Saga Derinarde II - Capítulos 121 á 160



Saga Derinarde II – Capítulo 121
Além do capitão tinha o imediato que é o auxiliar do capitão e mais três seguranças armados.
Trocaram algumas palavras rapidamente entre os embarcados e não embarcados.
O rebocador recebeu os homens de terra, exceto os dois que primeiro chegaram á doca, ficariam ali, de guarda.
O rebocador manobrou e se retirou pelo mesmo caminho que veio. Lento e constante.
Era a hora de eu começar a me movimentar e foi o que literalmente eu fiz.
Embora o motor do SEA DOO seja um dos mais silenciosos, eu não confiei que o ligar do motor naquele instante seria algo seguro.
Deslizei para trás entrando na água e usando de uma velocidade acima do normal para um humano comum comecei a bater as pernas sob a água.
Agora sim, silenciosamente me movimentei para uma distância que considerei segura, subi no Jet, ligue e comecei a seguir o rebocador.
No mar, o que é escuro fica ainda mais escuro, porém, não me atrevi a chegar muito mais perto do rebocador, embora soubesse que poderia chegar até cinco metro que não seria visto.
Segui a luz vermelha no alto do rebocador por bons vinte minutos. Estávamos longe do porto.
Na baia onde navios aguardam para receber ordens para atracar estava tudo quieto, não parecendo ter atividade alguma, mas os motores dos navios que ali permaneciam os delatavam.
Navios que ficam por dias ou semanas aguardando a autorização para atracar não desligam os motores nunca. São os próprios geradores de eletricidade.
O rebocador posicionou e encostou-se a um desses cargueiros, na parte mais á popa, nome dado á parte traseira de uma embarcação, e após uma comunicação pelo rádio, uma escada deslizou do navio em direção ao mar.
Quatro homens subiram á escada.
Eu posicionei o Jet na parte da frente do navio e junto á corrente da ancora dei um jeito de prender o JET, não queria perde-lo àquela distância.
Entrei na água e deslizei até á lateral do rebocador.
Não ouvi nada de interessante dos homens que aguardavam no rebocador. Aparentemente não sabiam o que seria desembarcado ali e cogitavam drogas ou armas.
Cerca de quinze minutos depois o rádio de um deles fez som de comunicação e uma voz anunciou:
- Prepárate, vamos hacia abajo. Era Alexsandro avisando que iniciariam o desembarque.
Todos os embarcados olhavam para cima, esperando enxergar algo na escuridão.
O imediato se posicionou á frente da cabine do Capitão e informava da posição e distância do rebocador ao navio gesticulando vez em quando para que não houvesse acidente.
Antes que qualquer homem embarcado pudesse ver alguma coisa, minha visão infravermelha denunciava a movimentação na borda do navio á pelo menos quinze metros de altura.
Através de cavaletes, roldanas e cordas, posicionaram e começaram a descer uma caixa de pouco mais de um metro cúbico.

Saga Derinarde II – Capítulo 122
Fizeram o desembarque da caixa com muita cautela, e através do rádio á colocaram em segurança no rebocador.
Percebi que não poderia fazer muita coisa naquela situação e quando os homens que estavam no navio começaram a descer me dirigi ao Jet.
Seguindo o rebocador de perto voltamos á doca dezenove e enquanto faziam o desembarque da caixa eu voltava com Jet para o local que o havia encontrado.
Acorrentei e fechei o pequeno portão.
Tirei a moto do canto que estava escondida e rapidamente peguei a estrada.
Novamente na estrada escura desenvolvi a velocidade que a Blackbird permitia e não me preocupava muito com as curvas, pois o deslocamento de massa era muito bem balanceado pelos giro estabilizadores de minhas pernas, aumentando em mais de quarenta por cento o ângulo que poderia fazer estas curvas, ou seja fazia as curvas mais rápido que qualquer um.
Em alguns minutos estava no cruzamento da Domênico Rangone com a Anchieta e minha dúvida era:
Qual será o acesso que utilizarão?
Sabia que á uns quatro quilômetros antes dali havia um acesso que liga á Anchieta á Imigrantes, o jeito era ir para este acesso.
Ainda assim com muita dúvida não parei no acesso e continuei em frente até a zona portuária.
Através de orientações da base entrei nas ruas do porto para localizar a movimentação, pois eu nem sabia quais os carros que estavam sendo utilizados.
Cheguei ao local apontado por Fernanda como o possível local onde os carros teriam sido estacionados e nada. Nenhum movimento, porém prestando atenção ao asfalto notei traços vermelhos que seguiam para o norte.
Isso! O calor dos motores que acabaram de passar por ali deixou um traço de temperatura no asfalto.
Com a aceleração mais forte, a Blackbird rodopiou, e segui o rastro. Conforme passava por vias mais movimentadas o rastro se confundia com outros de outros veículos.
Como já sabia a direção que seguiam fui mais adiante se me importar muito com estes rastros.
Na zona portuária é comum encontrar meninas de programa para atender  marinheiros que chegam do mar sedentos de um pouco de carinho, atenção e algo mais, e foi numa dessas esquinas que parei para decidir o caminho, que uma turma de sete mulheres se aprumavam quando ouvi uma delas:
- A VAN deve estar apinhada de turistas, se arrumem ai.
Olhei para o fim da rua e uma VAN branca seguida por uma pick-up vinham na direção das meninas.
Não foram as meninas, a VAN ou a pick-up que me chamou a atenção, mas a caixa na carroceria da pick-
up.

Saga Derinarde II – Capítulo 123
Era a mesma caixa desembarcada do cargueiro que depois desembarcou do rebocador e agora estava ali pertinho, sobre uma pick-up vermelha.
Com os pés afastei um pouco a Blackbird até atingir uma sobra da luz da rua. Eu estava quase invisível.
A VAN passou e em sua perseguição a pick-up vermelha que carregava uma caixa de madeira de aparente inofensividade.
Deixei que fizessem a curva lá na frente enquanto observava a decepção das meninas que não obtiveram resultados da expectativa de uma VAN farta de turistas endinheirados.
Comecei a segui-los.
Eu estava judiando da Blackbird, mantendo os quase cem quilômetros por hora, que meus seguidos mantinham.
Decidi ir á frente e acelerei.
Em alguns minutos estava na base. Larguei a moto e voltei para a estrada desta vez, utilizava os postes.
Como não tinham muitas alternativas e o caminho era único desta vez, fiquei esperando os veículos sob um viaduto da rodovia dos Imigrantes, o que dá acesso á Avenida dos Bandeirantes.
Em minutos estavam eles a seguir da mesma forma como os deixei, um atrás do outro.
Eles contornam o acesso á Avenida dos Bandeirantes e seguiram em direção á marginal do Pinheiros.
Pouco antes de chegar á marginal entraram a Berrini e eu seguia de perto, a cada poste, a cada curva.
Ao entrar na Berrini, eu já percebera que o destino seria a mansão de Marcio Nonato. E era mesmo.
Fizeram as manobras necessárias pelas ruas do Morumbi até apontarem no portão da mansão de Macio. O portão se abriu e a VAN seguido da pick-up adentraram.
O portão se fechou.
Não passaram cinco minutos e o portão se abriu deixando a VAN sair para destino incerto.
Do alto do poste percebi que a pick-up, Marcio Nonato, Alexsandro Vieira e dois seguranças armados permaneceram na mansão.
Os seguranças ficaram postados na área externa e receberam ordens de atirar antes de perguntar, á qualquer movimento que não fosse previamente avisado por Marcio.
Alexsandro e Marcio adentraram á residência e tomavam algo em copos largos com gelo enquanto esperavam algo, talvez uma ligação.
Achei que era hora de agir.
Vislumbrei a mesma vigia que usara outrora, aberta, e em um salto do poste e outro único do solo do jardim da casa encaminhei-me á esta vigia.
O vigias nada perceberam, pois, não imaginariam tal acontecimento. Sua atenção era para possivelmente alguém passando pelo portão ou, no máximo, apoiando uma escada no muro.
Dentro da saleta do escritório, já conhecido, caminhei até o corredor e o topo da escada.

Saga Derinarde II – Capítulo 124
Do alto anunciei minha presença.
- Alguém vai atirar em mim ou podemos conversar?
Marcio mais uma vez congelou e quase não respirava. Alexsandro sacou uma nove milímetros automática e apontou para mim.
- Vamos. Decida se vai atirar. Tornei a desafiar.
Com a arma em punho a balanço. Alexsandro fez sinal para que eu me aproximasse.
- Esse ai é o enviado de Sheyla? Alexsandro perguntou para Marcio que não fez outra coisa a não ser mexer com a cabeça afirmativamente.
- Antes que eu enfie um balaço no seu coração, diga o que quer? Gritou Alexsandro para o alto da escada, mas antes de terminar a frase eu estava á alguns centímetros dele e com o indicador da mão esquerda tapava a ponta de sua arma.
- Experimente atirar e observe o estrago da culatra.
Incrédulo com o salto que acabara de dar, não se arriscaria a verificar a eficácia das minhas palavras.
- Já está ai no quintal. Sobre a pick-up. Fizemos tudo direito. Amanhã quando o Arthur Derinarde chegar encontrará tudo ai. Será só montar. Disse Marcio da beirada do sofá.
- Muito bem. Vocês já têm o local para entregar? Tentei arrancar algo mais.
- Não. Só saberemos depois de montada. Respondeu Alexsandro.
- Ok. Volto a qualquer hora então. Continuem com o plano. Virei de costas e comecei a subir as escadas.
Neste momento Alexsandro começou a falar.
- Não acredito nesse cara. Antes mesmo de terminar de falar aconteceu um click e um disparo da nove milímetros.
Para dizer a verdade eu não ouvi o “click”, mas parece que minhas pernas ouviram. Em uma fração de segundos entre o click e o disparo, minhas pernas flexionaram e, praticamente, me jogaram de lado.
O dois projetis que foram na direção que eu estava fizeram buracos na parede da escada enquanto eu aterrissava na lateral da escada.
Imediatamente dei um mortal para traz parando colado á Alexsandro, com um golpe em seu punho tirei a arma de sua mão e com a outra mão já em sua garganta segurei seu pomo de adão.
- Não vou acabar com você agora porque tem um trabalho a fazer, mas quando terminar nós voltaremos a conversar. Aproveite para contar sobre este incidente para a Sheyla. Vou adorar receber ordens dela para eliminá-lo.
Com o barulho dos tiros os seguranças que estavam na área externa correram para a porta de vidro, decidi largar Alexsandro e saltei para o topo da escada.
Quando os seguranças entraram e começaram a subir os primeiros degraus eu já tinha saltado pela vigia e observava a casa do poste da frente.
- Base. Levante tudo sobre Arthur Derinarde, estou á caminho.
Em alguns minutos avisei.
- Base. Cheguei.
A porta se abriu e eu entrei.

