas precisam
acordar e ver que se todos se unirem e trabalharem juntos, tudo ficará melhor
para todos.
- Sei que a
parte mais difícil é trabalhar, mas é possível.
Terminei a minha
fala.
- E...
Prymo tentou falar, mas o interrompi.
- Hora das
fotos. Seja rápido. Ao dizer isto a porta do carro já estava aberta e eu fora
do carro.
Prymo
saltou com a máquina na mão. O flash me pegou no ar em direção ao poste e
percebi mais uns três disparados enquanto pulava para outro, e outro poste.
- Missão
cumprida. Comuniquei á base.
- Tem algo
acontecendo perto do aeroporto só que do outro lado de onde você está. É na
favela Alba. A polícia mandou até helicóptero para lá. Fernanda deu as coordenadas
e comecei á saltar nesta direção.
Em três
minutos estava em uma das entradas da favela. Seguindo na direção do
helicóptero da polícia parei na entrada e observei a movimentação.
Aguardei
mais alguns minutos e pelo que entendi na agitação dos policiais e mais o que
foi me foi passado pela base, havia ali um tiroteio que envolvia sequestro.
Em uma
favela, ou pelo menos nesta, não existe rede elétrica oficial, então não há
postes. O jeito seria ir pelo chão mesmo.
Do alto de
onde estava, atrás de uma viela, achei um bom ponto para pouso, então saltei.
Só não
contava com uma enorme bacia que estava no mesmo local que eu escolhera para
aterrissar.
PLAN, BRUM,
KLAPT, STRUNS...
Acho que se
eu quiser algum dia fazer barulho, não conseguirei atingir este nível.
Conforme
cheguei ao chão meu pé pegou a borda desta enorme bacia que ao girar e subir
pela ação da gangorra que se formou, atingiu um caixote de garrafas vazias que
devido ao impacto de baixo para cima também voou espalhando garrafas para cima
e para os lados.
Ao cair nos
telhados, ou espatifarem no chão, mais ou menos ao mesmo tempo o barulho se
amplificou. Afora algumas outras lata e coberturas metálicas encontradas pelo
caminho.
Parecia
comedia pastelão.
Refeito do
acidente que nada sofri, continuei pelos becos.
Como os
becos eram escuros, cheios de saliência e cantos, não foi difícil me esconder
quando passantes, morador ou policial, passavam correndo por mim.
Saga
Derinarde II – Capítulo 103
Eu seguia o
barulho do helicóptero e o som de tiros esparsos que aconteciam.
- Base. Tem
sons de tiros gravados ai? Se colocasse eu poderia, pelo som, identificar o
armamento, o que me diz?
- Um
momento. Avisou Vtec pelo comunicador atrás de minhas orelhas.
De repente
quatro gravações foram tocadas em minha cabeça e respondi nesta quarta.
- Essa. É
isso que estão usando. O que é? Perguntei.
- É uma FAL
762. Um fuzil belga muito rápido. Tome cuidado. Estes polímeros da sua roupa
não suportarão. Falou Vtec muito preocupado.
-Não se
preocupe. Agora são de carbono. Não me atingirão. Falei confiante.
- Pode até
ser que não perfure, mas o impacto vai ser bem dolorido. Voltou Vtec.
- É
verdade. Bem lembrado. Terei cuidado. E dei mais uma corrida até o cruzamento
de outro beco.
Eu estava
em um labirinto e não conseguia chegar mais perto. Quanto mais eu caminhava na
direção do barulhento tumulto, mais longe ficava.
Para
caminhar pelos becos de uma favela é preciso ter mais familiaridade.
Olhei para
os lados e vi quem não vinha ninguém.
- Base,
faça uma gravação completa á partir de agora. Falei para que Vtec e Fernanda me
ouvissem.
Eu me posicionei e saltei verticalmente o mais
alto que podia.
Esperava
ter uma visão melhor de cima, e olhei atentamente para todo o cenário enquanto
subia e descia.
Cheguei ao
solo.
- E aí? Tem
algo que eu deva saber? Perguntei á base.
- Vai ser
meio difícil de você se movimentar. Tem muito policial entrando e saindo das
casas eles estão fazendo um pente fino.
- Eureca.
Esta palavra pronunciada por Vtec sempre me trazia alegria e conforto.
- O que foi base?
- Sabe
aqueles códigos estranhos que acompanhavam o sinal de sua visão que eu não
sabia o que era? Vtec estava entusiasmado e me preparei para uma aula inteira.
- Vtec,
agora nós não temos tempo para explicações. Posicione-me na situação. Fui
ríspido com meu amigo.
- Esta bem.
Homem amarrado e abaixado á quarenta ponto oito metros, nove horas. Três homens
de guarda.
- Uma arma
grande. Pode ser a FAL e três pistolas, um com uma e outro com duas.
- Você tem
quatro pontos de apoio para chegar lá, mas não tem como entrar a não ser por
cima.
- Base dê
as coordenadas na sequência e do ponto de vista de cada uma. Pedi e ouvi com
muita atenção.
Vtec
continuou com uma precisão que faria a diferença. Eu agiria no escuro.
Saga
Derinarde II – Capítulo 104
- Doze
ponto quatro metros onze horas, dezesseis ponto um metros doze horas, seis
ponto nove metros sete horas, onze ponto sete metros duas horas.
- Ok
entendido. Tente identificar o tipo de material do telhado, acho que vou por
lá. Falei enquanto me posicionava.
- Hora do
ioiô. E saltei. Saltei exatamente como as coordenadas foram passadas e torcia
muito para não ter bacias no meu caminho. Elas já se mostraram bastantes
frustrantes por hoje.
No segundo
salto ouvi Fernanda em minha cabeça.
- Amianto.
Telha de amianto de três centímetros. Só com seu peso já quebram. Ripas as
sustentam por baixo.
A entrada
já estava decidida. Seria por cima.
- Posição
dos ocupantes em relação á quarta posição? Perguntei mas não acreditava que
haveria tempo para a resposta.
Após o
último salto e quando meus pés tocavam as telhas de amianto a voz de Vtec
ecoava em minha mente.
Não houve
tempo de pensar. Por reflexo ou quem sabe uma ligação direta do cérebro ás
pernas eu seguia as ordens sem ao menos ver o que acontecia.
- Duas
horas um metro e doze, seis horas três metros e trinta, oito horas dois metros
e dezoito. Realmente eu quase não ouvi as coordenadas, mas minhas pernas deram
golpes certeiros.
A título de
comparação, eu só me sairia melhor se Vtec tivesse um “joystick” nas mãos.
