Saga Derinarde II - Capítulos 001 á 040

Saga Derinarde II – O Inicio
Estava eu, a caminho do trabalho, na região da paulista, quando, atingido por uma perua Kombi, fui ao chão.
A perua: Uma perua Kombi, branca, da empresa transbraçal, transportando trabalhadores, da pista da esquerda entra para uma entrada de estacionamento á direita. Prédio do banco central na região da avenida paulista.
Eu: Sobre uma motocicleta Honda, XLX-250R, vermelha, na pista da direita, com intenção de seguir em frente atravessei a tal perua, sem a mínima chance de desviar ou frear.
Ao chão, consciente, não percebia mobilidade nas pernas. Não percebia a gravidade da contusão.
Levado ás pressas para o hospital mais próximo, hospital 9 de Julho, coincidentemente o hospital de primeira de minha natalidade, nasci neste hospital, não imaginava que ali teria minha segunda chance de vida, a segunda natalidade e mais que isto, a primeira imortalidade.
Em um projeto pioneiro, médicos e cientistas desenvolviam articulações mecânicas e robóticas, e dado minha situação de acidentado, fui submetido ao tratamento.
Com as articulações do pé e tornozelos comprometidos nada mais restava a não ser a reconstrução sintética de tais partes afetadas.
Entre a possibilidade de amputação e a reconstrução mecânica só restava uma opção, a qual me agarrei com total confiança ao especialista eu me reconstruía.
Depois de seis horas de cirurgia não imaginava a quantidade de metal que compunha meu corpo.
Dos quase 30 ossos que compõe o pé, 18 foram compostos por uma nova liga á base de nióbio, pensava ser titânio até pouco tempo atrás, mas fui informado que o nióbio fornecia uma liga mais leve e resistente que o titânio.
O tornozelo, ah o tornozelo, que obra de arte. O tornozelo humano passou á segundo plano perto daquela obra de arte esculpida da mesma liga de nióbio.
Como não tive lesões nos nervos e músculos, os mesmo ainda foram aproveitados para movimentar aquela obra de arte.
Tudo no lugar, quatro meses depois, estava correndo e pulando como nem mesmo antes fazia.

Saga Derinarde II – Depois do primeiro ficou fácil
Ficou fácil.
Recuperado só restavam as brincadeira e piadas dos colegas.
Vai graxa ai?
Faz barulho quando faz sexo?
Se tomar banho enferruja?
Fora isso que era muito bem vindo, pois era uma demonstração de afinidade e amizade, tudo corria bem.
Impressionante como a adaptação foi rápida e cada vez melhor ficava.
Vida normal e nem lembrava que tinha peças não naturais no corpo.
Queria o destino sofri um novo acidente.
Mesma moto, quatro ou cinco anos depois, sobre o grande viaduto do complexo Maria Maluf, voltando do serviço, lá pelas nove ou dez da noite, ao desviar de um carro parado sobre o viaduto, o desvio não foi suficiente.
Estava já próximo do veículo parado, quando o motorista abre a porta e inevitavelmente pego em cheio.
A porta divide meu joelho em duas partes iguais.
Chamado equipe de bombeiros sou removido a um hospital em Pinheiros ou Lapa, não lembro muito bem.
Bem não importa o hospital porque coincidentemente a equipe que me atendeu era a mesma da vez anterior.
Vim, a saber, depois que nenhuma coincidência aconteceu, eles estavam lá de propósito, pois foram alertados imediatamente após minha entrada á unidade.
Recebi um joelho do mesmo material que o tornozelo, mas desta vez alguns nervos foram substituídos também com ligas sintéticas.
Outros quatro meses de fisioterapia e o esquecimento se encarregaram de me tornar igual a qualquer outo.
Passei a encontrar o pessoal da cirurgia com mais frequência e fazer parte de um grupo especial de estudo, pois agora tinha alguns componentes que era de interesse de medicina e robótica.
Após algum tempo, uns três anos, concordei em acoplar um coletor de dados em meu corpo.  Um tipo de chip de memória que coletava informações sobre as articulações, tanto as artificiais quanto as naturais.
Bem veja que comparação, tinha um tornozelo esquerdo e um joelho direito artificiais que muito bem poderiam se comparados com o tornozelo direito e joelho esquerdo naturais.

Saga Derinarde II – III Pela ciência
Com as rotinas periódicas me acostumei com o pessoal e principalmente com os equipamentos.
Era comum eu levar para casa equipamentos que ficavam amarrados na cintura e fazia leituras das mais diversas.
Batimentos cardíacos, quantidade de exercícios físicos e passos e quantidade de vezes que dobrava os joelhos e saltava e corrida e, e, e...
Passado algum tempo nem lembrava que carregava alguns quilos de fios e equipamentos.
Outros chips foram implantados, na coxa, no abdome, nuca e cérebro.
Achava legal, pois á cada implantação, fios e equipamentos externos eram eliminados.
Passados quatro anos tinha 18 implantes de sensores e outros estimuladores sensoriais que ajudavam nos exercícios físicos, pois, eliminavam dores e me faziam mais resistente.
Nesta época não imaginava onde iria chegar, porém mesmo que soubesse, não acho que seria um limitador, pois os resultados eram cada vez mais estimulantes.
A não ser as pessoas de um circulo muito limitado de colegas, pouca gente sabia das condições a que me submetia.
Bom para os estudos, bom para mim, que pouco era assediado pela imprensa ou curiosos.
A tecnologia implantada era tão eficiente que baterias ou outras formas de acumuladores ou fornecedores de energia para os chips não eram necessários, bastando apenas a energia estática gerada pelo próprio organismo.
Passado algum tem meus resultados se justificava á uma remuneração, bastando-me apenas executar exercícios físico e atividades biométricas para coleta de dados do estudo.
 
Saga Derinarde II – Capítulo 004
Nos dias de hoje...

Acordei cedo, como de costume, tomei um banho e na cozinha preparei uma grande tigela de cereais com leite.
Enquanto consultava as notícias pela internet, devorava o preparado com a mesma velocidade que os olhos percorriam a tela.
Saciado a fome, de alimentos e de notícias, saí em direção á academia que fica á poucas quadras de casa.
Por ser um bairro muito arborizado, andar de manhã cedo é algo muito prazeroso. Pássaros fazendo algazarra nas árvores e flores coloridas com seu perfume exalado são detalhes indispensáveis na paisagem.
Ao chegar á academia e para fechar com chave de ouro o trajeto de casa á academia, sou recepcionado por um largo sorriso de Gleide Gleidinha.
- Bom dia Deri. O David passou ontem á noite aqui e disse que chegaria mais tarde, hoje. Deixou seu roteiro de exercícios para a semana. Tome aqui.
- Bom dia Gleide. Espero que seu dia seja tão bom quanto o meu que começou.
David Siqueira é meu personal trainer já há uns dois anos e devo meu condicionamento físico á ele que sempre me estimula a dar o meu melhor de mim, seja físico ou mental.
Ao verificar o roteiro de exercícios percebi não haver sequer um exercício muscular, somente aeróbico, o que me causou estranheza, porém sendo ele meu orientador há tanto tempo, deve saber o que está fazendo, pensei.
Um cara de vinte e oito anos, como eu, teria que ter um físico sempre afinado, e aeróbico não tem este objetivo.
Fui para a esteira do fundo e comecei minha série.
- Bom dia Eduardo, bom dia garota.
Eduardo Soares já conhecia da academia e ele esta já bem ofegante demonstrado que estava há quase uma hora na esteira e a garota ao lado já havia visto algumas raras vezes, mas nunca havia falado.
- Elen Perez, bom dia. Respondeu a garota.
Elen fazia uma caminhada rápida na esteira e somente abriu um rápido sorriso ao dar bom dia, depois continuou com foco em sua caminhada.
Passaram-se uns cinco minutos e Eduardo terminou sua serie e saiu para o banho.
Achei de bem iniciar uma conversa com Elen, pois eu ainda não estava ofegante o bastante e como ela só caminhava não seria nenhum sofrimento conversar.
- É difícil ver você por aqui neste horário. Eu venho todos os dias e é raro te encontrar.
- Eu venho aqui só quando quero te ver. Retrucou Elen sem ao menos olhar para o lado.
Neste momento eu tropecei e quase caí da esteira, mas me recompus á tempo, porém ela percebeu.

Saga Derinarde II – Capítulo 005
Elen desligou sua esteira, enxugou a testa, virou para mim e disse:
- Sou diretora do centro avançado de robótica e precisamos conversar. Termine sua serie e nos encontramos ás oito horas no refeitório.
E saiu para á área das duchas.
Mulheres. Vou te dizer. Mulheres.
Se ela tivesse me ignorado ou dado uma simples resposta de que só estava se preparando para o verão, mas não...
Fiquei uma hora e meia nos exercícios, quer dizer meu corpo ficou, pois minha cabeça não parava de ecoar: “centro avançado de robótica”, “centro avançado de robótica”...
Terminado minha série, ducha tomada, me dirigi ao refeitório, para meu anunciado encontro.
Ao chegar ao refeitório encontrei outra Elen. Sem a roupa de treino, agora socialmente elegante e muito mais alta sobre aqueles incríveis e pontiagudos saltos, com impecável, mas sutil maquilagem, enormes argolas nas orelhas.
Estendeu formalmente a mão.
- Elen Perez do departamento avançado de robótica e o que tenho para falar com você é muito sério.
Por que não mandaram Saddam Hussein falar comigo, teria sido mais natural e menos frio que essa mulher.
- Eu sou todo ouvidos.
Na verdade mais “fígado” que ouvidos, mas não quis me expor deste jeito.
- Você tem dezoito censores em seu corpo e semanalmente você scaneia-os e transfere a informação para o “Centro”.
Até aí tudo bem, uma rotina já há mais de três anos.
- Detectamos na última coleta, ontem, que tem alguma coisa que precisa mudar e você seguirá comigo, agora, para o Centro.
Não entendi ao certo se deveria bater continência ou responder algo, mas antes de decidir ela já havia levantado da cadeira e seguiu em direção á porta.
Levantei e a segui.
Ela não poderia ser apenas aquela mulher gostosa que seguia á minha frente?

Saga Derinarde II – Capítulo 006
Entramos em um IX30 amarelo, o mesmo tom de amarelo do Camaro, só que sem as faixas pretas.
Ao volante Elen ficava ainda mais imponente, mais autoritária, porém muito mais sexy.
Em meia hora passávamos os portões da USP (Universidade de São Paulo) e após algumas curvas para lá e para cá, não sei bem quantas, pois minha atenção estava totalmente voltada para o decote da blusa de Elen, que devido ás curvas deixavam parte de seus seios dizerem oi para mim, paramos no estacionamento da Poli (Escola Politécnica).
Antes mesmo de puxar o freio de mão, sua porta já estava aberta e em um movimento rápido só havia eu dentro do carro.
Sai e a segui, porém desta vez ao seu lado, não mais atrás, observando suas delirantes curvas.
Entramos no prédio e seguimos por um corredor muito iluminado.
No caminho cruzamos com três ou quatro pessoas de aventais brancos e cada uma das pessoas nos cumprimentavam, quer dizer, cumprimentavam Elen.
- Bom dia Doutora Elen.
Pouco antes do fim do corredor, Elen abriu uma porta e fez sinal para que eu entrasse.
- Aguarde um momento que já voltamos.
A sala em que eu estava era espaçosa. Tinha uns trinta metros quadrados. Muito bem mobiliada com sofás em madeira e almofadas brancas de couro, uma enorme mesa de centro em aço e vidro.
Um vaso com flores sintéticas, mas da melhor qualidade, duas “coisas” parecendo obra de arte ladeando este vaso.
Nas paredes muito lisas e brancas, quadros pintados á óleo, mas para mim se fossem pintados á graxa seria a mesma coisa, pois nunca reparei em quadros.
Não havia janelas, apenas a porta que entrei e agora permanecia fechada.
Um pensamento me assombrou: Estaria preso?

