Saga
Derinarde II – O Inicio
Estava eu,
a caminho do trabalho, na região da paulista, quando, atingido por uma perua
Kombi, fui ao chão.
A perua:
Uma perua Kombi, branca, da empresa transbraçal, transportando trabalhadores,
da pista da esquerda entra para uma entrada de estacionamento á direita. Prédio
do banco central na região da avenida paulista.
Eu: Sobre
uma motocicleta Honda, XLX-250R, vermelha, na pista da direita, com intenção de
seguir em frente atravessei a tal perua, sem a mínima chance de desviar ou
frear.
Ao chão,
consciente, não percebia mobilidade nas pernas. Não percebia a gravidade da
contusão.
Levado ás
pressas para o hospital mais próximo, hospital 9 de Julho, coincidentemente o
hospital de primeira de minha natalidade, nasci neste hospital, não imaginava
que ali teria minha segunda chance de vida, a segunda natalidade e mais que
isto, a primeira imortalidade.
Em um
projeto pioneiro, médicos e cientistas desenvolviam articulações mecânicas e
robóticas, e dado minha situação de acidentado, fui submetido ao tratamento.
Com as
articulações do pé e tornozelos comprometidos nada mais restava a não ser a
reconstrução sintética de tais partes afetadas.
Entre a
possibilidade de amputação e a reconstrução mecânica só restava uma opção, a
qual me agarrei com total confiança ao especialista eu me reconstruía.
Depois de
seis horas de cirurgia não imaginava a quantidade de metal que compunha meu
corpo.
Dos quase
30 ossos que compõe o pé, 18 foram compostos por uma nova liga á base de
nióbio, pensava ser titânio até pouco tempo atrás, mas fui informado que o
nióbio fornecia uma liga mais leve e resistente que o titânio.
O
tornozelo, ah o tornozelo, que obra de arte. O tornozelo humano passou á
segundo plano perto daquela obra de arte esculpida da mesma liga de nióbio.
Como não
tive lesões nos nervos e músculos, os mesmo ainda foram aproveitados para
movimentar aquela obra de arte.
Tudo no
lugar, quatro meses depois, estava correndo e pulando como nem mesmo antes
fazia.
Saga
Derinarde II – Depois do primeiro ficou fácil
Ficou
fácil.
Recuperado
só restavam as brincadeira e piadas dos colegas.
Vai graxa
ai?
Faz barulho
quando faz sexo?
Se tomar
banho enferruja?
Fora isso
que era muito bem vindo, pois era uma demonstração de afinidade e amizade, tudo
corria bem.
Impressionante
como a adaptação foi rápida e cada vez melhor ficava.
Vida normal
e nem lembrava que tinha peças não naturais no corpo.
Queria o
destino sofri um novo acidente.
Mesma moto,
quatro ou cinco anos depois, sobre o grande viaduto do complexo Maria Maluf,
voltando do serviço, lá pelas nove ou dez da noite, ao desviar de um carro
parado sobre o viaduto, o desvio não foi suficiente.
Estava já
próximo do veículo parado, quando o motorista abre a porta e inevitavelmente
pego em cheio.
A porta divide
meu joelho em duas partes iguais.
Chamado
equipe de bombeiros sou removido a um hospital em Pinheiros ou Lapa, não lembro
muito bem.
Bem não
importa o hospital porque coincidentemente a equipe que me atendeu era a mesma
da vez anterior.
Vim, a saber,
depois que nenhuma coincidência aconteceu, eles estavam lá de propósito, pois
foram alertados imediatamente após minha entrada á unidade.
Recebi um
joelho do mesmo material que o tornozelo, mas desta vez alguns nervos foram
substituídos também com ligas sintéticas.
Outros
quatro meses de fisioterapia e o esquecimento se encarregaram de me tornar
igual a qualquer outo.
Passei a
encontrar o pessoal da cirurgia com mais frequência e fazer parte de um grupo
especial de estudo, pois agora tinha alguns componentes que era de interesse de
medicina e robótica.
Após algum
tempo, uns três anos, concordei em acoplar um coletor de dados em meu
corpo. Um tipo de chip de memória que
coletava informações sobre as articulações, tanto as artificiais quanto as
naturais.
Bem veja
que comparação, tinha um tornozelo esquerdo e um joelho direito artificiais que
muito bem poderiam se comparados com o tornozelo direito e joelho esquerdo
naturais.
Saga
Derinarde II – III Pela ciência
Com as
rotinas periódicas me acostumei com o pessoal e principalmente com os
equipamentos.
Era comum
eu levar para casa equipamentos que ficavam amarrados na cintura e fazia
leituras das mais diversas.
Batimentos
cardíacos, quantidade de exercícios físicos e passos e quantidade de vezes que
dobrava os joelhos e saltava e corrida e, e, e...
Passado
algum tempo nem lembrava que carregava alguns quilos de fios e equipamentos.
Outros
chips foram implantados, na coxa, no abdome, nuca e cérebro.
Achava
legal, pois á cada implantação, fios e equipamentos externos eram eliminados.
Passados
quatro anos tinha 18 implantes de sensores e outros estimuladores sensoriais
que ajudavam nos exercícios físicos, pois, eliminavam dores e me faziam mais
resistente.
Nesta época
não imaginava onde iria chegar, porém mesmo que soubesse, não acho que seria um
limitador, pois os resultados eram cada vez mais estimulantes.
A não ser
as pessoas de um circulo muito limitado de colegas, pouca gente sabia das
condições a que me submetia.
Bom para os
estudos, bom para mim, que pouco era assediado pela imprensa ou curiosos.
A
tecnologia implantada era tão eficiente que baterias ou outras formas de
acumuladores ou fornecedores de energia para os chips não eram necessários,
bastando apenas a energia estática gerada pelo próprio organismo.
Passado
algum tem meus resultados se justificava á uma remuneração, bastando-me apenas
executar exercícios físico e atividades biométricas para coleta de dados do
estudo.
Saga
Derinarde II – Capítulo 004
Nos dias de
hoje...
Acordei
cedo, como de costume, tomei um banho e na cozinha preparei uma grande tigela
de cereais com leite.
Enquanto
consultava as notícias pela internet, devorava o preparado com a mesma
velocidade que os olhos percorriam a tela.
Saciado a
fome, de alimentos e de notícias, saí em direção á academia que fica á poucas
quadras de casa.
Por ser um
bairro muito arborizado, andar de manhã cedo é algo muito prazeroso. Pássaros
fazendo algazarra nas árvores e flores coloridas com seu perfume exalado são
detalhes indispensáveis na paisagem.
Ao chegar á
academia e para fechar com chave de ouro o trajeto de casa á academia, sou
recepcionado por um largo sorriso de Gleide Gleidinha.
- Bom dia
Deri. O David passou ontem á noite aqui e disse que chegaria mais tarde, hoje.
Deixou seu roteiro de exercícios para a semana. Tome aqui.
- Bom dia
Gleide. Espero que seu dia seja tão bom quanto o meu que começou.
David
Siqueira é meu personal trainer já há uns dois anos e devo meu condicionamento
físico á ele que sempre me estimula a dar o meu melhor de mim, seja físico ou
mental.
Ao
verificar o roteiro de exercícios percebi não haver sequer um exercício
muscular, somente aeróbico, o que me causou estranheza, porém sendo ele meu
orientador há tanto tempo, deve saber o que está fazendo, pensei.
Um cara de
vinte e oito anos, como eu, teria que ter um físico sempre afinado, e aeróbico
não tem este objetivo.
Fui para a
esteira do fundo e comecei minha série.
- Bom dia
Eduardo, bom dia garota.
Eduardo
Soares já conhecia da academia e ele esta já bem ofegante demonstrado que
estava há quase uma hora na esteira e a garota ao lado já havia visto algumas
raras vezes, mas nunca havia falado.
- Elen
Perez, bom dia. Respondeu a garota.
Elen fazia
uma caminhada rápida na esteira e somente abriu um rápido sorriso ao dar bom
dia, depois continuou com foco em sua caminhada.
Passaram-se
uns cinco minutos e Eduardo terminou sua serie e saiu para o banho.
Achei de
bem iniciar uma conversa com Elen, pois eu ainda não estava ofegante o bastante
e como ela só caminhava não seria nenhum sofrimento conversar.
- É difícil
ver você por aqui neste horário. Eu venho todos os dias e é raro te encontrar.
- Eu venho
aqui só quando quero te ver. Retrucou Elen sem ao menos olhar para o lado.
Neste
momento eu tropecei e quase caí da esteira, mas me recompus á tempo, porém ela
percebeu.
Saga
Derinarde II – Capítulo 005
Elen
desligou sua esteira, enxugou a testa, virou para mim e disse:
- Sou
diretora do centro avançado de robótica e precisamos conversar. Termine sua
serie e nos encontramos ás oito horas no refeitório.
E saiu para
á área das duchas.
Mulheres.
Vou te dizer. Mulheres.
Se ela
tivesse me ignorado ou dado uma simples resposta de que só estava se preparando
para o verão, mas não...
Fiquei uma
hora e meia nos exercícios, quer dizer meu corpo ficou, pois minha cabeça não
parava de ecoar: “centro avançado de robótica”, “centro avançado de
robótica”...
Terminado
minha série, ducha tomada, me dirigi ao refeitório, para meu anunciado
encontro.
Ao chegar
ao refeitório encontrei outra Elen. Sem a roupa de treino, agora socialmente
elegante e muito mais alta sobre aqueles incríveis e pontiagudos saltos, com
impecável, mas sutil maquilagem, enormes argolas nas orelhas.
Estendeu
formalmente a mão.
- Elen
Perez do departamento avançado de robótica e o que tenho para falar com você é
muito sério.
Por que não
mandaram Saddam Hussein falar comigo, teria sido mais natural e menos frio que
essa mulher.
- Eu sou
todo ouvidos.
Na verdade
mais “fígado” que ouvidos, mas não quis me expor deste jeito.
- Você tem
dezoito censores em seu corpo e semanalmente você scaneia-os e transfere a
informação para o “Centro”.
Até aí tudo
bem, uma rotina já há mais de três anos.
-
Detectamos na última coleta, ontem, que tem alguma coisa que precisa mudar e
você seguirá comigo, agora, para o Centro.
Não entendi
ao certo se deveria bater continência ou responder algo, mas antes de decidir
ela já havia levantado da cadeira e seguiu em direção á porta.
Levantei e
a segui.
Ela não
poderia ser apenas aquela mulher gostosa que seguia á minha frente?
Saga
Derinarde II – Capítulo 006
Entramos em
um IX30 amarelo, o mesmo tom de amarelo do Camaro, só que sem as faixas pretas.
Ao volante
Elen ficava ainda mais imponente, mais autoritária, porém muito mais sexy.
Em meia
hora passávamos os portões da USP (Universidade de São Paulo) e após algumas
curvas para lá e para cá, não sei bem quantas, pois minha atenção estava
totalmente voltada para o decote da blusa de Elen, que devido ás curvas
deixavam parte de seus seios dizerem oi para mim, paramos no estacionamento da
Poli (Escola Politécnica).
Antes mesmo
de puxar o freio de mão, sua porta já estava aberta e em um movimento rápido só
havia eu dentro do carro.
Sai e a
segui, porém desta vez ao seu lado, não mais atrás, observando suas delirantes
curvas.
Entramos no
prédio e seguimos por um corredor muito iluminado.
No caminho
cruzamos com três ou quatro pessoas de aventais brancos e cada uma das pessoas
nos cumprimentavam, quer dizer, cumprimentavam Elen.
- Bom dia
Doutora Elen.
Pouco antes
do fim do corredor, Elen abriu uma porta e fez sinal para que eu entrasse.
- Aguarde
um momento que já voltamos.
A sala em
que eu estava era espaçosa. Tinha uns trinta metros quadrados. Muito bem
mobiliada com sofás em madeira e almofadas brancas de couro, uma enorme mesa de
centro em aço e vidro.
Um vaso com
flores sintéticas, mas da melhor qualidade, duas “coisas” parecendo obra de
arte ladeando este vaso.
Nas paredes
muito lisas e brancas, quadros pintados á óleo, mas para mim se fossem pintados
á graxa seria a mesma coisa, pois nunca reparei em quadros.
Não havia
janelas, apenas a porta que entrei e agora permanecia fechada.
Um
pensamento me assombrou: Estaria preso?
Saga
Derinarde II – Capítulo 007
Dez ou
quinze minutos depois a porta se abre e entram Elen, David, para minha
inimaginável surpresa, e dois outros caras.
Apontando
para o mais velho, Elen o apresenta:
- Este é o
professor doutor José Willian Baptistella introdutor e responsável geral pela
condução do programa.