Os três
estavam golpeados e no chão.
Fui até a
vítima que embora amarrado e amordaçado visse tudo e não acreditava no que
tinha visto.
- Meu
trabalho acabou. Quando eu sair, grite o máximo que puder. A polícia está em
volta e logo o achará. OK? Ele assentiu com a cabeça.
Recolhi as
armas e as joguei por cima do telhado.
Eu
mentalizei a mesma rota de chegada e saltei.
Estava fora
da favela.
Do poste na
frente da entrada da favela a qual cheguei vi quando o Citröen cinza com a
palavra “Reportagem” na janela traseira chegou.
De máquina
fotográfica e bloquinho na mão Luiz Nobrega Prymo chegou.
Ele teria
algo mais á escrever sobre MEIOPARDO naquela noite.
Esperei
algum tempo e solicitei:
- Base como
estamos?
- A polícia
recuperou o sequestrado alguma droga e tudo está em ordem. Fernanda parecia
mais cansada que eu devido á pressão.
Eram quatro
horas da manhã e fui para casa.
Ao chegar a
casa vi que os seguranças estavam lá na frente e no sofá Waldir dormia todo
desajeitado.
Chamei-o para
a cama do quarto de hóspedes e dormindo mesmo desmoronou na cama.
Eu estava
ainda excitado pelo que ocorrera. Não só com o desfecho, mas “numa geral”, como
havia momentos antes respondido ao repórter Prymo.
Comecei a
achar, de verdade, que estava fazendo algo bom.
Não sabia
quanto tempo duraria, mas que era necessário e muito, muito gratificante.
Saga
Derinarde II – Capítulo 105
Na manhã
seguinte.
Lá pelas
dez horas, Aracy invade meu quarto.
- Os
maluquinhos estão aí, já faz um tempão.
Eu sabia do
que estava falando Aracy e como estava na hora de levantar apenas respondi que
já iria.
Na sala
Vtec, Fernanda e Waldir discutiam.
- Acho que
o Deri deveria explorar isso um pouco mais. Levantar uma grana. Sei lá. Waldir
terminava de falar quando cheguei á sala.
- É
deveríamos investir mais na tecnologia e ai teríamos mais... Vtec parou de
falar quando percebeu minha presença.
- E aí
pessoal, acham que algo precisa mudar? Perguntei á todos.
Ninguém se
mostrou apto a falar, como sempre em uma reunião onde o assunto não está
presente todos falam, mas quando o assunto chega, silêncio.
- Nada
mudaremos e quem não estiver satisfeito não precisa continuar. Nada mais á
discutir.
Coloquei um
ponto final e passei para o assunto seguinte.
- Vtec,
você descobriu algo e eu não deixei você contar, pois estava ocupado. O que foi
aquela “EURECA”? Perguntei á Vtec para
quebrar o gelo da sala.
- Hummm,
sim. Os sinais ou códigos que vinham acompanhados dos sinais visuais eu já sei
para o que servem. Falou Vtec todo garboso.
- Sim e
para que servem?
- São
interpretações infravermelho. Conforme a quantidade de calor ele mostra uma
escala.
- Quer
dizer que eu vejo infravermelho? Mas como não identifico isto?
- Bem você
tem algumas funções que ainda não foram liberadas ou implementadas. Não sei
como realmente funciona, ainda, mas a tradução da escala infravermelha já é
latente e aparecia nos monitores, só não conseguia traduzir parecendo que eram
interferências ou sujeira de código binário. Assim que joguei uma escala
aleatória o comportamento bateu com a quantidade de calor dos materiais e então
deduzi que se tratava de infravermelho.
Vtec estava
mais feliz em ter alguém para ouvir a explicação do que a descoberta
propriamente dita.
- E como
sabe que tenho funções latentes?
- O tablet
que você trouxe para casa uma vez. Implantamos nele um dispositivo que
conseguimos entrar na rede do projeto. Descobrimos muitas coisas e algumas
outras deduzimos, pois nem eles ainda têm a customização e implantação.
- Ótimo.
Quer dizer que ainda não sei tudo que sou capaz, mas sei mais que eles? Ótimo.
- Temos
como bloquear algumas destas funções, ainda latentes, para que eles não as
ativem?
Saga
Derinarde II – Capítulo 106
Na manhã
seguinte acordei com Aracy abrindo a janela do quarto.
Olhei para
ela e disse:
- Já sei,
tenho visitas.
E falamos
juntos ao mesmo tempo:
- Aqueles
seus amigos maluquinhos já estão ai novamente.
- Diga á
eles que só vou tomar um banho. Falei e fui executar.
Nada com um
bom banho para despertar. Não importa á hora que foi dormir.
Chegando á
sala, a discussão estava latente.
- Dá.
- Não dá.
- É só
tirar um e por a outra.
- Não dá.
- Então
fazendo uma partição.
- Eles logo
perceberão que tem um local diferente.
- Faz em um
sistema de arquivos diferente.
- Sistema
de arquivos difer... Daí ninguém vai enxergar, vão achar que nada tem. É, aí
dá.
- Eu não
falei que dava?
- É. Você
não havia explicado como.
- Vocês
homens gênios. Pensam que sabem tudo.
- É. Vocês
mulheres gênios, quando é referente á esconder alguma coisa vocês são mestras.
- Para com
isso, hein... Fernanda fechou a cara com bico.
Era minha
vez.
- Parece
que descobrimos algo interessante... Por que não me contam.
Vtec tomou
a palavra.
- É
referente ás suas novas funções. Não podemos sair aí implementando tudo a
qualquer tempo. Se descobrirem que estamos mexendo em você, darão um jeito de
bloquear.
Fernanda
continuou.
- Então
estamos tentando uma maneira de implementar, porém manter escondido, então
achamos que se fizermos uma outra partição no chip, num formato diferente, eles
não perceberão.
- Formato
diferente? Perguntei com dúvidas do que se tratava.
Vtec
retomou a palavra.
- No disco
rígido do computador você pode formatar com os sistemas FAT, FAT32, NTFS, ext,
ext3 e ext4. Os seus aplicativos embora sejam grande parte em JAVA leem em uma
plataforma para Windows, então apesar de acessarem qualquer plataforma não
foram escritos para isto.
E continuou
sem respirar.
- Se
colocarmos uma partição ext4 poderemos fazer uma cópia das suas aplicações e
otimizarmos esta nova partição.
- Com esta
otimização poderemos implantar novas funcionalidades e estaremos á frente
deles.
Não sei por
que alguma coisa me deixou irritado.