Saga Derinarde II – Capítulo 007
Dez ou quinze minutos depois a porta se abre e entram Elen, David, para minha inimaginável surpresa, e dois outros caras.
Apontando para o mais velho, Elen o apresenta:
- Este é o professor doutor José Willian Baptistella introdutor e responsável geral pela condução do programa.
Realmente minha preocupação e nervosismo faziam jus á situação, a coisa estava ficando séria.
-Este outro é o doutor Ricardo Régis Lima responsável pelo desenvolvimento de movimentos espaciais.
O cara mais parecia um comediante de “stand up comedy americano” que um professor, mas logo mudei de opinião ao ouvi-lo falar do projeto.
-Este você já conhece. David Siqueira. Professor doutor em bio-tecidos e seu personal também.
Eu gostaria de perguntar muitas coisas ao David, alias á todos eles, mas meu cérebro meteu uma tranca tão grande em minha boca que eu mais parecia o Neil, em Matrix, quando o Sr. Smith faz sua boca desaparecer.
Dr. Willian tomou a palavra.
- Este projeto iniciou á vinte anos e você passou por ele em seu primeiro acidente, recebendo uma de nossas melhores próteses de tornozelo. Muito bem, quisesse a coincidência, você insistiu em continuar em nosso projeto com seu segundo acidente. Seu joelho é uma obra prima desenvolvida, também, aqui em nossos laboratórios, e depois disso acompanhamos e atualizamos estes equipamentos constantemente, durante a passagem de scanner que você faz semanalmente.
- Durante estes dois últimos anos você recebeu, quero corrigir, os seus equipamentos receberam duzentos e quatorze atualizações de software e para seu organismo poder fazer melhor uso disto, os seus exercícios foram orientados pelo Dr. David.
Eu sabia que tudo tinha uma explicação, mas putaqueoparil...
David tomou a palavra.
- Você tem se esforçado bastante e se adaptou bem aos equipamentos, e devo dizer que os equipamentos também se adaptaram bem á você, mas...
Caraca. O David ou Dr. David, agora, estava indo tão bem, não podia ter parado antes do “mas”?
- O seu organismo chegou ao limite, você não tem como acompanhar os equipamentos.
Será que vou ter que devolver? Pensei e entrei em pânico.

Saga Derinarde II – Capítulo 008
Interveio Elen.
- Não, você não vai ter que devolver nada.
Pronto, fudeu, agora eles estão lendo minha mente, eles estão lendo minha mente...
Acho que vou ter uma parada cardíaca.
Pensa em outra coisa, pensa em praia, praia não, futebol, pensa em mulher, “Caraca”, pense, apenas pense.
Elen continuou.
- Se é que você está pensando nisso ou em algo do gênero. Nós temos duas opções a lhe oferecer, mas não precisa responder agora. Hoje você está aqui apenas para conhecer os fatos.
Dr. Ricardo falou pela primeira vez e tirou a impressão de comédia, que eu tinha, de seu rosto.
- A tecnologia empregada nos equipamentos já chegou ao seu limite, não ao limite do equipamento, mas ao seu, ao limite “humano”. Fazendo aspas com os dedos.
- Você não mais acompanha o potencial do equipamento. Não é um problema exclusivamente seu é uma limitação humana, e não temos como resolver esta limitação “humana”. Fazendo aspas com os dedos.
Bem, depois de quase quatro horas em que cada um complementava o que o outro falava, a Elen encerra a reunião dizendo:
- Você tem estas duas opções e tem trinta dias para dar uma resposta. Qualquer que seja sua resposta nós acataremos sem nenhum “mas”, sem nenhuma restrição ou repreensão. Está apenas em suas mãos.
Despedimo-nos e Elen, ao celular, tentou conseguir uma condução para me levar para casa, quando David se prontificou a fazê-lo.
Na saída, David encontra um colega o qual apresenta a mim.
- Este é Nori Wildelifeshot, o mago da imagem e este é Deri, o cara que tem a mais importante decisão a ser tomada.
Nori, com o maior sorriso que eu já vi na minha vida, me cumprimenta.
- Deri, já te fotografei muito, e posso até dizer, por fora e por dentro.
Maneira mais indelicada de se apresentar á alguém, oras bolas.
- Acho que o pessoal daqui realmente me conhece mais do que eu mesmo.
David interrompeu.
- Estou levando o Deri para casa, tá ocupado?
- Não, não, vamos nessa. Respondeu Nori segurando duas ou três máquinas pendurados em seu pescoço.
Entramos em um Peugeot 308 azul e seguimos em direção á minha casa.
Nori, que estava no assento traseiro se encaixou entre os bancos dianteiros.
- Tenho mais de oito mil fotos no meu acervo.

Saga Derinarde II – Capítulo 009
- Tem foto de gente importante?
- As oito mil fotos são suas.
- Você tem oito mil fotos minhas?
- Como eu disse, por fora e por dentro.
- Qual foi a minha foto mais difícil de conseguir? Já imaginei os locais mais constrangedores que frequentei.
De pronto ele respondeu.
- O movimento do vasto intermédio.
- Que porra é essa? Eu nunca fui aí.
David interveio.
- Vasto intermédio é um dos quatro músculos do quadríceps que ficam na coxa e origina na patela, você conhece como rótula e no seu caso, ligados ao sensor do equipamento...
- Para de falar dessa porra de equipamento, estou me sentindo uma batedeira de bolo. Fechei a cara.
- Ao sensor do seu joelho. Terminou a frase que cortei.
Decidi não perguntar mais nada ao Nori. Não por culpa dele, mas este conhecimento sobre mim era estranho.
- E você, David, não se envergonha de me enganar todo esse tempo?
Achei que poderia ficar algum tempo por cima. Eu quebrei a cara antes do que imaginava.
- Primeiro: Sou seu personal e tenho sido fiel nos acompanhamentos e exercícios.
- Segundo: Você se auto scaneia uma vez por semana, então sabia que estava sendo monitorado.
- Terceiro. Seus equipa..., tsec, joelho e tornozelo nunca apresentaram falhas que precisasse de minha intervenção.
- Quarto...
- Tá bom, tá bom, me convenceu.
- É muita coisa para um cara só, vamos mudar de assunto, e a Elen, a doutora?
- É uma das mais brilhantes estudiosas de...
- Não, não é isso, você acha que tenho chances?
-Bem!
David olhou bem para mim, sentado no banco do passageiro, da cabeça aos pés.
- Se você fosse uma batedeira de bom, sim.
E caímos na risada.

Saga Derinarde II – Capítulo 010
Ao me deixar em casa, David se despediu dizendo:
- Você não deveria deixar a rotina da academia isso lhe faz bem, até para pensar é melhor e amanhã às seis da manhã eu estarei lá.
Um flash  e um clic foram seguidos de um comentário do Nori.
- Ficou muito boa, muito boa, depois te mando por e-mail para você ver a sua cara. Muito boa.
Eram duas horas da tarde e eu não havia almoçado ainda, liguei para Patrícia Rodrigues Barreiro e a chamei para almoçar.
Tinha que compartilhar isto com alguém e a Patrícia era amiga de faz anos, alguém de confiança.
Nós nos encontramos em uma charmosa cafeteria, na vila Mariana, fizemos o pedido e fomos para a mesa conversar.
- Paty, você sabe que tenho umas peças no corpo, uns “equipamentos”, né?
- Sim, joelho, tornozelo, mas quem não sabe?
- Espere aí. O pessoal que desenvolveu isso me chamou para conversar.
- O quê? Eles querem de volta? Foge para o interior. Eu tenho uma tia em Garça, o nome dela é Rosana Rodrigues da Silva ela mora na rua...
- Não, para. O negócio é o seguinte...
Contei tudo o que aconteceu desde o momento que encontrei com Elen, na academia.
- Tenho um mês para dar a resposta. E aí? O que você acha?
- Eu acho que você deve dar a resposta, oras.
- Tá, mas o quê eu respondo? O quê eu faço? O quê você faria?
- Você eu não sei, mas se fosse comigo... Bem, se fosse comigo... Assim oh... eu, bem, eu ligaria para minha tia, lá em Garça. Sei lá.
Almoçamos e eu á acompanhei até a estação de metrô.
Já, ela, lá embaixo, antes de entrar no trem, gesticulava em mímica e sem som, “TIA”, “GARÇA”, “ME LIGA” com a mão fazendo sinal de telefone.
Voltei para casa caminhando. Foram os dez quilômetros mais rápidos que percorri. Absorto em meus pensamentos eu viajei quase na velocidade da luz, mal percebi e já estava no portão de casa.

Saga Derinarde II – Capítulo 011
O resto do dia passou da mesma forma, monótono e rápido ao mesmo tempo. Já era tarde da noite quando peguei no sono.
Na manhã seguinte, como sempre, cedo estava de pé, mas não antes de certificar que o dia anterior não fora um sonho ou talvez um pesadelo.
O mundo continua girando e a academia já estava aberta.
O lindo sorriso de Gleide Gleidinha me dava boas vindas.
Olhei fixamente para seus olhos negros e perguntei.
- Você também sabia?
- Sabia do quê?
- Dos “equipamentos”? Sabia dos equipamentos?
- Por quê? A esteira quebrou? Você se machucou? Ai meu Deus, vou ligar para o Sr. Daniel Gomes, ele vai consertar. Qual delas?
- Não, não. Está tudo em ordem. Eu que me enganei. Bom dia.
- Ai que susto Deri. A gente fica de olho na manutenção, mas às vezes escapa. De qualquer forma o Sr. Daniel tem que vir aqui hoje, isso, eu vou ligar agora.
Fui para a esteira do fundo. Eduardo acabara de chegar e já estava no pique. Emparelhei e começamos a correr.
Conforme eu amentava a velocidade Eduardo aumentava também, até que teve um momento que ele diminuiu.
- Ai, ai, ufa, uau. Não aguento. Vai à frente que eu te alcanço.
- Era gritante a diferença de velocidade, além de eu ser mais jovem que Eduardo, minhas dobradiças, os tais equipamentos, também eram mais rápidos.
- Eduardo, qual é o seu papel. Perguntei desconfiado, mas sem muita certeza.
- Sou da segurança. Eu te acompanho. Claro, quando dá.
Eu me senti o verdadeiro Truman Burbank no filme O show de Truman com Jim Carrey. Eu era acompanhado vinte quatro horas por dia, um show da vida.
Neste momento entrou o David e como quem tivesse ouvido a conversa complementou.
- Se houvesse algum travamento ou pane no equipamento o Eduardo estaria por perto, para as devidas providências.
A semana transcorreu bem e o peso dos pensamentos deu uma trégua. Existiam, mas não sufocavam.

Saga Derinarde II – Capítulo 012
No final de semana, sábado, a Patrícia me ligou.
- E aí, tudo bem, Paty?
- Tudo, já falei com minha tia, a casa está à disposição.
- Deixa disso, Paty. Não corro risco.
Conversamos um pouco e desligamos.
Assim que desliguei, o fone tocou novamente.
Era Mario Alves, colega de trilhas e aventuras.
- Deri, a galera fará uma trilha amanhã. Vamos nessa?
Como não tinha nada planejado para domingo, topei de imediato.
Cedo cheguei e quatro motoqueiros já estavam aguardando. Outros dois chegaram aos dez minutos seguintes. Todos nos com motocicletas off Road.
A minha, uma moto de 350 cilindradas, de quatro tempos, mas ela já tem tanta adaptação e tanta peça de outras motos que me recuso a dizer qual a marca da danada.
Seguimos para Ribeirão Pires e por trilhas em direção á Bertioga.
Já no meio da serra, duas horas distante de qualquer lugar civilizado, paramos próximo a uma cachoeira para refrescar.
Como a natureza é bela sem a presença do homem. Intocável. Encantada.
Aproveitando a parada, comecei a escalar o paredão da cachoeira. Logo atrás estava Mário. E subimos, subimos, até o topo. Eram uns trinta e poucos metros e a paisagem, olhando lá de cima tinha quilômetros.
Lá no topo, Mário declara.
- Pô Deri, nem dá para acreditar que você tem esse monte de lata e parafusos nas pernas e faz o que muita gente sem isso não faz.
Aquilo bateu em mim como uma janela de um quarto escuro que se abre para o leste no nascer do sol.
O brilho e intensidade daquelas palavras do Mário me fizeram arrepiar e enxergar mil vezes a paisagem que tinha á frente.
Ao que respondi ao Mário.
- É meu amigo, e ainda vou fazer muito mais e com muito mais.
Descemos por onde subimos, mas nos últimos cinco ou seis metros nós despencamos na agua fria. Que delícia.