Realmente
minha preocupação e nervosismo faziam jus á situação, a coisa estava ficando
séria.
-Este outro
é o doutor Ricardo Régis Lima responsável pelo desenvolvimento de movimentos
espaciais.
O cara mais
parecia um comediante de “stand up comedy americano” que um professor, mas logo
mudei de opinião ao ouvi-lo falar do projeto.
-Este você
já conhece. David Siqueira. Professor doutor em bio-tecidos e seu personal
também.
Eu gostaria
de perguntar muitas coisas ao David, alias á todos eles, mas meu cérebro meteu
uma tranca tão grande em minha boca que eu mais parecia o Neil, em Matrix,
quando o Sr. Smith faz sua boca desaparecer.
Dr. Willian
tomou a palavra.
- Este
projeto iniciou á vinte anos e você passou por ele em seu primeiro acidente,
recebendo uma de nossas melhores próteses de tornozelo. Muito bem, quisesse a
coincidência, você insistiu em continuar em nosso projeto com seu segundo
acidente. Seu joelho é uma obra prima desenvolvida, também, aqui em nossos
laboratórios, e depois disso acompanhamos e atualizamos estes equipamentos
constantemente, durante a passagem de scanner que você faz semanalmente.
- Durante
estes dois últimos anos você recebeu, quero corrigir, os seus equipamentos
receberam duzentos e quatorze atualizações de software e para seu organismo
poder fazer melhor uso disto, os seus exercícios foram orientados pelo Dr.
David.
Eu sabia
que tudo tinha uma explicação, mas putaqueoparil...
David tomou
a palavra.
- Você tem
se esforçado bastante e se adaptou bem aos equipamentos, e devo dizer que os
equipamentos também se adaptaram bem á você, mas...
Caraca. O
David ou Dr. David, agora, estava indo tão bem, não podia ter parado antes do
“mas”?
- O seu
organismo chegou ao limite, você não tem como acompanhar os equipamentos.
Será que
vou ter que devolver? Pensei e entrei em pânico.
Saga
Derinarde II – Capítulo 008
Interveio
Elen.
- Não, você
não vai ter que devolver nada.
Pronto,
fudeu, agora eles estão lendo minha mente, eles estão lendo minha mente...
Acho que
vou ter uma parada cardíaca.
Pensa em
outra coisa, pensa em praia, praia não, futebol, pensa em mulher, “Caraca”,
pense, apenas pense.
Elen
continuou.
- Se é que
você está pensando nisso ou em algo do gênero. Nós temos duas opções a lhe
oferecer, mas não precisa responder agora. Hoje você está aqui apenas para
conhecer os fatos.
Dr. Ricardo
falou pela primeira vez e tirou a impressão de comédia, que eu tinha, de seu
rosto.
- A
tecnologia empregada nos equipamentos já chegou ao seu limite, não ao limite do
equipamento, mas ao seu, ao limite “humano”. Fazendo aspas com os dedos.
- Você não
mais acompanha o potencial do equipamento. Não é um problema exclusivamente seu
é uma limitação humana, e não temos como resolver esta limitação “humana”.
Fazendo aspas com os dedos.
Bem, depois
de quase quatro horas em que cada um complementava o que o outro falava, a Elen
encerra a reunião dizendo:
- Você tem
estas duas opções e tem trinta dias para dar uma resposta. Qualquer que seja
sua resposta nós acataremos sem nenhum “mas”, sem nenhuma restrição ou
repreensão. Está apenas em suas mãos.
Despedimo-nos
e Elen, ao celular, tentou conseguir uma condução para me levar para casa,
quando David se prontificou a fazê-lo.
Na saída,
David encontra um colega o qual apresenta a mim.
- Este é
Nori Wildelifeshot, o mago da imagem e este é Deri, o cara que tem a mais
importante decisão a ser tomada.
Nori, com o
maior sorriso que eu já vi na minha vida, me cumprimenta.
- Deri, já
te fotografei muito, e posso até dizer, por fora e por dentro.
Maneira
mais indelicada de se apresentar á alguém, oras bolas.
- Acho que
o pessoal daqui realmente me conhece mais do que eu mesmo.
David
interrompeu.
- Estou
levando o Deri para casa, tá ocupado?
- Não, não,
vamos nessa. Respondeu Nori segurando duas ou três máquinas pendurados em seu
pescoço.
Entramos em
um Peugeot 308 azul e seguimos em direção á minha casa.
Nori, que
estava no assento traseiro se encaixou entre os bancos dianteiros.
- Tenho
mais de oito mil fotos no meu acervo.
Saga
Derinarde II – Capítulo 009
- Tem foto
de gente importante?
- As oito
mil fotos são suas.
- Você tem
oito mil fotos minhas?
- Como eu
disse, por fora e por dentro.
- Qual foi
a minha foto mais difícil de conseguir? Já imaginei os locais mais
constrangedores que frequentei.
De pronto
ele respondeu.
- O
movimento do vasto intermédio.
- Que porra
é essa? Eu nunca fui aí.
David
interveio.
- Vasto
intermédio é um dos quatro músculos do quadríceps que ficam na coxa e origina
na patela, você conhece como rótula e no seu caso, ligados ao sensor do
equipamento...
- Para de
falar dessa porra de equipamento, estou me sentindo uma batedeira de bolo.
Fechei a cara.
- Ao sensor
do seu joelho. Terminou a frase que cortei.
Decidi não
perguntar mais nada ao Nori. Não por culpa dele, mas este conhecimento sobre
mim era estranho.
- E você,
David, não se envergonha de me enganar todo esse tempo?
Achei que
poderia ficar algum tempo por cima. Eu quebrei a cara antes do que imaginava.
- Primeiro:
Sou seu personal e tenho sido fiel nos acompanhamentos e exercícios.
- Segundo:
Você se auto scaneia uma vez por semana, então sabia que estava sendo
monitorado.
- Terceiro.
Seus equipa..., tsec, joelho e tornozelo nunca apresentaram falhas que
precisasse de minha intervenção.
- Quarto...
- Tá bom,
tá bom, me convenceu.
- É muita
coisa para um cara só, vamos mudar de assunto, e a Elen, a doutora?
- É uma das
mais brilhantes estudiosas de...
- Não, não
é isso, você acha que tenho chances?
-Bem!
David olhou
bem para mim, sentado no banco do passageiro, da cabeça aos pés.
- Se você
fosse uma batedeira de bom, sim.
E caímos na
risada.
Saga
Derinarde II – Capítulo 010
Ao me
deixar em casa, David se despediu dizendo:
- Você não
deveria deixar a rotina da academia isso lhe faz bem, até para pensar é melhor
e amanhã às seis da manhã eu estarei lá.
Um
flash e um clic foram seguidos de um
comentário do Nori.
- Ficou
muito boa, muito boa, depois te mando por e-mail para você ver a sua cara.
Muito boa.
Eram duas
horas da tarde e eu não havia almoçado ainda, liguei para Patrícia Rodrigues
Barreiro e a chamei para almoçar.
Tinha que
compartilhar isto com alguém e a Patrícia era amiga de faz anos, alguém de
confiança.
Nós nos
encontramos em uma charmosa cafeteria, na vila Mariana, fizemos o pedido e
fomos para a mesa conversar.
- Paty,
você sabe que tenho umas peças no corpo, uns “equipamentos”, né?
- Sim,
joelho, tornozelo, mas quem não sabe?
- Espere
aí. O pessoal que desenvolveu isso me chamou para conversar.
- O quê?
Eles querem de volta? Foge para o interior. Eu tenho uma tia em Garça, o nome
dela é Rosana Rodrigues da Silva ela mora na rua...
- Não,
para. O negócio é o seguinte...
Contei tudo
o que aconteceu desde o momento que encontrei com Elen, na academia.
- Tenho um
mês para dar a resposta. E aí? O que você acha?
- Eu acho
que você deve dar a resposta, oras.
- Tá, mas o
quê eu respondo? O quê eu faço? O quê você faria?
- Você eu
não sei, mas se fosse comigo... Bem, se fosse comigo... Assim oh... eu, bem, eu
ligaria para minha tia, lá em Garça. Sei lá.
Almoçamos e
eu á acompanhei até a estação de metrô.
Já, ela, lá
embaixo, antes de entrar no trem, gesticulava em mímica e sem som, “TIA”,
“GARÇA”, “ME LIGA” com a mão fazendo sinal de telefone.
Voltei para
casa caminhando. Foram os dez quilômetros mais rápidos que percorri. Absorto em
meus pensamentos eu viajei quase na velocidade da luz, mal percebi e já estava
no portão de casa.
Saga
Derinarde II – Capítulo 011
O resto do
dia passou da mesma forma, monótono e rápido ao mesmo tempo. Já era tarde da
noite quando peguei no sono.
Na manhã
seguinte, como sempre, cedo estava de pé, mas não antes de certificar que o dia
anterior não fora um sonho ou talvez um pesadelo.
O mundo
continua girando e a academia já estava aberta.
O lindo
sorriso de Gleide Gleidinha me dava boas vindas.
Olhei
fixamente para seus olhos negros e perguntei.
- Você
também sabia?
- Sabia do
quê?
- Dos
“equipamentos”? Sabia dos equipamentos?
- Por quê?
A esteira quebrou? Você se machucou? Ai meu Deus, vou ligar para o Sr. Daniel
Gomes, ele vai consertar. Qual delas?
- Não, não.
Está tudo em ordem. Eu que me enganei. Bom dia.
- Ai que
susto Deri. A gente fica de olho na manutenção, mas às vezes escapa. De
qualquer forma o Sr. Daniel tem que vir aqui hoje, isso, eu vou ligar agora.
Fui para a
esteira do fundo. Eduardo acabara de chegar e já estava no pique. Emparelhei e
começamos a correr.
Conforme eu
amentava a velocidade Eduardo aumentava também, até que teve um momento que ele
diminuiu.
- Ai, ai,
ufa, uau. Não aguento. Vai à frente que eu te alcanço.
- Era
gritante a diferença de velocidade, além de eu ser mais jovem que Eduardo,
minhas dobradiças, os tais equipamentos, também eram mais rápidos.
- Eduardo,
qual é o seu papel. Perguntei desconfiado, mas sem muita certeza.
- Sou da
segurança. Eu te acompanho. Claro, quando dá.
Eu me senti
o verdadeiro Truman Burbank no filme O show de Truman com Jim Carrey. Eu era
acompanhado vinte quatro horas por dia, um show da vida.
Neste
momento entrou o David e como quem tivesse ouvido a conversa complementou.
- Se
houvesse algum travamento ou pane no equipamento o Eduardo estaria por perto,
para as devidas providências.
A semana
transcorreu bem e o peso dos pensamentos deu uma trégua. Existiam, mas não
sufocavam.
Saga
Derinarde II – Capítulo 012
No final de
semana, sábado, a Patrícia me ligou.
- E aí,
tudo bem, Paty?
- Tudo, já
falei com minha tia, a casa está à disposição.
- Deixa
disso, Paty. Não corro risco.
Conversamos
um pouco e desligamos.
Assim que
desliguei, o fone tocou novamente.
Era Mario
Alves, colega de trilhas e aventuras.
- Deri, a
galera fará uma trilha amanhã. Vamos nessa?
Como não
tinha nada planejado para domingo, topei de imediato.
Cedo
cheguei e quatro motoqueiros já estavam aguardando. Outros dois chegaram aos
dez minutos seguintes. Todos nos com motocicletas off Road.
A minha,
uma moto de 350 cilindradas, de quatro tempos, mas ela já tem tanta adaptação e
tanta peça de outras motos que me recuso a dizer qual a marca da danada.
Seguimos
para Ribeirão Pires e por trilhas em direção á Bertioga.
Já no meio
da serra, duas horas distante de qualquer lugar civilizado, paramos próximo a
uma cachoeira para refrescar.
Como a
natureza é bela sem a presença do homem. Intocável. Encantada.
Aproveitando
a parada, comecei a escalar o paredão da cachoeira. Logo atrás estava Mário. E
subimos, subimos, até o topo. Eram uns trinta e poucos metros e a paisagem,
olhando lá de cima tinha quilômetros.
Lá no topo,
Mário declara.
- Pô Deri,
nem dá para acreditar que você tem esse monte de lata e parafusos nas pernas e
faz o que muita gente sem isso não faz.
Aquilo
bateu em mim como uma janela de um quarto escuro que se abre para o leste no
nascer do sol.
O brilho e
intensidade daquelas palavras do Mário me fizeram arrepiar e enxergar mil vezes
a paisagem que tinha á frente.
Ao que
respondi ao Mário.
- É meu amigo,
e ainda vou fazer muito mais e com muito mais.
Descemos
por onde subimos, mas nos últimos cinco ou seis metros nós despencamos na agua
fria. Que delícia.