Saga Derinarde II – Capítulo 125
Ao descer a escada secreta me deparei com uma jovem, aliás, uma linda jovem que aparentava não ter mais que dezessete anos.
Virei para Vtec.
- Quem é?
- Rosa. Respondeu Vtec.
- Rosa Tashima Bignardi. Irmã dele. Complementou a jovem.
- Rosa, vai lá para cima. Ordenou Vtec. E a moça obedeceu sem nenhum questionamento.
- Rosa é de confiança e inofensiva. Vtec falou já se desculpando.
Pelo cuidado e zelo ao projeto MEIOPARDO que Vtec vinha dispensando até então, não tinha dúvidas quanto á triagem que ele fazia quanto á pessoas que poderia saber.
- Mas por que a trouxe para cá. Não é arriscado, para ela? Perguntei para Vtec.
Estávamos sós, pois Fernanda também havia subido com Rosa.
- Nós estamos precisando de mais uma pessoa, aqui na base. Ela poderá nos ajudar bastante.
- Mas ela é uma criança. Apontei para o andar de cima.
Vtec riu.
- Todo mundo acha isso, mas o rostinho dela engana. Ela tem vinte e seis anos. É formada em engenharia Naval e muito boa em pesquisa jornalística. E...
Vtec estava descrevendo todo o currículo da moça.
- Vtec eu não tenho como pagar todos vocês. Falei interrompendo Vtec.
- Dinheiro, novamente dinheiro. A Fernanda, a Rosa e eu temos um emprego e não precisamos de mais dinheiro. Estamos aqui porque acreditamos no que você faz e no que fazemos. O tempo que o MEIOPARDO não está ativo nós nos ocupamos com o nossos empregos, então não se preocupe.
Tocamos mais meia dúzias de palavras e deixamos as coisas como encontrei.
- Mudando de assunto. O que foi aquilo na sala do Marcio Nonato. Como desviei daqueles tiros? Perguntei á Vtec.
- Faz parte da implementação que colocamos em você. O ouvido humano percebe sons que variam de Vinte á Vinte mil hertz. Acima disso chamamos ultrassom e abaixo infrassom. A grande maioria de sons dessa faixa, ou seja, audíveis por nós, é acompanhada de infra e ultra. A alteração feita no tratamento de sons levou em consideração esta parte não audível e pudemos mandar impulsos para suas articulações a fim de criar uma proteção a mais. Foi o que aconteceu.
As explicações de Vtec me fascinavam.
- Que dizer que você criou reflexos robotizados? Perguntei.
- Interpretação e comandos rápidos. Não se usa o termo reflexo em robótica. Mais uma vez uma resposta professoral.
- O que você achou desse tal Arthur? Perguntei mudando de assunto novamente.
- Rosa, venha até aqui, Vtec falou no interfone.

Saga Derinarde II – Capítulo 126
- A rosa foi quem fez o levantamento. Como já falei, ela é uma excelente jornalista investigativa.
Em poucos segundos a menininha estava ao nosso lado e Fernanda trazia café.
- Rosa, fale de Arthur Derinarde. Vtec estava pedindo a biografia.
- Arthur Derinarde, trinta e nove anos, catalão, viveu na Irlanda por oito anos onde se especializou em explosivos. Ativista do IRA. Foi acusado de ter montado doze bombas de alto poder destrutivo. Nada foi provado, mas foi deportado para a Espanha. Algumas autoridades acham que ele foi responsável pela explosão do trem em Madri, mas novamente nada foi provado. Chegou ao Brasil há duas semanas e está sendo vigiado por agentes da Interpol com o apoio da policia federal brasileira.
- Ok. Peguei uma xícara de café e subi.
Estava tomando meu café e absorto em meus pensamentos sobre a bomba que estava para ser montada quando Rosa chegou ao meu lado.
- Se você quiser, eu vou embora. Rosa disse olhando em meus olhos.
- Vtec disse que você é competente e eu acredito. É que eu me preocupo como você, com Fernanda e com ele também. Sente-se. Ofereci a parte do sofá ao meu lado.
- Poxa, Vtec nunca falou de você. Alias Vtec nunca fala de nada. Provoquei um assunto.
- É. Ele é de poucas palavras. Ele sempre cuidou de mim. Não temos lembranças de nossos pais. Os perdemos muito cedo e desde então passamos nossa infância em orfanatos. Em escolas públicas participamos de feiras de ciências e gincanas de matemática onde ganhamos evidência. Alguns empresários, pais de colegas nossos enxergaram algum potencial em nós e nos proporcionaram melhores escolas, depois cursos, depois empregos e estamos aqui. Aquele havia sido um currículo melhor do que o que Vtec me apresentou.
- Não entendo porque Vtec não está no meu projeto oficial. Por que não está na POLI? Na verdade eu o queria onde estava, mas ele era muito bom para ser desperdiçado.
- Ele zerou na redação. Ela deu o veredito.
- Ãnnn?!? Só consegui emitir esse som.
- Ele prestou vestibular para a POLI, sempre foi o sonho dele, mas ele zerou na redação. Ele não consegue escrever. Ele não sabe se expressar. Confirmou Rosa.
- Mas alguém deve ter visto a prova dele. Ele deve ter ido bem nos resto, não? Ninguém falou com ele? Eu estava inconformado.
- Á sim. Ele foi nota dez em todas as matérias, acho que esse foi o problema. Ninguém vai “tão bem em todas as matérias”, então o acusaram de “cola”, de trapaça e foi chamado para uma entrevista. Ele não se expressa com pessoas, não se expressa no papel e sob acusação e pressão, ai sim. Não se defendeu e foi sumariamente cortado. Rosa foi muito clara na explicação.
Ficamos por mais de duas horas conversando e eu aprendi muito sobre aquela minha equipe. Tive muita raiva pelo que passaram, mas ao mesmo tempo muito orgulho. Eram vencedores, apesar de tudo.

Saga Derinarde II – Capítulo 127
Dei orientações á Vtec para leva a Blackbird para o Bene. Ele deveria abaixa-la quatro centímetros e fazer uma proteção extra no quadro detalhei para Vtec e Rosa aproveitou para fazer algumas alterações também. Como engenheira naval tinha muito conhecimento de hidro e aerodinâmica.
Eu me despedi de todos e fui para casa.
Antes de dormir decidi enviar um Correio eletrônico para o jornalista Luiz Nobrega Prymo.
O título foi:
“O QUE ACONTECERIA SE FORMASSEM UMA PARCERIA?”
Em anexo eu enviei os históricos de Sheyla Castro, Arthur Derinarde, Marcio Nonato e Alexsandro Vieira.
Eu abri uma conta em um provedor externo com o nome “Amigo do MEIO” e assinei assim.
No dia seguinte, na quadra da POLI, enquanto fazia meus exercícios e testes, fui informado que Elen queria me ver.
Terminei a segunda sequencia dos testes e fui para o segundo andar. Chegando á antessala eu não vi Amanda de Paula e fui direto para a porta da sala de Elen.
Dei duas batidas na porta e entrei.
A sala estava vazia.
Voltei e na dúvida se esperava ou ia embora, a porta se abriu e Amanda entrou.
Ela se assustou ao me encontrar.
- Onde está Elen? Perguntei antes mesmo de Amanda tomar folego.
- Estão todos no auditório e é para você ir para lá também. Amanda respondeu ofegante.
- Se estão no auditório, é para o auditório que irei. Respondi e saí para o destino.
Entrando no auditório, quase lotado, inúmeros colegas se adiantava para me cumprimentar.
Abraços, apertos de mão, tapinha nas costas, desarrumação no cabelo, e estas coisas de cumprimento.
Elen, de cima do palco não tirava os olhos de mim e fazia gestos para que me apressasse.
Subi ao palco em meio ao furor da plateia. Aplausos, hip hip hurra, bravo eram declamados.
Não era meu aniversário e eu queria muito entender tudo aquilo.
- Oi Elen. Festinha surpresa? Falei para atenuar a feições sérias e zangadas de Elen.
- Por que demorou? Quando eu chamar venha imediatamente.
Outra repreensão.
- E você acha que eu chegaria antes de todo mundo e perderia isso? Apontei para a plateia.
De posse do microfone, imediatamente Elen quase que ordenou.
- Silêncio. Silêncio. Estamos atrasados. Vou pedir pela última vez, Silêncio.