- Peralá,
peralá, peralá. Vocês estão querendo dizer que vão mexer na minha cabeça?
Saga
Derinarde II – Capítulo 107
- Vocês
estão querendo dizer que algo que o MIT não fez ou algo que a POLI não fez,
vocês farão?
- Aracy tem
razão.
- Vocês são
malucos.
- Vocês
acham que eu vou deixar fazerem isto. Se eu deixar estará provado que sou mais
maluco que vocês.
- E como
vocês sabe que conseguiram fazer isso? Encerrei meu discurso achando que tinha
encerrado o assunto.
- Mas nós
já fizemos. Fernanda falou tão baixo que quase não ouvi.
- O quê? O
quê você disse? O quê vocês fizeram?
Vtec voltou
a falar e diante da minha irritação ele foi mais cauteloso desta vez.
- Conforme
eu já falei, nós temos acesso á todo o programa e em um dos sites tem um modelo
onde podem ser testadas as novas aplicações.
Até ali eu
já conhecia e estava acompanhando.
- Pois bem,
fizemos algumas alterações e outras implementações e testamos no modelo o qual
respondeu muito bem.
- Então tá.
Só porque vocês descobriram que eu capturo sinais infravermelhos não que dizer
que vocês estão na frente deles. Se os capturo é porque eles já previram isto e
logo programarão. É só questão de tempo ou disponibilidade, ou sei lá. Fale
alguma coisa que eles não previram ai vou acreditar.
E lancei um
desafio.
- Isso
mesmo. Fale algo realmente novo, criativo, inusitado que eles não tenham
previsto que eu aceito e permito que façam o que quiser de mim.
- Diga,
diga. Quero ver. Pensei ter acabado com eles.
Vtec olhou
para os olhos de Fernanda.
Eu me
arrepiei todo e comecei a me arrepender do que acabara de dizer.
Fernanda
ainda com os olhos fixos nos olhos de Vtec pronunciou.
- A
criação.
Vtec virou
para mim e repetiu o que Fernanda acabara de dizer.
- A criação
de movimentos.
- Que porra
é essa Vtec?
- Fernanda?
Eu estava assustado.
Saga
Derinarde II – Capítulo 108
Vtec
continuou.
- Todos os
seus movimentos são aplicados no modelo e catalogados. Você tem, hoje, seis mil
duzentos e cinquenta e oito movimentos catalogados. E você os consegue executar
a qualquer momento seguindo os mesmos padrões que foram registrados no modelo.
- Sim e
daí? Perguntei sem querer interromper Vtec.
- Fora
estes registrados, você não consegue executar outros.
Agora
interrompi.
- Conversa.
Eu executo qualquer coisa, faço qualquer movimento. Está tudo aqui na minha
cabeça e não num chip ou num modelo. Falei apontando para minha cabeça.
Fernanda
falou.
- Você
lembra da descida na favela. Quando acertou uma bacia?
E
continuou.
- Por que
não desviou um centímetro da bacia?
- Por que
não vi a bacia, oras bolas. Tentei minha defesa.
Então Vtec
começou a detalhar.
- Seus
sensores acusaram a bacia quatro segundos antes de atingir o solo.
- Os seus
olhos foram deslocados para ela vinte e dois centésimos após serem acusados.
- Você
precisaria de oito centésimos para mover o pé por dois centímetros.
- Sobraram
mais de três segundos e você não movimentou o pé porque não existia este
movimento no modelo.
Vtec estava
me massacrando com esta precisão. Se ao menos tivesse o LD ligado.
- Foi só um
exemplo.
E continuou
por quatro horas de algo muito técnico que o obrigou a repetir algumas vezes,
mas ao final, o resumo da ópera é que Vtec e Fernanda haviam escrito um
programa sobre o programa da POLI em que dava ao MEIOPARDO a habilidade de
criar movimentos e não só aplicar os catalogados no modelo.
Através do
deslocamento do centro de massa calculado no giro-estabilizador o impulso foi
aumentando para saltos, afinal a POLI
não sabia que eu saltava postes.
Ainda:
Interpretação dos sinais Infravermelhos, e de aproximação da visão; o
tratamento de filtro de imagens que eram necessários os computadores da base
fazerem eu faria em tempo real.
E mais:
Ondas sonoras de baixa frequência, aquela que cachorros ouvem também seriam
tratadas no chip; Através de um pequeno emissor destes sons fornecido pela
dupla, os sons de baixa frequência seriam capturados e eu utilizaria a eco
localização.
Eu estava
relutante á fazer tais alterações, pois não teria nenhuma estrutura de apoio
como a POLI fornece.
Seria um
tiro no escuro e eu estava literalmente “COM O CÚ NA MÃO”.
- Fernanda.
Eu acho o Vtec um gênio, mas ele é meio louco. Você é mais sensata. O quê eu
faço? Falei entregando meu destino nas mãos de minha amiga Fernanda.
- Deri.
Vtec é sim louco. Más se ele disser que faz, ele faz. Eu acompanhei todos os
testes no modelo e se existisse meio por cento de chance de dar problemas, eu
seria a primeira a falar.
- A
estrutura fornecida pela USP é fantástica e muito confiável. Outra coisa... Se
detectarmos algum problema no meio do caminho, coisa que acho difícil é só
desabilitar. O risco é muito pequeno.
Mulheres,
ah mulheres.
Elas têm o
dom do nos acolher e confortar.
Elas nos
convencem, nós homens, de que, até o inferno é um lugar aconchegante, se
quiserem.
Saga
Derinarde II – Capítulo 109
Virei-me
para Vtec. Sereno e consciente.
- Se eu
disse que faria se vocês me mostrassem algo novo, e vocês mostraram então eu
farei.
- Bem, não
é tão fácil assim. Precisamos ir até a base. Não temos o protocolo para a
carga, via satélite. É criptografada até o nono nível. Qualquer cracker
entraria na NASA, mas não neste protocolo.
- Então que
dizer que conhecerei “a base”?
Fernanda se
antecipou.
- Deri. A
base não é nada do que você está pensando.
- Que nada.
Não estou pensando nada, acho que são uns dois o três computadores numa salinha
minúscula. Sei que não temos recursos ilimitados. Falei aceitando a humilde
situação.
- Que nada.
É uma espelunca, suja e deplorável. Falou Fernanda sem o menor pudor.
- Epa,
peralá. Tem tudo que é necessário para estudo dos nossos objetivos. Protestou
Vtec.
- Sim. Tem
tudo, e mais roupa suja, comida estragada, sujeira... Aquilo, aquilo... Um
humano não pode viver assim. Fernanda estava inconformada.