Saga
Derinarde II – Capítulo 013
Conforme
havíamos combinado, chegamos à Bertioga próximo ao horário do almoço, tomamos
um bom banho de mar e fomos almoçar.
Fomos
almoçar no Borghese, em Bertioga mesmo. Já conhecíamos o dono.
Adauto
Barbosa um chef de mão cheia. Ele se sairia bem em qualquer restaurante fino em
São Paulo ou Paris, mas se recusava em deixar Bertioga.
Bertioga
era sua vida e o Borghese seu caminho.
Comemos um
badejo que os Deuses ficariam com inveja.
Desculpem
os puritanos e menores de idade, mas vai cozinhar assim na casa do cara#@$*.
Comemos,
muito por sinal, bebemos pouco, mas bebemos, conversamos muito. Resumindo, foi
mais um dia especial.
Fizemos uma
“ciesta” nas redes instaladas em arvores atrás do restaurante, coisa que pouca
gente sabe.
Duas horas
depois estávamos prontos para a volta.
Despedimo-nos
de Adauto e voltamos para São Paulo, só que desta vez, pelas estradas
convencionais.
Um ótimo
fim de semana.
Já em Sampa
paramos no lava-rápido do Sandro Oliveira. Grande camarada.
Estava
fechado, mas como ele mora no lava-rápido, estava bebendo umas cervejas no
quintal.
O portão não
estava trancado, apenas encostado e Sandro nem se mexeu para abri-lo. Nós
mesmos que abrimos e posicionamos as sete motos em paralelo e uma a uma recebeu
uma forte ducha. Hora eu, hora Mário, às vezes o Adilson Damásio, motociclista
do grupo, se encarregava de jatear as magrelas.
Adilson
estava calado aquele dia. Seu irmão adotivo Amilton Cruz Silva estava em uma
missão na Amazônia e a mais de quinze dias não dava noticias. Amilton era
capitão de mata do exercito brasileiro e um experiente em sobrevivência na
selva, mas a falta de noticias fazia com que o irmão mais velho, Adilson,
ficasse muito preocupado.
Já dizia a
dupla caipira em uma música de sucesso: “A saudade é um prego coração é um
martelo”.
Sandro
apontou a geladeira para Nelson Campos, o qual prontamente buscou mais cerveja.
Ficamos
algumas horas falando de amenidade e aventuras do passado no muito distante.
Cristianodiasl
Cristianodiasl e Bene Junior decidiram ir embora e nós abrimos mais algumas
cervejas.
Já eram
oito da noite quando nos despedimos.
Ao abrir a
porta de casa, um cartão no chão chamou a atenção. Era um cartão de visitas e
nele a identificação:
Dra. Marcia
Taiacolo – Psicóloga. Tinha telefone e endereço na região da Avenida Paulista.
No verso, escrito á mão: Dra. Elen gostaria que falasse comigo, segunda onze
horas no consultório.
Saga
Derinarde II – Capítulo 014
Segundona,
depois da academia eu fui com os irmãos Gustavo Cavalcanti Braga e José
Clevilson Cavalcanti Braga ao centro da cidade.
José
Clevilson queria comprar uma nova guitarra para sua banda e Gustavo um novo
microfone, aqueles sem fio, que fica preso na cabeça, parecendo um headfone.
A banda dos
meninos já estava fazendo sucesso e eles conseguiam viver disso. Tinham dois
ônibus, Um para equipamentos e outro para os componentes.
Viviam
falando que precisavam mesmo é de um avião, e pelo jeito que faziam shows, era
só questão de tempo.
Ao lado do
um sintetizador de som, dos mais modernos, com mais de 350 teclas e botões, sem
fio, José Clevilson tocava um rock que eu nunca havia ouvido. Gustavo me puxou
pelo braço e falou em meu ouvido:
- Essa
música é nossa. Vamos tocar no próximo show. Maneira, né?
Realmente
uma musica com muita energia. Um rock da melhor qualidade. Pronto para o
sucesso.
Neste
momento fui ao chão.
Não
tropecei, não escorreguei, nem sequer estava andando. Caí de bobeira.
Ao cair meu
pé direito entrou em um alto-falante que estava a minha frente. Era um
alto-falante enorme e o buraco que fez criou uma imensa cratera.
Como o
alto-falante estava ligado na frequência do teclado que José Clevilson tocava,
ao romper o tecido emitiu-se um estrondo rouco que na loja todos perceberam.
Um simples
alto-falante se tornou um terremoto dentro da loja.
Com a
música parada e após o terremoto, um som de nada tomou conta do ambiente.
Levantei e
percebi que o único estrago não era em mim, era apenas o alto-falante.
O dono da
loja, Ricardo Semião, foi o primeiro a correr em meu encontro, me ajudando a
levantar e todo preocupado em sabe se estava bem.
Fiz menção
em ressarcir o estrago que tinha feiro, porém Ricardo se negou terminantemente
e insistia para que eu fosse á um hospital tirar uma radiografia.
Realmente
eu estava bem, havia sido um simples tombo, assim eu achava até ouvir o relato
de Ricardo para Gustavo:
- Ele
estava ali, parado, só ouvindo a musica, de repente o pé dele subiu uns dois
metros de altura antes de atingir o grave que furou. Ele literalmente voou.
Passado o
susto e vendo que estava perfeitamente bem, me despedi de todos, pois tinha um
compromisso na Paulista.
Saga
Derinarde II – Capítulo 015
Chegando ao
endereço do cartão da Dra. Marcia encontrei Eduardo Soares na entrada o qual,
antes de explicar o que fazia ali, tirou de uma sacola que carregava no ombro
um scanner e encostou-o no meu peito, perto do ombro esquerdo.
- E aí?
Tudo bem? Como se sente?
Reagi de
imediato:
- Que porra
que está acontecendo? Vocês tem algo haver com minha queda?
Olhei bem
em seus olhos.
- Dá para
eu ser uma cara normal?
- Um cara
normal você jamais será, mas se comportar como tal já será um bom caminho.
Complementou
logo em seguida:
- Houve uma
interferência externa e precisamos levantar alguns dados. Agora está tudo bem,
mas vá ao “centro” assim que sair daqui.
Eduardo
mais parecia um fantasma, apareceu do nada e para o nada se foi.
Dei de
ombros e entrei no edifício.
Eu me
identifique na portaria e fui para o elevador, apertei o botão do andar que ia
e a porta se fechou.
Chegando ao
oitavo andar a porta se abriu e uma recepção gigante e confortável apareceu
enchendo meus olhos.
Atrás de um
balcão de vidro um rapaz muito simpático, esguio e rápido deu boas vindas:
- Bom dia
“quiriduu”, eu sou Salvador Rabelo, me chame de Rabelo, pois sou ôôô Salvador e
o consultório da Doutora Marcia Taia(pausa)colo lhe dá boas vindas. Você tem
hora marcada?
O lenço
vermelho em seu pescoço, com o nó levemente voltado para a esquerda, não sei
por que lembrava um bailarino espanhol, faltava-lhe um chapéu de abas largas.
- Na
verdade não, mas tenho isso aqui. Apresentei o cartão deixado sob minha porta.
De posse do
cartão e lendo o verso anunciou:
- Ah, sim,
sim. Você está sendo esperado.
-Ali.
Apontando com o dedo mindinho, continuou:
- Do outro
lado, tem café, chá, água e alguns biscoitinhos de mantecal, (pausa) o que mais
quiser, me peça que eu mesmo providenciarei. Fique á vontade que a doutora já
já já vai lhe atender.
Eu me
dirigi ao bebedouro, um pouco de água viria a ajudar naquele momento.
Depois de
beber água, e sentado confortavelmente nas grandes poltronas da recepção,
rodando o copo plástico nos lábios, mantinha o cérebro a milhão.
Queda, pé
acima de dois metros, scanner na rua, interferência externa, psicóloga...
- Seria bom
se estivesse ficando louco mesmo... Falei em voz alta quando fui interrompido
por Rabelo:
Saga
Derinarde II – Capítulo 016
- Bobinho.
Ninguém fica louco. Ninguém FICA, todos já somos. Alguns demonstram mais
claramente que outros.
- A Dra.
Taia(pausa)colo vai te atender agora. Me dá sua mão aqui e vem comigo.
Rabelo se
dirigiu a uma larga porta e a abriu me dando passagem, a qual foi fechada
imediatamente á minha entrada.
Dra. Marcia
estava fazendo anotações e parou imediatamente á minha entrada. Como se um clic
a fizesse largas a caneta, acredito eu, no meio de uma palavra.
Levantou e
dirigiu-se a mim já com a mão estendida.
- Deri, bom
dia. A Dra. Elen já me contou tudo sobre você e vamos apenas bater um papo.
É bem
tranquilizador saber que todos sabem sobre você, principalmente se você não
sabe sobre você.
Agora tenho
certeza. Estou ficando louco.
- Dra.
Marcia, a senhora tem o meu manual?
- Como?
Primeiramente me chame de Marcia, sou muito bonita para ser chamada de senhora.
- Bem esta
última semana tenho recebido muitas novidades e parece que são novidades só
para mim.
Já
estávamos sentados em um imenso sofá onde caberiam pelo menos seis pessoas, mas
só havia nós dois.
Marcia
começou com aquelas conversinhas de psicólogo:
- Você sabe
que o seu dentista sabe mais de sua boca que você?
- Sim eu
sei. Respondi, achando que fosse uma pergunta.
- Sabe que
seu medico, sabe do seu organismo, também, mais do que você?
- Marcia, o
meu caso é diferente...
- Todos são
casos diferentes! E todos têm suas particularidades. O que mais te preocupa é o
que você sabe ou o que você não sabe?
Que
pergunta era aquela?
Tentei
responder:
- É lógico
que é o que (pausa) (pausa)... Essa
Marcia, além de linda é mesmo inteligente, me pegou.
- Viu onde
está a sua dúvida? Ou melhor, viu como você não tem dúvida, o que lhe falta, é
apenas ordenação em tudo aquilo que você sabe, diferenciando o que você acha
que sabe.
Continuou.
- Feito
esta ordenação você estará pronto para fazer as perguntas, aí você se conhecerá
melhor para fazer as novas perguntas.
Nesta linha
conversamos por uma hora.
Acho que
todo psicólogo tem um problema de “toc”, só sabe trabalhar com hora cheia.
Eu me
despedi prometendo que á visitaria uma vez a cada quinze dias.
Entendi que
loucos não passam por consulta, fazem visitas.
Saga
Derinarde II – Capítulo 017
Ao sair,
Rabelo, muito solícito já havia chamado o elevador e disse:
- Lindinhu,
não precisa marcar consulta, quando quiser aparecer é só ligar, a Dra.
Taia(pausa)colo estará á disposição.
Já na rua
fiz sinal para um taxi que passava.
- Cidade
Universitária, por favor.
A taxista
era bem baixa e olhava sobre o volante com algum esforço. Um pouco mais atento
eu vi que tinha feições e aparência de uma criança.
- Você é
menor de idade?
- Negativo
senhor. Tenho trinta e dois anos, mas não fique constrangido, todo mundo pensa
isso, embora não falem.
- Qual o
seu nome?
- Elo
Vessoni, senhor. Sou taxista há oito anos e essa é a melhor profissão do mundo.
- É, há
gosto para tudo, Elo.
- Senhor,
tem gente que fica fulo com o transito, xinga motoqueiro, acha que motorista de
ônibus e folgado, mas assim ó, eu ganho para dirigir, se vou mais rápido ou
mais devagar não importa, continuo sendo paga para dirigir. Agora, esse
pessoalzinho que vive com pressa que compre seu tele transporte particular.
- Senhor,
passo meu dia fazendo o que gosto, dirigir, converso com as pessoas mais
diferentes que se possa imaginar, quer coisa melhor?
- Imagine o
senhor que outro dia levei uma senhora que achava que era cachorro...
Em vinte
minutos estávamos nos portões da Cidade Universitária, e após algumas
explicações na portaria, estávamos no prédio da Poli, o que me poupou de ouvir
história da mulher que pensava que era cachorro.
Paguei o
taxi e entrei no prédio.
Minha maior
dificuldade foi encontrar alguém num local que não tem recepção. Fui entrando
sem destino.
Ao cruzar
com pessoas de avental perguntava:
- Dra.
Elen?
- Onde
encontro Dra. Elen?
Todos
apontavam para frente e para os lados, mas não davam uma resposta verbal.
Serão que
suas línguas eram cortadas para garantir o sigilo? Pensei.
Entrei em
uma sala cheia de bancadas, com cabos e dutos de ar comprimido pendurados.
Pareciam bancadas de montagem de liquidificador ou algo do gênero.
Passeei por
toda a sala e tive a nítida impressão de ser invisível ou aqueles caras eram
robôs.