Saga Derinarde II – Capítulo 128
Como no comando de um maestro coordenando a sinfônica, na batida da batuta, a plateia se calou, sentaram-se e a “sala de aula” voltara á normalidade.
Elen me ofereceu a cadeira na mesa onde estava. Ao lado dela sentava-se um senhor enorme, não de peso, mas de altura. De pé deveria ter mais de dois metros e outra mulher, ruiva e com muita sarda no rosto, era quase amarela.
Elen tomou a palavra ao microfone que já estava em suas mãos.
- Estes são o professor doutor Marco Papo da AUCC (Associação das Universidades e Faculdades do Canadá) e a Doutora Ana Luisa Rodrigues da embaixada Canadense no Brasil e através deles, nós, a POLI, a USP e o Estado de São Paulo, estamos fechando um convênio de pesquisa e aplicação robótica.
Aplausos aconteceram.
- Neste convênio a AUCC está fazendo um aporte de 145 milhões de dólares americanos para continuidade do projeto “Homem do Futuro”.
Mais aplausos e desta vez Elen tentou continuar o pronunciamento só conseguindo falar na quarta tentativa.
- As assinaturas e as formalidades já foram cumpridas e os aportes iniciação em até dois meses. Do nosso lado, firmamos convênio com a FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo)  e em seis meses iniciaremos os implantes superiores e anexos.
Elen não conseguiu terminar a apresentação.
Um furor tomou conta do auditório. Aventais eram jogados para cima, pessoas se abraçavam, pulavam e urravam como que acontecera uma final de campeonato e o seu time ganhara a competição.
Nós nos levantamos e saímos.
Peguei Elen pelo braço:
- Elen, isso significa o que estou pensando? Eu perguntei já sabendo da resposta.
- Em seis meses você receberá os implantes mais modernos do mundo. Não vai “amarelar”, hein? E se desvencilhou de minha mão.
Eu ainda estava “ligado” e comecei a computar a estatística. Bomba, cirurgia, afastamento...
Achei que algo sério estava acontecendo e era hora de agir á altura.
Fui atrás de Elen que se encaminhou para seu escritório no segundo andar.
Eu estava muitos passos atrás dela e ela não percebeu que eu a seguia.
Ao fechar a porta de sua sala adentrei na antessala.
- A Doutora Elen não ...
Amanda tentou me impedir de entrar.

Saga Derinarde II – Capítulo 129
- Agora não Amanda. Agora não. Eu a desloquei para o lado com o braço e alcancei a maçaneta da porta.
Entrei e tranquei a porta por dentro.
Elen estava sentando em sua cadeira quando me viu.
- O que é isto, deu para me seguir, agora?
- Elen, eu preciso de uma parceira. Não uma doutora. Não uma gestora de projetos. Alguém em que possa confiar.
- Não sou amante, não sou sócia, não sou confidente, nem freira. Não sei como te ajudar. Fria, nem piscou ao falar.
Ainda bem que eu estava “ligado”, lógico e matemático, como gosto.
Achei que poderia jogar o jogo dela.
- Vamos colocar assim. Além de colaborativo, como tenho sido até então, serei também participante. Eu agregarei algo mais.
Como é fácil aguçar a curiosidade de uma mulher, pensei.
- Muito bem, faça sua oferta. Elen prestava muita atenção em mim.
- Você tem que confiar cem por cento em mim, e eu em você. Fiquei observando sua reação.
- Iiiiii? Até aí Elen estava indiferente.
A cada expressão, á cada movimento de Elen, números estatísticos vinha á minha mente.
- Elen, você precisa incluir uma pessoa que conheço, no projeto.
Esperei o óbvio.
- Ah, tem uma namoradinha e quer dar emprego para ela? Agora entendi a história de parceira.
Elen foi irônica.
- Espera. Vamos falar um pouco mais sério que isto. Vamos falar do meu futuro, ou melhor, vamos falar do nosso futuro.
Continuei.
- Eu tenho um cara que dá de vinte á zero em noventa por cento desses seus estudantes que vocês chamam de “doutor”, você o põe no projeto e eu te dou três anos de tecnologia á frente.
As cartas do jogo foram abertas.
- Os melhores já estão aqui, mas tudo bem nós faremos uma entrevista com ele, e essa história de três anos, quais as garantias?
Elen ficou interessadíssima e o número estatístico em minha cabeça estava para alcançar três dígitos.
- Eu tenho uma parceira? De confiança? Vou colocar minha vida em suas mãos, você coloca a sua nas minhas?
Eu já estava convencido, mas queria dramatizar.
- Deri, isso é tudo bobagem. Eu tenho que ver para crer. Preciso de confirmações.
Elen me desafiou.
- O seu projeto tem muitos dados satisfatórios, mas você não acha um tanto quanto limitado?
Também desafiei. Num jogo de cartas chamado truco, isto tem um nome: SEIS.

Saga Derinarde II – Capítulo 130
- Como assim, esta dentro do programado.
Retrucou Elen.
- Isso mesmo. Dentro do programado. Limitado.
Eu me afastei da mesa de Elen e virei ás costas para ela.
- O seu projeto prevê isto?
Fiz alguns movimentos com a perna que pareceram para ela um tanto quanto engraçados.
- Atire este grampeador em minha cabeça. Ordenei.
- Que bobagem, Deri. Isso é algum novo tipo de dança?
Elen não se interessou.
- Atire. Ou não confia em mim? Gritei com ela.
No mesmo instante Elen agarrou o grampeador e atirou.
Não que fosse acertar, pois Elen não era muito boa em apontaria, em um salto agarrei o grampeador no ar.
- Algumas pessoas têm sorte. Ela ainda não se convenceu.
Fui ate as janelas e fechei as grossas cortinas que impediam qualquer tipo de claridade.
Fui até os interruptores de luz da sala e apague a luminária por completo, restando apenas um pequeno abajur perto dos sofás da sala conjugada. Joguei o grampeador contra o abajur que se apagou ao impacto do mesmo.
- Atire três coisas ao chão. Aleatoriamente. Pedi e fui atendido.
Ao atirar o terceiro objeto as luzes se acenderam pelo meu acionamento do interruptor.
Os três objetos estavam em minhas mãos.
Elen ficou surpresa.
- Andou treinando bastante, hein?
Ficou visível a curiosidade de Elen.
- Não foi treinamento, Elen. Foi reprogramação. E foi meu amigo, o que quero aqui, quem fez.
Esclareci á ela.
- Muito bem. Traga-o amanhã cedo para uma entrevista. Tem algo mais?
Elen achou ter terminado a conversa.
- Sim tem. Até agora eu falei o que tenho a oferecer. Ainda não pedi nada.
Comecei um assunto delicado.
- Não enrole Deri.
Elen cobrou pressa.
- Você tem lido jornal? Esse cara que apareceu aí? O MEIOPARDO?
- Vai dizer que quer trazer esse maluco para cá também?
Elen riu ao dizer isso.
- Não. Quer dizer sim. Esse maluco sou eu. E está rolando algo sério, uma história de bomba que não está sendo muito divulgado e... Fui interrompido por Elen.
- O quê? Você esta colocando o meu projeto, o projeto de milhões de dólares em risco por uma coisa que você não tem nada a ver. Isso é coisa de segurança. É coisa de polícia.
Elen realmente ficou irritada.

Saga Derinarde II – Capítulo 131
- Você não entende. Eu tomo todo o cuidado. E é essa a parceria que quero. Apenas a compatibilidade com os tempos. A minha presença aqui para estes testes é inútil e acabei de mostrar para você.
Eu dei a cartada final.
- Veja por este lado. Você não tem como me impedir. Não tem como me vigiar e eu já provei isto também. Eu quero que você fique por dentro do que estou fazendo eu cuido do seu equipamento. Melhor ainda. Eu o aprimoro, o testo de verdade. Eu indico as correções. Que tal? Vamos trabalhar de verdade ou vamos brincar de bonequinho Pinóquio?
Eu não tinha mais segredos com Elen.
- É muito arriscado. Elen estava insegura.
- É no risco que evoluímos. Que evolução você viu depois que voltei de Boston? Nos últimos dois meses uma única pessoa, sem recurso algum implementou: visão noturna, audição com eco localização, prognóstico de movimentos entre outras coisas. Imagine se trabalharmos juntos?
Os olhos de Elen estavam brilhando.
- Eu estou em uma investigação onde terei que me dedicar e não sei se daqui á seis meses terá sido resolvido. Eu só quero uma adequação de agenda. A contra partida é toda sua. Então será minha parceira?
Eu queria arrancar aquele sim.
- Ainda acho muito arriscado. Esse projeto é a minha vida.
Vi seus medos em seus olhos.
- Vamos fazer como fazem comigo. Uma adaptação. Aos poucos você se acostumará, eu prometo.
Eu teria um trabalho adicional para convencê-la, mas valeria a pena.
- Quarta-feira em casa eu mostro minhas habilidades e brinquedos. Topa?
Eu pensei em animá-la desviando das preocupações.
- Tudo bem, quarta vou te visitar.
Eu acho que ganhei o primeiro round, mas sei que ainda não ganhei a luta.
Um ponto de cada vez.
Na manhã seguinte fiz questão de levar Vtec á POLI.
Não estava tão quente, mas na sala da Amanda, ele parecia estar em uma sauna. Suava em bicas.
Por mais que tentasse, não conseguia acalma-lo. A Elen iria trucida-lo.
Quarenta minutos de espera e a chefa chegou.
Elen entrou na sala e eu entrei atrás dela.
- Elen, esse é o cara de quem eu falei. Ele é bem do tipo que vocês têm aqui. CDF e calado. Não faça perguntinha fácil que ele não responde.
Eu realmente não sabia o que falar á ela. O efeito maior que eu queria é mostrar á Vtec que estava falando com ela antes.
- Amanda, chame José Reginaldo agora.
Elen falou ao interfone.
- Se não tem mais a falar pode sair e mande seu amigo entrar. Bom dia.
Elen foi um poço de delicadeza como sempre.