Saga Derinarde II – Capítulo 013
Conforme havíamos combinado, chegamos à Bertioga próximo ao horário do almoço, tomamos um bom banho de mar e fomos almoçar.
Fomos almoçar no Borghese, em Bertioga mesmo. Já conhecíamos o dono.
Adauto Barbosa um chef de mão cheia. Ele se sairia bem em qualquer restaurante fino em São Paulo ou Paris, mas se recusava em deixar Bertioga.
Bertioga era sua vida e o Borghese seu caminho.
Comemos um badejo que os Deuses ficariam com inveja.
Desculpem os puritanos e menores de idade, mas vai cozinhar assim na casa do cara#@$*.
Comemos, muito por sinal, bebemos pouco, mas bebemos, conversamos muito. Resumindo, foi mais um dia especial.
Fizemos uma “ciesta” nas redes instaladas em arvores atrás do restaurante, coisa que pouca gente sabe.
Duas horas depois estávamos prontos para a volta.
Despedimo-nos de Adauto e voltamos para São Paulo, só que desta vez, pelas estradas convencionais.
Um ótimo fim de semana.
Já em Sampa paramos no lava-rápido do Sandro Oliveira. Grande camarada.
Estava fechado, mas como ele mora no lava-rápido, estava bebendo umas cervejas no quintal.
O portão não estava trancado, apenas encostado e Sandro nem se mexeu para abri-lo. Nós mesmos que abrimos e posicionamos as sete motos em paralelo e uma a uma recebeu uma forte ducha. Hora eu, hora Mário, às vezes o Adilson Damásio, motociclista do grupo, se encarregava de jatear as magrelas.
Adilson estava calado aquele dia. Seu irmão adotivo Amilton Cruz Silva estava em uma missão na Amazônia e a mais de quinze dias não dava noticias. Amilton era capitão de mata do exercito brasileiro e um experiente em sobrevivência na selva, mas a falta de noticias fazia com que o irmão mais velho, Adilson, ficasse muito preocupado.
Já dizia a dupla caipira em uma música de sucesso: “A saudade é um prego coração é um martelo”.
Sandro apontou a geladeira para Nelson Campos, o qual prontamente buscou mais cerveja.
Ficamos algumas horas falando de amenidade e aventuras do passado no muito distante.
Cristianodiasl Cristianodiasl e Bene Junior decidiram ir embora e nós abrimos mais algumas cervejas.
Já eram oito da noite quando nos despedimos.
Ao abrir a porta de casa, um cartão no chão chamou a atenção. Era um cartão de visitas e nele a identificação:
Dra. Marcia Taiacolo – Psicóloga. Tinha telefone e endereço na região da Avenida Paulista. No verso, escrito á mão: Dra. Elen gostaria que falasse comigo, segunda onze horas no consultório.

Saga Derinarde II – Capítulo 014
Segundona, depois da academia eu fui com os irmãos Gustavo Cavalcanti Braga e José Clevilson Cavalcanti Braga ao centro da cidade.
José Clevilson queria comprar uma nova guitarra para sua banda e Gustavo um novo microfone, aqueles sem fio, que fica preso na cabeça, parecendo um headfone.
A banda dos meninos já estava fazendo sucesso e eles conseguiam viver disso. Tinham dois ônibus, Um para equipamentos e outro para os componentes.
Viviam falando que precisavam mesmo é de um avião, e pelo jeito que faziam shows, era só questão de tempo.
Ao lado do um sintetizador de som, dos mais modernos, com mais de 350 teclas e botões, sem fio, José Clevilson tocava um rock que eu nunca havia ouvido. Gustavo me puxou pelo braço e falou em meu ouvido:
- Essa música é nossa. Vamos tocar no próximo show. Maneira, né?
Realmente uma musica com muita energia. Um rock da melhor qualidade. Pronto para o sucesso.
Neste momento fui ao chão.
Não tropecei, não escorreguei, nem sequer estava andando. Caí de bobeira.
Ao cair meu pé direito entrou em um alto-falante que estava a minha frente. Era um alto-falante enorme e o buraco que fez criou uma imensa cratera.
Como o alto-falante estava ligado na frequência do teclado que José Clevilson tocava, ao romper o tecido emitiu-se um estrondo rouco que na loja todos perceberam.
Um simples alto-falante se tornou um terremoto dentro da loja.
Com a música parada e após o terremoto, um som de nada tomou conta do ambiente.
Levantei e percebi que o único estrago não era em mim, era apenas o alto-falante.
O dono da loja, Ricardo Semião, foi o primeiro a correr em meu encontro, me ajudando a levantar e todo preocupado em sabe se estava bem.
Fiz menção em ressarcir o estrago que tinha feiro, porém Ricardo se negou terminantemente e insistia para que eu fosse á um hospital tirar uma radiografia.
Realmente eu estava bem, havia sido um simples tombo, assim eu achava até ouvir o relato de Ricardo para Gustavo:
- Ele estava ali, parado, só ouvindo a musica, de repente o pé dele subiu uns dois metros de altura antes de atingir o grave que furou. Ele literalmente voou.
Passado o susto e vendo que estava perfeitamente bem, me despedi de todos, pois tinha um compromisso na Paulista.

Saga Derinarde II – Capítulo 015
Chegando ao endereço do cartão da Dra. Marcia encontrei Eduardo Soares na entrada o qual, antes de explicar o que fazia ali, tirou de uma sacola que carregava no ombro um scanner e encostou-o no meu peito, perto do ombro esquerdo.
- E aí? Tudo bem? Como se sente?
Reagi de imediato:
- Que porra que está acontecendo? Vocês tem algo haver com minha queda?
Olhei bem em seus olhos.
- Dá para eu ser uma cara normal?
- Um cara normal você jamais será, mas se comportar como tal já será um bom caminho.
Complementou logo em seguida:
- Houve uma interferência externa e precisamos levantar alguns dados. Agora está tudo bem, mas vá ao “centro” assim que sair daqui.
Eduardo mais parecia um fantasma, apareceu do nada e para o nada se foi.
Dei de ombros e entrei no edifício.
Eu me identifique na portaria e fui para o elevador, apertei o botão do andar que ia e a porta se fechou.
Chegando ao oitavo andar a porta se abriu e uma recepção gigante e confortável apareceu enchendo meus olhos.
Atrás de um balcão de vidro um rapaz muito simpático, esguio e rápido deu boas vindas:
- Bom dia “quiriduu”, eu sou Salvador Rabelo, me chame de Rabelo, pois sou ôôô Salvador e o consultório da Doutora Marcia Taia(pausa)colo lhe dá boas vindas. Você tem hora marcada?
O lenço vermelho em seu pescoço, com o nó levemente voltado para a esquerda, não sei por que lembrava um bailarino espanhol, faltava-lhe um chapéu de abas largas.
- Na verdade não, mas tenho isso aqui. Apresentei o cartão deixado sob minha porta.
De posse do cartão e lendo o verso anunciou:
- Ah, sim, sim. Você está sendo esperado.
-Ali. Apontando com o dedo mindinho, continuou:
- Do outro lado, tem café, chá, água e alguns biscoitinhos de mantecal, (pausa) o que mais quiser, me peça que eu mesmo providenciarei. Fique á vontade que a doutora já já já vai lhe atender.
Eu me dirigi ao bebedouro, um pouco de água viria a ajudar naquele momento.
Depois de beber água, e sentado confortavelmente nas grandes poltronas da recepção, rodando o copo plástico nos lábios, mantinha o cérebro a milhão.
Queda, pé acima de dois metros, scanner na rua, interferência externa, psicóloga...
- Seria bom se estivesse ficando louco mesmo... Falei em voz alta quando fui interrompido por Rabelo:

Saga Derinarde II – Capítulo 016
- Bobinho. Ninguém fica louco. Ninguém FICA, todos já somos. Alguns demonstram mais claramente que outros.
- A Dra. Taia(pausa)colo vai te atender agora. Me dá sua mão aqui e vem comigo.
Rabelo se dirigiu a uma larga porta e a abriu me dando passagem, a qual foi fechada imediatamente á minha entrada.
Dra. Marcia estava fazendo anotações e parou imediatamente á minha entrada. Como se um clic a fizesse largas a caneta, acredito eu, no meio de uma palavra.
Levantou e dirigiu-se a mim já com a mão estendida.
- Deri, bom dia. A Dra. Elen já me contou tudo sobre você e vamos apenas bater um papo.
É bem tranquilizador saber que todos sabem sobre você, principalmente se você não sabe sobre você.
Agora tenho certeza. Estou ficando louco.
- Dra. Marcia, a senhora tem o meu manual?
- Como? Primeiramente me chame de Marcia, sou muito bonita para ser chamada de senhora.
- Bem esta última semana tenho recebido muitas novidades e parece que são novidades só para mim.
Já estávamos sentados em um imenso sofá onde caberiam pelo menos seis pessoas, mas só havia nós dois.
Marcia começou com aquelas conversinhas de psicólogo:
- Você sabe que o seu dentista sabe mais de sua boca que você?
- Sim eu sei. Respondi, achando que fosse uma pergunta.
- Sabe que seu medico, sabe do seu organismo, também, mais do que você?
- Marcia, o meu caso é diferente...
- Todos são casos diferentes! E todos têm suas particularidades. O que mais te preocupa é o que você sabe ou o que você não sabe?
Que pergunta era aquela?
Tentei responder:
- É lógico que é o que (pausa) (pausa)...  Essa Marcia, além de linda é mesmo inteligente, me pegou.
- Viu onde está a sua dúvida? Ou melhor, viu como você não tem dúvida, o que lhe falta, é apenas ordenação em tudo aquilo que você sabe, diferenciando o que você acha que sabe.
Continuou.
- Feito esta ordenação você estará pronto para fazer as perguntas, aí você se conhecerá melhor para fazer as novas perguntas.
Nesta linha conversamos por uma hora.
Acho que todo psicólogo tem um problema de “toc”, só sabe trabalhar com hora cheia.
Eu me despedi prometendo que á visitaria uma vez a cada quinze dias.
Entendi que loucos não passam por consulta, fazem visitas.

Saga Derinarde II – Capítulo 017
Ao sair, Rabelo, muito solícito já havia chamado o elevador e disse:
- Lindinhu, não precisa marcar consulta, quando quiser aparecer é só ligar, a Dra. Taia(pausa)colo estará á disposição.
Já na rua fiz sinal para um taxi que passava.
- Cidade Universitária, por favor.
A taxista era bem baixa e olhava sobre o volante com algum esforço. Um pouco mais atento eu vi que tinha feições e aparência de uma criança.
- Você é menor de idade?
- Negativo senhor. Tenho trinta e dois anos, mas não fique constrangido, todo mundo pensa isso, embora não falem.
- Qual o seu nome?
- Elo Vessoni, senhor. Sou taxista há oito anos e essa é a melhor profissão do mundo.
- É, há gosto para tudo, Elo.
- Senhor, tem gente que fica fulo com o transito, xinga motoqueiro, acha que motorista de ônibus e folgado, mas assim ó, eu ganho para dirigir, se vou mais rápido ou mais devagar não importa, continuo sendo paga para dirigir. Agora, esse pessoalzinho que vive com pressa que compre seu tele transporte particular.
- Senhor, passo meu dia fazendo o que gosto, dirigir, converso com as pessoas mais diferentes que se possa imaginar, quer coisa melhor?
- Imagine o senhor que outro dia levei uma senhora que achava que era cachorro...  
Em vinte minutos estávamos nos portões da Cidade Universitária, e após algumas explicações na portaria, estávamos no prédio da Poli, o que me poupou de ouvir história da mulher que pensava que era cachorro.
Paguei o taxi e entrei no prédio.
Minha maior dificuldade foi encontrar alguém num local que não tem recepção. Fui entrando sem destino.
Ao cruzar com pessoas de avental perguntava:
- Dra. Elen?
- Onde encontro Dra. Elen?
Todos apontavam para frente e para os lados, mas não davam uma resposta verbal.
Serão que suas línguas eram cortadas para garantir o sigilo? Pensei.
Entrei em uma sala cheia de bancadas, com cabos e dutos de ar comprimido pendurados. Pareciam bancadas de montagem de liquidificador ou algo do gênero.
Passeei por toda a sala e tive a nítida impressão de ser invisível ou aqueles caras eram robôs.
Precisei pegar no ombro de um deles para perguntar:
- Onde está a Dra. Elen?