Precisei
pegar no ombro de um deles para perguntar:
- Onde está
a Dra. Elen?
Saga
Derinarde II – Capítulo 018
Ele nada
falou, más outro que estava ao lado me pegou pelo braço e me levou para fora da
sala deixando que o primeiro, automaticamente, retornasse á seus afazeres.
O cara que
me levava pelo braço, sem emitir uma palavra se quer, conduziu-me por um
corredor, parou diante de uma porta, deu dois toques, virou as costas e voltou
para onde estava anteriormente.
Segundos se
passaram até que Reginaldo abrisse a porta.
- Deri, boa
tarde, entre. Sou José Reginaldo Ramos Ramos e sou secretário da Dra. Elen. Ela
chegará em breve, mas podemos já ir começando os testes.
Em seguida
Reginaldo pegou o telefone, discou e disse:
-Deri já
está aqui.
Antes de
retornar o fone á mesa, perguntei:
- Bem, mas
que testes, e para quê?
- Só termos
as suas repostas depois dos testes, os dados coletados, hoje, já foram
processados e você teve uma interferência externa, os testes nos dirão “o que”
são estas interferências e como bloqueá-las.
Neste
momento entram na sala Rogério Falcão e Vilma Carali empurrando uma bancada
móvel com um equipamento que mais parecia um rastreador lunar, embora eu nunca
tenha visto um rastreador lunar, mas foi a primeira imagem que veio na minha
cabeça.
Com um
scanner, Vilma localizou alguns pontos em meu tórax, pescoço e pernas. Colou
algumas ventosas com sensores e em minutos eu estava conectado á aquela máquina
lunar.
Rogério
pedia vez ou outra, para eu erguer um braço, uma perna e solicitava alguns
movimentos, os quais eu executava automaticamente.
Reginaldo
com uma prancheta fazia anotações. Percebi depois que a prancheta era na
verdade um terminal de computador, tipo “ipad”, porém conectado ao computador
central e á aquela maquina estranha ligada á mim.
Reginaldo
declarou que haviam terminados os testes e mesmo antes dos fios serem
desconectados de mim, a porta se abriu e surgiram a Dra. Elen e um cara se
identificando com Luiz Souza Filho.
Luiz era
enorme, tinha dois metros e treze de altura e deveria pesar uns 130 quilos, mas
bem distribuídos e devido á altura, ele até parecia um cara magro, mas muito
forte, aquele de dar medo.
Ao se
apresentar e apertar a minha mão o medo foi embora e aquele homenzarrão se
mostrou muito educado e amável.
Elen
perguntou ao Reginaldo sobre os resultados.
Saga
Derinarde II – Capítulo 019
Que mulher
essa Elen.
Ela podia
ao menos dizer “boa tarde Deri”.
Ela podia
dizer “Te trouxemos aqui para fazer alguns testes”. Que nada. Frieza em pessoa,
o negócio dela era números, estatísticas, dados...
Reginaldo
de pronto relatou:
- Bem, tudo
normal, a interferência foi momentânea e se restringe á impulsos de ondas
médias.
E
Reginaldo, parecendo um autômato continuou a falar, porém em momento algum
deixou de cutucar seu terminal.
- Algum
equipamento de frequências médias emitiu um sinal que coincidiu com a
codificação dos impulsos que veem do cérebro para o ttox4 e isso fez um
movimento involuntário. Podemos fazer um bloqueio criando um eco de polaridade
invertida.
Elen
perguntou como quem tivesse a corda da guilhotina na mão e o pescoço de quem
iria responder estivesse na outra extremidade da corda:
- Sim mais
isso é muito simples, por que não fizemos logo de início?
Ficou sem
resposta.
Achei que
era minha deixa:
- Olá Elen
tudo bem? Eu estou muito bem.
- Tomei um
tombo, conversei com uma médica de loucos, fiz os mais estranhos exames e
testes, estou com um problema de alguma coisa “médias”, o meu eco tá invertido,
mas estou ótimo, obrigado por perguntar. E você está bem?
Incrível,
mas ele olhou para mim, porém as orbitas de seus olhos tiveram uma defasagem de
chegada.
- Nossa
como você fala... Vamos jantar hoje. Ás 22:00 no Hai Conveniência Japonesa.
Não ficaria
sem troco.
- Ué, mas
lá não é só uma lojinha?
Peguei a
dona sabe tudo.
-Eles
cresceram muito, tem um restaurante oriental ótimo, esteja lá.
Automaticamente
bati continência, não sei ainda porque, mas deve ser reflexo de alguma coisa do
médio que eles falaram há pouco.
Se existiu
Gestapo, essa mulher serviu lá, e foi expulsa pelo próprio Hitler, com certeza.
Saga
Derinarde II – Capítulo 020
Elen virou
as costas e saiu. Atrás saíram Vilma, Rogério e a maquina lunar.
Após mais
alguns cutucões no terminal Reginaldo virou-se para Luiz:
- Luiz,
baixe a versão oito para o ttox4, mas aquela com eco de polaridade invertida e
deixe pronto para o upgrade. No próximo release estará nele.
- Até
semana que vem Deri. E Reginaldo saiu pela porta.
Já que
estava a sós com o Luiz não poderia perder a chance:
- Luiz, tem
alguém normal aqui dentro?
Ao que
respondeu:
- Deri,
você já ouviu falar na professora Tereza Nobrega?
- Não, não
ouvi.
Continuou
Luiz:
- O dia que
você á conhecer verá que as pessoas aqui são os mais normais que já conheceu.
Vai por mim.
Continuou
Luiz.
- Deri, eu
vou te falar uma coisa, mas se alguém perguntar, eu nego. Não confie muito
nessa gente. Eles não estão nem aí para você. O negócio deles “é” eles.
Achei que
aquilo era uma crise de ciúmes.
Fechei a
camisa, baixei a barra da calça e saí.
Ao sair do
prédio, meu objetivo era conseguir um taxi, o que não foi nenhuma dificuldade,
no estacionamento da Poli tinha um.
Bati no
vidro perguntando:
- Está
livre?
E a
resposta me surpreendeu.
- Sim
senhor, livre e aposto.
Era Elo,
aquela mesma que me trouxe até aqui.
Entrei
disse que iria para o endereço de casa e seguimos.
- Elo,
ficou aqui me esperando ou foi coincidência? Já acreditando na primeira
alternativa.
- Senhor,
tudo que vem, vai e, tudo que vai vem.
Achei
engraçado, mas ao mesmo tempo muito infantil.
- Mas e seu
demorasse muito? Tentei forçar a barra com Elo, a diminuta tolinha.
- Senhor,
quem sai de um prédio pensando que é louco e vem para cá fazer testes, não
demora muito.
Saga
Derinarde II – Capítulo 021
Fiquei
gelado e nenhum musculo do meu corpo teve condições de se mover, nem que por
espasmos.
Elo
continuou.
- Já trouxe
para cá três pessoas nessas condições e foi igualzinho, sem contar o Rabelo,
aquele “veadinho” de lenço no pescoço. Ele vem aqui toda semana.
O sangue
voltou ao cérebro e consegui mover os lábios de forma muito dolorida e
complexa.
- Quer
dizer que não sou o único?
- Único “o
que”, senhor? Em vir aqui? Não, não. Outros veem e vão.
- Não, não.
Com essas coisas, esses, esses... equipamentos?
- Senhor,
eu não sei o que esta falando, mas o meu ponto é ali perto da Paulista e já
trouxe gente para cá, e como sei que não demoram, espero para ganhar a volta.
Sabe, senhor, voltar batendo lata nem é bom.
Continuei
com Elo.
- E essas
pessoas que você trás, como são.
- Senhor,
são pessoas iguais ao senhor. Eu só levo e trago.
- Mas não
percebeu nenhum detalhe, nenhuma característica, alguma coisa que chamasse a
atenção?
- Senhor.
Eu sou de deixar as coisas para lá, como diz o meu homem, mas tem algumas
coisas que estão na cara, não dá para não perceber.
Interrompi
Elo no mesmo momento.
- Elo,
vamos á uma lanchonete. Ali na Dr. Arnaldo tem uma lanchonete, eu te pago o dia
e te dou mais alguma coisa, nós precisamos conversar.
Saga
Derinarde II – Capítulo 022
Entramos no Burdog e pedi um Hamburger Picanha, Elo
pediu um X- Filé Mignon, um Hamburger Picanha, como eu, uma porção de fritas,
um Milk Shake de chocolate e informou que depois pediria o resto.
Notei naquele instante como Elo era pequena. Não
passava de um metro e meio e era muito franzina.
A maior dúvida naquele instante era para onde iria
toda aquela comida?
Não perdi tempo e antes mesmo da refeição chegar,
perguntei á Elo:
- Que detalhes você sabe dessas pessoas que foram
para a Poli?
- Tem um advogado, tal Danilo Mazzolani. Parece
muito cheio da “nota”, ele é gago e tem um cacoete muito engraçado. Parece que
está espantando moscas. Vive levantando o braço direito. Ele vai todas a
sextas-feiras da “casa de loucos”, ali onde pequei o senhor, para a Poli as
onze horas, a corrida sempre dá por volta de dezessete reais, ele dá uma nota
de vinte e não pede troco.
Estava conhecendo meus concorrentes.
- Quem mais?
- Tem a dona Sabrina, tem nome de prédio. Como é
mesmo, ah sim, Baptistella. Sabrina Baptistella Comar. Essa é uma velhinha,
coisa chata. Entra atrás e fica batendo no meu banco. Podia sentar do outro
lado, mas não, senta atrás de mim e fica batendo no meu encosto, parece um
relógio, tic, tac, tic, tac... A corrida pode dar R$ 16,85 que a velha fica
esperando as moedinhas, muito muquirana. Vou te dizer, ela não precisa. Já
levei ela para casa, e que casa. Um palacete, mas ela é muito muquirana.
- O outro é um banqueiro, aquele playboy que o pai
morreu e ele se diverte por aí, o tal, Rodrigo Andrey Carvalho. Vire e mexe ele
destrói um carrão. Hora Camaro, hora porsche. Ouvi dizer que já transformou uma
Ferrari em nada. Playboy. Esse me disse que não tem mais habilitação, pudera,
habilitação para destruir carro... Vai e volta, da “casa de louco” para a poli
e volta para a casa de louco”, a conta dá uns quarenta reais mas dá duas notas
de cinquenta. Clientão.
- Posso pedir uma sobremesa?
- Claro, o garçom está ai na frente. E esse Rodrigo,
tinha alguma mania, algum cacoete, alguma coisa que chamasse a atenção?
- Tinha sim. Ele é doido para me levar para a cama.
Nossa como insiste. Mas sou fiel ao Capitão, meu marido.
Saga
Derinarde II – Capítulo 023
Terminado a refeição, não imaginava como tanta
comida poderia cabe naquela pequena mulher, paguei a com e ela me levou para
casa.
O resto da tarde ficou reservado para inúmeras
consulta á internet. Más nada eu achei diferente do que já sabia.
Parei com a foto de Elen na tela e um volumoso texto
sobre seus dotes científicos, descobertas e prêmios.
O texto sob a foto chamou a atenção:
“Elen Perez a cientista mais cotada para ocupar o
lugar do Dr. José Willian Baptistella”.
Banho tomado, barba feita uma roupa leve, mas
adequado para a situação.
Uma última olhada no espelho.
Apontando o dedo para a figura do espelho disse
antes de sair.
- Cara, (longa pausa) hoje, você pega essa mulher.
Cheguei cedo ao local combinado.
Hai Conveniências é uma loja com muitos artigos
japoneses, dede comidas á utensílios de cozinha e decoração. É tipo “tendetudo”
oriental.
Ao fundo uma porta ampla dá passagem a um grande
salão de refeições. Vê-se que é algo recente, mas de muito bom gosto.
Sentei-me á uma mesa de canto e logo fui atendido
por uma linda oriental.
- Boa noite, seja bem vindo á Hai Restaurante, meu
nome é Solange Yoshimi e eu terei prazer em atende-lo. Entregando um lindo
cardápio.
Pedi uma bebida para levantar a moral e dar uma
desinibida.
- Um Black label com bastante gelo e uma
metralhadora.
- Como senhor?
- Só um Black Label, obrigado.
Bebi lentamente e quando Elen chegou não havia mais
gelo no copo, nem Black, lógico.
Foi uma entrada triunfal.
Saga
Derinarde II – Capítulo 024
Aquela mulher alta e esquia entrando deixou o mundo
com a tecla de “slow motion” apertada.
Vestia um longo e colado vestido na cor salmon que
deixava apenas suas canelas finas aparecerem sobre uma sandália altíssima.