Achei que
era hora de intervir.
- Acho que
está na hora de a gente tirar essa coisa de doméstico e partir para algo mais
bem estruturado. Tenho uma verba muito boa para o que faço e não vejo problemas
em aplicar isso em algo mais proveitoso. Diria até um pouco mais profissional. Vamos alugar uma
sala para fazer de base. Algo discreto e que possamos ter acesso vinte e quatro
horas por dia.
- Vtec, vá
à Santa Efigênia e compre o melhor equipamento que isto possa comprar. Disse
enquanto preenchia um cheque.
- Fernanda,
arrume uma sala como precisamos. MEIOPARDO já é uma instituição. Fazemos valer
á pena.
- Vtec e
Fernanda. Eu topo. Façam o que for preciso. Vamos fazer disto algo sério e
profissional. Não esconderemos nada, nem fugiremos de nada. Claro preservando
as integridades e o anonimato, pois nem todos aceitarão com harmonia.
- Á partir
de agora, MEIOPARDO é uma instituição que as pessoas de boa fé necessitam.
Oxalá eu possa ter discernimento do que é certo e do que é errado, porém,
contra a violência, SEMPRE.
Saga
Derinarde II – Capítulo 110
Conforme o
tempo foi passando percebi que o emprenho de Fernanda e Vtec era muito grande.
Fernanda
correu diversos imóveis até encontrar um que, para ela, seria “o melhor” para
ser considerada “BASE”.
Era um
sobradinho pequeno e muito simples em um bairro tranqüilo e muito residencial.
Este
sobrado tem um quintal na frente e outro atrás e ainda tem dois corredores
laterais, um de cada lado.
Tem um
banheiro e dois quartos pequenos no andar superior, uma cozinha e sala, também
pequenos no andar térreo ligados por um minúsculo corredor.
O que mais
chamou a atenção de Fernanda foi o porão.
O porão ocupa
a mesma área da sala e cozinha do térreo, porém em um único cômodo. O acesso ao
porão é feito por uma porta horizontal, no chão ao lado do pequeno corredor que
liga a sala á cozinha.
Por uma
escada em caracol se faz a descida e subida do porão fazendo com que a porta
seja uma diminuta tampa quadrada e lisa. Com um tapete de um metro por um metro
esconde-se facilmente esta passagem. E assim foi feito.
Vtec foi
inúmeras vezes á Rua Santa Efigênia, uma tradicional rua no centro de São Paulo
especializada em eletro-eletrônicos. Dizem que o que não se encontra na Santa
Efigênia, não se encontra no Brasil.
Vtec
comprou três servidores e somando-se memória RAM e discos rígidos dos três
seria possível montar uma empresa de médio tamanho, de processamento de dados,
afora os acessórios e “apetrechos”. Em suma, Vtec encheu o ambiente do porão.
Aquilo parecia um quartel general digno de qualquer agente secreto do cinema
hollywoodiano.
Mobiliaram
o sobrado com o que há de mais simples quanto a sofá e camas. Em suma: Deixaram
a casa habitável.
Eu fiz a
minha primeira visita em uma quarta-feira. Á noite, claro. E quem visitou foi
MEIOPARDO, na o Deri.
Ao chegar
no endereço fornecido pela dupla, achei que havia me enganado.
No quintal
da frente há um pote de comida e água que pareciam esperar um cachorro chegar a
qualquer momento.
Montes de
fezes do animal estavam aqui e acolá. E pela aparência o animal deveria ser um
búfalo, de tão grande os montes.
Fiquei
sobre o poste da frente da casa um tempão e liguei do celular. Ao segundo toque
desliguei e tornei a ligar e mais um toque. Este era o sinal combinado.
A luz do
quintal da frente se apagou e a porta lateral abriu. Com isto tive certeza que
o endereço estava correto.
Em um único
salto desci na frente da porta lateral e entrei.
A porta se
fechou á minhas costas. Era Fernanda que me recepcionava.
- Vocês não
falaram nada que tinham cachorro. Foi a primeira pergunta que fiz á Fernanda.
- E não
temos. Respondeu sem maiores explicações.
- Mas o que
é isso ai na frente? Comida, fezes?
Saga
Derinarde II – Capítulo 111
- É ideia
do Vtec. Ele achou que se parecesse que tem um cachorro evitariam curiosos.
- E aquele
cocô todo? Andaram pegando na rua, num canil?
- Nada. É
de gesso pintado. Um dia ele Poe aqui e ali. Em outro dia cá e acolá. Dá a
impressão que é limpa e o cão torna a fazer. Fernanda deu uma explicação lógica
para a cena.
Adentrei ao
restante da casa e fiquei feliz em saber que o dinheiro que disponibilizei
havia sido muito bem aplicado.
Não
encontrando nenhum equipamento visível e não sabendo detalhes da casa ainda,
perguntei á Fernanda:
- Onde é a
sala secreta?
- Você não
é o MEIOPARDO? Tente descobrir. Fernanda lançou um desafio.
- Ficamos
em silêncio e agucei os sentidos.
Nada ouvia,
comecei a vasculhar a casa com os olhos, centímetro por centímetro.
- Nestas
horas aquelas implementações de audição e visão que vocês falaram fariam a
diferença.
Não achei
nada fora do lugar ou uma possível passagem secreta, mas na segunda vez que
passei pelo corredor entre a sala e a cozinha do térreo eu imaginei que aquele
tapete no chão poderia trazer uma surpresa.
- Ali, sob
o tapete. Apontei para o tapete olhando para Fernanda.
- Falei
para Vtec que estava muito fácil. Fernanda ficou desapontada.
- Tente por
uma mesinha para disfarçar. Ou melhor, um barzinho ficaria ótimo.
Tiramos o
tapete e descemos.
- Olá Vtec.
Ficou muito bom. Falei enquanto admirava os equipamentos funcionando.
- Para
começar está bom. Vtec falou sem tirar os olhos dos monitores de trinta
polegadas.
Ficamos
oito minutos sem nada falar. Vtec ficava de um teclado para outro parecendo um
alucinado até que o silêncio foi quebrado.
- EUREKA.
Vtec trouxe
até mim fios que tinha nas pontas, conectores que lembravam exame de
eletrocardiograma e pediu que eu colocasse sob a roupa, na direção do ombro
direito, apontando com os dedos o local exato.
O fiz sem
restrições e Vtec voltou para os teclados.
Alguns
minutos depois Vtec se voltou para mim.
- Pronto.
Carga feita e escondida. Dê-me do LD.