Saga Derinarde II – Capítulo 018
Ele nada falou, más outro que estava ao lado me pegou pelo braço e me levou para fora da sala deixando que o primeiro, automaticamente, retornasse á seus afazeres.
O cara que me levava pelo braço, sem emitir uma palavra se quer, conduziu-me por um corredor, parou diante de uma porta, deu dois toques, virou as costas e voltou para onde estava anteriormente.
Segundos se passaram até que Reginaldo abrisse a porta.
- Deri, boa tarde, entre. Sou José Reginaldo Ramos Ramos e sou secretário da Dra. Elen. Ela chegará em breve, mas podemos já ir começando os testes.
Em seguida Reginaldo pegou o telefone, discou e disse:
-Deri já está aqui.
Antes de retornar o fone á mesa, perguntei:
- Bem, mas que testes, e para quê?
- Só termos as suas repostas depois dos testes, os dados coletados, hoje, já foram processados e você teve uma interferência externa, os testes nos dirão “o que” são estas interferências e como bloqueá-las.
Neste momento entram na sala Rogério Falcão e Vilma Carali empurrando uma bancada móvel com um equipamento que mais parecia um rastreador lunar, embora eu nunca tenha visto um rastreador lunar, mas foi a primeira imagem que veio na minha cabeça.
Com um scanner, Vilma localizou alguns pontos em meu tórax, pescoço e pernas. Colou algumas ventosas com sensores e em minutos eu estava conectado á aquela máquina lunar.
Rogério pedia vez ou outra, para eu erguer um braço, uma perna e solicitava alguns movimentos, os quais eu executava automaticamente.
Reginaldo com uma prancheta fazia anotações. Percebi depois que a prancheta era na verdade um terminal de computador, tipo “ipad”, porém conectado ao computador central e á aquela maquina estranha ligada á mim.
Reginaldo declarou que haviam terminados os testes e mesmo antes dos fios serem desconectados de mim, a porta se abriu e surgiram a Dra. Elen e um cara se identificando com Luiz Souza Filho.
Luiz era enorme, tinha dois metros e treze de altura e deveria pesar uns 130 quilos, mas bem distribuídos e devido á altura, ele até parecia um cara magro, mas muito forte, aquele de dar medo.
Ao se apresentar e apertar a minha mão o medo foi embora e aquele homenzarrão se mostrou muito educado e amável.
Elen perguntou ao Reginaldo sobre os resultados.

Saga Derinarde II – Capítulo 019
Que mulher essa Elen.
Ela podia ao menos dizer “boa tarde Deri”.
Ela podia dizer “Te trouxemos aqui para fazer alguns testes”. Que nada. Frieza em pessoa, o negócio dela era números, estatísticas, dados...
Reginaldo de pronto relatou:
- Bem, tudo normal, a interferência foi momentânea e se restringe á impulsos de ondas médias.
E Reginaldo, parecendo um autômato continuou a falar, porém em momento algum deixou de cutucar seu terminal.
- Algum equipamento de frequências médias emitiu um sinal que coincidiu com a codificação dos impulsos que veem do cérebro para o ttox4 e isso fez um movimento involuntário. Podemos fazer um bloqueio criando um eco de polaridade invertida.
Elen perguntou como quem tivesse a corda da guilhotina na mão e o pescoço de quem iria responder estivesse na outra extremidade da corda:
- Sim mais isso é muito simples, por que não fizemos logo de início?
Ficou sem resposta.
Achei que era minha deixa:
- Olá Elen tudo bem? Eu estou muito bem.
- Tomei um tombo, conversei com uma médica de loucos, fiz os mais estranhos exames e testes, estou com um problema de alguma coisa “médias”, o meu eco tá invertido, mas estou ótimo, obrigado por perguntar. E você está bem?
Incrível, mas ele olhou para mim, porém as orbitas de seus olhos tiveram uma defasagem de chegada.
- Nossa como você fala... Vamos jantar hoje. Ás 22:00 no Hai Conveniência Japonesa.
Não ficaria sem troco.
- Ué, mas lá não é só uma lojinha?
Peguei a dona sabe tudo.
-Eles cresceram muito, tem um restaurante oriental ótimo, esteja lá.
Automaticamente bati continência, não sei ainda porque, mas deve ser reflexo de alguma coisa do médio que eles falaram há pouco.
Se existiu Gestapo, essa mulher serviu lá, e foi expulsa pelo próprio Hitler, com certeza.

Saga Derinarde II – Capítulo 020
Elen virou as costas e saiu. Atrás saíram Vilma, Rogério e a maquina lunar.
Após mais alguns cutucões no terminal Reginaldo virou-se para Luiz:
- Luiz, baixe a versão oito para o ttox4, mas aquela com eco de polaridade invertida e deixe pronto para o upgrade. No próximo release estará nele.
- Até semana que vem Deri. E Reginaldo saiu pela porta.
Já que estava a sós com o Luiz não poderia perder a chance:
- Luiz, tem alguém normal aqui dentro?
Ao que respondeu:
- Deri, você já ouviu falar na professora Tereza Nobrega?
- Não, não ouvi.
Continuou Luiz:
- O dia que você á conhecer verá que as pessoas aqui são os mais normais que já conheceu. Vai por mim.
Continuou Luiz.
- Deri, eu vou te falar uma coisa, mas se alguém perguntar, eu nego. Não confie muito nessa gente. Eles não estão nem aí para você. O negócio deles “é” eles.
Achei que aquilo era uma crise de ciúmes.
Fechei a camisa, baixei a barra da calça e saí.
Ao sair do prédio, meu objetivo era conseguir um taxi, o que não foi nenhuma dificuldade, no estacionamento da Poli tinha um.
Bati no vidro perguntando:
- Está livre?
E a resposta me surpreendeu.
- Sim senhor, livre e aposto.
Era Elo, aquela mesma que me trouxe até aqui.
Entrei disse que iria para o endereço de casa e seguimos.
- Elo, ficou aqui me esperando ou foi coincidência? Já acreditando na primeira alternativa.
- Senhor, tudo que vem, vai e, tudo que vai vem.
Achei engraçado, mas ao mesmo tempo muito infantil.
- Mas e seu demorasse muito? Tentei forçar a barra com Elo, a diminuta tolinha.
- Senhor, quem sai de um prédio pensando que é louco e vem para cá fazer testes, não demora muito.

Saga Derinarde II – Capítulo 021
Fiquei gelado e nenhum musculo do meu corpo teve condições de se mover, nem que por espasmos.
Elo continuou.
- Já trouxe para cá três pessoas nessas condições e foi igualzinho, sem contar o Rabelo, aquele “veadinho” de lenço no pescoço. Ele vem aqui toda semana.
O sangue voltou ao cérebro e consegui mover os lábios de forma muito dolorida e complexa.
- Quer dizer que não sou o único?
- Único “o que”, senhor? Em vir aqui? Não, não. Outros veem e vão.
- Não, não. Com essas coisas, esses, esses... equipamentos?
- Senhor, eu não sei o que esta falando, mas o meu ponto é ali perto da Paulista e já trouxe gente para cá, e como sei que não demoram, espero para ganhar a volta. Sabe, senhor, voltar batendo lata nem é bom.
Continuei com Elo.
- E essas pessoas que você trás, como são.
- Senhor, são pessoas iguais ao senhor. Eu só levo e trago.
- Mas não percebeu nenhum detalhe, nenhuma característica, alguma coisa que chamasse a atenção?
- Senhor. Eu sou de deixar as coisas para lá, como diz o meu homem, mas tem algumas coisas que estão na cara, não dá para não perceber.
Interrompi Elo no mesmo momento.
- Elo, vamos á uma lanchonete. Ali na Dr. Arnaldo tem uma lanchonete, eu te pago o dia e te dou mais alguma coisa, nós precisamos conversar.

Saga Derinarde II – Capítulo 022
Entramos no Burdog e pedi um Hamburger Picanha, Elo pediu um X- Filé Mignon, um Hamburger Picanha, como eu, uma porção de fritas, um Milk Shake de chocolate e informou que depois pediria o resto.
Notei naquele instante como Elo era pequena. Não passava de um metro e meio e era muito franzina.
A maior dúvida naquele instante era para onde iria toda aquela comida?
Não perdi tempo e antes mesmo da refeição chegar, perguntei á Elo:
- Que detalhes você sabe dessas pessoas que foram para a Poli?
- Tem um advogado, tal Danilo Mazzolani. Parece muito cheio da “nota”, ele é gago e tem um cacoete muito engraçado. Parece que está espantando moscas. Vive levantando o braço direito. Ele vai todas a sextas-feiras da “casa de loucos”, ali onde pequei o senhor, para a Poli as onze horas, a corrida sempre dá por volta de dezessete reais, ele dá uma nota de vinte e não pede troco.
Estava conhecendo meus concorrentes.
- Quem mais?
- Tem a dona Sabrina, tem nome de prédio. Como é mesmo, ah sim, Baptistella. Sabrina Baptistella Comar. Essa é uma velhinha, coisa chata. Entra atrás e fica batendo no meu banco. Podia sentar do outro lado, mas não, senta atrás de mim e fica batendo no meu encosto, parece um relógio, tic, tac, tic, tac... A corrida pode dar R$ 16,85 que a velha fica esperando as moedinhas, muito muquirana. Vou te dizer, ela não precisa. Já levei ela para casa, e que casa. Um palacete, mas ela é muito muquirana.
- O outro é um banqueiro, aquele playboy que o pai morreu e ele se diverte por aí, o tal, Rodrigo Andrey Carvalho. Vire e mexe ele destrói um carrão. Hora Camaro, hora porsche. Ouvi dizer que já transformou uma Ferrari em nada. Playboy. Esse me disse que não tem mais habilitação, pudera, habilitação para destruir carro... Vai e volta, da “casa de louco” para a poli e volta para a casa de louco”, a conta dá uns quarenta reais mas dá duas notas de cinquenta. Clientão.
- Posso pedir uma sobremesa?
- Claro, o garçom está ai na frente. E esse Rodrigo, tinha alguma mania, algum cacoete, alguma coisa que chamasse a atenção?
- Tinha sim. Ele é doido para me levar para a cama. Nossa como insiste. Mas sou fiel ao Capitão, meu marido.

Saga Derinarde II – Capítulo 023
Terminado a refeição, não imaginava como tanta comida poderia cabe naquela pequena mulher, paguei a com e ela me levou para casa.
O resto da tarde ficou reservado para inúmeras consulta á internet. Más nada eu achei diferente do que já sabia.
Parei com a foto de Elen na tela e um volumoso texto sobre seus dotes científicos, descobertas e prêmios.
O texto sob a foto chamou a atenção:
“Elen Perez a cientista mais cotada para ocupar o lugar do Dr. José Willian Baptistella”.
Banho tomado, barba feita uma roupa leve, mas adequado para a situação.
Uma última olhada no espelho.
Apontando o dedo para a figura do espelho disse antes de sair.
- Cara, (longa pausa) hoje, você pega essa mulher.
Cheguei cedo ao local combinado.
Hai Conveniências é uma loja com muitos artigos japoneses, dede comidas á utensílios de cozinha e decoração. É tipo “tendetudo” oriental.
Ao fundo uma porta ampla dá passagem a um grande salão de refeições. Vê-se que é algo recente, mas de muito bom gosto.
Sentei-me á uma mesa de canto e logo fui atendido por uma linda oriental.
- Boa noite, seja bem vindo á Hai Restaurante, meu nome é Solange Yoshimi e eu terei prazer em atende-lo. Entregando um lindo cardápio.
Pedi uma bebida para levantar a moral e dar uma desinibida.
- Um Black label com bastante gelo e uma metralhadora.
- Como senhor?
- Só um Black Label, obrigado.
Bebi lentamente e quando Elen chegou não havia mais gelo no copo, nem Black, lógico.
Foi uma entrada triunfal.