Cabelos castanhos, longos, ondulados e soltos que ora passava sobre os ombros
ao olhar de um lado á outro.
Grandes olhos castanhos claros, contornados por
riscos negros e precisos e emoldurados por suave verde deixavam-na com ar de
ainda mais alerta.
Lábios carnudos sob um batom de um vermelho intenso.
Voltando ao belíssimo vestido. Com certeza Elen o
deixava mais vistoso, um decote generoso fazia que redondos seios tivessem
partes á mostra.
Um colar pendia de um pescoço fino e firme.
Elen não se dirigiu diretamente á mesa, foi para a
esquerda e cumprimentou quem parecia ser o dono ou talvez o gerente. Acenou
para duas meninas garçonetes e, ai sim, veio em meu encontro.
Nós nos cumprimentamos e eu achei que foi de uma
maneira diferente, ou pelo menos foi um cumprimento. Não havia experimento isto
ainda.
Ao sentar, uma das garotas, Meire Takahashi Melo, se
apresentou a min, pois Elen já a conhecia.
Ao que perguntei.
- E a Solange, onde está a Solange, ela já está me
atendendo.
Não houve resposta por parte de Meire e mesmo que
houvesse, não haveria tempo, pois prontamente Elen falou.
- Quem nos atende é Meire.
Pronto, o mundo que estava colorido até então ficou
preto e branco novamente e o “Reich” foi instalado.
Com a carta de vinhos aberta, Elen apontou para um
título e mostrou á Meire. De imediato concordei com Elen. Não vi o nome do
vinho, apenas que era um Cabernet, pois não foi para mim que Elen mostrou
quando apontou. Tem que ser um bom vinho, pois a garrafa custa mais de
trezentos “paus”. O que foi confirmado.
Durante o jantar falamos de muitas amenidades o que
deixou o jantar alegre mais sem objetividade. Achei que era hora de enfrentar a
“General Elen” quando pedimos a segunda garrafa de vinho, aquela mesma, de
trezentos paus.
- Elen, o que você quer? Não sei o que esperar, como
resposta, de uma pergunta assim.
- Quero ser a mentora do projeto. Respondeu
automática e friamente.
- E onde eu entro nisso, o que você quer de mim?
Quase implorando uma resposta que eu pudesse entender.
- Você tem uma semana para nos responder se continua
ou pula fora e eu não quero corre nenhum risco. Você tem que continuar.
Eu ousei desafiar.
- E seu eu pular fora?
Saga
Derinarde II – Capítulo 025
Sem mudar a expressão nos rosto Elen respondeu
olhando em meus olhos.
- Eu faria qualquer coisa para você ficar.
Elen percebeu que me assustará, pegou a taça de
vinho e começou a deslizar nos lábios, claro, de maneira sensual.
- Qualquer coisa mesmo? Perguntei começando a
relaxar e já querendo tirar algum proveito.
- Q u a l q u e r. Elen respondeu pausadamente e
quase sem som, mas o lábio á taça dizia muito mais e muito mais alto também.
Terminamos e Elen pagou a conta. Á saída me
apresentou o Senhor Celso Watanabe, o proprietário do restaurante. Muito
simpático e sorridente. Nós nos despedimos e deu a impressão que ficaria a
noite toda fazendo reverencias. Mesmo da porta olhei para trás e o homem ainda
se curvava.
O manobrista logo chegou com aquele carro amarelo,
que á noite, ficou mais amarelo ainda. Entramos no carro e saímos.
Eu estava meio zonzo, pois o whisky e o vinho
passaram da minha cota. Percebi que não andamos muito, ainda estávamos na
região da Ibirapuera.
O carro entrara em um prédio que parecia um flat,
contatei ao chegar ao apartamento.
Já no apartamento, sentei em uma confortável
poltrona, Elen jogou a bolsa e as chaves em um móvel e ofereceu uma bebida.
Aceitei apenas um suco oferecido e enquanto Elen o
pegava na cozinha veio um confuso sentimento de canalhice. Confuso, pois não
sabia ao certo quem, daquele prédio, estava sendo mais canalha.
Elen voltou da cozinha com o copo de suco nas mãos,
passou por trás de minha poltrona, ligou o equipamento de som e uma música
clássica começou a tocar. Entregou-me o copo ao mesmo tem que sentava ao meu
lado. Apertada entre o braço da poltrona e eu, apoiou a mão em meu peito, que
agora estava exposto por ter alguns botões fora de suas casas.
- Por que você não continuaria no projeto? Você só
tem a ganhar. Qualidade de vida, dinheiro, fama, quem sabe o que mais?
Foi difícil, mas consegui adiar alguns impulsos.
- Mas e Danilo, Sabrina e Rodrigo? Por que não eles?
- Ah, você sabe deles? Eles não servem. Eles não são
viáveis.
Entendi, naquele momento, que era apenas um projeto,
um equipamento.
Por que não (pausa) uma batedeira de bolos?
Nós nos beijamos intensamente e á medida que íamos,
lentamente, para o quarto peças de roupas eram atiradas o chão.
Saga
Derinarde II – Capítulo 026
Foi uma noite interminável de carícias e muito sexo.
Até que adormecemos.
Na manhã seguinte acordei com um enorme sorriso no
rosto. Não porque a noite passada foi muito boa, foi realmente muito boa, mas
por acordar com a sensação de Churchill.
Pode ser um pensamento machão, chauvinista, mas
homem pensa assim.
Apesar da maravilhosa noite é preciso ter um troféu,
um souvenir moral e este era o meu. O sentimento de Churchill.
O quarto estava silencioso e Elen não estava lá, o
relógio marcava nove horas e eu não estava arrependido de perder a academia.
Fui para o banheiro e tomei uma longa ducha fria.
A me enxugar olhei seriamente para o cara do
espelho, apontei com o indicador e antes de piscar com o olho esquerdo bradei a
vitória;
- Você fudeu Hitler.
Eu saí ainda nu, em direção á cozinha, tinha
esperança de ainda encontrar um pouco daquele suco.
Ao chegar á sala eu dou de frente com uma figura de
lenço no pescoço. O susto foi mútuo.
- Rabelo, o que você faz aqui?
- Ooo bobinho, eu vim dar uma geral na casa da Dra.
Elen, e você está atrasado para o quer que seja, preciso terminar logo pra ir
para o consultório, então, pegue essas suas coisas e rapa fora. Apontando para
minhas genitálias.
Eu me vesti enquanto Rabelo trocava os lençóis e
esticava os já limpos.
Acho que é uma grande oportunidade de me aprofundar
nessa Elen:
- Rabelo, como é essa Elen? Como ela vive? Do que
gosta?
- Bobinho, ( pausa)
eu sou funcionário dela e não estou autorizado a discutir essas coisas
com você. Por que não procura a irmã dela, ela mora no 62, está lá agora, o
nome dela é Samantha Baptistella Felix.
- Mas esse sobrenome é o mesmo do Dr. Willian.
- Olha se eu não sair daqui agora, vou chegar
atrasado. Você é bonitinho e tal, mas rapa, rapa, fora.
Estava no terceiro andar e resolvi subir até o 62.
Toquei a campainha e uma mulher de meia idade abriu
uma fresta na porta, o suficiente para a corrente de segurança ficar
tensionada.
- Pois não?
- Eu gostaria de falar com Samantha, ela está?
- E que é você?
- Sou Deri, conheço a Elen e... Recebia porta na
cara.
Saga
Derinarde II – Capítulo 027
Resolvi esperar achando que fui ser anunciado, o que
foi prontamente confirmado.
O som da corrente da porta anunciava o movimento de
abertura.
Avistei uma mulher muito alva e muito bela, tinha
características europeias fortes, cabelos muito loiros olhos muito verdes, alta
e magra, lembrava o corpo de Elen, a qual eu já conhecia um pouco mais, mas as
feições não se pareciam na da entre elas.
- Deri. Já ouvi falar de você. Entre.
Sentamos á sala e comecei a falar:
- Ouvi dizer que você é irmã da Elen, o Dr. Willian
é seu parente?
- Ana Paula. Chamou Samantha e a figura da mulher se
mostrou sem a correntinha da porta no rosto.
- Sim senhora?
- Aceita uma café, água, Deri?
- Sim, ambos.
- Ana Paula, ponha o café da manhã para dois.
- Sim senhora. Respondeu a Ana Paula e saiu.
Samantha retomou minha pergunta.
Elen é minha irmã adotiva, muito pequena perdeu os
pais em um acidente que levou sua casa pelos ares. Ela foi retirada dos
escombros muito ferida, mas sobreviveu.
Meu pai, Willian e minha mãe Mandy Derinarde eram
vizinhos de Elen e como não tinham nenhum parente, Elen virou parte da família.
- E o que você sabe desse projeto?
Já sentados á mesa que Ana Paula preparara,
continuamos a conversa.
- Muito pouco, mas isto é a vida de meu pai e a vida
dele está acabando, deve se aposentar este ano, não tem mais saúde para
continuar.
- Então Elen é a herdeira natural dele. Digo
herdeira do projeto?
- Não é bem assim. Elen em minha opinião e na de
muitos cientistas, é a mais qualificada tecnicamente, mas papai não a quer no
comando.
- Por que, se ela é tão boa?
- Como diria papai, Elen não tem limites éticos e
morais para saber quando parar.
Saga
Derinarde II – Capítulo 028
Soube um pouco mais da infância de Elen, de suas artes
e cotidiano.
Nós nos despedimos e sai em direção á Avenida
Ibirapuera a fim de pegar um taxi. Eu queria conversar com certa taxista.
Já na calçada aguardando um táxi livre passar, uma
moto sobe na calçada onde eu estava e para com o pneu a poucos centímetros de
minha perna. Tomei um susto danado e em um pulo para traz fechei a mão e ia
pular de volta com a mão na cara do motociclista, ignorando até que ele
estivesse de capacete.
Neste momento o motociclista solta um grito animado.
- Deri, você por aqui?
Era Cristianodiasl, o trilheiro do fim de semana.
- Seu filho da puta, eu tomei um susto “duca”, da
próxima te acerto o nariz.
- O que que é isso, Deri, está muito assustado, está
fugindo do marido de alguém?
- Nada, estava só distraído, faz assim, me leva na
Paulista e está tudo certo.
- Sobe aí. E seguimos em direção á Avenida Paulista.
Andar em São Paulo de moto é uma maravilha, quer
dizer, em comparação aos automóveis, anda-se não se arrasta.
Em poucos minutos estava na frente do prédio do
consultório da Dra. Marcia, agora era só esperar Elo chegar ao ponto.
- Valeu Cristianodiasl, precisamos fazer outras
trilhas.
- Vamos sim. E aqui? Vai encontrar algum figurão.
- Nada disso vou esperar uma pessoa para trocar umas
ideias, por que da pergunta?
- É que parado aí está um figurão. Dá uma olhada no
corte do terno italiano. O cara é banqueiro, tal de Rodrigo Andrey. Ele é
destruidor de carros também. Vira e mexe e noticia de jornal.
- Mudei de ideia. Vou abrir uma conta no banco dele.
Até mais, valeu.
Eu segui em direção á Rodrigo Andrey e já fui
escalando.
- Rodrigão, grande Rodrigo, como vai, lembra-se de
mim?
Antes que pudesse responder, usei as informações que
já tinha.
- E ai desistiu daquele Camaro mesmo? É cara que nem
eu, um amassadinho e perde a originalidade.
A cara dele é de quem não estava entendendo nada,
mas a menção do carro já o tranquilizou.
- E você Rodrigo esta bem, carro a gente conserta,
mas osso não, não é? Tem alguma coisa quebrada, recuperou bem? Os metais aí
estão funcionando?
Ele respondeu-me parecendo sincero.
- Esses carros americanos são muito bons. Os mais
seguros. Eu nunca quebrei um osso sequer.
A cara de bobo agora veio para mim.
- Como não quebrou? Você não tem, sic, equipamentos?
Não veio falar com a Dra. Márcia? Não conhece a Elen? E aquela coisa do CENTRO?
Fiz aspas com os dedos indicadores.
Ele me interrompeu em meio as minhas várias
perguntas.
- Como você disse que era mesmo o seu nome?
- Bem eu não disse. É Deri e eu acho que fiz
confusão.
Sua fisionomia modificou de imediato, ficou feliz
com a descoberta.
Saga
Derinarde II – Capítulo 029
- Deri? Você é o Deri? Deixe-me olhar para você!
Deri! Puxa! Que beleza! Vamos tomar um café. Olha lá, o meu táxi acabou de
chegar.
Nós nos dirigimos para o último carro apesar de ter
outros quatro na frente.
Entramos e qual a surpresa, era Elo.
- Menina, vamos para o Banco. Anunciou Rodrigo.