Saga Derinarde II – Capítulo 132
Acho que esse era o humor de Elen pela manhã. Algumas pessoas tem certa dificuldade de lidar com isso muito cedo.
Saí para a antessala, chamei Vtec.
- Eu confio em você, vai lá e imagine que esta falando com a Fernanda ou com sua irmã, a Rosa. Fale o que você pensa e dane-se o resto.
Vtec entrou na sala da fera e neste momento José Reginaldo entrou na antessala, deu bom dia para Amanda, para mim e entrou na sala de Elen.
Fiquei na antessala por duas longas horas.
Estava preocupado com o que ocorria dentro da sala, mas não pude deixar de reparar em Amanda.
Cabelos longos e ondulados. Alta e esquia.
O equilíbrio sobre aqueles enormes saltos á deixava empinadinha.
Seios fartos que eram hipervalorizados com os decotes que usava.
A fragrância do perfume de Amanda dava um contorno extra á toda aquela imagem de social sensual que fazia dela uma mulher desejada.
Não foi somente o longo tempo de espera que me fez ter fetiche por aquele corpo.
- Amanda. Você já pensou em... Fui interrompido quando a porta de Elen abriu e surgiu Vtec.
Da mesma forma, aquele sorriso que Amanda direcionava apenas para mim esvaiu-se para um local inacessível.
Não consegui deduzir o resultado da reunião pelas feições de Vtec, o que não eram nenhuma novidade, pois, exceto pelo “EUREKA” que ele soltava de vez em quando, era muito difícil ver alguma expressão em seu rosto.
- E ai Vtec? Como Foi? Só faltou agarra-lo pelo pescoço, pois o chacoalhão eu dei.
- Tudo bem. Eu acho. Vão me ligar depois. Eu acho. Vtec ainda suava muito.
- Ele está bem? Perguntou Amanda enquanto pegava um pouco de agua que trouxe para Vtec.
- Está ótimo, espero. Falei encarando Vtec.
- Tudo bem. Estou bem. Podemos ir embora?
- Claro, vamos, vamos. Abracei-o e saímos para toma ar.
Ficamos no pátio do estacionamento por uns dez minutos e acho que foi o suficiente.
A cor de Vtec voltara do pálido que assumira á algum tempo atrás.
Ele respirava normalmente e não ofegava mais.

Saga Derinarde II – Capítulo 133
- Ela não é chata como você disse? Vtec pronunciava as primeiras palavras desde que saímos do prédio.
- O quê? O que você disse? Eu realmente não havia entendido o que ele dissera.
- A Dra. Elen. Ela não é chata. Ela é direta. Ela não faz piadinha. Desta vez Vtec foi claro.
- Que bom que você gostou dela. Respondeu á todas as perguntas que fizeram? Perguntei.
- Todas menos uma. Respondeu Vtec e calou-se.
Fiquei esperando a continuação que não existiu. Fiquei no vácuo.
- Então. Que pergunta você não respondeu? Insisti.
- Prefiro não falar nisso agora. Calou-se novamente.
Deve ter sido algo sério.
- Vamos para casa? Entreguei o capacete para Vtec, eu coloquei o meu e fomos embora.
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Naquela mesma noite a mansão de Marcio Nonato estava agitada.
Alguém trabalhava na caixa semiaberta sobre a pick-up.
Era Arthur Derinarde que montava a bomba.
A casa estava super protegida. Além de dois seguranças na rua, em frete ao portão de entrada, outros seis estavam espalhados pelo jardim.
Arthur de camiseta regata marrom e jeans surrado usava ferramentas para apertar parafusos e cortar fios.
- Manolo? O Manolo? Arthur gritava como um desesperado.
Um dos seguranças, o que estava mais próximo da porta de vidro deu duas batinas na mesma, chamando a atenção de quem estava dentro.
Foi Marcio quem saiu até a porta e o segurança apontou para Arthur, na pick-up.
- Dile Arthur. ¿Qué quieres? Marcio chegava perto do veículo.
- Manolo, los circuitos. La caja de circuitos, ¿dónde está? Gritava Athur.
- Cicuito? El circuito no há llegado. Marcio levantou os braço em sinal de nada há fazer.
- Follando su mierda. ¿Qué estoy haciendo aquí? Sin cirduto esto es un pedazo de mierda. me voy. Arthur falou zangado jogando as ferramentas no chão.
- Espera, espera, escucha. Marcio não teve como segura-lo.
Arthur abriu o portão e foi embora.

Saga Derinarde II – Capítulo 134
Entendi que, como a caixa de circuito ainda não havia chegado, ganhamos um certo tempo. Mas de quanto seria este tempo?
Não obteria resposta ali, naquela casa. Resolvi seguir Arthur.
Parte terrestre e parte sobre postes, com pequeno sacrifício eu consegui acompanhar o SUV de Arthur.
Ele se dirigiu para o centro da cidade e entrou em um estacionamento na Rua Aurora, muito próximo do Largo do Arouche.
Arthur saiu á pé e caminhou duas quadras entrando em um hotelzinho de terceira categoria.
Fiquei ali na frente pensando o que poderia fazer quando a sorte mais uma vez acenou para mim.
A janela da frente se abriu mostrando Arthur já sem a camiseta.
Percebi que entrara em uma porta interna, talvez o banheiro.
Como a janela me convidava a entrar, não fiz esta desfeita.
Estava do outro lado da rua e um salto foi o suficiente para estar sobre a marquise estreita, porém, o suficiente para ficar a centímetros da janela que me convidara á entrar.
Sorrateiramente entrei e espreitei a porta que Arthur entrara, realmente era o banheiro e o chuveiro estava ligado.
Esperei por meia hora enquanto Arthur cantarolava sob a agua quente. Muito mal por sinal, nem a língua espanhola atenuava.
Enquanto estava só no quarto, vasculhei o que fosse possível.
Encontrei três ou quatro documentos com a foto de Arthur, mas nomes totalmente diferentes. Documentos falsos.
Encontrei uma arma, e alguns papeis enrolados feito pergaminho. Eram folhas de papel vegetal e ao desenrolar algumas folhas percebi que serem esquemas elétricos. De bombas, talvez.
Quando a porta se abriu uma figura caricata surgiu.
Enrolado em uma toalha, um sujeito muito magro e meio arqueado.
Cabelo molhado mostrando uma franja, falhada nas laterais. Um bigodinho muito fino e distante do nariz, que por sua vez, não era nada modesto.
Minha vontade na hora era de rir e de repetir o refrão de chapeuzinho vermelho: “Vovó, mas que nariz grande você tem?”, mas me contive.
Resolvi usar meu fraco espanhol.
- No hay peligro. Sheyla envía la señal de que el circuito está en camino. Sólo esto. Me voy. Penso que ele entendeu.

Saga Derinarde II – Capítulo 135
Ele não esboço nenhuma reação e para confirmar o meu blefe, então, fui até a janela sem dizer nada.
- ¿Quién es usted? Perguntou Arthur, como eu muito esperava.
- Soy un amigo que quiere asegurarse de que todo va bien y voy a traer el dinero. Se você quiser jogar uma isca para um trapaceiro, jogue dinheiro. Infalível.
--- Tecla SAP apertada ---
- Diga a Sheyla que aumentou. Eu devia montar hoje e não, ter que voltar. Agora é cincoenta por cento mais caro. Ele falou muito rápido e não entendi perfeitamente, mas sabia que ele queria mais dinheiro.
Eu poderia até concordar. Primeiro é que o dinheiro não é meu, aliás nem mesmo sei de onde virá este dinheiro, mas como já assisti muito filme de bandido durão, resolvi engrossar e tratar de igual para igual.
- Quer discutir pessoalmente com Sheyla ou quer que volte aqui para executar o pedido dela para acertar com você? Ele viu meus olhos, sob a máscara, á encara-lo.
- Volto uma única vez mais. De hoje á três dias. Se não tive chegado, não volto mais. Tentou corrigir o mal entendido.
Saltei da janela e vi quando ele se aproximou da mesma a me procurar na escuridão, porém sem me achar.
Sabia que não tinha muito mais á fazer ali, MEIOPARDO foi embora.
Já em casa decidi enviar outro Email para Luiz Nobrega Prymo.
Contei á ele que a bomba já estava no Brasil e até o endereço onde se encontrava, bem como o nome dos responsáveis pela guarda.
Disse á ele que Arthur Derinarde era o montador e aguardava apenas a chegada do circuito de detonação e que ocorreria nos próximos três dias.
Assinei o Email novamente como “Amigo do MEIO”.
Fui descansar.
Na manhã de quarta-feira recebi um recado de David Siqueira. Ele estava na academia á minha espera.
Tomei aquele café reforçado de proteínas, pois se David chamou, o treino deveria ser pesado.
Na academia encontrei a graciosa Gleide Santana.
- Bom dia Deri. Anda sumido. Abandonou os treinos ou mudou de academia? A simpática e sorridente Gleide puxava assunto.
- Tenho andado muito ocupado, mas prometo retomar os treinos. Tanto é que estou aqui, hoje. Tentei ser simpático á altura.
Fui até os fundos onde David fazia bíceps no APOLLO.
- Bom dia David. Deri se apresentando. E bati continência.
- Bom dia Deri. Você terá uma cirurgia grande em breve e precisamos preparar estes músculos para isto.
David tirou do bolso um pequeno pendrive e me entregou.
- Estas são suas sequências. Nem mais nem menos. Você me agradecerá depois. Pode começar.
Fui até o computador de Gleide e pedi á ela para baixar minhas sequências.
Foi o que ela fez.
Ao abrir o arquivo ela soltou uma expressão de espanto.
- Uau! Você vai disputar um MMA?
- Muito puxado é? Perguntei á ela, pois de onde estava não via a tela do computador.
- Isso é nível “Cigano”, para não dizer outra coisa. Vai ser doido. Ela estava espantada e ao mesmo tempo fascinada com a exigência dos exercícios.
Pedi á ela que deixasse guardado em seu computador, pois ela faria meu controle e fui para o aquecimento.