Saga Derinarde II – Capítulo 024
Aquela mulher alta e esquia entrando deixou o mundo com a tecla de “slow motion” apertada.
Vestia um longo e colado vestido na cor salmon que deixava apenas suas canelas finas aparecerem sobre uma sandália altíssima. Cabelos castanhos, longos, ondulados e soltos que ora passava sobre os ombros ao olhar de um lado á outro.
Grandes olhos castanhos claros, contornados por riscos negros e precisos e emoldurados por suave verde deixavam-na com ar de ainda mais alerta.
Lábios carnudos sob um batom de um vermelho intenso.
Voltando ao belíssimo vestido. Com certeza Elen o deixava mais vistoso, um decote generoso fazia que redondos seios tivessem partes á mostra.
Um colar pendia de um pescoço fino e firme.
Elen não se dirigiu diretamente á mesa, foi para a esquerda e cumprimentou quem parecia ser o dono ou talvez o gerente. Acenou para duas meninas garçonetes e, ai sim, veio em meu encontro.
Nós nos cumprimentamos e eu achei que foi de uma maneira diferente, ou pelo menos foi um cumprimento. Não havia experimento isto ainda.
Ao sentar, uma das garotas, Meire Takahashi Melo, se apresentou a min, pois Elen já a conhecia.
Ao que perguntei.
- E a Solange, onde está a Solange, ela já está me atendendo.
Não houve resposta por parte de Meire e mesmo que houvesse, não haveria tempo, pois prontamente Elen falou.
- Quem nos atende é Meire.
Pronto, o mundo que estava colorido até então ficou preto e branco novamente e o “Reich” foi instalado.
Com a carta de vinhos aberta, Elen apontou para um título e mostrou á Meire. De imediato concordei com Elen. Não vi o nome do vinho, apenas que era um Cabernet, pois não foi para mim que Elen mostrou quando apontou. Tem que ser um bom vinho, pois a garrafa custa mais de trezentos “paus”. O que foi confirmado.
Durante o jantar falamos de muitas amenidades o que deixou o jantar alegre mais sem objetividade. Achei que era hora de enfrentar a “General Elen” quando pedimos a segunda garrafa de vinho, aquela mesma, de trezentos paus.
- Elen, o que você quer? Não sei o que esperar, como resposta, de uma pergunta assim.
- Quero ser a mentora do projeto. Respondeu automática e friamente.
- E onde eu entro nisso, o que você quer de mim? Quase implorando uma resposta que eu pudesse entender.
- Você tem uma semana para nos responder se continua ou pula fora e eu não quero corre nenhum risco. Você tem que continuar.
Eu ousei desafiar.
- E seu eu pular fora?

Saga Derinarde II – Capítulo 025
Sem mudar a expressão nos rosto Elen respondeu olhando em meus olhos.
- Eu faria qualquer coisa para você ficar.
Elen percebeu que me assustará, pegou a taça de vinho e começou a deslizar nos lábios, claro, de maneira sensual.
- Qualquer coisa mesmo? Perguntei começando a relaxar e já querendo tirar algum proveito.
- Q u a l q u e r. Elen respondeu pausadamente e quase sem som, mas o lábio á taça dizia muito mais e muito mais alto também.
Terminamos e Elen pagou a conta. Á saída me apresentou o Senhor Celso Watanabe, o proprietário do restaurante. Muito simpático e sorridente. Nós nos despedimos e deu a impressão que ficaria a noite toda fazendo reverencias. Mesmo da porta olhei para trás e o homem ainda se curvava.
O manobrista logo chegou com aquele carro amarelo, que á noite, ficou mais amarelo ainda. Entramos no carro e saímos.
Eu estava meio zonzo, pois o whisky e o vinho passaram da minha cota. Percebi que não andamos muito, ainda estávamos na região da Ibirapuera.
O carro entrara em um prédio que parecia um flat, contatei ao chegar ao apartamento.
Já no apartamento, sentei em uma confortável poltrona, Elen jogou a bolsa e as chaves em um móvel e ofereceu uma bebida.
Aceitei apenas um suco oferecido e enquanto Elen o pegava na cozinha veio um confuso sentimento de canalhice. Confuso, pois não sabia ao certo quem, daquele prédio, estava sendo mais canalha.
Elen voltou da cozinha com o copo de suco nas mãos, passou por trás de minha poltrona, ligou o equipamento de som e uma música clássica começou a tocar. Entregou-me o copo ao mesmo tem que sentava ao meu lado. Apertada entre o braço da poltrona e eu, apoiou a mão em meu peito, que agora estava exposto por ter alguns botões fora de suas casas.
- Por que você não continuaria no projeto? Você só tem a ganhar. Qualidade de vida, dinheiro, fama, quem sabe o que mais?
Foi difícil, mas consegui adiar alguns impulsos.
- Mas e Danilo, Sabrina e Rodrigo? Por que não eles?
- Ah, você sabe deles? Eles não servem. Eles não são viáveis.
Entendi, naquele momento, que era apenas um projeto, um equipamento.
Por que não (pausa) uma batedeira de bolos?
Nós nos beijamos intensamente e á medida que íamos, lentamente, para o quarto peças de roupas eram atiradas o chão.

Saga Derinarde II – Capítulo 026
Foi uma noite interminável de carícias e muito sexo. Até que adormecemos.
Na manhã seguinte acordei com um enorme sorriso no rosto. Não porque a noite passada foi muito boa, foi realmente muito boa, mas por acordar com a sensação de Churchill.
Pode ser um pensamento machão, chauvinista, mas homem pensa assim.
Apesar da maravilhosa noite é preciso ter um troféu, um souvenir moral e este era o meu. O sentimento de Churchill.
O quarto estava silencioso e Elen não estava lá, o relógio marcava nove horas e eu não estava arrependido de perder a academia.
Fui para o banheiro e tomei uma longa ducha fria.
A me enxugar olhei seriamente para o cara do espelho, apontei com o indicador e antes de piscar com o olho esquerdo bradei a vitória;
- Você fudeu Hitler.
Eu saí ainda nu, em direção á cozinha, tinha esperança de ainda encontrar um pouco daquele suco.
Ao chegar á sala eu dou de frente com uma figura de lenço no pescoço. O susto foi mútuo.
- Rabelo, o que você faz aqui?
- Ooo bobinho, eu vim dar uma geral na casa da Dra. Elen, e você está atrasado para o quer que seja, preciso terminar logo pra ir para o consultório, então, pegue essas suas coisas e rapa fora. Apontando para minhas genitálias.
Eu me vesti enquanto Rabelo trocava os lençóis e esticava os já limpos.
Acho que é uma grande oportunidade de me aprofundar nessa Elen:
- Rabelo, como é essa Elen? Como ela vive? Do que gosta?
- Bobinho, ( pausa)  eu sou funcionário dela e não estou autorizado a discutir essas coisas com você. Por que não procura a irmã dela, ela mora no 62, está lá agora, o nome dela é Samantha Baptistella Felix.
- Mas esse sobrenome é o mesmo do Dr. Willian.
- Olha se eu não sair daqui agora, vou chegar atrasado. Você é bonitinho e tal, mas rapa, rapa, fora.
Estava no terceiro andar e resolvi subir até o 62.
Toquei a campainha e uma mulher de meia idade abriu uma fresta na porta, o suficiente para a corrente de segurança ficar tensionada.
- Pois não?
- Eu gostaria de falar com Samantha, ela está?
- E que é você?
- Sou Deri, conheço a Elen e... Recebia porta na cara.

Saga Derinarde II – Capítulo 027
Resolvi esperar achando que fui ser anunciado, o que foi prontamente confirmado.
O som da corrente da porta anunciava o movimento de abertura.
Avistei uma mulher muito alva e muito bela, tinha características europeias fortes, cabelos muito loiros olhos muito verdes, alta e magra, lembrava o corpo de Elen, a qual eu já conhecia um pouco mais, mas as feições não se pareciam na da entre elas.
- Deri. Já ouvi falar de você. Entre.
Sentamos á sala e comecei a falar:
- Ouvi dizer que você é irmã da Elen, o Dr. Willian é seu parente?
- Ana Paula. Chamou Samantha e a figura da mulher se mostrou sem a correntinha da porta no rosto.
- Sim senhora?
- Aceita uma café, água, Deri?
- Sim, ambos.
- Ana Paula, ponha o café da manhã para dois.
- Sim senhora. Respondeu a Ana Paula e saiu.
Samantha retomou minha pergunta.
Elen é minha irmã adotiva, muito pequena perdeu os pais em um acidente que levou sua casa pelos ares. Ela foi retirada dos escombros muito ferida, mas sobreviveu.
Meu pai, Willian e minha mãe Mandy Derinarde eram vizinhos de Elen e como não tinham nenhum parente, Elen virou parte da família.
- E o que você sabe desse projeto?
Já sentados á mesa que Ana Paula preparara, continuamos a conversa.
- Muito pouco, mas isto é a vida de meu pai e a vida dele está acabando, deve se aposentar este ano, não tem mais saúde para continuar.
- Então Elen é a herdeira natural dele. Digo herdeira do projeto?
- Não é bem assim. Elen em minha opinião e na de muitos cientistas, é a mais qualificada tecnicamente, mas papai não a quer no comando.
- Por que, se ela é tão boa?
- Como diria papai, Elen não tem limites éticos e morais para saber quando parar.

Saga Derinarde II – Capítulo 028
Soube um pouco mais da infância de Elen, de suas artes e cotidiano.
Nós nos despedimos e sai em direção á Avenida Ibirapuera a fim de pegar um taxi. Eu queria conversar com certa taxista.
Já na calçada aguardando um táxi livre passar, uma moto sobe na calçada onde eu estava e para com o pneu a poucos centímetros de minha perna. Tomei um susto danado e em um pulo para traz fechei a mão e ia pular de volta com a mão na cara do motociclista, ignorando até que ele estivesse de capacete.
Neste momento o motociclista solta um grito animado.
- Deri, você por aqui?
Era Cristianodiasl, o trilheiro do fim de semana.
- Seu filho da puta, eu tomei um susto “duca”, da próxima te acerto o nariz.
- O que que é isso, Deri, está muito assustado, está fugindo do marido de alguém?
- Nada, estava só distraído, faz assim, me leva na Paulista e está tudo certo.
- Sobe aí. E seguimos em direção á Avenida Paulista.
Andar em São Paulo de moto é uma maravilha, quer dizer, em comparação aos automóveis, anda-se não se arrasta.
Em poucos minutos estava na frente do prédio do consultório da Dra. Marcia, agora era só esperar Elo chegar ao ponto.
- Valeu Cristianodiasl, precisamos fazer outras trilhas.
- Vamos sim. E aqui? Vai encontrar algum figurão.
- Nada disso vou esperar uma pessoa para trocar umas ideias, por que da pergunta?
- É que parado aí está um figurão. Dá uma olhada no corte do terno italiano. O cara é banqueiro, tal de Rodrigo Andrey. Ele é destruidor de carros também. Vira e mexe e noticia de jornal.
- Mudei de ideia. Vou abrir uma conta no banco dele. Até mais, valeu.
Eu segui em direção á Rodrigo Andrey e já fui escalando.
- Rodrigão, grande Rodrigo, como vai, lembra-se de mim?
Antes que pudesse responder, usei as informações que já tinha.
- E ai desistiu daquele Camaro mesmo? É cara que nem eu, um amassadinho e perde a originalidade.
A cara dele é de quem não estava entendendo nada, mas a menção do carro já o tranquilizou.
- E você Rodrigo esta bem, carro a gente conserta, mas osso não, não é? Tem alguma coisa quebrada, recuperou bem? Os metais aí estão funcionando?
Ele respondeu-me parecendo sincero.
- Esses carros americanos são muito bons. Os mais seguros. Eu nunca quebrei um osso sequer.
A cara de bobo agora veio para mim.
- Como não quebrou? Você não tem, sic, equipamentos? Não veio falar com a Dra. Márcia? Não conhece a Elen? E aquela coisa do CENTRO? Fiz aspas com os dedos indicadores.
Ele me interrompeu em meio as minhas várias perguntas.
- Como você disse que era mesmo o seu nome?
- Bem eu não disse. É Deri e eu acho que fiz confusão.
Sua fisionomia modificou de imediato, ficou feliz com a descoberta.