Tirei o
pequeno aparelho que sempre carregava comigo e estava sob a roupa, na altura da
cintura.
Ensaiamos
alguns movimentos com tornozelos e joelhos e aferimos que o LD já poderia ser
substituído por tais movimentos, como códigos de acesso, porém agora, com três
níveis.
Vtec
começou o discurso.
- Você
agora tem duas partições. O pessoal do projeto só enxergará uma e fará as
otimizações nesta. Na segunda partição nós faremos as nossas atualizações.
- O
primeiro movimento acionará a primeira partição, más você utilizará pouco isto,
pois quem realmente acessará isto é o pessoal do projeto.
- O segundo
movimento, que é o mais fácil e rápido acionara nossa partição, nossa área, a
que tem a novas implementações. E o terceiro movimento, o mais difícil e longo,
para não cometer equívocos, desliga tudo.
Depois de
dezenas de repetições, explicações e histórias, finalmente terminou.
- É tudo.
Entendido?
Não me
atreveria a dizer não.
- Claro.
Fácil. Apensar de ter entendido não parecia convincente para Vtec que fez
questão de revisar.
Ficamos
nisto até altas horas até que por fim convenci-o de que estava realmente
entendido.
Saga
Derinarde II – Capítulo 112
Sai da base
com a certeza de que Fernanda e Vtec agora tinham equipamentos e muita vontade
para pesquisar mais para o MEIOPARDO.
Já no dia
seguinte, ou melhor, na noite seguinte fui chamado por Fernanda com uma notícia
estranha e no mínimo, assustadora.
- Deri, um
colega meu, que trabalha na polícia me disse que receberam uma ameaça de bomba
num estádio de futebol e vai explodir hoje às onze e meia.
- Onde tem
jogo hoje? Perguntei á Fernanda enquanto colocava a super-roupa.
- Morumbi.
Oitavas de finais. Estádio cheio. Fernanda falou enquanto desligava o telefone.
Já havia executado o movimento para acionamento do sistema, colocado o
tranmissor e á ouvia em minha cabeça.
- Estou á
caminho. Disse enquanto saltava da janela do segundo andar.
Em pouco
mais de vinte minutos observava uma das entradas do estádio tentando imaginar
uma forma de entrar sem ser percebido.
De onde
estava enxergava a iluminação e um totem de um posto de combustíveis mais
adiante e surgiu uma ideia.
Fui até o
posto que, naquele momento, não tinha grandes movimentos.
Na garagem
de troca de óleo que eu estava usando como esconderijo para observar as
possibilidades, encontrei uma blusa de
capuz e um macacão de frentista. Era tudo que eu precisava.
Peguei-os e
me retirei para o estádio.
Já usando o
macacão sobre a blusa e o capuz levantado, cobrindo a cabeça, fui em direção á
entrada onde dois seguranças fumavam e conversavam.
Ainda não
tinha ideia do que falaria ou faria, mas fui ao encontro deles. Era minha
primeira barreira a ser rompida.
Por sorte
do acaso, meia dúzia de torcedores discutiam em voz alta á uns oitenta metros
dali.
Aproveitei
a deixa e falei para os guardas:
- Tem um
cara armado lá. Vai dar merda.
Os dois
dispararam a correr ao encontro do tumulto e eu entrei.
Os
corredores internos do estádio estavam desertos ou com algum funcionário
fazendo a manutenção e limpeza e nenhum pouco interessado no cara de macacão.
Comecei a
procura.
Saga
Derinarde II – Capítulo 113
Agora com
os sentidos aguçados e mais do que isso, com novos atributos comecei a aumentar
a velocidade da procura e em segundos corria pelos corredores com a segurança
de que estava tudo limpo.
Na base,
Vtec e Fernanda davam apoio e refaziam as busca com softwares muito
sofisticados que conseguiram adquirir pela internet.
Estava
ficando frustrado por não ver nada, na ouvir nada.
- Tem
alguma obra acontecendo perto do portão dezoito? Pergunto Vtec desconfiado de
algo.
- Não vi
ninguém o nada que mostrasse isso. Respondi pelo que havia checado.
- Tem uma
pilha de sacos de cimento lá, sem proteção e sem indicação de que há obras. De
uma checada.
Em uma
velocidade sobre-humana me desloquei para o tal portão.
Chegando lá
confirmei que a pilha de sacos de cimento não combinava com a área e situação.
Chequei
mais perto e tentei tirar o saco mais acima.
- Leve.
Está cheio com alguma coisa, mas não é cimento e está colado no saco debaixo
também que está colado no próximo. Isso é para esconder algo.
- Vtec, a
bomba deve estar aqui, eu já tenho visão de raios-X? Sabia que não era hora de
piadas, mas não me contive.
- Não, não
tem. Informou Vtec, desanimado.
Lentamente,
com cuidado e observando cada fresta e cada movimento causado por mim e pela
acomodação dos sacos afastei-os de maneira que, de uma boa fresta, vi uma caixa
de metal.
Percebi
também que a pilha que afastei não tinha nenhum tipo de ligação ou contato com
a caixa e decidi afasta-la mais.
A caixa
metálica já era totalmente visível.
Com um
barbante pendurado á caixa havia uma enorme etiqueta.
Peguei-a
com cuidado e sem puxar o barbante virei-a para observar melhor.
Havia um
recado.
“Esta não
explodirá hoje. Se não fizerem uma transferência de cinquenta milhões de
dólares para a conta abaixo até sábado, a próxima fará muito estrago e o valor
dobrará”.
Ainda
abaixo havia a identificação da conta em um banco do Irã.
Tinha uma
assinatura: “CASTRO”.
Acreditando
agora que não haveria explosão resolvi dar o fora, pois percebi uma
movimentação maior dos seguranças. Acho que receberam a noticia.
Sai pelo
mesmo portão que entrei e o pessoal da segurança não estava mais preocupado com
alguém que quisesse entrar ou sai. A preocupação era outra.
Saga
Derinarde II – Capítulo 114
- Acho que
é algum bobalhão passando um trote. Cuba não conseguiria dinheiro assim. Falei
enquanto fazia o caminho de volta para casa.
- Que Cuba?
Perguntou Fernanda.
- Estava
assinado Castro. Fidel Castro é de cuba. Respondi á Fernanda.
- Este
Castro não tem nada com Cuba. Respondeu Vtec e continuou.
- Alias não
é este, é esta. Sheyla Castro. Ela é panamenha e apoia as FARC. Ela é procurada
em dezesseis países. É coisa séria.
- E por que
ela viria exigir dinheiro aqui no Brasil? Perguntei de volta.