Ao mesmo tempo em que Elo engatou a primeira marcha
e saiu á caminho, consegui ouvi-la resmungando:
- Que mundinho pequeno...
Não demorou muito, pois o Banco era no final da
Paulista, a conta deu uns Sete Reais, tirou uma nota de cinquenta, agradeceu á
Elo e saímos.
Entramos pela garagem do prédio e fomos até uma
porta que Rodrigo abriu com uma chave sem chaveiro algum.
Era um elevador privativo e não tinha botões nem
marcador algum. Ao entrarmos o ar condicionado e as luzes se acenderam. Rodrigo
pediu, acho que pediu o andar.
- Céu.
O elevador começou a subir. Eu não tenho ideia de
quantos andares subimos, não marcava.
O elevador parou e a porta se abriu. Abriu dentro do
escritório dele. A porta abriu no meio do escritório. Á esquerda fica uma mesa
enorme, a maior mesa de escritório que já vi. A direita uma espécie de sala de
estar, separada apenas por sofás e móveis. Para lá que fomos.
Mal sentei em uma poltrona desta sala e uma
secretária apareceu não sei de onde e começou a fala com Rodrigo.
- Bom dia Rodrigo, Reunião de diretoria as onze, as
treze tem o investidor Marcos Assis Silva, treze e quarenta a arquiteta
Patrícia David Costa, as quatorze e quinze o talzinho, Prymo Loriba Luiz, ele
anda muito engraçadinho para o meu lado, acho bom você dar um toque nele.
- Acho que você é que está dando mole para ele,
hein. Hoje eu não almoço, peça lanche para mim e para o Prymo, ah vem aqui.
- Deri, está é a Selma Derinarde, meu braço direito.
- Selma, este é o Deri. Meu maior investimento.
Confesso que agora eu preciso de mais terapia com a
Dra. Márcia. Ou eu, ou o mundo todo.
Rodrigo continuou.
- Selma, traga café para nós e não quero ser
interrompido por nada.
Selma saiu da sala, ou melhor, desapareceu. As
paredes e móveis da sala camuflavam qualquer tipo de porta ou passagem, mas
elas estavam lá, só não eram visíveis.
Rodrigo virou-se para mim.
- Deri eu sempre quis te conhecer, mas Elen te
escondia de mim. Cheguei até a pensar que você não existia. Sabe como são as
mulheres, fazem qualquer coisa para tirar o dinheiro da gente.
Não, não. Qualquer explicação que recebia, por mais
lógica que fosse mais confuso e perturbado eu ficava.
- Elen é sua esposa?
Saga
Derinarde II – Capítulo 030
- É sim, ela nunca falou de mim? Deixe-me ver seu
joelho. Funciona direitinho?
Eu estava totalmente bêbado sem ao menos ter chegado
perto de uma garrafa.
- Elen é sua esposa e você patrocina o projeto, e o
que mais eu ainda não sei?
Ele olhou para mim sério e em seguida teve um ataque
de risos, histérico e incompreensível.
- Parece que a Elen, hahaha, que a Elen anda
enganando nós dois, hein. Hahaha E continuou a gargalhar.
Mal sabe ele que passei a noite com sua mulher.
Passado a crise de riso, Rodrigo tomou água e
começou.
- Eu e alguns investidores conhecemos o Dr. Willian
há algum tempo e conseguimos montar um fundo, em parceria com o governo para
desenvolvimento de próteses ortopédicas inteligentes.
- Depois dos bichinhos, pobres bichinhos. Você
imagina que eu já vi uma patinha sair correndo junto com um desses bichinhos, o
bichinho ficar pelo caminho e a patinha continuar correndo.
- Você foi o terceiro, humano, a receber o implante
e o primeiro que deu certo.
- Bem depois de muito tempo eu conheci a doce Elen,
nos apaixonamos e casamos.
Rodrigo me contou mais detalhes de como encontrou a
filha da p... a doce Elen e parte do desenvolvimento do projeto. Falou das
cifras já investidas e me assustou quando perguntou:
- Só uma coisa eu não entendi de você?
Agora sim eu estava enrascado, imaginei.
- Qual é a sua ligação com o Camaro?
Fui embora quando Selma anunciou que a diretoria
estava reunida.
Rodrigo orientou Selma que eu deveria ser atendido a
qualquer hora e sobre qualquer assunto e que deveria sair por onde eu entrei. O
elevador privativo.
Sai de lá com muitas informações, mas ainda com
muitas dúvidas.
Peguei um taxi e fui direto para a Poli.
Não foi difícil achar Elen desta vez. Fomos para a
sala que eu já conhecia e começamos a conversar.
- Elen, eu tenho que dar uma resposta semana que
vem, mas vou fazê-lo hoje, e é sim, vou continuar.
Percebi um sorriso espontâneo nos lábios de Elen o
qual sumiu imediatamente.
- Mas tem uma condição.
Despertei o nazista dentro dela.
- Não negocio com você.
- Você o que? Até então vem me manipulando, vem me
pressionando, me levou até para cama. Deixa disso mulher. Ou eu participo de
todo o projeto, com detalhes e tudo mais ou estou fora.
Elen pareceu mais calma.
- Ah, isso, tudo bem. E começo a contar os detalhes,
pelo menos os que eu poderia saber.
Antes de sair também fiz algumas revelações.
- Conheci Rodrigo seu marido e sua irmã, Samantha,
também.
- O que aquela vaca falou. Não pareceu nada
preocupada de eu ter conhecido Rodrigo, mas alguma coisa me disse que eu
precisava conversar mais com Samantha.
Saga
Derinarde II – Capítulo 031
Já em casa recebi uma ligação:
- Alô, senhor Deri?
- Ele mesmo, pode falar. Confirmei.
- Eu sou Soraya Oaski Derinarde, do departamento de
relações publica da Universidade de São Paulo e sua passagem para os Estados
Unidos foi confirmada para a semana que vem, dia 27, ás quatorze horas portão
17. O ticket o senhor tira no dia no balcão da Cia Aérea.
- Ok, e para onde estou indo mesmo?
- Massachusetts, tem uma parada de quatro horas em
Nova York. O seu visto está ok?
- Sim esta tudo bem. O que mais eu devo saber?
- Os professores Cleiton Peroba e Nori Wildelifeshot
irão lhe acompanhar. Algo mais que queira saber?
- Não tudo bem, eu estarei lá.
A partir daquele momento minha maior maratona iria
começar.
A semana passou rápida.
Malas prontas, eu chamei Aracy Bona para conversar.
Aracy era minha governanta, quase uma mãe para mim.
Era a pessoa que organizava minha vida. Que me alimentava e que me dava
conselhos.
- Aracy, eu não sei quanto tempo ficarei fora e não
sei nem se volto. Cuide de tudo como você sabe fazer.
Como sempre, o ombro de Aracy me confortou mais uma
vez. Dizendo:
- Deri. Eu tenho certeza que você volta, mas acho
que você volta diferente. Alguma coisa dentro de mim diz que você volta mudado.
Embarcamos com meia hora de atraso. Nori, Cleiton e
eu. O mais animado era Nori, que não parava de fotografar.
A viagem foi tranquila. Longa e tranquila. Às quatro
horas, da escala em Nova York, até que foi maneira. Aproveitei para fazer um
pouco de academia, barbearia e algumas compras no próprio John F. Kennedy.
Em Massachusetts fomos direto ao MIT. Eu seria
interno por pelo menos seis meses lá.
Chegando ao MIT, a primeira pessoa que me é
apresentada é Cássia Raquel, uma brasileira que faz intercambio nos Estados
Unidos. Ela é fluente em inglês, espanhol, italiano e russo e lá ela ensina
linguagem corporal, isto mesmo, excelente dançarina e coreógrafa, ensina aos
engenheiros do MIT a linguagem corporal.
Cássia e Nori já se conheciam do Brasil e comentavam
que tinham feito um ótimo trabalho comigo. Vim, a saber, que o levantamento,
aplicação para a programação e documentário dos movimentos robóticos
implantados em mim eram obra dos dois.
Meus aposentos no MIT são modestos, mas muito
confortáveis. É composto de um grande salão onde acomoda o quarto e uma sala
decorada com dois sofás e duas poltronas, uma enorme tv e uma estante de
livros. Há um banheiro enorme acoplado que, ao entrar, uma terrível sensação
tomou conta de mim. O banheiro era todo equipado e adequado á pessoas com
deficiência locomotora. Seria este o meu fim?
Enquanto acomodava minhas roupas no pequeno armário
daquele pseudo quarto alguém bate á porta. Atendo á porta e quase a fecho na
cara do pequeno cidadão que estava ali parado já começava a falar percebendo
minha falta de atenção.
- Deri, por favor, sou o Dr. Valdenei Rodrigues
Oliveira e estou muito feliz em conhecê-lo.
O homem tinha pouco mais de um metro e vinte de
altura e embora o corpo tivesse proporções físicas de um e oitenta, suas pernas
eram muito curtas. Percebi ao apertar-lhe a mão que a incompatibilidade era
apenas as pernas, pois os braços fortes e longos o faziam lembrar um
Orangotango, principalmente por sua pele muito clara e cabelos avermelhados.
- Entre Dr. Valdenei, eu estou arrumando minhas
coisas, mas estou muito ansioso para conhecer todos. Quase que me desculpando
pelo espanto ao ver o homem.
Saga
Derinarde II – Capítulo 032
- Você vai conhecer muita gente sim, mas não creio
que todos. Somos 1427 pessoas envolvidas no projeto e algumas estão muito
distantes, do outro lado do mundo. Continuou o Doutor.
-Aqui no campus você terá a atenção constante de 350
pessoas desde as mais graduadas do mundo, como as que atenderão suas
necessidades mais básicas.
-Esta semana você fará muitos testes e exames e no
domingo será o homem á entrar para a história.
Dr. Valdenei falou das rotinas a que eu me
submeteria. Terminei de arrumar o armário e saímos do Simmons Hall, nome dado
ao alojamento do MIT.
No caminho foi me apresentando o MIT. Passamos pelo
departamento de Administração, pela biblioteca, departamento de linguística,
departamento de física e finalmente o departamento de ciências e tecnologia,
onde eu aconteceria.
Passamos alguns corredores, subimos um longo lance
de escadas e entramos em uma grande sala, muito movimentada onde sons de vozes
eram como ladainha de uma missa.
Fomos ao centro da sala e com um vibrador sonoro
tirado do bolso, o Dr. Valdenei emitiu uma sirene estridente por três segundos
e falou em um inglês perfeito:
- Senhores, este é Deri. Ele estará conosco nos
próximos seis meses. O sucesso dele será nosso sucesso e vice-versa.
Ele puxou alguém pelo braço e continuou.
- O Dr. Antonio Carlos Albers será o responsável por
eliminar qualquer dúvida entre o MIT e Deri.
Disse mais algumas frases de ordem, ele desejou
sorte á todos e se retirou, mas não antes de aguardar as palmas terminarem. Eu
entendi que aquelas palmas eram para o projeto e, um pouquinho para mim, claro.
Dr. Antonio Carlos era brasileiro, estatura mediana,
um enorme bigode e usa óculos com lentes grandes e armação grossa. Por esse
motivo o pessoal o apelidou de “Guy Cute”, seria o nosso “Zé Bonitinho” no
Brasil. É, lembra mesmo.
Ele me pegou pelo braço e começamos a caminhar
dentro da sala, apresentando algumas pessoas conforme parávamos em suas mesas.
- Oitenta por cento das pessoas que você conhecerá
neste departamento, são brasileiros, este é Dr. Carlos Vessoni, especialista em
programação neural, o chip que você receberá transformará os impulsos elétricos
do cérebro em comandos dos nervos que comandam os músculos mecânicos e ele está
finalizando tais procedimentos.
- Você já tem comandos meus, no tornozelo. É um
prazer conhecê-lo pessoalmente. Disse Dr. Carlos muito animado, como todos na
sala.
Estava me sentido, meio estrela, meio cobaia.
Continuamos a andar.
- Dr. Ismael Guilherme é engenheiro de materiais.
Faz a união dos tecidos artificiais com tecidos humanos. Ele é o par do Dr.
David Siqueira.
- Como vai, sou português, mas criado no Brasil.
Adiantou-se Dr. Ismael.
E seguimos em frente.
- Doutores Claudia Maria Gonçalves, Alex Baba e
Guilherme Ramos são os responsáveis por comunicação extracorpórea. Há pouco
tempo você teve uma interferência de ondas que o fez cair, estes doutores
identificaram e corrigiram o problema.
Não poderia deixar a piada passar.
- Quer dizer que os senhores não vão me derrubar,
certo?
Riram e acenaram negativamente.
- Dra. Maria Inês Baptistella é a par do Dr. Ricardo
Régis Lima na aplicação de movimentos espaciais.