Saga Derinarde II – Capítulo 029
- Deri? Você é o Deri? Deixe-me olhar para você! Deri! Puxa! Que beleza! Vamos tomar um café. Olha lá, o meu táxi acabou de chegar.
Nós nos dirigimos para o último carro apesar de ter outros quatro na frente.
Entramos e qual a surpresa, era Elo.
- Menina, vamos para o Banco. Anunciou Rodrigo.
Ao mesmo tempo em que Elo engatou a primeira marcha e saiu á caminho, consegui ouvi-la resmungando:
- Que mundinho pequeno...
Não demorou muito, pois o Banco era no final da Paulista, a conta deu uns Sete Reais, tirou uma nota de cinquenta, agradeceu á Elo e saímos.
Entramos pela garagem do prédio e fomos até uma porta que Rodrigo abriu com uma chave sem chaveiro algum.
Era um elevador privativo e não tinha botões nem marcador algum. Ao entrarmos o ar condicionado e as luzes se acenderam. Rodrigo pediu, acho que pediu o andar.
- Céu.
O elevador começou a subir. Eu não tenho ideia de quantos andares subimos, não marcava.
O elevador parou e a porta se abriu. Abriu dentro do escritório dele. A porta abriu no meio do escritório. Á esquerda fica uma mesa enorme, a maior mesa de escritório que já vi. A direita uma espécie de sala de estar, separada apenas por sofás e móveis. Para lá que fomos.
Mal sentei em uma poltrona desta sala e uma secretária apareceu não sei de onde e começou a fala com Rodrigo.
- Bom dia Rodrigo, Reunião de diretoria as onze, as treze tem o investidor Marcos Assis Silva, treze e quarenta a arquiteta Patrícia David Costa, as quatorze e quinze o talzinho, Prymo Loriba Luiz, ele anda muito engraçadinho para o meu lado, acho bom você dar um toque nele.
- Acho que você é que está dando mole para ele, hein. Hoje eu não almoço, peça lanche para mim e para o Prymo, ah vem aqui.
- Deri, está é a Selma Derinarde, meu braço direito.
- Selma, este é o Deri. Meu maior investimento.
Confesso que agora eu preciso de mais terapia com a Dra. Márcia. Ou eu, ou o mundo todo.
Rodrigo continuou.
- Selma, traga café para nós e não quero ser interrompido por nada.
Selma saiu da sala, ou melhor, desapareceu. As paredes e móveis da sala camuflavam qualquer tipo de porta ou passagem, mas elas estavam lá, só não eram visíveis.
Rodrigo virou-se para mim.
- Deri eu sempre quis te conhecer, mas Elen te escondia de mim. Cheguei até a pensar que você não existia. Sabe como são as mulheres, fazem qualquer coisa para tirar o dinheiro da gente.
Não, não. Qualquer explicação que recebia, por mais lógica que fosse mais confuso e perturbado eu ficava.
- Elen é sua esposa?

Saga Derinarde II – Capítulo 030
- É sim, ela nunca falou de mim? Deixe-me ver seu joelho. Funciona direitinho?
Eu estava totalmente bêbado sem ao menos ter chegado perto de uma garrafa.
- Elen é sua esposa e você patrocina o projeto, e o que mais eu ainda não sei?
Ele olhou para mim sério e em seguida teve um ataque de risos, histérico e incompreensível.
- Parece que a Elen, hahaha, que a Elen anda enganando nós dois, hein. Hahaha E continuou a gargalhar.
Mal sabe ele que passei a noite com sua mulher.
Passado a crise de riso, Rodrigo tomou água e começou.
- Eu e alguns investidores conhecemos o Dr. Willian há algum tempo e conseguimos montar um fundo, em parceria com o governo para desenvolvimento de próteses ortopédicas inteligentes.
- Depois dos bichinhos, pobres bichinhos. Você imagina que eu já vi uma patinha sair correndo junto com um desses bichinhos, o bichinho ficar pelo caminho e a patinha continuar correndo.
- Você foi o terceiro, humano, a receber o implante e o primeiro que deu certo.
- Bem depois de muito tempo eu conheci a doce Elen, nos apaixonamos e casamos.
Rodrigo me contou mais detalhes de como encontrou a filha da p... a doce Elen e parte do desenvolvimento do projeto. Falou das cifras já investidas e me assustou quando perguntou:
- Só uma coisa eu não entendi de você?
Agora sim eu estava enrascado, imaginei.
- Qual é a sua ligação com o Camaro?
Fui embora quando Selma anunciou que a diretoria estava reunida.
Rodrigo orientou Selma que eu deveria ser atendido a qualquer hora e sobre qualquer assunto e que deveria sair por onde eu entrei. O elevador privativo.
Sai de lá com muitas informações, mas ainda com muitas dúvidas.
Peguei um taxi e fui direto para a Poli.
Não foi difícil achar Elen desta vez. Fomos para a sala que eu já conhecia e começamos a conversar.
- Elen, eu tenho que dar uma resposta semana que vem, mas vou fazê-lo hoje, e é sim, vou continuar.
Percebi um sorriso espontâneo nos lábios de Elen o qual sumiu imediatamente.
- Mas tem uma condição.
Despertei o nazista dentro dela.
- Não negocio com você.
- Você o que? Até então vem me manipulando, vem me pressionando, me levou até para cama. Deixa disso mulher. Ou eu participo de todo o projeto, com detalhes e tudo mais ou estou fora.
Elen pareceu mais calma.
- Ah, isso, tudo bem. E começo a contar os detalhes, pelo menos os que eu poderia saber.
Antes de sair também fiz algumas revelações.
- Conheci Rodrigo seu marido e sua irmã, Samantha, também.
- O que aquela vaca falou. Não pareceu nada preocupada de eu ter conhecido Rodrigo, mas alguma coisa me disse que eu precisava conversar mais com Samantha.

Saga Derinarde II – Capítulo 031
Já em casa recebi uma ligação:
- Alô, senhor Deri?
- Ele mesmo, pode falar. Confirmei.
- Eu sou Soraya Oaski Derinarde, do departamento de relações publica da Universidade de São Paulo e sua passagem para os Estados Unidos foi confirmada para a semana que vem, dia 27, ás quatorze horas portão 17. O ticket o senhor tira no dia no balcão da Cia Aérea.
- Ok, e para onde estou indo mesmo?
- Massachusetts, tem uma parada de quatro horas em Nova York. O seu visto está ok?
- Sim esta tudo bem. O que mais eu devo saber?
- Os professores Cleiton Peroba e Nori Wildelifeshot irão lhe acompanhar. Algo mais que queira saber?
- Não tudo bem, eu estarei lá.
A partir daquele momento minha maior maratona iria começar.
A semana passou rápida.
Malas prontas, eu chamei Aracy Bona para conversar.
Aracy era minha governanta, quase uma mãe para mim. Era a pessoa que organizava minha vida. Que me alimentava e que me dava conselhos.
- Aracy, eu não sei quanto tempo ficarei fora e não sei nem se volto. Cuide de tudo como você sabe fazer.
Como sempre, o ombro de Aracy me confortou mais uma vez. Dizendo:
- Deri. Eu tenho certeza que você volta, mas acho que você volta diferente. Alguma coisa dentro de mim diz que você volta mudado.
Embarcamos com meia hora de atraso. Nori, Cleiton e eu. O mais animado era Nori, que não parava de fotografar.    
A viagem foi tranquila. Longa e tranquila. Às quatro horas, da escala em Nova York, até que foi maneira. Aproveitei para fazer um pouco de academia, barbearia e algumas compras no próprio John F. Kennedy.
Em Massachusetts fomos direto ao MIT. Eu seria interno por pelo menos seis meses lá.
Chegando ao MIT, a primeira pessoa que me é apresentada é Cássia Raquel, uma brasileira que faz intercambio nos Estados Unidos. Ela é fluente em inglês, espanhol, italiano e russo e lá ela ensina linguagem corporal, isto mesmo, excelente dançarina e coreógrafa, ensina aos engenheiros do MIT a linguagem corporal.
Cássia e Nori já se conheciam do Brasil e comentavam que tinham feito um ótimo trabalho comigo. Vim, a saber, que o levantamento, aplicação para a programação e documentário dos movimentos robóticos implantados em mim eram obra dos dois.
Meus aposentos no MIT são modestos, mas muito confortáveis. É composto de um grande salão onde acomoda o quarto e uma sala decorada com dois sofás e duas poltronas, uma enorme tv e uma estante de livros. Há um banheiro enorme acoplado que, ao entrar, uma terrível sensação tomou conta de mim. O banheiro era todo equipado e adequado á pessoas com deficiência locomotora. Seria este o meu fim?
Enquanto acomodava minhas roupas no pequeno armário daquele pseudo quarto alguém bate á porta. Atendo á porta e quase a fecho na cara do pequeno cidadão que estava ali parado já começava a falar percebendo minha falta de atenção.
- Deri, por favor, sou o Dr. Valdenei Rodrigues Oliveira e estou muito feliz em conhecê-lo.
O homem tinha pouco mais de um metro e vinte de altura e embora o corpo tivesse proporções físicas de um e oitenta, suas pernas eram muito curtas. Percebi ao apertar-lhe a mão que a incompatibilidade era apenas as pernas, pois os braços fortes e longos o faziam lembrar um Orangotango, principalmente por sua pele muito clara e cabelos avermelhados.
- Entre Dr. Valdenei, eu estou arrumando minhas coisas, mas estou muito ansioso para conhecer todos. Quase que me desculpando pelo espanto ao ver o homem.

Saga Derinarde II – Capítulo 032
- Você vai conhecer muita gente sim, mas não creio que todos. Somos 1427 pessoas envolvidas no projeto e algumas estão muito distantes, do outro lado do mundo. Continuou o Doutor.
-Aqui no campus você terá a atenção constante de 350 pessoas desde as mais graduadas do mundo, como as que atenderão suas necessidades mais básicas.
-Esta semana você fará muitos testes e exames e no domingo será o homem á entrar para a história.
Dr. Valdenei falou das rotinas a que eu me submeteria. Terminei de arrumar o armário e saímos do Simmons Hall, nome dado ao alojamento do MIT.
No caminho foi me apresentando o MIT. Passamos pelo departamento de Administração, pela biblioteca, departamento de linguística, departamento de física e finalmente o departamento de ciências e tecnologia, onde eu aconteceria.
Passamos alguns corredores, subimos um longo lance de escadas e entramos em uma grande sala, muito movimentada onde sons de vozes eram como ladainha de uma missa.
Fomos ao centro da sala e com um vibrador sonoro tirado do bolso, o Dr. Valdenei emitiu uma sirene estridente por três segundos e falou em um inglês perfeito:
- Senhores, este é Deri. Ele estará conosco nos próximos seis meses. O sucesso dele será nosso sucesso e vice-versa.
Ele puxou alguém pelo braço e continuou.
- O Dr. Antonio Carlos Albers será o responsável por eliminar qualquer dúvida entre o MIT e Deri.
Disse mais algumas frases de ordem, ele desejou sorte á todos e se retirou, mas não antes de aguardar as palmas terminarem. Eu entendi que aquelas palmas eram para o projeto e, um pouquinho para mim, claro.
Dr. Antonio Carlos era brasileiro, estatura mediana, um enorme bigode e usa óculos com lentes grandes e armação grossa. Por esse motivo o pessoal o apelidou de “Guy Cute”, seria o nosso “Zé Bonitinho” no Brasil. É, lembra mesmo.
Ele me pegou pelo braço e começamos a caminhar dentro da sala, apresentando algumas pessoas conforme parávamos em suas mesas.
- Oitenta por cento das pessoas que você conhecerá neste departamento, são brasileiros, este é Dr. Carlos Vessoni, especialista em programação neural, o chip que você receberá transformará os impulsos elétricos do cérebro em comandos dos nervos que comandam os músculos mecânicos e ele está finalizando tais procedimentos.
- Você já tem comandos meus, no tornozelo. É um prazer conhecê-lo pessoalmente. Disse Dr. Carlos muito animado, como todos na sala.
Estava me sentido, meio estrela, meio cobaia.
Continuamos a andar.
- Dr. Ismael Guilherme é engenheiro de materiais. Faz a união dos tecidos artificiais com tecidos humanos. Ele é o par do Dr. David Siqueira.
- Como vai, sou português, mas criado no Brasil. Adiantou-se Dr. Ismael.
E seguimos em frente.
- Doutores Claudia Maria Gonçalves, Alex Baba e Guilherme Ramos são os responsáveis por comunicação extracorpórea. Há pouco tempo você teve uma interferência de ondas que o fez cair, estes doutores identificaram e corrigiram o problema.
Não poderia deixar a piada passar.
- Quer dizer que os senhores não vão me derrubar, certo?
Riram e acenaram negativamente.
- Dra. Maria Inês Baptistella é a par do Dr. Ricardo Régis Lima na aplicação de movimentos espaciais.
O Dr. Antonio Carlos me apresentou outros quinze doutores, até sairmos da sala sem mesmo conhecer mais da metade dos presentes.
Caminhamos por uns dez minutos enquanto ele explicava sua formação em biotecnologia e atividades do projeto. Parece que desta vez a Elen estava cumprindo a sua parte, quanto á minha participação efetiva no projeto.
Chegamos á um enorme refeitório e me armei com bandejão e talheres.
Enquanto estávamos comendo outra pessoa se aproximou solicitando permissão para sentar conosco e de pronto foi atendido.