- Talvez
porque é o próximo da lista, apenas isto. Respondeu Fernanda.
- Dizem por
ai que ela tem tirado dinheiro do México e Chile. Chegou a nossa vez. Respondeu
Vtec.
- E você
acha que aquela bomba era de verdade? Perguntei para a base.
- Aquela eu
não sei, mas ela tem todo o potencial para fazer uma. Ela já explodiu algumas
em Honduras, na Guatemala e na Colômbia. Informou Vtec.
- Base,
levante tudo que puder sobre ela. Vamos tentar antecipar qual será o próximo
passo. Fernanda abra a porta. Cheguei. Eu disse enquanto aterrissava na soleira
da porta da base.
Em alguns
segundo Fernanda abriu a porta e entrei e fomos direto para o porão.
Vtec tinha
dois monitores cheios de informações, mas trabalhava intensamente no teclado
sob o monitor que apresentava o símbolo e nome “INTERPOL”.
Em poucos
minutos a tela se abriu e então Vtec começou a pesquisa: Sheyla Castro.
Inúmeras
páginas se abriram. A mulher era profissional.
Tão rápido
quanto entrou, baixou os arquivos e fechou a página.
- Os
servidores da INTERPOL são muito bem vigiados, mas os espelhos nem tanto. Se
entrar, pegar os registros e sair, quase não o perceberão. Vamos ver o que
trouxemos. Vtec parecia satisfeito.
- Sheyla
Castro não blefa. Duas vezes que não acreditaram nas suas ameaças se
arrependeram mais tarde.
- Uma
explosão na Guatemala com doze mortos e trinta e oito feridos e outra em
Honduras com cinco mortos e dezesseis feridos. As demais explosões foram sem
aviso e sem pedidos.
- Na TV,
estão falando sobre a bomba. Fernanda nos interrompeu sintonizando um jornal
internacional no monitor.
“No Brasil
uma partida de futebol foi interrompida e o estádio está sendo evacuado neste
momento, pois há uma suspeita de bomba”.
Saga
Derinarde II – Capítulo 115
A tela
mostrava milhares de torcedores saindo sem entender nada.
Alguns
corriam outros saiam revoltados por não ver o seu time ganhar.
Mostraram
mais algum tempo e terminaram informando que voltaria com mais detalhes.
Enquanto
Vtec e eu procurávamos mais informações sobre o Perfil de Castro, Fernanda
monitorava as redes sociais para obter mais informações sobre o que estava
sendo divulgado.
Encontramos
dois elos fortes no Brasil que poderiam ligar Castro aqui. Alexsandro Vieira e
Marcio Nonato e, segundo a INTERPOL, os três encontram-se constantemente em um
hotel no centro de São Paulo.
Ambos
estiveram entre Colômbia e Panamá nos últimos dois anos e há seis meses de
volta ao Brasil têm atuado no tráfico de arma de grosso calibre.
- Pelos
registros da polícia de São Paulo, um deles, o Marcio Nonato, tem uma mansão de
faixada na região nobre na zona sul, especificamente no Morumbi e o outro vive
em um Apart-hotel nos jardins. Vtec informava conforme apareciam na tela
grande.
- A policia
monitora-os devido ao tráfico e a INTERPOL, devido á ligação com Castro. Talvez
se eles conversassem chegariam a conclusões mais rápidas. Finalizou
desacreditado.
- Se as
policias do estado não se conversam você acha que de países diferentes vão
conversar? Fernanda consolou Vtec.
- Bem se
eles planejaram isto hoje, devem estar esperando pela repercussão. Acho que o
melhor lugar para esta espera é em casa. Qual o endereço? Perguntei ansioso
para fazer uma visita fora de hora.
Vtec me deu
os dois endereços e informei que iria para perto do estádio, visitaria Marcio
Nonato primeiro.
Saí em
direção ao Morumbi e não deixei de notar o movimento intenso de pessoas e
carros que deixavam o bairro, contrariados.
Com
instruções precisas de Fernanda que fazia o papel de GPS em alguns minutos
estava em um poste na frente da mansão de Marcio Nonato.
Avistei os
muros altos e com cerca elétrica, mas de fácil transposição para o MEIOPARDO.
Na área externa da casa nenhum som ou variação de temperatura que o infravermelho
pudesse detectar. Bom sinal. Saltei para o jardim e dei uma volta completa na
casa.
Tudo
fechado, mas com luzes internas acessas e som de televisão que somente
MEIOPARDO poderia captura naquela distância.
Uma pequena
escotilha no andar superior, providencial, serviria como entrada.
Saltei em
direção á escotilha e como um atleta de saltos em alturas, os movimentos do
corpo moldaram-se á estreita passagem.
Impressionante
as alterações que Vtec havia proporcionado com o novo software. Eu quase que
conseguia mudar a direção e velocidade de um salto. Coisa que com o sistema do
projeto jamais conseguiria. Era muito rígido.
Da mesma
forma que passei suavemente pela escotilha fiz um giro no ar caindo com os pés
no chão. Nesta posição os giro estabilizadores se encarregavam de me manter
equilibrado e em pé.
- Uau!
Falei baixinho impressionado com o que havia feito.
Saga
Derinarde II – Capítulo 116
A saleta em
que me encontrava era pequena e baixa. Havia nela um sofá, uma escrivaninha e
uma TV. Era um pequeno escritório, mas pelo jeito não era ocupado á bastante
tempo.
Abri a
porta e comecei á busca.
Encontrei
ninguém no andar superior e fui para o térreo, de onde vinha o som da TV.
Do topo da
escada que saia de um corredor dos quartos e terminava no meio da sala avistei
um homem com grandes costeletas e um enorme bigode que, com o controle remoto
na mão, pulava de canal á canal em busca de noticias.
Na dúvida
se o homem me notaria ou não saltei para o andar onde ele se encontrava.
O homem
assustou com aquilo que veio em sua direção e cruzou os braços sobre a cabeça
em um reflexo para se proteger.
- Ai. O que
é isso? Madre de Deus. Dizia quase chorando.
Sentei-me
ao lado dele, mas tão junto que parecíamos siameses.
- Marcio
Nonato, como eu queria te conhecer. Falei de forma á intimidá-lo.
- Por
favor, senhor, Eu não fiz nada. Eu não sei nada. Por favor. O homem estava
realmente apavorado.
Decidi
explorar melhor a situação e joguei todos os verdes que tinha esperando uma boa
colheita.