Saga Derinarde II – Capítulo 136
Em duas horas fiz tudo que me foi solicitado. Estava cansado e satisfeito.
Como tinha o dia livre, pois não iria para a POLI, decidi ficar em casa e estudar o material que havia pegado em relação ás inovações que receberia na próxima cirurgia.
Eu receberia articulações biônicas nos ombros, cotovelos e punhos.
A clavícula, os ossos dos braços, mãos e dedos seriam revestidos, internamente, com finíssimos tecidos de grafeno, da mesma forma que a coluna vertebral, do pescoço ate o meio das costas.
O grafeno é uma molécula de carbono que unido forma um fio finíssimo e muito resistente. Com o grafeno constrói-se um tecido e este se torna um tecido inteligente, capaz de responder á estímulos elétricos e magnéticos e, neste caso seria para dar suporte á força extra que as novas articulações receberiam.
A estrutura muscular também receberia fios de grafeno que serviriam para que correntes elétricas estimulassem-os para respostas rápidas e necessárias á novas características.
Tudo estava perfeitamente estruturado e contemplado, mas alguma coisa não combinava. Alguma coisa não completava.
Isso me incomodou muito, pois os engenheiros fizeram um detalhamento do que já existia nos membros inferiores até a bacia. Fizeram o mesmo detalhamento do existirá até o tórax, mas por algum motivo que eu ainda não sabia o porquê, não tinha uma ligação, “Em cima, em baixo”.
Como o texto era aberto aos participantes do projeto e permitia comentários, fiz o meu, mostrando esta preocupação, ao mesmo tempo em que mandei uma mensagem á Vtec. Não sabia se ele participaria do grupo e esta hora do dia ele estaria no seu trabalho e não na base.
Eu me interessei tanto nos documentos que não percebi a hora passar.
Lá pelas oito da noite o interfone tocou e o porteiro, Fábio Garcia, anunciou que Fernanda Galindo estava subindo.
Ao abrir a porta deparei com uma obra de arte. Fernanda estava maravilhosa, como sempre.
- Então? Vamos dançar? Fernanda falou enquanto passava pela porta.
Mal pude ouvir o convite, pois o barulho que seu perfume fez em minha cabeça me atordoou.
- Dançar? Hoje? Pensei se daria tempo de cancelar o compromisso com Elen, mas ela já devia estar á caminho.
- Não vai dar. Tenho um compromisso daqui á pouco. Inadiável.
Ao terminar a frase, o interfone tocou. Levou alguns segundos para eu entender que a campainha do interfone era mesmo do interfone e não minha cabeça que estava tocando.
Enquanto eu atendia ao telefone, corria os olhos na escultura que estava á minha frente. Tornozelos bem desenhados e firmes sustentando as longas e esguias pernas que terminavam em coxas que mostravam o contorno de músculos definidos, a sainha verde-mar, curtíssima, que encobria o final das maravilhosas coxas chegavam á um abdômen muito fino ou inexistente...
- Oi Fábio? Disse ao interfone.
- Elen Perez está subindo. Disse Fabio sem rodeios.

Saga Derinarde II – Capítulo 137
- Peça para esperar dois minutos. Implorei para Fábio.
- Vixi... Já foi. Está no elevador.
Voltei á mim como se recebesse um balde a água fria.
Não sei por que estava nervoso. Nada acontecera. Nada aconteceria.
Eu me dirigi á Fernanda.
- Bem, como eu disse, hoje não tem jeito, meu compromisso chegou. Minha diretora está aí e vamos trabalhar juntos em algo inadiável e...
Fernanda colocou dois dedos em meus lábios selando-os.
- Tudo bem. Eu vou dançar sozinha, então.
A campainha tocou. E Fernanda já se encaminhou para a porta. Ela mesma a abriu.
Duas surpresas, uma de cada lado.
Em alguns segundos que pareciam uma eternidade as duas se olharam, ou melhor, se rastrearam.
Mediram cada centímetro, uma da outra.
Senti uma tensão no ar que alguns poderiam jurar ter visto descargas elétricas de milhares de volts.
- Elen esta é Fernanda Galindo. Fernanda, esta é Elen Perez, minha diretora, e...
Fernanda foi a primeira a quebrar o gelo.
- Olá, que pena que vocês vão trabalhar, eu vou apenas me divertir. Tchau. E embarcou no mesmo elevador que Elen havia chegado.
Elen á acompanhou, com os olhos, até a porta do elevador se fechar e a luz do mesmo iniciar a descida.
- Eu atrapalhei algo? Elen foi extremamente irônica.
- Entre, entre. Quer beber um vinho? Eu á guiei pelo braço, pois relutava á entrar.
- Esta perua está te rodeando muito. E não é só dinheiro que está te oferecendo, não é? Elen terminou de falar enquanto eu pegava uma garrafa de Cabernet e fingia que não ouvia.
Servi uma taça de vinho á Elen que prontamente levou aos lábios. Ela estava mesmo precisando.
Trouxe meu tablet até a sala e o conectei ao aparelho de TV, uma tela maior seria mais conveniente.
Eu havia preparado uma apresentação mesclando partes do projeto oficial com o que tínhamos ajustado. Vtec, Fernanda e eu.
Eu estava disposto á contar tudo em detalhes á Elen, não por confiar muito nela, mas por necessidade de agir com tempos e serviços que eu dependia, ou melhor, que o MEIOPARDO dependia.
Comecei pela partição escondida onde guardávamos as alterações e aprimoramentos, depois sobre os algoritmos de decisão, as ondas de luz e infravermelho, ondas de sons, e tudo mais.
Elen estava entendendo a evolução que havíamos conseguido.

Saga Derinarde II – Capítulo 138
- E esta equipe, conte sobre esta equipe. Elen não acreditava no número tão restrito para o que havíamos conseguido.
Falei um pouco mais sobre Vtec, Fernanda e a nova integrante da equipe, a Rosa.
- Eu estava disposta á contratar o Vtec para o projeto, mas agora mudei de ideia. Elen começou á expor uma nova alternativa.
- Eu não conseguiria justificar nada do que vocês têm feito em paralelo e duvido que irão parar. Eu tenho uma verba que posso manter secreta. Vocês me mantêm á par de tudo que acontece e, eu decido o que é ou não interessante para o projeto oficial. Negarei sempre o conhecimento do que vocês fazem, mas darei apoio financeiro e logístico.
- Fechado. Eu concordei com Elen, e comemoramos com vinho e canapés que Aracy havia deixado preparado.
Apresentei a roupa do MEIOPARDO á Elen e expliquei detalhes de sua composição, falamos sobre as investidas noturnas e os sucessos obtidos contra os malfeitores.
Ficamos até bem tarde e Elen saiu de casa, aparentemente satisfeita com o que soubera e acertara comigo. Estávamos enfim, de acordo.
Já era tarde e eu havia tomado muito vinho para que MEIOPARDO saísse.
Coloquei os óculos de comunicação, acionei o “LIGA” e conversei um pouco com a base.
Expliquei o que havia acertado com Elen e Vtec foi o primeiro á falar:
- Quer dizer que não será preciso ficar com aquele bando de gente para eu fazer o meu serviço? Que bom.
Depois foi Fernanda:
- Então eu também fui contratada?
- Você e a Rosa também. E o melhor. Tudo continuará do jeito que está e faremos o nosso horário. Você ouviu isso, Rosa?
- Rosa, você ouviu? Insisti.
- A Rosa não está aqui. Disse Fernanda.
- E não sei se volta. Eu vou dormir. Boa noite. Falou Vtec.
- Vtec o que houve? Vtec, Vtec. Não obtive resposta dele.
- Ele já foi. É que eles brigaram hoje. A Rosa está usando algum tipo de droga e Vtec descobriu. Fernanda quis encerrar o assunto.
- Mas temos muitas boas noticias então falamos disso depois. Estamos felizes, não estamos? Fernanda fazia como sempre. Sempre para cima.
- Sim estamos muito felizes. Falamos um pouco mais e fomos dormir.

Saga Derinarde II – Capítulo 139
Na manhã seguinte, apesar do vinho da noite passada, acordei bem disposto e após o maravilhoso café da manhã de Aracy fui para a academia.
Gleide com aquele sorriso espontâneo e confortável indicou o aparelho ao qual eu deveria começar minha sequência.
Não se passaram doze minutos e estava ela lá para agravar meus exercícios:
- Se é para fazer, tem que fazer certo. Colocou mais pressão nos cabos de aço.
- Volto em quinze minutos, hein? E se afastou novamente.
Eu ainda estava bem e as primeiras gotas de suor corriam por meu peito e testa.
Eu sabia que apesar de ter peito e barriga definidos, modéstia a parte eu tinha aquilo que chamam de tanquinho, eu tinha muito a exercitar ainda.
Eu sempre fui a favor de conseguir nutrientes naturais ao invés desse negócio de “massa” e, para alimentação Aracy tinha uma lista fornecida por Michaeli Rabelo da “Nutricionista Michaeli Rabelo” o que fazia com que minha dieta sempre estivesse na melhor curva de aproveitamento de nutrientes.
Eu fiz toda a minha sequencia em duas horas e o auxilio de Gleide foi indispensável. Ela controlou o tempo e a intensidade de cada exercício, além de ser uma grande incentivadora.
Ducha tomada. Eu fui para casa.
Chegando em casa, Rosa estava no portão. Insisti para que subisse comigo e á contragosto ela subiu.
Ofereci comida a qual aceitou prontamente.
- Rosa, você está na rua desde ontem? Perguntei já sabendo da resposta, pois sua apresentação estava péssima.
Rosa comeu á fiz tomar um banho, pois as marcas da noite ainda estavam em seu rosto.
Dei-lhe um pijama meu e a fiz entrar no quarto de hospedes onde dormiu rapidamente.
Sai e somente retornei no início da noite.
Estava com um colega ao telefone quando Rosa saiu do quarto e acenou com a mão.
Ela foi até a cozinha, pegou um copo com água e com ele na mão sentou-se ao sofá.
Agora eu reparava que o meu pijama era quase duas vezes o tamanho de Rosa, mas serviu para o fim destinado.
Terminei minha conversa ao telefone.
- Dormiu bem? Está com fome? Perguntei para despertá-la do quase transe do sono que ainda continha.
- Estou bem, se é que posso dizer isto. Eu briguei com meu irmão ao qual amo demais. Lágrimas despontaram em seus olhos e correram por toda a extensão de seu rosto.
Sentei-me ao seu lado e peguei sua mão.