Saga Derinarde II – Capítulo 033
- Este é o Dr. Ronaldo Ambrosio e este é Deri. Apresentou-nos e continuou.
- Dr. Ambrosio e diretor do comitê internacional de bio-robótica da Alemanha, e está aqui para acompanhar nossa evolução na implantação de tecidos nervosos e musculares sintéticos.
Adiantei-me aos dois.
- Pelo que estou vendo este projeto é mundial e envolve muito milhões de dólares?!
- Muito prazer Deri. Sim o projeto é internacional e eu diria que já estamos na casa das centenas de milhões.
Continuou.
- Algumas pessoas já possuem um parte ou outra, um processador ou outro, mas você entrará em uma nova fase.
Cada palavra que o Dr. Ronaldo pronunciava, olhava para o Dr. Antonio Carlos como que pedindo o aval ou liberação de tal comentário.
- Estamos em um estágio que até então, só era conhecido em filmes de Hollywood, por pessoas comuns.
Abriu-se uma estridente gargalhada.
Fiquei sabendo que minha implantação, assim disseram, estava agendada para o próximo final de semana, ou seja, daqui a três dias. Claro, estava preocupado.
Terminamos de comer e o Dr. Antonio Carlos me levou de volta ao meu dormitório, mas antes de entrar identifiquei uma figura conhecida. Estava na porta á me esperar.
- Olá David, ou aqui é Doutor?
O Dr. David Siqueira abriu um largo sorriso, como de costume.
- Deixa disso, Deri. Sou David, os doutores usam avental branco. E entramos.
- Quem mais vem para a minha “festa”? Dr. Ricardo, Elen?
Em um longo e detalhado discurso, David, me atualizou.
- Dr. Ricardo está a caminho, assim como mais uns quatro doutores, mas a Dra. Elen não vem. Ela esta na Europa e quando vier para cá não estará preocupada com você, ainda não. A Dra. Elen está em uma campanha política, algo que a ocupa demais.
Eu já sabia do que se tratava. A sucessão do Dr. José Willian Baptistella.
Os três dias seguinte passaram muito rápido, ainda mais porque não saí dos laboratórios, fazendo exames e testes.
E chegou o dia “D”.
Fomos para Boston e no Massachusetts General Hospital para cada passo que eu dava tropeçava em três pessoas ligadas ao projeto.
Hora eu via o brasão circular do MIT bordado em seus bolsos, hora via o leão com a palavra “VE RI TAS”, significando que eram de Harvard. A coisa estava “chic”.
Já no centro cirúrgico, passei por duas cabines de descontaminação, deitei em uma maca, recebi uma máscara e ouvi a última frase da enfermeira:
- Sweet dreams.
Algum tempo passou e acordei com a sensação de uma ressaca danada, muita sede e dores em todo o corpo.
Um enfermeiro ao lado de minha cama arrumava o soro e seu conta-gotas.
- Hi. My name is Leonardo Yata. Can I help you?

Saga Derinarde II – Capítulo 034
- Água, water. Balbuciei ao que ele entendeu e colocou um canudo em minha boca ao mesmo tempo em que apertava um botão na parede.
Em poucos segundos meia dúzia de pessoas estavam em volta da cama e entre eles David.
- E aí, cinderela? Foi o Yata que te deu um beijo para acordar?
Pelo menos quatro outros entenderam a brincadeira e riram os demais estavam muito ocupados olhando monitores e fazendo anotações em tablets e outros equipamentos.
- Então David, correu tudo bem, ontem? Quando eu tenho alta?
Ao que me respondeu.
- Correu tudo otimamente bem, mas não foi ontem. Você ficou dezoito dias em coma induzida, isto faz parte da recuperação e alta, bem você nunca mais terá alta. Começaremos á partir de amanhã exercícios de musculatura, pois os nervos eletrônicos estão respondendo bem.
- Dezoito dias? Eu me assustei com o período.
- Por isso que estou morrendo de fome. Liga para o Brasil e manda trazer uma picanha. Era pura realidade.
Muitas perguntas foram feitas a mim e muitas outras eu fiz aos presentes, mas no geral parecia que tudo corria bem.
Durante o curativo tive uma noção do tamanho da intervenção. Tinha uma cicatriz que começava no calcanhar e terminava acima da nádega, quase no meio das costas, e isto nas duas pernas.
Não sentia dores fortes, parecia apenas que saíra da academia há poucas horas, aquela dorzinha muscular suportável.
Daquele momento em diante não saberia mais o que é ficar só, sempre tinha, pelo menos, três pessoas comigo, seja na cama, no banho ou até na privada, bem eu não tinha nada mais privado.
Foi uma semana muito proveitosa e cheio de novidades. Fiz muito exercícios, mas embora tenha feito a cirurgia nas pernas, os exercícios eram mais mentais e de coordenação que físico propriamente dito.
No final da primeira semana de treinamentos, eu recebi uma visita inusitada. Elen.
- Olha lá, a principal e mais interessada apareceu? Eu fui irônico.
- Estava garantindo a sua evolução. Disse por dizer, pois não precisava dar qualquer satisfação e continuou.
- Já li todos os relatórios e vi que tudo corre bem. Você fica aqui, quer dizer no MIT ainda seis meses antes de ir para casa. Até lá se comporte.
- Sim senhor. Bati continência e continuei.
- Você não sabe a chance que o MIT está perdendo. Parece que despertei sua curiosidade.
- Sim? E qual é? Ela disse levantando a sobrancelha esquerda.
- Transformar o robozinho Elen em um ser humano.
Com a cara amarrada disse antes de virar as costas e sair.
- Humanos não têm a menor graça.

Saga Derinarde II – Capítulo 035
Na terceira semana de treinamentos eu já fazia cooper, embaixada com bola e outros movimentos que não exigissem muito esforço, afinal tinha cicatrizes enormes á preservar.
Nídia Saraiva era minha personal e era sempre acompanhada de Cássia Raquel, a Coreógrafa.
Há cada quinze dias David aparecia para uma visita e acompanhar o progresso que fazíamos.
Vi também Dr. Ricardo Régis, mas ele quase nunca falava comigo, estava sempre cercado de doutores e técnicos.
Neste período conheci Claudia Barros, linda e loira. Claudia é bolsista no MIT, cursava o sexto ano e está se especializando em movimentos espaciais.
Ótima companhia, alegre e sempre disposta á explicar minhas inúmeras dúvidas. Claudia era uma das poucas pessoas que mais pareciam pessoas, quer dizer, pessoas deste mundo, mais que os demais, que sempre estava em órbita com um logaritmo na testa ou uma raiz quadrada nos ombros.
Claudia falava de cinema, de livros (não técnicos claro), de pessoas e de mundo. Sua vontade de viajar e conhecer pessoas e lugares só era superado pelo seu amor á ciência, mas não havia competição, tinha lugar para os dois.
Sua grande fã, agora no mundo acadêmico, era a Dr. Maria Inês, que era também sua orientadora para o doutorado.
Saímos algumas vezes para conversar e jantar, mas em uma única vez estávamos á sós no restaurante, pois a minha comitiva permanente não me largava um minuto sequer. Desta vez acertei com o esquadrão para que ficassem quatro mesas longe de mim. Absurdo.
Fiquei muito amigo de Claudia, pudera ele perguntava se eu havia comido o peixe no refeitório ou se havia comprado uma camisa nova e não se o chip “A18FG” tinha sofrido impacto ou se a última atualização do hardware do “ttox4” havia concluído. Trocamos boas risadas e confidências.
Passados três meses dos implantes eu já era uma pessoa com aparência e vida normais, quer dizer, mais aparência do que vida, más conseguia levar a Claudia para dançar, íamos á festas e até para a praia, se bem que quando se fala em praia nesta região americana, nada lembra sol e biquíni. É frio e venta muito. Estamos coladinhos ao Canadá.
Eram tantos os doutores, técnicos e assistentes que cuidavam de mim que eu, ás vezes, confundia um com outro, sem contar os seguranças, afinal eu já era muito valioso para eles.
Não havia terminado ainda o quarto mês e recebi a visita dos advogados Wilmer Naufel Junior e Erick Shalch do famoso escritório brasileiro de advocacia, Naufel & Shalch Advogados, os quais me informaram as mudanças de última hora. Eu voltaria com eles ao Brasil.
Eu estava tentando obter mais informações. “o porque” da antecipação, pois restavam ainda dois meses pra finalizar o acompanhamento, porém as únicas respostas que obtive é que eram decisões da diretoria e que terminaria os treinamentos no Brasil.
Papelada arrumada, aceites feitos muito á contra gosto da direção do MIT, ficou acertado que embarcaríamos na manhã seguinte.
Sobrando uma noite de despedidas solicitei a dispensa dos seguranças e levei Claudia para jantar. Ambos rimos muito aquela noite e choramos também. Tínhamos criado um vínculo muito forte.
Voltando ao dormitório, ofereci á Claudia um refrigerante, única bebida que tinha no frigobar do quarto e ela aceitou de pronto. Era tarde e os assuntos não se esgotavam. E quando nem ela e nem eu esperávamos surgir, quase que por um descuido, um beijo. Sem saber ao certo o que significava aquilo: uma despedida, um agradecimento ou algo mais forte nós nos abraçamos e continuamos nos beijando. Nossa respiração era intensa e nossos lábios teimavam em não se separar. Existia uma só saliva, um só sabor.

Saga Derinarde II – Capítulo 036
Minhas mãos percorriam as costas de Claudia, de um lado á outro, de sua nuca ás nádegas e, em um frenesi igual, as mãos dela hora estavam á base de meus cabelos, hora em meu peito. A que cada passada de mão sobre meu peito, um botão de minha camisa era aberto.
Nenhuma palavra ousou ser pronunciada naquele momento e meus lábios que há pouco se recusavam liberar os dela corriam por seu rosto, pescoço e orelha, desciam por sua nuca e seu perfume me embriagava.
Meus dedos encontram a fina tira de sua blusa que depositadas em seus ombros não causavam nenhuma resistência em se deslocar para os braços. Aos poucos e com muitas carícias estávamos sentados na cama seminus á corrermos os lábios por toda a parte do corpo descoberta.
Com as mãos em conchas sobre seus seios acaricio seus mamilos com a ponta dos dedos só parando quando meus lábios chegam á eles. As mãos dela percorrendo meu peito e barriga demora um pouco mais apenas para desabotoar a calça e o zíper descer.
Ao mesmo tempo em que a umidade de meus lábios chega a sua barriga. Aproveito as mãos livres e abro um ou dou botões de sua calça.
Já nus na cama sinto seu sabor e odor intensos, da mesma forma que seus lábios também se encontram ocupados.
Fizemos amor. O mais intenso dos sentidos humanos.
Já passado algum tempo, abraçados, perguntei.
- Gosto muito de você e jamais vou querer te machucar, mas (grande pausa), o quê foi isto?
Claudia respondeu sem nenhuma dúvida nos olhos que olhavam os meus neste momento.
 - Confiança. Só isso, Confiança. E nos beijamos novamente.
Repetimos mais vezes, ainda naquela noite que logo se tornou dia. Tomamos banho e nos despedimos.
Pensava em tirar uma soneca antes de partir, porém a conversa na porta já anunciava a hora. Um “toc, toc” na porta e eu sabia que era a senha.
- Precisamos estar em Boston Logan International em uma hora, apresse-se. Wilmer nem terminou a frase e eu já estava do lado de fora. Erick estava no banco do carona do carro com motorista parado na porta.
Entramos no carro e rumamos para o Aeroporto em Boston.
Antes de entrarmos na Vassar Street olhei com espanto para Wilmer. O mesmo parecia dono da situação e estava muito serio.
A dobrar para a Main Street percebi que Wilmer olhara para traz certificando-se que ninguém nos seguia.
Atravessamos a Longfellow Bridge e logo saímos á direita para contornar Beacon Hill Garden Club tomando a Charles Street, mais um zigue-zague na Martha Road e já estávamos contornando o North End Park. Boston tem uma excelente malha viária.
Entramos no Summer Tunnel, maravilha de construção sob um braço de mar. Obra inaugurada em 1934.
Ao sair do túnel, nova olhada de Wilmer, para trás e parecia aliviado ao entrarmos no Boston Logan International Airport.
O check-in no aeroporto foi rápido, pois nenhum de nós tinha muita bagagem, exceto bagagem de mão.
Ao afivelar o cinto, comentei com Wilmer:
- Cara, isto está mais parecendo uma fuga que qualquer outra coisa. Recebi uma resposta seca em seguida.
- Pode apostar suas pernas nisso. Precisamos chegar logo á Nova York.