- Quem não
sabe nada é um ex-presidente daqui. A Sheyla pediu para fazer uma visita á
você. Ela quer saber se você fez tudo como o combinado. Apertei-o um pouco mais
no sofá.
- Claro que
fiz. A polícia já está no estádio. Não sei por que essas porcarias de jornais
não falam nada. Já deveria ter um alvoroço. Mas eu fiz exatamente como
combinado, eu juro, eu fiz. Percebi que o sofá estava molhado sob Marcio, e não
era água limpa.
- E o
próximo encontro, você irá, não irá? Apertei-o novamente.
- Claro.
Sim, sim. É só ela ligar que irei.
- Só para
saber se você está colaborando direitinho, o que você vai fazer até lá? Desta
vez peguei um chumaço de pelos de seu grosso bigode e o puxei como se fosse
arranca-los se não ouvisse a resposta certa.
- Nada.
Quer dizer esta semana, nada. Semana que vem vou buscar uma carga com
Alexsandro Vieira, no porto de Santos. Só isso. Conforme ele falava eu puxava
um pouco mais o seu bigode.
- Que dia,
hora, detalhes.
- Quinta.
Quinta-feira, onze horas da noite, cais, doca dezenove.
- Esteja lá
então, senão eu volto para cobrar. Falei e soltei o bigode do infeliz.
Fui até a
porta da frente. Abri-a e sai. A porta era de vidro transparente. Virei para
Marcio que me olhava com os olhos esbugalhados de tão abertos, apontei para ele
e dei um salto para a rua esperando impressioná-lo ainda mais.
Achei
conveniente não visitar Alexsandro Vieira na mesma noite, pois Marcio Nonato
iria alertá-lo e de qualquer forma eu já tinha o próximo ponto de encontro.
Saga
Derinarde II – Capítulo 117
- Base?
Ouviu a conversa? Perguntei enquanto saltava os postes á caminho de casa.
- Sim
ouvimos, mas pela programação do porto, nenhum navio atracará na doca dezenove
a semana toda, a doca dezenove está interditada. Informou Fernanda.
- Se você
tivesse que desembarcar algo que não pudesse ser visto, que tivesse que
esconder e que tivesse pouco movimento para olhos curiosos, onde faria isto?
Perguntei para aguçar Fernanda.
- Uma doca
interditada? O retorno veio rápido.
- Isto.
Marcio não mentiu, aliás, ele jurou pelo fio do bigode. Quinta-feira eu irei
para Santos.
A noite
havia terminado para MEIOPARDO.
Na manhã
seguinte entrei em contato com Bene Junior, pois precisava de veículo rápido
para locomoção.
- Bene tudo
bem? Fiquei sabendo que você negocia motos usadas, tem alguma muito rápida por
aí?
- Tenho sim, tenho um Honda CBR1100XX
Blackbird, mas ela sofreu um acidente e está sem parte da carenagem.
- Vou aí dar uma olhada. Desliguei fui à oficina de
Bene.
Chegando lá, Bene me informou das condições gerais
da moto que estava ótima, porém a carenagem estava destruída.
- É você mesmo que faz estas carenagens? Perguntei
para Bene que me conduzia á sua pequena fábrica de carenagens e capacetes.
- Aqui a gente tenta empregar materiais mais
resistentes para evitar um dano maior nas motos e motociclistas. É artesanal,
mas com muita dedicação achamos bons substitutos para o mercado.
- Estou trabalhando nesta Blackbird há duas semanas
e amanhã estará pronta, mas se quiser a carenagem original, podemos encomendar
e em uma ou duas semanas ela chega. Não entendi se era uma sugestão ou uma
pergunta.
- O que esta que você está fazendo difere da
original? Minha vez de perguntar.
- Esta é de PVC. Ela deforma, absorve impacto e não
quebra. Protege as partes interna da moto e diminui a chance do motociclista
ser atingido por estilhaços.
- Hoje em dia o PVC bem trabalhado e bem misturado é
superior até ao aço. Finalizou dando a resposta para minha escolha.
- Eu que a sua carenagem, claro. Eu quero também uma
cor escura e que não reflita a luz. Algo muito discreto. Tentei fazer Bene
entender o que realmente eu queria, mas sem outros detalhes.
- Já sei, vai participar de racha? Não vai ter pra
ninguém, esta moto é um espetáculo. Onde você corre? O assunto interessou muito
Bene.
- Nada disso, é que gosto de motos e gosto de ser
discreto também. Evita olho gordo.
Não sabia o que falar, então eu falei qualquer
bobagem.
Saga
Derinarde II – Capítulo 118
Fechamos negócio e eu pegaria a moto na noite do dia
seguinte.
Antes de ir embora ainda questionei Bene:
- Você saberia de alguém que negocia Jet-ski?
- Damasio. Damásio Náutica. O Adilson que anda de
moto com a turma. Fica ali na Bandeirantes perto do Aeroporto. Bene me deu o
endereço e parti para lá.
Chequei na loja náutica de Adilson e percebi o
grande movimento. Uma carreta desembarcava Jet-skis novinhos que estavam
chegando.
Esperei ele coordenar onde ficariam e então me
aproximei.
- Adilson eu estou precisando de algo pequeno em
muito silencioso, só que não quero comprar. É um aluguel por uma noite apenas.
- É para lagoa, rio ou mar? Perguntou Adilson.
- Mar, perto do porto de Santos. Respondi.
- Á noite ninguém aluga Jet, pode pegar um “Sea Doo”
emprestado na loja que tenho no Guarujá. Fica perto da prefeitura e para
acessar o porto é só atravessar o canal. Mostrou-me um mapa do porto.
- Ótimo, melhor do que esperava. Este aqui é o
terminal de cargas? Apontei para determinado ponto do mapa.
- É sim. Aquele lá na frente é o graneleiro, aí vem
descendo, dos containers, aqui frigorífico. Estes Jets que estão chegando à
loja desembarcaram aqui, ó. Doca vinte seis. Adilson mostrava entusiasmo pela
última aquisição.
- E ai sobe então. Doca vinte e sete, oito... Induzi
Adilson a me mostrar a doca que procurava.
- Não para cá diminui. Doca vinte cinco até a doca
dezessete, depois muda de lado e continua baixando.
Pelo mapa localizei alguns pontos possíveis para se
ficar de tocaia e vigiar a minha doca.
- Fechado. Posso pegar na quinta-feira ás nove da
noite? Perguntei.
- Pegue as sete, o pessoal fica só até esse horário.
Estará prontinho sobre uma carreta. Vai puxar de carro?
- Não. De moto. Respondi.
- Sem problema, é leve. Se não tiver pressa até uma
125cc leva bem.