O Dr. Antonio Carlos me apresentou outros quinze
doutores, até sairmos da sala sem mesmo conhecer mais da metade dos presentes.
Caminhamos por uns dez minutos enquanto ele
explicava sua formação em biotecnologia e atividades do projeto. Parece que
desta vez a Elen estava cumprindo a sua parte, quanto á minha participação
efetiva no projeto.
Chegamos á um enorme refeitório e me armei com
bandejão e talheres.
Enquanto estávamos comendo outra pessoa se aproximou
solicitando permissão para sentar conosco e de pronto foi atendido.
Saga
Derinarde II – Capítulo 033
- Este é o Dr. Ronaldo Ambrosio e este é Deri.
Apresentou-nos e continuou.
- Dr. Ambrosio e diretor do comitê internacional de
bio-robótica da Alemanha, e está aqui para acompanhar nossa evolução na
implantação de tecidos nervosos e musculares sintéticos.
Adiantei-me aos dois.
- Pelo que estou vendo este projeto é mundial e
envolve muito milhões de dólares?!
- Muito prazer Deri. Sim o projeto é internacional e
eu diria que já estamos na casa das centenas de milhões.
Continuou.
- Algumas pessoas já possuem um parte ou outra, um
processador ou outro, mas você entrará em uma nova fase.
Cada palavra que o Dr. Ronaldo pronunciava, olhava
para o Dr. Antonio Carlos como que pedindo o aval ou liberação de tal
comentário.
- Estamos em um estágio que até então, só era
conhecido em filmes de Hollywood, por pessoas comuns.
Abriu-se uma estridente gargalhada.
Fiquei sabendo que minha implantação, assim
disseram, estava agendada para o próximo final de semana, ou seja, daqui a três
dias. Claro, estava preocupado.
Terminamos de comer e o Dr. Antonio Carlos me levou
de volta ao meu dormitório, mas antes de entrar identifiquei uma figura
conhecida. Estava na porta á me esperar.
- Olá David, ou aqui é Doutor?
O Dr. David Siqueira abriu um largo sorriso, como de
costume.
- Deixa disso, Deri. Sou David, os doutores usam
avental branco. E entramos.
- Quem mais vem para a minha “festa”? Dr. Ricardo,
Elen?
Em um longo e detalhado discurso, David, me
atualizou.
- Dr. Ricardo está a caminho, assim como mais uns
quatro doutores, mas a Dra. Elen não vem. Ela esta na Europa e quando vier para
cá não estará preocupada com você, ainda não. A Dra. Elen está em uma campanha
política, algo que a ocupa demais.
Eu já sabia do que se tratava. A sucessão do Dr.
José Willian Baptistella.
Os três dias seguinte passaram muito rápido, ainda
mais porque não saí dos laboratórios, fazendo exames e testes.
E chegou o dia “D”.
Fomos para Boston e no Massachusetts General
Hospital para cada passo que eu dava tropeçava em três pessoas ligadas ao
projeto.
Hora eu via o brasão circular do MIT bordado em seus
bolsos, hora via o leão com a palavra “VE RI TAS”, significando que eram de
Harvard. A coisa estava “chic”.
Já no centro cirúrgico, passei por duas cabines de
descontaminação, deitei em uma maca, recebi uma máscara e ouvi a última frase
da enfermeira:
- Sweet dreams.
Algum tempo passou e acordei com a sensação de uma
ressaca danada, muita sede e dores em todo o corpo.
Um enfermeiro ao lado de minha cama arrumava o soro
e seu conta-gotas.
- Hi. My name is
Leonardo Yata. Can I help you?
Saga
Derinarde II – Capítulo 034
- Água, water. Balbuciei ao que ele entendeu e
colocou um canudo em minha boca ao mesmo tempo em que apertava um botão na
parede.
Em poucos segundos meia dúzia de pessoas estavam em
volta da cama e entre eles David.
- E aí, cinderela? Foi o Yata que te deu um beijo
para acordar?
Pelo menos quatro outros entenderam a brincadeira e
riram os demais estavam muito ocupados olhando monitores e fazendo anotações em
tablets e outros equipamentos.
- Então David, correu tudo bem, ontem? Quando eu
tenho alta?
Ao que me respondeu.
- Correu tudo otimamente bem, mas não foi ontem.
Você ficou dezoito dias em coma induzida, isto faz parte da recuperação e alta,
bem você nunca mais terá alta. Começaremos á partir de amanhã exercícios de
musculatura, pois os nervos eletrônicos estão respondendo bem.
- Dezoito dias? Eu me assustei com o período.
- Por isso que estou morrendo de fome. Liga para o
Brasil e manda trazer uma picanha. Era pura realidade.
Muitas perguntas foram feitas a mim e muitas outras
eu fiz aos presentes, mas no geral parecia que tudo corria bem.
Durante o curativo tive uma noção do tamanho da intervenção.
Tinha uma cicatriz que começava no calcanhar e terminava acima da nádega, quase
no meio das costas, e isto nas duas pernas.
Não sentia dores fortes, parecia apenas que saíra da
academia há poucas horas, aquela dorzinha muscular suportável.
Daquele momento em diante não saberia mais o que é
ficar só, sempre tinha, pelo menos, três pessoas comigo, seja na cama, no banho
ou até na privada, bem eu não tinha nada mais privado.
Foi uma semana muito proveitosa e cheio de
novidades. Fiz muito exercícios, mas embora tenha feito a cirurgia nas pernas,
os exercícios eram mais mentais e de coordenação que físico propriamente dito.
No final da primeira semana de treinamentos, eu
recebi uma visita inusitada. Elen.
- Olha lá, a principal e mais interessada apareceu?
Eu fui irônico.
- Estava garantindo a sua evolução. Disse por dizer,
pois não precisava dar qualquer satisfação e continuou.
- Já li todos os relatórios e vi que tudo corre bem.
Você fica aqui, quer dizer no MIT ainda seis meses antes de ir para casa. Até
lá se comporte.
- Sim senhor. Bati continência e continuei.
- Você não sabe a chance que o MIT está perdendo.
Parece que despertei sua curiosidade.
- Sim? E qual é? Ela disse levantando a sobrancelha
esquerda.
- Transformar o robozinho Elen em um ser humano.
Com a cara amarrada disse antes de virar as costas e
sair.
- Humanos não têm a menor graça.
Saga
Derinarde II – Capítulo 035
Na terceira semana de treinamentos eu já fazia
cooper, embaixada com bola e outros movimentos que não exigissem muito esforço,
afinal tinha cicatrizes enormes á preservar.
Nídia Saraiva era minha personal e era sempre
acompanhada de Cássia Raquel, a Coreógrafa.
Há cada quinze dias David aparecia para uma visita e
acompanhar o progresso que fazíamos.
Vi também Dr. Ricardo Régis, mas ele quase nunca
falava comigo, estava sempre cercado de doutores e técnicos.
Neste período conheci Claudia Barros, linda e loira.
Claudia é bolsista no MIT, cursava o sexto ano e está se especializando em
movimentos espaciais.
Ótima companhia, alegre e sempre disposta á explicar
minhas inúmeras dúvidas. Claudia era uma das poucas pessoas que mais pareciam
pessoas, quer dizer, pessoas deste mundo, mais que os demais, que sempre estava
em órbita com um logaritmo na testa ou uma raiz quadrada nos ombros.
Claudia falava de cinema, de livros (não técnicos
claro), de pessoas e de mundo. Sua vontade de viajar e conhecer pessoas e
lugares só era superado pelo seu amor á ciência, mas não havia competição,
tinha lugar para os dois.
Sua grande fã, agora no mundo acadêmico, era a Dr.
Maria Inês, que era também sua orientadora para o doutorado.
Saímos algumas vezes para conversar e jantar, mas em
uma única vez estávamos á sós no restaurante, pois a minha comitiva permanente
não me largava um minuto sequer. Desta vez acertei com o esquadrão para que
ficassem quatro mesas longe de mim. Absurdo.
Fiquei muito amigo de Claudia, pudera ele perguntava
se eu havia comido o peixe no refeitório ou se havia comprado uma camisa nova e
não se o chip “A18FG” tinha sofrido impacto ou se a última atualização do
hardware do “ttox4” havia concluído. Trocamos boas
risadas e confidências.
Passados três meses dos implantes eu já
era uma pessoa com aparência e vida normais, quer dizer, mais aparência do que
vida, más conseguia levar a Claudia para dançar, íamos á festas e até para a
praia, se bem que quando se fala em praia nesta região americana, nada lembra
sol e biquíni. É frio e venta muito. Estamos coladinhos ao Canadá.
Eram tantos os doutores, técnicos e
assistentes que cuidavam de mim que eu, ás vezes, confundia um com outro, sem
contar os seguranças, afinal eu já era muito valioso para eles.
Não havia terminado ainda o quarto mês e
recebi a visita dos advogados Wilmer Naufel Junior e Erick Shalch do famoso
escritório brasileiro de advocacia, Naufel & Shalch Advogados, os quais me
informaram as mudanças de última hora. Eu voltaria com eles ao Brasil.
Eu estava tentando obter mais
informações. “o porque” da antecipação, pois restavam ainda dois meses pra
finalizar o acompanhamento, porém as únicas respostas que obtive é que eram
decisões da diretoria e que terminaria os treinamentos no Brasil.
Papelada arrumada, aceites feitos muito
á contra gosto da direção do MIT, ficou acertado que embarcaríamos na manhã
seguinte.
Sobrando uma noite de despedidas
solicitei a dispensa dos seguranças e levei Claudia para jantar. Ambos rimos
muito aquela noite e choramos também. Tínhamos criado um vínculo muito forte.
Voltando ao dormitório, ofereci á
Claudia um refrigerante, única bebida que tinha no frigobar do quarto e ela
aceitou de pronto. Era tarde e os assuntos não se esgotavam. E quando nem ela e
nem eu esperávamos surgir, quase que por um descuido, um beijo. Sem saber ao
certo o que significava aquilo: uma despedida, um agradecimento ou algo mais
forte nós nos abraçamos e continuamos nos beijando. Nossa respiração era
intensa e nossos lábios teimavam em não se separar. Existia uma só saliva, um
só sabor.
Saga
Derinarde II – Capítulo 036
Minhas mãos percorriam as costas de
Claudia, de um lado á outro, de sua nuca ás nádegas e, em um frenesi igual, as
mãos dela hora estavam á base de meus cabelos, hora em meu peito. A que cada
passada de mão sobre meu peito, um botão de minha camisa era aberto.
Nenhuma palavra ousou ser pronunciada
naquele momento e meus lábios que há pouco se recusavam liberar os dela corriam
por seu rosto, pescoço e orelha, desciam por sua nuca e seu perfume me
embriagava.
Meus dedos encontram a fina tira de sua
blusa que depositadas em seus ombros não causavam nenhuma resistência em se
deslocar para os braços. Aos poucos e com muitas carícias estávamos sentados na
cama seminus á corrermos os lábios por toda a parte do corpo descoberta.
Com as mãos em conchas sobre seus seios
acaricio seus mamilos com a ponta dos dedos só parando quando meus lábios
chegam á eles. As mãos dela percorrendo meu peito e barriga demora um pouco
mais apenas para desabotoar a calça e o zíper descer.
Ao mesmo tempo em que a umidade de meus
lábios chega a sua barriga. Aproveito as mãos livres e abro um ou dou botões de
sua calça.
Já nus na cama sinto seu sabor e odor
intensos, da mesma forma que seus lábios também se encontram ocupados.
Fizemos amor. O mais intenso dos
sentidos humanos.
Já passado algum tempo, abraçados,
perguntei.
- Gosto muito de você e jamais vou
querer te machucar, mas (grande pausa), o quê foi isto?
Claudia respondeu sem nenhuma dúvida nos
olhos que olhavam os meus neste momento.
-
Confiança. Só isso, Confiança. E nos beijamos novamente.
Repetimos mais vezes, ainda naquela
noite que logo se tornou dia. Tomamos banho e nos despedimos.
Pensava em tirar uma soneca antes de
partir, porém a conversa na porta já anunciava a hora. Um “toc, toc” na porta e
eu sabia que era a senha.
- Precisamos estar em Boston Logan
International em uma hora, apresse-se. Wilmer nem terminou a frase e eu já
estava do lado de fora. Erick estava no banco do carona do carro com motorista
parado na porta.
Entramos no carro e rumamos para o
Aeroporto em Boston.
Antes de entrarmos na Vassar Street
olhei com espanto para Wilmer. O mesmo parecia dono da situação e estava muito
serio.
A dobrar para a Main Street percebi que
Wilmer olhara para traz certificando-se que ninguém nos seguia.