Saga Derinarde II – Capítulo 140
- Seu irmão te ama muito também e discussão ás vezes faz bem, basta escutar e argumentar corretamente. O que não pode é abandonar a conversa e sair de casa. Volte lá e termine a conversa. Aposto como ele só quer o seu bem.
- Nós já enfrentamos muitas coisas, nós já lutamos bastante e ás vezes eu preciso desabafar, ás vezes eu preciso fugir.
Ela estava se defendendo de algo que eu não a acusara, mas já que foi para este lado resolvi fazer a defesa de Vtec.
- Seu irmão está preocupado com essas porcarias que você anda usando. Que alívio você acha que isto vai lhe trazer. Alguns minutos de prazer? Só isto que precisa?
- Você não entende pelo que passamos? Ela argumentou.
- É verdade não entendo pelo que vocês passaram como não entendo pelo que você quer passar. O risco que você corre é infinitamente maior que o prazer passageiro que você sente com esta porcaria.
E continuei.
- Sim vocês foram fortes, vocês passaram muitas necessidades e barreiras, pelo pouco que sei, mas agora que isso passou você acha certo abandonar? Você acha certo fugir por uma mísera grama de cocaína?
- Mas foi isto, uma mísera grama. Rosa falou sob soluços.
- O perigo não está na quantidade ou no tipo de droga que usa. Está no meio. Está com quem consegue.
- A violência que rodeia isto é sem controle, é sem limites e a preocupação de Vtec é esta.
- Você que sempre cuidou dele e ele que sempre cuidou de você têm em comum esta possível perda. Por isto a briga, por isto esta fragilidade.
- A nossa instituição está crescendo e eu vou precisar muito de sua ajuda. Posso contar com você? Falei olhando em seus olhos enquanto levantava seu rosto, com meus dedos em sei queixo.
Rosa assentiu com a cabeça.
- Eu não ouvi. Posso contar com você? Insisti.
- Sim. Eu não farei mais isto. Confirmou.
- Muito bem. Suas roupas foram lavadas e já estão secas. Vista-se que eu vou leva-la. Você ficou ridícula no meu pijama. Rimos enquanto ela abanava os braços com as mãos escondidas nas longas mangas.
Nós nos abraçamos e ela foi para o quarto se vestir.

Saga Derinarde II – Capítulo 141
Após deixar Rosa á um quarteirão da base, não queria riscos chegando muito próximo, voltei para casa. A noite caia e era hora do MEIOPARDO entrar em ação.
Fui dar uma checada na casa do Morumbi, mas nenhuma atividade acontecia lá. A Pick-up estava no mesmo lugar e uma lona plástica cobria a caçamba escondendo o que nela havia.
Fui para o centro e no quarto de hotel de Arthur Derinarde tinha movimento. A janela aberta e a luz acesa denunciava movimento. Na distância e altura que eu me encontrava percebi que Arthur fazia sexo com uma garota.
Após terminar a sessão a que se empenhava a garota foi até a janela com o cigarro na boca.
Arthur deu lhe um punhado de dinheiro e ela começou a se vestir.
Ele também se vestiu e ambos saíram para a rua. Ela para um lado e ele para outro.
De longe acompanhei Arthur e o mesmo fez contatos com outras pessoas, mas não se ateve á nenhum.
Não iria rolar nada que pudesse interessar e resolvi abandoná-lo no mesmo instante que Fernanda me alertava sobre uma confusão nas imediações.
Era apenas briguinha de bar e logo a policia dominou a situação.
Atendi outros dois casos de assalto e os impedi. No geral a noite estava calma pelas regiões que eu passava.
Voltei para a base e repassamos tudo que iriamos entregar para Elen.
Havia um grosso dossiê o qual relemos e atualizamos.
O clima entre Vtec e Rosa era bom e tudo transcorria como deveria, ou como eu achava que deveria.

Saga Derinarde II – Capítulo 142
Na manhã seguinte voltei á minha rotina e fui para a academia.
Estranhei o fato de não ver o carro dos seguranças, mas não fique preocupado, alguma troca deveria estar acontecendo.
Eu fiz minhas séries e entre exercícios e sauna acabei ficando muito tempo na academia.
Fui para casa e ao avistar uma das ridículas sacolas que Fernanda utilizava decidi ligar para Elen.
- Elen?
- Sim.
- Deri.
- Diga.
- Bom dia, tudo bem com você?
- Não enrola. Para que me ligou?
Simpatia em pessoa.
- Já tenho o dossiê. Levo aí para você?
- Não. Aqui não. Deixe-me ver... Leve no escritório da Dra. Márcia Taiacolo e entregue á Rabelo.
- Está bem farei isto então, um ótimo dia para você e...
Pinnn, pinnnn, pinnnn a linha havia sido desligada.
Peguei a sacola que continha o dossiê e desci para a garagem.
Amarrei a sacola na garupa coloquei o capacete e saí.
Constatei que os seguranças não estavam em seus postos e após rodar cinco á dez minutos. Nenhuma moto ou carro me seguia.
Elen havia atendido meu pedido, que fazia parte do acordo.
Parei em frente ao prédio do consultório da Dra. Márcia, pois ali era permitido estacionar motos e subi para o oitavo andar.
Já no andar, ao abrir a porta do elevador o atencioso Salvador Rabelo se aproximou.
- Quiriduuu, não vou dizer que é surpresa porque a Elen já me telefonou, você tem algo para mim?
Levantei a sacola com o dossiê.
- Tenho sim Rabelo, esta sacol...
- Não se mexa. Não se mexa, eu não posso receber isto, espere aqui, não se mexa... De costas se afastou até uma pequena porta de armário.
Voltou com uma sacola de papel da M.Officer.
- Ponha isso aqui dentro. Disse abrindo a sua sacola.

Saga Derinarde II – Capítulo 143
- Parece que essa sua sacola passou na boca da vaca. Está suja e amassada.
Ri da situação e não via a hora de contar para Fernanda, mas realmente, a sacola, estava muito amassada.
A cena foi interrompida pela Dra. Márcia que saía de sua sala.
- Rabelo, houve algum encaixe no horário de Sabrina? Deri. Você veio nos visitar?
- Foi só uma passagem, mas já estou de saída. Eu respondi ao lhe cumprimentar.
Márcia olhou para Rabelo aguardando uma resposta.
- Não, o horário está vago.
- Então, Deri, se não tiver algo inadiável, podemos conversar. Márcia pegou minha mão antes mesmo que pudesse responder e me conduziu á sua sala.
Já em sua sala, naquele enorme e confortável sofá, Márcia começou a falar.
- Depois de suas inovações você não voltou mais... Encontrou as suas respostas?
- Sim, a maioria delas. Ás que ainda não obtive é questão de ordenação, como você mesmo me disse.
- Ótimo. Muito bom mesmo. Você tem outras inovações em breve, está receoso, ansioso ou algo assim?
- Não. Por enquanto não. Ainda está um pouco longe. Mais de seis meses, então não me preocupo com isto agora.
Nossa conversa na verdade foi uma sessão completa de uma hora, mas não fiquei constrangido por isso e eu respondi tudo que foi perguntado.
Terminamos á sessão e saí para o elevado.
Rabelo não estava na recepção quando sai, mas ao fechar a porta do elevador, comigo dentro, o avistei em um canto da sala. Estava me dando tchauzinho com as pontas dos dedos e um sorriso nos lábios.
De lá voltei para casa, almocei um delicioso omelete de gorgonzola que eu mesmo preparei e decidi fazer algo diferente.
Algo muito diferente
Decidi testar a popularidade do MEIOPARDO.
Sim, á luz do dia.
Estava sem seguranças, por que não?
Vesti a roupa, mas sem a cabeça. Fiquei muito parecido com um motociclista em macacão de couro, não chamaria muito a atenção.
Fui até a base e á uns vinte metros de lá estacionei a moto e comecei á andar na calçada.

Saga Derinarde II – Capítulo 144
Percebendo que estava invisível á olhares curiosos, entrei rapidamente no portão baixo que estava apenas encostado.
Desviei dos inúmeros montes de fezes falsas que Vtec rearranjava diariamente no quintal e me alinhei á soleira.
- Alguém abre a porta para mim?
Esperei por quase dois minutos e não obtive resposta.
Claro, não haveria ninguém á esta hora. Estariam em suas atividades do dia á dia.
Coloquei o capacete no chão e resolvi sondar as possibilidades de entrada.
Lá atrás, onde ficava a Blackbird, coberta por uma lona plástica, avistei uma janelinha pequena entreaberta. Era apenas uma vigia, mas não haveria condições físicas para fazer a curva necessária para um salto de entrada.
Eu me alinhei á ela e saltei me agarrando em sua beirada.
Percebi que era do modelo basculante e a abri em um ângulo de quase noventa graus, suficiente para que eu passasse.
Já lá dentro percebi que era um banheiro e que alguém havia tomado banho á pouco tempo, pois a umidade ainda pairava no ar em forma de vapor e a temperatura era alta.
Passei a porta e no corredor que seguia para os quartos vi marcas de pés úmidos no chão.
Pés pequenos, não que Vtec tivesse uma estrutura grande, mas imaginei que seria de Fernanda ou Rosa.
Caminhei até metade do corredor e da primeira porta visível surgiu Rosa.
Rosa estava lá de pé na minha frente e vestia uma toalha de banho na cabeça.
Apenas isto. Uma toalha de banho na cabeça.
Não houve susto em ambos os lados e, da mesma forma que ela admirava minha roupagem de MEIOPARDO eu admirava sua pele branca e seu corpo curvilíneo.
Ficamos muitos segundos á nos admirar e não distingui se os motivos eram diferentes.
Minha atenção somente foi retomada quando números começaram a correr em minha mente, por nano segundos. Não sabia o que significavam, mas acordei do transe que aquela paisagem sugeria.
Eram as probabilidades dos problemas.