- É um pouquinho maior, a minha... Fui interrompido
por Adilson.
- Estava pensando... Adilson mostrou-se prestativo.
- Eu tenho um depósito na beira d’água e posso
deixa-lo lá para você. Passo a corrente e te dou as chaves. Você o usa e devolve
no mesmo lugar. Assim ninguém esquenta com horário. O que você acha?
- Maravilha. Fique realmente feliz.
- Leve este selo junto com as chaves. O pessoal da
segurança já estará sabendo, mas se alguém perguntar mostre o selo. Boa sorte.
Saga
Derinarde II – Capítulo 119
Moto e Jet arranjados, o plano começava a tomar
forma. Voltei para casa.
A repercussão da bomba no estádio, na mídia, foi
pequena, de bomba, virou ameaça de bomba e em dois dias ninguém falava mais no
assunto, porém na polícia militar e na polícia federal a coisa tomou o vulto
que merecia. Toda a inteligência foi disponibilizada para a tarefa e
acompanhamento. Até o exército estava de prontidão e colaborando, afinal era
terrorismo internacional.
Os aeroportos estavam agora com a presença de mais
homens, os portos tinha a presença da marinha mais atuante, as fronteira
terrestres eram mais bem vigiadas, mas essas coisas em qualquer lugar do mundo,
sempre tem um jeito de “fazer passar” e, em se tratando de Brasil, mais fácil
ainda.
Na noite seguinte pedi para Vtec buscar a moto que
já estaria pronta, conforme prometido por Bene.
E estava.
Vtec levou-a para a base e no quintal dos fundos da
casa, onde não levantariam olhares curiosos, Vtec tirou tudo que não seria
necessário para uma moto que pretendia ser anônima e sorrateira.
Vtec tirou placas e luzes sinalizadoras, farol e
frisos. Literalmente depenou a coitadinha. Era apenas o quadro, motor e as
carenagens protetoras que o Bene havia pintado de cores escuras e sem brilho.
Em um local de pouca luz ela jamais seria visto se
não se prestasse muita atenção.
Cobriu-a e livrou-se das sobras.
Na noite da fatídica quinta-feira, assim que o sol
se pôs e as primeiras sombras surgiram, MEIOPARDO surgiu também.
Rapidamente chequei á base e já sobre a parda
Blackbird dei a partida. Que som maravilhoso tem essa moto.
Agora sem um monte de apetrechos ela parecia menor e
provavelmente estaria mais leve.
Passei pelo estreito corredor onde as manoplas tinha
uma distância máxima de um centímetro de cada lado entre as paredes.
As ruas de acesso á rodovia dos Imigrantes passaram
rapidamente pelos pneus largos daquela máquina e ao acessar a rodovia a injeção
eletrônica só tinha um comando: abrir a passagem de combustível.
Em poucos segundos estava á trezentos quilômetros
por hora. Minha visão privilegiada incluindo o infravermelho se mostravam mais
eficientes que qualquer farol de xênon.
Foram apenas minutos para acabar a serra e já estava
na rodovia cônego Domênico Rangone que acessa o Guarujá.
Cheguei ao ponto onde estava o Jet e olhei o
cronômetro. Foram vinte minutos de São Paulo ao Guarujá. UAU!!
Lembrei que lá atrás, na estrada, algumas pessoas
estavam tentando entender o que foi aquilo que passou, tanto nos postos da
polícia rodoviária quanto nos pedágios.
O Jet estava do jeito que Adilson havia falado.
Acorrentado quase dentro da água. Encostei a Blackbird em um local de pouca
visibilidade para quem por ali passasse e passei por um pequeno portão de tela,
cuja chave fornecida por Adilson, entrou perfeitamente em sua fechadura.
Soltei o cadeado e corrente do Jet e sem muito
esforço escorregou para a água.
Subi e liguei. Silencioso.
Vagarosamente comecei a descer o canal para os
pontos que havia vislumbrado no mapa da loja do Adilson.
O primeiro ponto localizado não era bem o que eu
esperava então fui para o próximo.
Perfeito.
Saga
Derinarde II – Capítulo 120
Manobrei o Jet de maneira que fiquei de frente para
a doca dezenove, ligeiramente á esquerda.
A doca dezenove estava realmente fechada e faixas
plásticas de cor laranja e luminosas indicavam isto.
Não eram nem oito horas ainda, tinha muito á
esperar.
Alguns barcos passaram pelo canal, entre meu local
de tocaia e a doca dezenove e a cada passagem, ondas se formavam fazendo com
que o já monótono e tornasse ainda mais.
Aquele som de agua batendo na lateral do Jet daquela
marola que sobrava da passagem dos barcos dava uma moleza, uma soneira de dar
inveja á qualquer bom colchão.
Más eu me mantive firme.
Passava das onze horas, horário anunciado por Marcio
Nonato, quando algum movimento começou na doca, á minha frente.
Primeiro chegou um cara, como quem nada quer.
Olhou para um lado, olhou para outro, viu o
movimento no canal, quase nenhum.
Acendeu um cigarro fumou-o até o fim. Jogou o toco
na água e se retirou.
Em menos de dez minutos voltou com outro comparsa,
mas desta vez, ambos estavam carregando armas e, não eram quaisquer armas. Eram
submetralhadoras.
- Base, o que me diz dessas armas. Perguntei sabendo
que a resposta não seria das melhores, pelo menos para mim.
- São FAMAE SAF nove milímetros. Arma chilena de
pouco mais de três quilos com carregador de trinta cartuchos. São bem letais,
tome cuidado. Acrescentou Vtec.
Mais uns dez minutos e outros dois chegaram também
fortemente armados.
Um deles tinha um radio comunicador e após conversar
com os dois que chegaram antes, depois de inspecionar o local e o canal, falou
ao rádio.
- Todo biem, camino Libre. Câmbio. E desligou.
O som ao fundo trouxe um toc, toc, toc que foi
aumentando conforme o tempo passava.
Outros quatro se uniram ao grupo.
A movimentação de um carro chegando, mais atrás do
galpão, logo se mostrou o real início da atividade.
Marcio Nonato e outro que imaginei ser Alexsandro
Vieira, pela atitude, chegaram com mais seis seguranças igualmente armados.
Eu já contabilizava dez seguranças mais Marcio e
Alexsandro. A festa seria boa.
O toc, toc logo contornou a curva da entrada e se
mostrou um barco rebocador. Aqueles que puxam navios na entrada do cais.
Veio tranquilo, na mesma batida e encostou-se à doca
que até então estava interditada.
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