Atravessamos a Longfellow Bridge e logo
saímos á direita para contornar Beacon Hill Garden Club tomando a Charles
Street, mais um zigue-zague na Martha Road e já estávamos contornando o North
End Park. Boston tem uma excelente malha viária.
Entramos no Summer Tunnel, maravilha de
construção sob um braço de mar. Obra inaugurada em 1934.
Ao sair do túnel, nova olhada de Wilmer,
para trás e parecia aliviado ao entrarmos no Boston Logan International
Airport.
O check-in no aeroporto foi rápido, pois
nenhum de nós tinha muita bagagem, exceto bagagem de mão.
Ao afivelar o cinto, comentei com Wilmer:
- Cara, isto está mais parecendo uma
fuga que qualquer outra coisa. Recebi uma resposta seca em seguida.
- Pode apostar suas pernas nisso.
Precisamos chegar logo á Nova York.
Saga
Derinarde II – Capítulo 037
Wilmer só voltou a respirar normalmente
no momento que o trem de pouso do Boing fez barulho de recolher.
Fizemos boa viagem para Nova York. Cerca
de trinta minutos. E já estávamos atingindo o solo.
O JFK estava movimentado como sempre e
as subidas e descidas das aeronaves faziam do barulho constante um turbilhão de
querosene queimado deixando a paisagem embaçada e tremulante.
Estranhou-me ver, da janela que eu
estava, uma “Van” diplomática, com o brasão do Brasil, estacionar ao da
aeronave. Os passageiros desciam pelo lado esquerdo e após o último passageiro
descer, o comissário de bordo abriu uma porta do lado direito.
Uma escada foi colocada nesta porta e
após este procedimento fomos informados que poderíamos descer por ali.
Ao tocar o pé na pista perguntei ao
Erick, que estava a minha frente, o que estava acontecendo, mas antes de obter
a resposta, Wilmer que vinha logo atrás empurrou-me para dentro da Van.
Ao fechar a porta, Erick completou:
- É apenas um atalho.
A Van seguiu sinuosamente por linhas
pintadas na pista até uma área destinadas á aeronaves particulares.
Paramos ao lado de uma aeronave Lineage
1000 de fabricação Brasileira. A porta da Van foi aberta por uma linda aeromoça
que logo foi se apresentando.
- Meu nome é Eliane Almeida.
- A Embraer lhe dá as boas vindas em
nome do Brasil e da Universidade de São Paulo.
Ela indicou a escada por onde subimos de
imediato.
Na porta da aeronave outra mulher, com
uniforme branco e chapéu sob o braço nos aguardava.
- Sou a comandante Mell Ferrari da Força
aérea brasileira, bem vindo em território brasileiro. E continuou:
- A Dr. Elen Perez, diretora geral da
escola politécnica, do projeto “O ser do futuro” e secretária geral de
tecnologia do Brasil lhe oferece transporte oficial de retorno para casa.
Entrei sem deixar de pensar: “A filha da
puta conseguiu”.
Wilmer e Erick eram só sorrisos e
alívio. Estávamos em área internacional, em uma nave com imunidade diplomática.
Entramos e nos acomodamos enquanto a
escada subia e a porta se fechava.
Uma voz nos alto-falantes iniciou.
- Senhores bom dia. Aqui quem voz fala é
o segundo comandante da aeronave, Boanerges Abdon Lopes Bezerra. Partiremos nos
próximos quinze minutos e nossa viagem até o aeroporto de Congonhas, São Paulo,
está estimado em 10 horas. Acomodem-se em seus lugares, apertem os cintos e boa
viagem.
Pensei ter ouvido aplausos de Wilmer,
quando olhei para ele, o mesmo esfregava as mãos como forma de contentamento.
Os quinze minutos informados pelo
segundo comandante Boanerges se cumpriram e o avião começou a se movimentar em
direção á cabeceira.
A nave apontou para oeste e o anuncio
nos alto-falantes foi imediato.
- Decolagem autorizada. Ouvi o afivelar
do cinto da comissária Eliane Almeida. A potência dos dois motores do Lineage
1000 entrou em ação.
Ganhamos velocidade e logo mais altura.
Estamos á caminho de casa.
Saga
Derinarde II – Capítulo 038
No momento que as luzes indicativas de
cinto de segurança se apagaram comecei a reparar no interior da nave, que
espetáculo. Cabiam, pelo menos, 20 passageiros em poltronas hiper confortáveis
e espaçosas. Um segundo ambiente com uma enorme mesa para jantar ou reunião,
outro espaço privativo e outras áreas para lazer. Tem uma super autonomia, uma
vez que seu compartimento de carga pode ser convertido para tanque de
combustível e pode chegar á uma velocidade de até 1100 km/hora. Isto é 0,925
Mach. Componentes eletrônicos de última geração. Uma obra prima da indústria
aeronáutica brasileira.
Alguns minutos de viagem e a graciosa
Eliane anunciou que o café da manhã estava servido. A mesa era farta de pães,
bolos e frutas.
Enquanto tomávamos café, a Comandante
Mell juntou-se a nós. Aproveitei para pressionar Wilmer:
- Você pode me explicar o que está
acontecendo ou é segredo de estado?
Wilmer tomou um gole de café e começou a
falar.
- A Europa, através do professor Ronaldo
Ambrósio, estava pressionando demais a sua transferência para a Alemanha e
assim se tornariam responsáveis pelo projeto. Através de uma manobra política e
muito inteligente a Dra. Elen conseguiu inverter a situação. Que mulher essa
Doutora, que mulher.
Interrompi Wilmer.
- Se estava resolvido, por que essa
pressa?
Wilmer continuou.
- Como eu disse, foi uma manobra
política e esta manobra da Dra. Elen tem o apoio dos Americanos, porém o acordo
tecnológico Brasil – Estados Unidos tem algumas brechas que poderiam fazer com
que o projeto ficasse totalmente aqui. Antes que alguém entrasse nesta questão,
foi resolvido que você seria transferido para o Brasil.
Terminei de engolir uma deliciosa uva
sem sementes e tornei a perguntar.
- E esta história de secretária de
estado, como a raposa chegou aos ovos?
Desta vez que respondeu foi Erick.
- A Dra. Elen além de excelente
cientista é uma estrategista nata. Aproveitando-se da falta e um ministro de
ciência e tecnologia e usando da força do projeto, ela convenceu a presidente
que a pasta não poderia ficar com desfalque nesta ocasião e como ela, a Dra.
Elen, tem livre acesso na Comunidade Europeia e Americana seria conveniente que
pudesse responder pelo Brasil, a altura.
Acrescentou.
- Em seu poder único de convencimento, a
Dra. Elen ganhou a atenção da presidente e com isso o cargo.
Falamos por mais de uma hora e concluí.
A Nazi é fogo.
Saga
Derinarde II – Capítulo 039
A viagem transcorria bem, estávamos á
dez mil metros de altitude, em uma velocidade perto de mil quilômetros por hora
e muitas pequenas ilhas pediam ser avistadas naquele enorme oceano quando uma
voz chama minha atenção que estava voltada para a janela.
- Lindo não?
Era a comandante Mell que apontava a
janele que eu olhava.
- Hã, como? Olhei para ela, pois meus
pensamentos não permitiram que o som de sua voz os desfigurasse.
- O Caribe. Lá em baixo é o caribe.
Lindo, não é mesmo?
- Ah, sim. Muito bonito. Aquela ilha
maior, ali atrás, onde é? Apontei um pouco mais atrás.
- A redonda, que estamos passando agora
são Haiti e República Dominicana, e próxima, mais á frente, Porto Rico. Não dá
para ver daqui, mas mais adiante é o paraíso dos irmãos Castro. Todas
excelentes para mergulhos. Completou.
- Hummm, então você terá que me trazer,
um dia, aqui. Adoro mergulhar. Já me convidando.
- Minhas férias são em Maio e todo ano
venho para cá. Tome meu cartão. Tirou um cartãozinho do bolso e me entregou,
finalizando.
- Adoraria trazer você para o paraíso.
Fomos interrompidos pela comissária
Eliane.
- O almoço está servido.
Erick que aparentemente dormia com uma
folha de jornal sobre o rosto, em um só pulo, ficou de pé.
- Nossa que fome. Erick disse já se
dirigindo á mesa.
Sentamos e reparei a beleza da mesa. Ao
que cada direcionamento de olhar, Eliane apresentava os pratos.
-Esta é uma lasanha de camarão ao molho
de espinafre, arroz ao funghi sechi e salada de couve de Bruxelas com coração
de alcachofra.
- Parece uma delícia. Isso tudo vem
pronto ou foi você quem fez? Eu sabia a resposta, pois á vi cozinhando a manhã
toda.
- Eu mesma. Para esta linha, ser “chefe”
é requisito. Indicando que era responsabilidade do comissário de bordo o
preparo de refeições, afinal aquele é um avião de luxo.
Um “ploc” chamou a atenção de todos que
imediatamente saudaram. Mell abriu uma Möe Chandon, e começou a servir as
taças.
Brindamos á nossos sonhos e nos
deliciamos com a comida.
A comandante Mell foi a primeira a
terminar o almoço, pediu para se retirar, pois tinha que dar a vez para se
co-piloto, Boanerges.
Após Mell entrar na cabine, Boanerges e
Eliane se sentaram conosco. Ao que logo perguntei:
- Então Boanerges, pretende seguir esta
carreira de militar? Queria cria assunto, pois todos estavam calados á mesa.
- Não, não sou militar. Sou piloto do
banco R. Andrey. Sou eu quem pilota essa máquina. Inventaram essa oficial aí
nem sei por quê. Boanerges disse com a maior naturalidade.
Wilmer percebeu para onde se caminhava a
conversa e deu alguma explicação.
- É só uma questão de política
internacional. O governo brasileiro não poderia participar de qualquer ação, em
outro país, sem uma justificativa convincente, então o Dr. Rodrigo cedeu o...
- Então isso foi realmente um sequestro?
Interrompi Wilmer dando um tapa na mesa.
Saga
Derinarde II – Capítulo 040
Erick que estava calado fazendo
dobraduras em seu guardanapo falou para terminar o assunto.
- Deri, você é assunto de estado e não
estamos autorizados á discutir qualquer assunto com você. Se alguém tem
explicações a lhe dar ou se alguém vai lhe dar qualquer explicação, não seremos
nós.
Erick desfez o que estava fazendo no
guardanapo, amassou-o com a mão esquerda, jogou sobre o prato e se retirou para
toalete dizendo já de pé.
- Assunto encerrado.
Eliane, assustada com o tom de voz de
Erick, não movimentava o talher, congelara a mastigação e apenas os globos oculares pareciam ter
movimentos.
Boanerges também percebeu a situação de
Eliane, chamou a atenção dela dando de ombros, elevando as sobrancelhas e
apontando o prato com a faca em seguida se dirigiu a mim no intuito de amenizar
a situação que estava surda e muda.
- A Eliane aqui também faz parte da
tripulação efetiva da nave. Muito boa comissária e excelente “chefe”, não
acha?
- Até o momento é a única coisa que
posso concordar, com licença. Me levantei e fui ate minha poltrona onde estava
meu tablet.
Enviei um E-mail para Elen. “Elen, me
chame no Skype imediatamente”.
Uma facilidade dos dias de hoje, a rede
Wi-Fi de banda larga a dez mil metros de altura era um sonho impensável há
alguns anos atrás.
A última hora demorou uma eternidade á
passar, ainda mais porque ficar acessando a caixa de entradas de emails a cada
cinco minutos deixa ainda mais lento.
Dei um tapa no tablet jogando-o no chão,
como se ele fosse o total responsável pelo que estava ocorrendo.
A comandante Mell que passava naquele
momento por minha poltrona recolheu o tablet do chão e me devolveu com uma
história.
- Certa vez ainda criança, jogando
xadrez com meu pai, eu perdi minha rainha e comecei a chorar.
- Meu pai disse, “Enquanto você chorar
por esta derrota não conseguirá sorrir pela vitória. Á cada perda, pare e
reflita o quê de melhor poderá fazer para reverter à situação, tirando o máximo
proveito, nem que seja o aprendizado”. Eu enxuguei as lágrimas do rosto, voltei
o olhar para o tabuleiro e vi a oportunidade única de aplicar um xeque mate em
papai.
- Após ganhar a partida perguntei a ele:
Foi de propósito que me deixou ganhar? Ao que me respondeu:
“Não. Eu errei. Porém ao invés de chorar
ao perceber meu erro decidi aguardar a próxima oportunidade da qual tinha
certeza da vitória. Das duas, uma: Ou você não veria a jogada, pois estava
chorando, ou eu veria seu sorriso ao final.”
Mell acrescentou:
- Tente tirar o máximo proveito. E foi
para a cabine.
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