Saga Derinarde II – Capítulo 037
Wilmer só voltou a respirar normalmente no momento que o trem de pouso do Boing fez barulho de recolher.
Fizemos boa viagem para Nova York. Cerca de trinta minutos. E já estávamos atingindo o solo.
O JFK estava movimentado como sempre e as subidas e descidas das aeronaves faziam do barulho constante um turbilhão de querosene queimado deixando a paisagem embaçada e tremulante.
Estranhou-me ver, da janela que eu estava, uma “Van” diplomática, com o brasão do Brasil, estacionar ao da aeronave. Os passageiros desciam pelo lado esquerdo e após o último passageiro descer, o comissário de bordo abriu uma porta do lado direito.
Uma escada foi colocada nesta porta e após este procedimento fomos informados que poderíamos descer por ali.
Ao tocar o pé na pista perguntei ao Erick, que estava a minha frente, o que estava acontecendo, mas antes de obter a resposta, Wilmer que vinha logo atrás empurrou-me para dentro da Van.
Ao fechar a porta, Erick completou:
- É apenas um atalho.
A Van seguiu sinuosamente por linhas pintadas na pista até uma área destinadas á aeronaves particulares.
Paramos ao lado de uma aeronave Lineage 1000 de fabricação Brasileira. A porta da Van foi aberta por uma linda aeromoça que logo foi se apresentando.
- Meu nome é Eliane Almeida.
- A Embraer lhe dá as boas vindas em nome do Brasil e da Universidade de São Paulo.
Ela indicou a escada por onde subimos de imediato.
Na porta da aeronave outra mulher, com uniforme branco e chapéu sob o braço nos aguardava.
- Sou a comandante Mell Ferrari da Força aérea brasileira, bem vindo em território brasileiro. E continuou:
- A Dr. Elen Perez, diretora geral da escola politécnica, do projeto “O ser do futuro” e secretária geral de tecnologia do Brasil lhe oferece transporte oficial de retorno para casa.
Entrei sem deixar de pensar: “A filha da puta conseguiu”.
Wilmer e Erick eram só sorrisos e alívio. Estávamos em área internacional, em uma nave com imunidade diplomática.
Entramos e nos acomodamos enquanto a escada subia e a porta se fechava.
Uma voz nos alto-falantes iniciou.
- Senhores bom dia. Aqui quem voz fala é o segundo comandante da aeronave, Boanerges Abdon Lopes Bezerra. Partiremos nos próximos quinze minutos e nossa viagem até o aeroporto de Congonhas, São Paulo, está estimado em 10 horas. Acomodem-se em seus lugares, apertem os cintos e boa viagem.
Pensei ter ouvido aplausos de Wilmer, quando olhei para ele, o mesmo esfregava as mãos como forma de contentamento.
Os quinze minutos informados pelo segundo comandante Boanerges se cumpriram e o avião começou a se movimentar em direção á cabeceira.
A nave apontou para oeste e o anuncio nos alto-falantes foi imediato.
- Decolagem autorizada. Ouvi o afivelar do cinto da comissária Eliane Almeida. A potência dos dois motores do Lineage 1000 entrou em ação.
Ganhamos velocidade e logo mais altura. Estamos á caminho de casa.

Saga Derinarde II – Capítulo 038
No momento que as luzes indicativas de cinto de segurança se apagaram comecei a reparar no interior da nave, que espetáculo. Cabiam, pelo menos, 20 passageiros em poltronas hiper confortáveis e espaçosas. Um segundo ambiente com uma enorme mesa para jantar ou reunião, outro espaço privativo e outras áreas para lazer. Tem uma super autonomia, uma vez que seu compartimento de carga pode ser convertido para tanque de combustível e pode chegar á uma velocidade de até 1100 km/hora. Isto é 0,925 Mach. Componentes eletrônicos de última geração. Uma obra prima da indústria aeronáutica brasileira.
Alguns minutos de viagem e a graciosa Eliane anunciou que o café da manhã estava servido. A mesa era farta de pães, bolos e frutas.
Enquanto tomávamos café, a Comandante Mell juntou-se a nós. Aproveitei para pressionar Wilmer:
- Você pode me explicar o que está acontecendo ou é segredo de estado?
Wilmer tomou um gole de café e começou a falar.
- A Europa, através do professor Ronaldo Ambrósio, estava pressionando demais a sua transferência para a Alemanha e assim se tornariam responsáveis pelo projeto. Através de uma manobra política e muito inteligente a Dra. Elen conseguiu inverter a situação. Que mulher essa Doutora, que mulher.
Interrompi Wilmer.
- Se estava resolvido, por que essa pressa?
Wilmer continuou.
- Como eu disse, foi uma manobra política e esta manobra da Dra. Elen tem o apoio dos Americanos, porém o acordo tecnológico Brasil – Estados Unidos tem algumas brechas que poderiam fazer com que o projeto ficasse totalmente aqui. Antes que alguém entrasse nesta questão, foi resolvido que você seria transferido para o Brasil.
Terminei de engolir uma deliciosa uva sem sementes e tornei a perguntar.
- E esta história de secretária de estado, como a raposa chegou aos ovos?
Desta vez que respondeu foi Erick.
- A Dra. Elen além de excelente cientista é uma estrategista nata. Aproveitando-se da falta e um ministro de ciência e tecnologia e usando da força do projeto, ela convenceu a presidente que a pasta não poderia ficar com desfalque nesta ocasião e como ela, a Dra. Elen, tem livre acesso na Comunidade Europeia e Americana seria conveniente que pudesse responder pelo Brasil, a altura.
Acrescentou.
- Em seu poder único de convencimento, a Dra. Elen ganhou a atenção da presidente e com isso o cargo.
Falamos por mais de uma hora e concluí. A Nazi é fogo.

Saga Derinarde II – Capítulo 039
A viagem transcorria bem, estávamos á dez mil metros de altitude, em uma velocidade perto de mil quilômetros por hora e muitas pequenas ilhas pediam ser avistadas naquele enorme oceano quando uma voz chama minha atenção que estava voltada para a janela.
- Lindo não?
Era a comandante Mell que apontava a janele que eu olhava.
- Hã, como? Olhei para ela, pois meus pensamentos não permitiram que o som de sua voz os desfigurasse.
- O Caribe. Lá em baixo é o caribe. Lindo, não é mesmo?
- Ah, sim. Muito bonito. Aquela ilha maior, ali atrás, onde é? Apontei um pouco mais atrás.
- A redonda, que estamos passando agora são Haiti e República Dominicana, e próxima, mais á frente, Porto Rico. Não dá para ver daqui, mas mais adiante é o paraíso dos irmãos Castro. Todas excelentes para mergulhos. Completou.
- Hummm, então você terá que me trazer, um dia, aqui. Adoro mergulhar. Já me convidando.
- Minhas férias são em Maio e todo ano venho para cá. Tome meu cartão. Tirou um cartãozinho do bolso e me entregou, finalizando.
- Adoraria trazer você para o paraíso.
Fomos interrompidos pela comissária Eliane.
- O almoço está servido.
Erick que aparentemente dormia com uma folha de jornal sobre o rosto, em um só pulo, ficou de pé.
- Nossa que fome. Erick disse já se dirigindo á mesa.
Sentamos e reparei a beleza da mesa. Ao que cada direcionamento de olhar, Eliane apresentava os pratos.
-Esta é uma lasanha de camarão ao molho de espinafre, arroz ao funghi sechi e salada de couve de Bruxelas com coração de alcachofra.
- Parece uma delícia. Isso tudo vem pronto ou foi você quem fez? Eu sabia a resposta, pois á vi cozinhando a manhã toda.
- Eu mesma. Para esta linha, ser “chefe” é requisito. Indicando que era responsabilidade do comissário de bordo o preparo de refeições, afinal aquele é um avião de luxo.
Um “ploc” chamou a atenção de todos que imediatamente saudaram. Mell abriu uma Möe Chandon, e começou a servir as taças.
Brindamos á nossos sonhos e nos deliciamos com a comida.
A comandante Mell foi a primeira a terminar o almoço, pediu para se retirar, pois tinha que dar a vez para se co-piloto, Boanerges.
Após Mell entrar na cabine, Boanerges e Eliane se sentaram conosco. Ao que logo perguntei:
- Então Boanerges, pretende seguir esta carreira de militar? Queria cria assunto, pois todos estavam calados á mesa.
- Não, não sou militar. Sou piloto do banco R. Andrey. Sou eu quem pilota essa máquina. Inventaram essa oficial aí nem sei por quê. Boanerges disse com a maior naturalidade.
Wilmer percebeu para onde se caminhava a conversa e deu alguma explicação.
- É só uma questão de política internacional. O governo brasileiro não poderia participar de qualquer ação, em outro país, sem uma justificativa convincente, então o Dr. Rodrigo cedeu o...
- Então isso foi realmente um sequestro? Interrompi Wilmer dando um tapa na mesa.

Saga Derinarde II – Capítulo 040
Erick que estava calado fazendo dobraduras em seu guardanapo falou para terminar o assunto.
- Deri, você é assunto de estado e não estamos autorizados á discutir qualquer assunto com você. Se alguém tem explicações a lhe dar ou se alguém vai lhe dar qualquer explicação, não seremos nós.
Erick desfez o que estava fazendo no guardanapo, amassou-o com a mão esquerda, jogou sobre o prato e se retirou para toalete dizendo já de pé.
- Assunto encerrado.
Eliane, assustada com o tom de voz de Erick, não movimentava o talher, congelara a mastigação e  apenas os globos oculares pareciam ter movimentos.
Boanerges também percebeu a situação de Eliane, chamou a atenção dela dando de ombros, elevando as sobrancelhas e apontando o prato com a faca em seguida se dirigiu a mim no intuito de amenizar a situação que estava surda e muda.
- A Eliane aqui também faz parte da tripulação efetiva da nave. Muito boa comissária e excelente “chefe”, não acha? 
- Até o momento é a única coisa que posso concordar, com licença. Me levantei e fui ate minha poltrona onde estava meu tablet.
Enviei um E-mail para Elen. “Elen, me chame no Skype imediatamente”.
Uma facilidade dos dias de hoje, a rede Wi-Fi de banda larga a dez mil metros de altura era um sonho impensável há alguns anos atrás.
A última hora demorou uma eternidade á passar, ainda mais porque ficar acessando a caixa de entradas de emails a cada cinco minutos deixa ainda mais lento.
Dei um tapa no tablet jogando-o no chão, como se ele fosse o total responsável pelo que estava ocorrendo.
A comandante Mell que passava naquele momento por minha poltrona recolheu o tablet do chão e me devolveu com uma história.
- Certa vez ainda criança, jogando xadrez com meu pai, eu perdi minha rainha e comecei a chorar.
- Meu pai disse, “Enquanto você chorar por esta derrota não conseguirá sorrir pela vitória. Á cada perda, pare e reflita o quê de melhor poderá fazer para reverter à situação, tirando o máximo proveito, nem que seja o aprendizado”. Eu enxuguei as lágrimas do rosto, voltei o olhar para o tabuleiro e vi a oportunidade única de aplicar um xeque mate em papai.
- Após ganhar a partida perguntei a ele: Foi de propósito que me deixou ganhar? Ao que me respondeu:
“Não. Eu errei. Porém ao invés de chorar ao perceber meu erro decidi aguardar a próxima oportunidade da qual tinha certeza da vitória. Das duas, uma: Ou você não veria a jogada, pois estava chorando, ou eu veria seu sorriso ao final.”
Mell acrescentou:
- Tente tirar o máximo proveito. E foi para a cabine.


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