Saga Derinarde II – Capítulo 145
Problemas com Vtec, com Fernanda, com a própria Rosa, comigo e principalmente com o nosso projeto.
- Errei de vir aqui esta hora. Vá se vestir. Falei me encaminhado para os andares inferiores.
Desci os dois andares e me certifiquei que os equipamentos estavam ligados. Fiz algumas pesquisas rápidas e logo percebi a presença de Rosa, na sala, só que desta vez vestida.
- Tivemos informações que chegou uma encomenda aérea para Marcio Nonato, hoje.
- Veio da Guatemala e pesa um quilo e meio. Achamos que é o dispositivo que faltava.
Rosa falou profissionalmente como se nada tivesse acontecido á minutos passados.
- Ainda não retiraram no aeroporto? Perguntei.
- Não. A tela três está transmitindo ao vivo a câmera de segurança do aeroporto. Este balcão aqui é o de entrega de encomendas. Á direita é o sistema de carga da CIA aérea. Veremos a pessoa no momento da entrega. Rosa apontava na tela, ora a câmera, ora o sistema.
- Muito bem. Você ficara monitorando? Olhei para seus olhos, mas só consegui ver a imagem do seu corpo desnudo na minha frente.
- Fico sim. Se alguém aparecer para retirar eu o aviso imediatamente. Rosa falou com voz firme.
Sai da sala onde o perfume de Rosa tomava conta.
- Estarei conectado. Falei ao subir a escada e sai.
Desta vez utilizei a porta, uma vez que a chave estava na fechadura.
Abri o pequeno portão e fui pata o fundo do quintal. Descobri a Blackbird, coloquei a mascara completando a vestimenta de MEIOPARDO.
Coloquei também o capacete e dei a partida.
O som de seu ronco parecia “Spring” de Vivaldi.
Subi e engatei a primeira marcha. Soltei bruscamente a embreagem fazendo com que a Blackbird rabeasse e posicionei na direção do estreito corredor.
Passei rapidamente e já estava na rua. Algumas curvas e já acessava uma movimentada avenida. Pequei o acesso para Avenida Tancredo Neves e rumei em direção á zona leste (ZL) de São Paulo.
Não me ative á transito ou sinais de transito, mas não coloque ninguém em risco, pois tinha uma visão privilegiada e cálculos exatos para as manobras que executava.
Em alguns minutos estava no extremo leste da ZL, passei por Cidade Tiradentes e fui além. Santa Etelvina VIII ficou para traz. Saturnino Pereira e finalmente Iguatemi.
Larguei a Blackbird em um beco e caminhei entre duas vielas. Dei uma pesada em uma porta a qual não resistiu e foi abaixo.
Dentro dois homens assustaram e em movimentos rápidos pegaram suas armas.

Saga Derinarde II – Capítulo 146
Para o primeiro: Fui mais rápido que ele e dei-lhe uma tapa no gogó. O mesmo perdeu o ar e não se preocupou mais com a arma, estava desesperado para retomar o folego e respirar.
Para o segundo: Cheguei á ele quando empunhava a arma, com um chute certeiro quebrei-lhe o pulso fazendo com que a arma voasse longe.
Agarrei este com o pulso quebrado pelo pescoço:
- Você que o Miguel Pólvora? É você? Eu o levantava do chão pelo pescoço.
- Migué Pórva sou eu. Quem qué sabê? Apesar de desamado e pendurado pelo pescoço o rapaz era ainda valente.
- Eu sou o MEIOPARDO e vim avisar que você está de partida. Vai pegar as suas coisas e vai embora assim que eu te soltar. Estava tentando intimidar o corajoso.
- E tu sabe quanto eu já matei? E assim que me sortá vô atrais de tu também. Parece que a coisa ia ser dura.
Percebi quando o primeiro engatilhou a arma tendo se recuperado da falta de ar.
Ele deu três tiros.
Três tiros certeiros que perfuraram o tórax.
O sangue começou a jorrar e logo a boca também se encheu de sangue e antes de emitir qualquer som, Migué Pórva caiu morto no chão de terra batida.
O homem que atirou não acreditou. Ele olhou para o lado e me viu, mas ainda assim não acreditou.
- Migué? Homi? Num foi purquerê. Eu atirei foi é nele, mas ele saiu da frente. Migué? Morre não.
Quis o destino assim. Imaginei.
Deixei o barraco e voltei pelas vielas que cheguei.
A Blackbird estava me esperando.
Liguei e saí em disparada.
No caminho de volta recebi o chamado de Rosa e a imagem retornara em minha mente.
- Tem uma mulher no aeroporto e está retirando a encomenda.
- Ok, entendido.
Apesar de estar na ZL, próximo ao aeroporto, sei qual será o destino. Respondi á Rosa.
- Prefiro esperar lá no Morumbi. Estou seguindo para lá.
E foi o que fiz.

Saga Derinarde II – Capítulo 147
A Blackbird voou pelas Avenidas Aricanduva, Alcântara Machado, Radial e Vinte e três de Maio.
Os radares fotográficos do caminho devem ter registrado uma série formidável de minha passagem.
Em minutos estava no Morumbi.
Deixei a Blackbird á alguns quarteirões da casa de Márcio Nonato. Caminhei rapidamente e percebi que o poste que fica na frente da casa não seria o melhor lugar, pois durante o dia eu fico muito visível nele.
Encontrei outro que fica entre árvores, ideal para camuflagem diurna.
Observei que a movimentação na casa ainda era tranquila. Dois seguranças no quintal e nenhum movimento aparente no interior.
A pick-up continua lá, coberta e imóvel.
Demorou quase uma hora para uma RAV4, da Toyota, encostar-se à frente do portão. Do carro saiu uma garota carregando pastas, bolsa, sacola e uma caixa recém-retirada no aeroporto.
A moça era meio atrapalhada e com todas aquelas coisas para carregar e ainda por cima tinha que segurar a chave para fechar o carro...
Ela não dominava muito á “logica” ou tinha algum tipo de dislexia. Por fim colocou a caixa sobre o teto do carro e a sacola no capô da frente. Apontou a chave para o carro, com coisa que fizesse alguma diferença, e apertou o botão de travar.
O carro piscou as lanternas confirmando o travamento e ela soltou um desabafo.
- Viu!
Ela pegou a sacola que colocou sobre o capô e foi para o portão apertando o botão do interfone.
Eu ouvi quando ela falou seu nome para alguém que atendeu internamente.
- Ivone Stepansil.
O portão imediatamente destravou. Ela o empurrou e entrou, fechando em seguida.
Em um salto eu estava ao lado do carro, com a caixa nas mãos. Ivone esquecera sobre o teto.
- Rosa fotografe isto. Falei enquanto olhava o remetente na caixa.
O nome era Sheyla Guaba e vinha da cidade da Guatemala.
Percebi um barulho no portão e imediatamente recoloquei a caixa sobre o teto do carro e saltei para o poste.
Ivone que havia esquecido a caixa voltou para busca-la.
Ivone entrara no interior da casa e nada aconteceu durante as próximas duas horas, quando ela saiu da casa entrou em seu carro e foi embora.
Percebi que nada aconteceria naquele dia e fui embora também.

Saga Derinarde II – Capítulo 148
Levei a Blackbird para a base, cobri-a com a lona e entrei. A porta já havia sido aberta por Rosa.
Desci ao subsolo e encontrei Rosa tomando café.
- Está quentinho, na garrafa, acabei de fazer. Ela apontou para a mesinha onde tinha xícaras e uma garrafa térmica.
Tirei a máscara e servi-me de café.
- Olha o que encontrei. Rosa disse enquanto mostrava em uma tela de computador varias cartas manuscritas e em outra tela a foto da caixa recém-chegada da Guatemala.
- As letras são idênticas. Foi a mesma pessoa que escreveu isto. Foi a Sheyla. Sheyla Guaba é Sheyla Castro. E o que mais você descobriu?
- O local em que a carta foi colocada no correio é a mesma região em que Sheila foi presa há seis anos. Acho que ela tem lá como um quartel general. Rosa era uma brilhante pesquisadora.
- O MEIOPARDO fará uma viagem internacional. Pensei em voz alta quando na escada surge Vtec.
- Isso dará muito trabalho. Comentou ao descer o último degrau.
- Vtec, que bom que chegou. Nós temos como colocar uma câmera-vigia na casa do Morumbi? Perguntei.
- Isso é bem mais fácil. Respondeu abrindo uma gaveta e tirando de lá uma minúscula câmera.
Vasculhou sua bancada e encontrou algo parecido com uma bobina de fios, uma placa e alguns pedaços de fios.
Sentou-se e começou a trabalhar.
- Por que você acha que seria difícil mandar o MEIOPARDO para a Guatemala? Perguntei enquanto Vtec trabalhava.
- Comunicação. A comunicação seria muito difícil. O seu eco localizador emite apenas um bip enquanto os comandos de liga, as nossas conversas de rádio, são feitos através de antenas.
- E se tivéssemos um telefone via satélite? Perguntei sem saber se era possível.
- É possível. É possível. Veja esta câmera. Vtec entregou a câmera em minhas mãos, mas ela tinha uma série de penduricalhos.
- Estes fios em forma de gancho ligam na rede elétrica? Encaminhei-me até uma tomada na parece e introduzi os fios.
Não percebi nada.
Neste momento Vtec começou a digitar em seu computador e rapidamente a imagem, da sala em que estávamos, apareceu em sua tela.
- Eu não duvido nada que você faça o comunicador. Preciso instalar esta câmera. Tchau. Falei e fui embora.

Saga Derinarde II – Capítulo 149
Fui correndo e pulando até a casa do Morumbi. No alto do poste posicionei a câmera e com os ganchos dos fios liguei-a na rede elétrica.
- Então, base? Vê a imagem?
Enquanto recebia a resposta afirmativa, vasculhei o chão e avistei uma garrafa quebrada.
Peguei o grande caco. Acertei as beiradas batendo no chão e fiz uma espécie de proteção para a câmera.
Tudo arrumado eu fui embora. A casa agora era monitorada.
Já em casa e sem a roupa especial liguei para o celular da Elen.
- Elen? Deri. Vou direto ao assunto, como você gosta. Preciso fazer uma viagem para a Guatemala e tem que ser esta semana.
- O quê você vai fazer na Guatemala? A Fernanda Galindo está por trás disso?
- Não. Nada de Fernanda Galindo. Vou resolver aquele problema que eu havia falado que poderia atrasar a cirurgia.
E continuei.
- Vou na quarta e domingo estarei voltando.
- Não tenho como impedi-lo, né?
- Não.
- Quer um segurança?
- Não.
- Cuide dos aparelhos e traga-os de volta.
- Obrigado por se preocupar comigo. Tchau. E desliguei.
Feito.
Liguei para uma operadora de turismos e reservei as passagens de ida e volta para a Guatemala.
Nos dias seguintes não notamos nenhum movimento na casa do Morumbi e a pick-up continuava imóvel.
Fiz algumas rondas noturnas, impedi assaltos aqui e ali, mas nada de grande porte.
A quarta-feira chegou.
Chegando á base eu encontrei Fernanda e Rosa sentadas no sofá tomando café e conversando.
 Desanimadas.

Saga Derinarde II – Capítulo 150
- O que houve? Perguntei curioso.
- A base está fedendo. Anunciou Fernanda ao mesmo tempo em que Rosa fazia mímica segurando o nariz e abanando a mão.
- Explique.
- Faz três dias que Vtec não sai de lá. Está como um louco trabalhando no comunicador. Comentou Rosa.
- Eu vou lá falar com ele. No mesmo momento que disse isso um grito abafado foi emitido lá embaixo.
- EUREKA!!
- Não precisa mais. Acabou. Fernanda se levantou do sofá e foi em direção á escada que leva ao subsolo.
Rosa e eu á seguimos.
Chegando lá embaixo encontramos Vtec radiante. Fedendo mesmo, mas radiante.
Ele não parava de falar.
- Esta cinta tem uma sequencia de placas onde fica todo o aparelho, o comunicador, o carregador, a bateria e a antena. Ele se comunica diretamente com o seu wireless. Não precisará mais dos óculos.
Peguei a pequena cinta nas mãos e comecei a medi-la no corpo.
Muito pequena para a cintura, já havia percebido de chegada. Talvez na coxa, no braço.
- No pescoço. A cinta fica no pescoço. Este fio ficará para fora, entre a roupa e a máscara. É a antena. Vtec explicava os detalhes.
- Tire a roupa. Fernanda, linha e agulha. Vtec estava querendo finalizar sua obra de arte.
Entreguei a roupa á Vtec que á virou do avesso. E com a linha e agulha que Fernanda trouxe começou á costurar uma fita, desde o pé, subindo por todo o corpo até o pescoço, onde terminava e juntar-se-ia á máscara.
Ao terminar, tirou a roupa do avesso e me devolveu, dizendo.
- Esta é uma fita magnética e gerará energia o suficiente para a bateria do comunicador. Coletará a energia estática dos movimentos do seu corpo transformando em energia elétrica.
Definitivamente aquele cara era um gênio.
Tudo pronto eu avisei que estava de partida.
Fui para casa peguei a malas e fui para o aeroporto.
Já no aeroporto eu despachei a mala, achei mais seguro que leva-la na mão, assim não passaria no raio-X, e embarquei.

Saga Derinarde II – Capítulo 151
Fizemos uma escala em Brasília e desembarquei em Quito, no equador, onde faria a baldeação de nave e companhia aérea. O Brasil não tem voo direto para a Guatemala.
Pouco mais de quarenta minutos e já estava embarcando novamente.
Outro trecho tranquilo sobre o Pacífico e desembarquei no Aeroporto Internacional La Aurora na cidade da Guatemala.
Peguei um taxi e mostrei ao motorista o endereço do hotel para qual eu fiz reserva.
Nós fomos em direção á Mixco pela Calzada Roosevelt até a Avenida Quarenta e um “A”.
O taxi andou uns cento e cinquenta metros nesta avenida e parou em uma casinha roxa que nada parecia um hotel.
- O quê há. Perguntei ao motorista.
- Llegamos. Ele respondeu entendendo mesmo que eu.
- Dónde está el hotel?
- Es la primeravez que vienes aqui? Es un hotel que se precie. Se obtiene la clave aqui, y luego ir ali.
Ele falou gesticulando muito e explicando que era um tipo apart-hotel e que eu deveria pegar a chave naquela casinha e me dirigir ao prédio da frente, que nada parecia hotel e sim um prédio residencial.
- Grácias, grácias. Paguei o táxi e de posse de minha mala fui para a recepção da casinha roxa.
Mostrei meu passaporte e o garoto da recepção consultou seu computador.
Entregou-me uma ficha de turista a qual preenchi rapidamente.
Feito isto o garoto me entregou as chaves, um livreto com as normas de funcionamento do hotel e me acompanhou até o outro lado da rua.
Entramos e fomos para o sexto andar, apartamento sessenta e oito.
O garoto me mostrou o apartamento com um quarto, banheiro, cozinha e sala. Tudo muito bem mobiliado.
A geladeira estava abastecida com frutas, água, queijo e cerveja.
Na saída dei um trocado para o garoto e imediatamente coloquei a roupa do MEIOPARDO.
Fiz o movimento com a perna e em alguns segundos percebi que nada aconteceu.
Fiquei preocupado.
Mas a preocupação cessou rapidamente, pois percebi que estava funcionando.
- Consegue me ouvir, base? Perguntei para ninguém.
- Base? Esta me ouvindo?
- Base? Base?

Saga Derinarde II – Capítulo 152
- Sim estamos. Deri. Deri. Pare de falar e ouça. A voz de Fernanda estava diferente, parecia ter eco.
- Devido à distância e a comunicação via satélite temos um DELAY de sete segundos, somados á isto a volta. O final de sua pergunta pode chegar á quatorze segundos do começo da resposta. Entendido. Finalizou Fernanda.
- Entendido. Estava tudo explicado. Eu só precisaria me adaptar àquela lentidão.
De resto parecia tudo funcionar bem. Como era final de tarde e logo mais estaria rondando a região, resolvi tomar um banho, pois fazia calor, muito calor.
Dobrei a roupa do MEIPARDO e coloquei na geladeira. Não sei de onde tirei essa ideia, mas parecia legal colocar uma roupa gelada naquele calor.
A noite caiu. Mas o calor não deu tréguas.
Eu já tinha na mente os lugares que deveria ir, pois com o mapa na mão toda a viagem de avião, já tinha uma imagem fotográfica da região.
Peguei a roupa da geladeira e á vesti. Ficou muito bom, fresquinha.
Desci pelas escadas e já no térreo pulei uma janela basculante que percebi ficar sempre aberta.
Sai do prédio e segui para a Boulevard Liberación até a rua de acesso á Calzada Mateio Flores, caminhei até bem perto da Igreja San Jose del Buen Consejo.
Uma pensão com um corredor comprido era o meu destino. Entrei no corredor e a cada porta dizia o número e deixava o meu ouvido trabalhar.
Ao chegar ao último voltei para o primeiro e fiz minha primeira pergunta:
- O que temos? Segundos que pareciam eternidades se passaram até que veio a resposta.
- Seis, oito e onze vazios.
- Dois, três e sete, programa infantil na tv.
- Um, quatro, cinco, nove e dez possíveis. Passe novamente.
Repeti o procedimento para este cinco quartos e desta vez procurei por frestas que pudesse ser observado o interior.
- Então?
- Um e nove, homens.
Neste momento ouvi uma das portas sendo destrancadas e antes da chave dar uma volta inteira eu já estava sobre uma laje vizinha que dava plena visão do corredor.

Saga Derinarde II – Capítulo 153
- Espere. Falei enquanto aterrissava.
- Cinco não, tem pássaro. Não entendi o porquê, mas Vtec falou que terrorista não tem pássaro. Fernanda não sabia o que estava acontecendo deste lado e continuou com o relatório.
Um rapaz saiu da porta de número onze parecendo ter bebido um pouco além.
Usava camiseta regata e calca camuflado tipo exército. Estava de coturno e ao sair deixou a porta aberta.
Uma garota de sutiã, Terminando de vestir uma camisa saiu atrás dele chamando-o.
- Guaba. Espérame. También lo haré.
A garota alcançou o rapaz e puxou-lhe a camiseta.
Percebi seios. O garoto não era garoto, era garota e melhor, era Sheyla Guaba ou Sheyla Castro.
- Base reconhecimento. Olhei fixamente para a face de Sheyla que apesar da escuridão dos arredores uma luz de um fio pendurado iluminava-a.
Sheila beijou calorosamente a garota e a largou voltando-se para a rua e praguejando.
- Nadie se mete com mi esposa.
- Cem por cento afirmativos. É ela. A voz de Fernanda confirmara o que eu já sabia.
Com os olhos acompanhei Sheyla até o final da rua.
Percebi que era seguro descer e por entre os vãos de muros e sobras eu comecei a segui-la.
Virando a esquina vi que ela entrou em um bar, constatei mais tarde que era uma casa de tolerância, um puteiro.
Aos gritos Sheyla entrou no tal bar.
- Dónde está esa perra.
Eu não via o que estava acontecendo, mas ouvia com clareza.
- Qué quieres de mí? Quieres ver lo que apeló a su esposa, perra. A outra retrucava com ela.
- Ven acá y te mostraré todo aquel que quiera. Sheila estava furiosa e três tiros foram disparados.
Vi Sheyla sair pela porta, guardar uma arma na cintura e dizer:
- Nadie se mete con lo que es Sheyla.
E tomou o caminho de casa.
Em um local com menos iluminação saltei sobre ela.



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